sexta-feira, agosto 23, 2013

Arena tucana - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 23/08
Esta semana marcou o ingresso do PSDB com os dois pés na campanha pré-eleitoral. Tudo por causa da provocação do ex-governador de São Paulo, José Serra, que andou sondando seus aliados na legenda a respeito da realização das prévias para escolha do candidato a presidente da República. Com a perspectiva da realização da consulta, que conta com a simpatia do presidente do partido, senador Aécio Neves, os diretórios estaduais começaram a se movimentar em torno do tema. O líder da Minoria, Nilson Leitão (PSDB-MT), comanda a legenda em Mato Grosso e promete ingressar na reunião da cúpula partidária, na próxima terça-feira, pedindo a prévia para outubro.
"Não podemos deixar esse assunto para o ano que vem. Quero conhecer logo o meu candidato a presidente, para que ele possa percorrer o país e mobilizar os nossos filiados. Vou propor que a prévia seja em 20 de outubro", disse ele, já antecipando o voto em favor de Aécio Neves.

Ainda não existe nada fechado em termos de data e regras para as prévias. Sabe-se apenas que, se houver, será depois de passado o prazo de filiação partidária para os candidatos às eleições do ano que vem, ou seja, 5 de outubro. Mas só a perspectiva de prévias obriga todos no PSDB a saírem da toca. Há dois dias em Brasília, José Serra admitiu que pode concorrer na prévia, o senador Álvaro Dias, do Paraná, também se apresentou. O presidente do partido, Aécio Neves, é considerado por muitos o nome mais forte contra Dilma, dado o poderio que desfruta em Minas Gerais, onde terminou o governo muito bem avaliado, e de seu jeito de fazer política.

O jogo da prévia, ainda que esteja apenas no início, coloca uma nova cor no tabuleiro do PSDB. Da parte de José Serra, que até aqui vinha sendo jogado para escanteio dentro do partido, ficou claro que ele está vivo, tem peso e não pode ser desprezado como desejavam alguns. Da parte de Aécio, a perspectiva da prévia lhe dá a permanência de Serra no ninho tucano. Assim, Serra perderia a capacidade de dividir votos que podem ser cruciais para levar o candidato do partido, seja quem for, ao segundo turno da eleição presidencial.

O problema, entretanto, é que até agora muita gente vê esse jogo da prévia como uma encenação. Os aliados de Aécio queriam, sinceramente, que ele começasse a percorrer o país como pré-candidato e não como presidente do partido. Mas podem encenar vontade de realizar a prévia apenas para garantir a permanência de Serra no PSDB. Entre os aliados de Serra, entretanto, há quem suspeite que também se trata de uma encenação dos serristas e o receio de que estejam apenas armando uma desculpa para, logo ali na frente, dizer que as regras não ficaram definidas. E assim, sem garantias de igualdade de condições, a saída de Serra seria buscar a candidatura presidencial fora do PSDB. É importante frisar ainda que, há dois dias, Serra chegou a dizer que era preciso ter regras claras para não parecer encenação.

Essa tese de que Serra joga para escancarar a porta de saída não é compartilhada por todos os aliados do ex-governador paulista. Há quem diga que ele deseja sinceramente a prévia. Esses amigos de Serra defendem que, na hipótese de não vencer a disputa, Serra deveria se colocar à disposição do partido para ajudar onde fosse necessário, largando a obsessão de chegar à Presidência da República. Ouvi de alguns que ele poderia ser inclusive candidato a deputado federal para puxar uma grande bancada tucana de São Paulo e, de dentro do Congresso, empreender a reforma tributária, um projeto que ninguém consegue fazer, dada a falta de acordos e diálogo franco entre os entes federativos.

Por falar em diálogo franco.
O problema para essa união de Serra em favor de Aécio e vice-versa é tão difícil quanto subir uma escada rolante em sentido contrário. A relação entre os dois não é das melhores. Nas duas vezes em que foi candidato a presidente da República, Serra considerou que Aécio não trabalhou com todo o afinco para ajudá-lo, embora o ex-governador paulista tenha vencido em Belo Horizonte. Não são poucos os relatos de conversas ríspidas entre os dois no período da campanha presidencial.

O perigo dessas rusgas agora é o eleitor cansar das desavenças tucanas da mesma forma que parece enfadado do toma-lá-dá-cá dos cargos, enquanto as carências do país estão aí, muitas sem uma solução. É aí que um terceiro pode se criar. Não por acaso estão todos de olho na Rede de Marina Silva e nos movimentos do governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

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