domingo, maio 05, 2013

Flanco aberto - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 05/05

Falta de competitividade prejudica desempenho do Brasil no mercado externo e prenuncia a volta do deficit na balança comercial


Após 11 anos de superavit robusto na balança comercial, nos últimos meses observa-se acelerada piora nas contas externas do país.

Neste primeiro quadrimestre, o Brasil registrou deficit comercial de US$ 6,2 bilhões, recorde para tal período do ano. As exportações caíram 3,1% e as importações cresceram 10,1%, na comparação com igual intervalo em 2012.

A despeito de boa parte do encolhimento do saldo --US$ 3,5 bilhões-- decorrer de atrasos no registro de importação de combustíveis em 2012, mas que só desfalcaram o resultado agora, é evidente a perda no impulso exportador.

O país perde espaço nos seus principais mercados do mundo. No primeiro trimestre, as vendas para a Europa e os EUA caíram cerca de 10% e 25%, respectivamente. Até a China, que ainda cresce a 7,5%, reduziu suas compras em 2,2%.

O retrocesso brasileiro resulta da falta de competitividade para produzir e vender produtos manufaturados. Nossa pauta de exportações se concentra em matérias-primas, o que põe o país em posição de risco. Não há perspectiva de repetir-se tão logo a valorização que tais produtos primários tiveram na última década.

A China reorienta seu modelo de crescimento, na tentativa de torná-lo menos dependente de grandes obras, o que reduz a demanda por commodities. Não por acaso, os preços de vários metais de uso industrial têm sofrido queda.

Produtos agrícolas, como a soja brasileira, são menos sensíveis a essa mudança. Podem até ser beneficiados pela melhoria do padrão alimentar asiático e por quebras de safra de concorrentes ocasionadas pelo clima. É temerário, contudo, contar apenas com a produtividade nacional nesse setor para competir no mercado internacional.

O deficit no comércio de manufaturados atingiu US$ 16 bilhões já no primeiro trimestre, segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Nos segmentos de média e alta tecnologia, o rombo vai a US$ 22 bilhões. O Brasil está à margem das cadeias produtivas globais que mais criam valor e conhecimento.

Para completar, a conta de serviços --que, além da balança comercial, inclui pagamentos de dívidas, gastos de viagens e remessas de dividendos-- também se desvia para o vermelho. O país se avizinha de um deficit externo de US$ 70 bilhões (3,3% do PIB) em 2013 e pode chegar a US$ 100 bilhões em 2014 ou 2015. Voltaria a dependência de capital externo de curto prazo para fechar as contas.

Não há risco, dirão os mais crédulos. O Brasil tem reservas de US$ 375 bilhões. Mas não se sabe qual será o comportamento dos investidores se os EUA subirem os juros. O filme da fuga de capital já foi visto, e ninguém gostou.

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