sexta-feira, julho 26, 2013

Uma coisa e a outra - - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 26/07

O Brasil tem o número de médicos de que precisa? É uma boa pergunta, já que o governo federal está empenhado em aumentar o número de faculdades de medicina, enquanto o Conselho Federal de Medicina afirma exatamente o contrário. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, oferece vantagens às faculdades particulares que façam doações ao Sistema Único de Saúde, por meio de investimentos em prédios ou equipamentos. Terão vantagens na escolha das instituições interessadas em abrir novas escolas.

O preço das mensalidades também influirá na disputa. Os nossos futuros médicos agradecem.

Mercadante também terá a gratidão dos estudantes com a promessa de transformar em residência médica os dois anos que os estudantes terão de trabalhar em unidades do SUS. Ou seja, já terão o status de profissionais, e não mais de estudantes.

Outro plano é mudar o sistema de criação de escolas de medicina: haverá consulta pública para a escolha das cidades que ganharão novas escolas.

O projeto é ambicioso: propõe criar mais de 11 mil vagas para futuros médicos em 60 municípios.

Hoje, a escolha é das próprias escolas, que obviamente — o que não é difícil de compreender — pensam mais nos seus próprios interesses do que nas necessidades locais. Pelo projeto do ministro, pesará na balança a demanda por serviços médicos e a infraestrutura de saúde já oferecida.

Uma novidade que pode não agradar às empresas particulares é a exigência de doações ao SUS para melhorar a rede pública de postos de saúde e hospitais. Mas ela se justifica — pelo menos na opinião do ministro Mercadante — pelo fato de seus alunos têm sua formação prática na rede pública de saúde. E é de óbvio interesse público.

Mesmo assim, há a já mencionada oposição aos planos de Mercadante. O Conselho Federal de Medicina, segundo o seu vice-presidente, Carlos Vital, acha que o Brasil já tem número suficiente de médicos, e o governo deveria se preocupar com outra meta: melhorar a formação profissional.

Um observador poderia argumentar, talvez ingenuamente, que uma coisa não impede a outra.

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