segunda-feira, junho 17, 2013

A pedra no lago - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 17/06

O problema da vaia não é o volume. É o despertar que provoca, fazendo com que várias notícias negativas para o governo sejam elencadas como motivos para aquele tipo de manifestação

Desde que virou candidata a presidente da República, foram poucas as vezes em que a presidente Dilma Rousseff esteve tão exposta quanto no último sábado, na abertura da Copa das Confederações. Até na campanha, onde estava muitas vezes acompanhada do presidente Lula, a liturgia do cargo do padrinho deixava Dilma longe do povo. Depois, já presidente, outras oportunidades, como nas ruas de Nova York, ela sempre foi aplaudida, elogiada, cercada de sorrisos, pedidos de autógrafos e fotografias. Agora, tem a certeza de que tudo está diferente. E, se o cenário não mudar, a campanha pela reeleição promete ser muito mais dura do que foi a vida de candidata e de presidente até aqui. Mas, nisso tudo, algo chama a atenção: a dificuldade de Dilma em criar para si própria uma personagem que faça "cara de paisagem" perante as adversidades.

O fato de o semblante presidencial não esconder o desconforto com as vaias destoa do que geralmente ocorre com os políticos. Em situações adversas, muitos deles fingem que não viram ou dão aquele minúsculo sorriso amarelo e seguem em frente, como se nada tivesse acontecido. Dilma, não. Ficou aborrecida e expressou isso no olhar, na fisionomia como um todo. Para alguns, esse comportamento pode soar como inapetência da presidente para o exercício da política. Para uma ampla maioria, entretanto, é algo positivo, porque mostra uma faceta mais humana, que as pessoas geralmente esquecem quando se trata de autoridades.

Os aliados da presidente fazem dessa faceta algo a ser destacado daqui para frente e garantem que ela costuma crescer quando exposta ou acuada. Foi assim, por exemplo, em maio de 2008. Dilma era ministra da Casa Civil de Lula e foi chamada ao Congresso para dar explicações a respeito de um dossiê sobre os gastos da Presidência da República nos tempos de Fernando Henrique Cardoso. O senador José Agripino tentou fazer ilações sobre as mentiras que Dilma teria contado aos militares nos tempos da ditadura e ela respondeu com firmeza. A reação ali faria da ministra de óculos fundo de garrafa a candidata de Lula dois anos depois.

E no tempo presente...
Dilma hoje não usa mais aqueles óculos e, também, não pode ser tão dura em suas reações. Daí, a incógnita sobre que tipo de reação a presidente terá. A do semblante no momento da vaia no estádio foi considerada positiva, porque, com já dissemos acima, demonstrou sensibilidade. O que a presidente não pode, garantem seus fiéis escudeiros, é deixar que isso seja confundido com fraqueza. Até aqui, Dilma passou a imagem de mulher forte, capaz de enfrentar situações difíceis. Não pode sair desse script, mas, ao mesmo tempo, precisa evitar uma reação raivosa. Por isso, têm razão os palacianos quando dizem que o momento é de monitorar.

Há no meio político, de um modo geral, a avaliação de que o problema da vaia não é o seu volume. É o despertar que ela provoca. Para atentos observadores do cenário nacional, é sabido que a maioria das pessoas não costuma olhar a política todos os dias. Naquele momento, no estádio, todas as atenções estavam concentradas. E é nessa hora que quem não se liga em política passa a perguntar para o colega ao lado na cadeira, ou no bar, por que a vaia ocorreu; o que está acontecendo que o sujeito até ali não sabia. E é aí que mora o perigo para Dilma e para o projeto reeleitoral do PT. Ao responder, o vizinho fala da inflação, o outro reclama da saúde, o terceiro diz que o problema é a segurança, um fulano cita o aumento no preço da passagem de ônibus. Tome notícia negativa passando de boca em boca. É como uma pedra atirada num lago calmo que vai criando marola. Se isso será apenas uma "marolinha", o futuro dirá. Mas, no momento, todo o cuidado é pouco e a oposição certamente vai tentar surfar nessas ondas. Faz parte do jogo.

E no Congresso...
Na Câmara e no Senado, os políticos dos partidos aliados prometem gastar horas comentando a vaia. A avaliação, entretanto, é a de que não têm muito como ajudar. Afinal, se não participam da formatação dos programas de governo e não faturam politicamente com seus resultados, a presidente que recorra agora àqueles que chamou para participar. Pelo visto, aquela ideia de que governo, quando começa a ter problemas, muitos querem distância, ganha novo fôlego. Se será assim mesmo, as novas pesquisas dirão.

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