sábado, julho 06, 2013

Tensão nos bastidores do Mercosul - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 05/07

Brasil deve agir para esvaziar crise entre Paraguai e Venezuela e ajudar na fórmula para que os dois países possam conviver como membros plenos do bloco



Algumas chancelarias sul-americanas estão em ebulição com vistas à reunião do Mercosul no dia 12, em Montevidéu. Não é mais uma como tantas. Ali deve ser decidida a reincorporação do Paraguai. Como se recorda, o país foi suspenso em 29 de junho de 2012 porque os demais membros do bloco — Brasil, Argentina e Uruguai — consideraram um golpe a decisão do Congresso paraguaio de realizar o impeachment do presidente Fernando Lugo. Ao fazê-lo, abriram caminho ao ingresso da Venezuela como membro pleno, pois o Senado paraguaio era a única instância que não o aprovara. Foi uma manobra oportunista em cima do integrante mais fraco do bloco.

Ocorre que o presidente eleito do Paraguai, Horacio Cartes, está na firme disposição de não aceitar o regresso do país ao Mercosul se a presidência pro tempore, atualmente com o Uruguai, passar à Venezuela. E o presidente em final de mandato, Federico Franco, dá total apoio a Cartes. Para voltar ao bloco, Assunção exige a presidência, que seria sua de direito se o país não tivesse sido suspenso na manobra para beneficiar a Venezuela. Cartes viajou à Espanha em busca do apoio da UE e esteve na Argentina com o mesmo objetivo. Enquanto isso, o governo atual, de Franco, não aceita a elevação de tarifas aduaneiras decidida por Brasil e Argentina. Mais um contencioso, caso Cartes mantenha essa posição ao assumir.

Cartes trabalha para aumentar o cacife da posição paraguaia. Argumenta que, se o país for readmitido e colocado na presidência pro tempore, ele terá mais apoio político para negociar com o Senado a aprovação do ingresso na Venezuela (que, na prática, já ocorreu). Propõe adiar a reunião do Mercosul de 12 de julho para 15 de agosto, porque nesta data ocorre sua posse no comando do país. E, numa carta de estratégia clara, avisa que o Paraguai foi aceito como observador na Aliança do Pacífico, a dinâmica associação de México, Chile, Colômbia e Peru que parece um foguete em ascensão se comparado ao combalido Mercosul. “Estamos a um passo de entrar”, provoca Cartes.

O Brasil é o mais importante país do Mercosul e o maior interessado em que ele se fortaleça. Se, no impeachment de Lugo, a diplomacia brasileira deixou-se arrastar pelo chavismo para incluir a Venezuela, chegou a hora de atuar com a responsabilidade que o momento exige e ajudar a aparar as arestas que ameaçam o bloco.

A reunião, seja no dia 12 próximo, sexta-feira, ou em 15 de agosto, deve ser preparada para encerrar a crise entre o Paraguai e a Venezuela e encontrar uma fórmula jurídica a fim de que os dois países possam conviver como membros. E restaria Cartes convencer o Senado paraguaio a não insistir no bloqueio ao ingresso de Caracas, fato já consumado.

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