quarta-feira, junho 12, 2013

A recordista - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 12/06

O segredo da longevidade de Ideli Salvatti no cargo não é fazer o que os políticos desejam e sim o que determina a presidente da República

Nestes dois anos e meio de governo são fartas as reclamações sobre a ausência de uma articulação política de peso dentro do Planalto. Mas, por incrível que pareça, a atual ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Ideli Salvatti, é a mais longeva no cargo desde a criação do posto, no governo Lula. Amanhã, completa dois anos na função, ultrapassando o ministro José Múcio Monteiro, que, nos tempos de Lula, permaneceu ali um ano e oito meses.

O cargo de ministro de Relações Institucionais passou a cuidar da coordenação política do governo e do relacionamento direto com os congressistas em 2004, ano eleitoral. Naquela época, o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, acumulava esse trabalho com a organização da área administrativa do Poder Executivo e passou a dividir o serviço com Aldo Rebelo, do PCdoB. Aldo ficava apenas com o chamado baixo clero, enquanto Dirceu cuidava dos presidentes de partido até deixar o governo, no ano seguinte, quando estourou o escândalo do mensalão.

A SRI é uma das funções mais ingratas do governo. Não tem autonomia para quase nada. Os recursos estão em outras pastas. E as decisões, no gabinete presidencial. Logo, sobra para Ideli, assim como sobrou para todos os seus antecessores o papel de para-choque entre a presidente da República e o Congresso. Enquanto isso, a Casa Civil faz o papel de para-choque interno, ou seja, anteparo entre a presidente e os demais ministros.

O relacionamento político, entretanto, parece fadado a usar tarja de fracasso exatamente pelas dificuldades do ministro da área em cumprir o que acerta no parlamento. Talvez por isso, a rotatividade por ali seja maior do que em outras áreas governamentais. Desde Aldo Rebelo, passaram pelo cargo Tarso Genro, Jaques Wagner, Walfrido dos Mares Guia, José Múcio Monteiro, Alexandre Padilha e Luiz Sérgio. A média era de menos de um ano e meio. Quem ficou menos tempo foi Luiz Sérgio, do PT do Rio de Janeiro.

A alta rotatividade, entretanto, não significa ostracismo. Hoje, Aldo e Padilha são ministros de Dilma, respectivamente, do Esporte e da Saúde. Dois são governadores de estado, Jaques Wagner, da Bahia; Tarso, do Rio Grande do Sul. José Múcio Monteiro é ministro do Tribunal de Contas da União, e Walfrido é o presidente do PSB em Minas Gerais. Luiz Sérgio é deputado federal, depois de ter sido afastado do ministério da Pesca para dar lugar ao PRB de Marcelo Crivella.

O segredo de Ideli, entretanto, não é o fato de fazer o que os políticos desejam e sim o que determina a presidente da República. Dilma, com seu perfil centralizador, é quem conduz essa área do governo, assim como também a economia. No dia da votação do MP dos Portos, por exemplo, foi quem ordenou que o governo fosse a votos em todos os temas, em vez de ceder a maioria dos pontos.

Embora não tenha experiência parlamentar e a classe política sempre se mostre meio irritada com o governo, a presidente tem se dedicado mais às conversas políticas. Nos últimos meses, ela recompôs a relação com a direção do PDT ao nomear um ministro ligado ao comandante pedetista, Carlos Lupi. Também segurou o PCdoB, reforçando a posição de Aldo Rebelo no Ministério do Esporte e dando apoio à presidente da Agência Nacional do Petróleo, Magda Chambriard, uma técnica com respaldo político do partido. Além disso, o PMDB, sempre insatisfeito, obteve a Secretaria de Aviação Civil e também conseguiu colocar na Agricultura o deputado Antonio Andrade, considerado mais “orgânico” dentro da bancada do que o deputado gaúcho Mendes Ribeiro, que precisava sair para concluir o tratamento contra o câncer.

Enquanto isso, nas pesquisas...
O resultado da CNT/MDA divulgado ontem não é muito diferente daquele detectado pelo Datafolha, em que, mais uma vez, a queda de avaliação do governo se refere em especial às incertezas na área econômica. Embora ainda desponte como favorita para vencer no primeiro turno, o fato de apenas 17% dos entrevistados declararem ter desde já candidato a presidente da República para 2014 é algo que reforça a posição de vulnerabilidade da presidente Dilma citada aqui ontem. Ou seja, se a economia piorar — e os brasileiros não estão no auge do otimismo sobre esse tema —, os 73% que se declaram indecisos ou sem candidato podem terminar optando pela oposição, que agora terá uma larga avenida para crescer. Não é à toa que hoje Dilma segue a máxima dos líderes do então presidente Fernando Henrique Cardoso, “a cada dia a sua aflição”. E, no momento, a “aflição” é econômica. Sorte de Ideli, que, assim, termina ficando mais tempo no cargo.

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