quinta-feira, julho 11, 2013

Entre sinais contrários - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 11/07

O Copom subiu os juros em meio ponto ontem em um cenário ainda mais complexo do que o da última vez. O dilema entre baixo crescimento e alta inflação se acentuou. Novos indícios de fraqueza do nível de atividade , a insistência da inflação , a alta do dólar , tudo isso se aprofundou nas últimas semanas . Entre uma e outra reunião , houve a eclosão dos movimentos de rua que tornaram as decisões mais difíceis .

José Roberto Mendonça de Barros , em texto divulgado recentemente , citou alguns dados: “O indicador de estoques calculados pela Confederação Nacional da Indústria está subindo há quatro meses; o estoque médio de automóveis na rede de concessionários já é de 53 dias, bem maior do que os 25/26 dias considerados normais . Adicionalmente , o número de recuperações judiciais pela Serasa já é o maior desde 2007. ” O economista citou também o problema da deterioração dos balanços das empresas com passivo em dólar , com a disparada da moeda americana. A alta do dólar pressiona preços internos .

O IC-Br (Índice de Commodities do Banco Central) subiu 5,3% em junho , apesar de as cotações estar em queda no exterior . OIBGE divulgou que o emprego industrial caiu 0,5% em maio , o que é o pior número desde novembro de 2009. No acumulado do ano , há 1% de queda do emprego industrial. E reduziram-se as horas pagas . É nesse contexto que as centrais de trabalhadores marcaram para hoje uma greve. Não tem correlação com o movimento espontâneo que semanas atrás tomou as ruas do Brasil. Agora, é o movimento organizado e, em alguns casos , governista. A pauta de reivindicações é conhecida e provoca um aumento de custos das indústrias , com a redução da jornada de trabalho , ou aumento dos custos do governo , com o fim do fator previdenciário .

A hora é ruim para o movimento atingir seus objetivos. Mas o maior in ter esse das centrais sindicais é dizer que ainda existem , ainda conseguem mobilizar , ainda sabem ir para as ruas. Nos últimos anos, alguns deles estiveram na órbita do governo. Outras centrais, mesmo mais distantes, sempre dependeram do dinheiro público. As centrais sindicais foram surpreendidas pelas manifestações de junho e isso as desconcertou. Foi esse o motivo inicial para o Dia Nacional de Lutas, ainda que cada categoria esteja apresentando sua bandeira. Ontem, o Fed divulgou a ata de sua última reunião e deixou em aberto a possibilidade de começar a retirar os estímulos econômicos este ano. Tudo dependerá da intensidade da recuperação do país e melhoria do mercado de trabalho 

O real se desvalorizou mesmo com as intervenções do Banco Central. A ameaça de enxugamento na liquidez está afetando os países emergentes de várias formas, como alertou o FMI: desvalorização de moeda, queda das bolsas, e perda de valor em títulos de governos , empresas e commodities . Segundo reportagem da Bloomberg, US$ 13,9 bilhões já deixaram os quatro países dos Brics este ano . No Brasil, mais duas empresas desistiram de fazer captações via debêntures. Desta vez, foram Oi e Comgás. A Oi pretendia captar R$ 800 milhões para financiar capital de giro, alongar dívidas e financiar investimentos .

O BNDESPar já havia cancelado uma emissão de R$ 2,5 bilhões. A economia real já sente , na prática, que está mais difícil captar recursos. No campo da inflação, o governo colhe algum refresco: em junho, o IPCA subiu menos do que o imaginado e houve alta menos espalhada dos preços, os IGPs estão mostrando desaceleração dos reajustes no atacado, e o mês de julho deve ter uma inflação baixa. Mesmo assim, o dólar subindo muito vai produzir seus estragos. A tendência é a inflação reduzir um pouco no segundo semestre, em grande parte pela atuação do Banco Central. O governo vai anunciar cortes de gastos de custeio , mas isso não chega a ser um reforço relevante na luta contra a inflação , depois de tanta trapalhada fiscal que tem efeito expansionista do gasto público .

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