quarta-feira, julho 10, 2013

Energia mais suja e cara - TASSO AZEVEDO

O GLOBO - 10/07

É um paradoxo a decisão da Empresa de Planejamento Energético e do MME de realizar leilão exclusivo para energia de termoelétricas



Entre 2005 e 2010 houve uma enorme mudança no padrão de emissões de gases de efeito estufa no Brasil. Dados divulgados em junho pelo Ministério da Ciência e Tecnologia mostram que as emissões totais de GEE do Brasil caíram 38,7%, resultado formidável e explicado pela queda de mais de 70% das emissões oriundas de desmatamento. Por outro lado, as emissões dos demais setores cresceram quase 12%, puxadas principalmente pelo setor de energia, que aumentou em 21,4% as emissões.

O setor de energia, que representava 16% das emissões em 2005, em 2010 atingiu 32%. Desde então a situação só se agravou. As termoelétricas convencionais (diesel, carvão, gás) que deveriam ser utilizadas apenas como energia de reserva, ligada em situações esporádicas (em geral até 30 dias por ano), estão ligadas continuamente desde meados de 2012.

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, acaba de anunciar o desligamento de parte das termoelétricas que estão despachando energia elétrica no sistema desde meados de 2012. Para além dos enormes custos que ocasionaram (cerca de R$ 1,4 bilhão por mês), tiveram enorme impacto nas emissões de GEE.

Em 2011, as emissões geradas para produzir energia elétrica no Sistema Integrado Nacional foram de 14,8 milhões de tCO2 (o equivalente à emissão de 14 milhões de carros populares rodando com gasolina). Em 2012 essas emissões ultrapassaram 34 milhões de tCO2, ou seja, um aumento de 130%. Apenas nos seis primeiros meses de 2013 as emissões já superam 28 milhões de tCO2.

Neste contexto, é um paradoxo a decisão da Empresa de Planeamento Energético e do MME de realizar um leilão exclusivo para energia de termoelétricas, com destaque para o carvão mineral, a fonte mais poluente. A lógica é de trocar a geração de reserva por geração de base, contínua, com vistas à redução de custos.

Assim, o que antes era um aumento circunstancial das emissões se tornará um fato consumado e sedimentado para os próximos anos, tornando mais poluente nossa matriz energética no momento em que o planeta precisa de energia mais limpa.

Enquanto isso desperdiçamos cerca de 2 GWh de potencial de produção eólica (já instalados e prontos para operar) e outros 4 GWh de cogeração com bagaço de cana por falta de linhas de transmissão e entraves burocráticos. Se estivessem sendo aproveitados estaríamos evitando mais de 50% das emissões das termoelétricas ligadas nos últimos meses.

Ainda é tempo de rever o leilão de termoelétricas marcado para agosto e recolocar o Brasil no trilho de uma matriz energética mais limpa.

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