sábado, julho 06, 2013

União nacional - ALBERTO DINES

GAZETA DO POVO - PR - 06/07

Cessou a onda de protestos, começou a enxurrada de motins. A alteração é mais grave que as vacilações políticas em torno do plebiscito.

O bloqueio de estradas por caminhoneiros, o assassinato de um autônomo que tentou furar o lockout, a arruaça que destruiu uma praça de pedágio em Cosmópolis, vizinhança de Campinas, o cerco à casa do governador Sérgio Cabral Filho no Leblon, Rio, exigindo que se mude do bairro, são desordens preocupantes, algumas já condenadas pela presidente Dilma.

O governo está agindo com prudência, sabe que a repressão pura e simples pode acionar um ciclo de reações incontroláveis. Mas governo precisa governar e a presidente Dilma precisa ser fortalecida, é a chefe do Estado brasileiro. Esse não é o momento para agravar fragilidades e inexperiências. Estamos longe da zona de perigo, mas o fervor político não é a terapia mais aconselhável para situações de estresse.

Se os aliados do governo recusam a ideia de um plebiscito em 2013, cabe à oposição e aos independentes manter a bandeira da reforma eleitoral e dos costumes políticos que a presidente teve a sensibilidade e a ousadia de desfraldar – para o desconforto do seu próprio partido, o PT.

A ideia de uma constituinte foi desastrosa e, nas entrelinhas do parecer do TSE, sugere-se sutil e respeitosamente não avançar em direção à consulta popular ainda neste ano. Os meios sugeridos pela presidente Dilma não eram apropriados, mas o objeto e o alvo dessa reforma permanecem prioritários. Perder tempo e concentrar-se na discussão sobre os meios e menosprezar os fins é, no mínimo, improdutivo. Traição às exigências das ruas.

O Estado precisa sair fortalecido para, em primeiro lugar, deter a bola de neve dos motins e badernas; em seguida, persuadir o Congresso a fazer as revisões no processo eleitoral e barrar as aberrações que tanto o desmoralizam e comprometem o próprio Estado nacional.

Entre uma viagem e outra nos jatinhos da FAB, o presidente da Câmara, Henrique Alves, teve a feliz ideia de prometer a criação de um grupo de trabalho com o prazo de 90 dias para preparar o que ele chamou de “Plano B”, reunindo as mudanças mais urgentes. Esse plano alternativo pode rapidamente transformar-se em preferencial, desde que implementado e ativado.

Desordens tendem a generalizar-se e, caso não seja atalhada com firmeza, a pré-violência transforma-se em violência aberta. Um garoto boliviano foi morto com um tiro na cabeça por assaltantes em São Paulo, um juiz de futebol no Maranhão foi morto a pedradas e esquartejado. O brasileiro pacífico, tolerante e até triste que, em passado recente, chamava a atenção de viajantes estrangeiros e pensadores patrícios está sendo substituído por outro – feroz, intolerante. Imprevisível.

Pavio curto e dedo no gatilho: em situações de emergência – e estamos nos aproximando de algo assemelhado – não é descabido o apelo à razão e à união nacional. Não confundir com coalizão nacional. O país daria um passo à frente em matéria de amadurecimento democrático e serviria como exemplo diante de uma humanidade descrente, desnorteada e fragmentada.

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