sexta-feira, abril 05, 2013

Morte lenta - MARCELO COUTINHO

O GLOBO - 05/04
Depois de tantos retrocessos desde 2008, parece consolidada a tendência de aumento dos buracos na Tarifa Externa Comum (TEC) e do protecionismo no Mercosul. Pouco a pouco, outros países - China à frente - ocupam um espaço que era nosso.

Por inoperância, o Mercosul vive uma morte lenta. Sem coragem de lançar uma nova agenda regional de liberalização porque isso desmentiria tudo o que sempre acreditaram, os governos "esquerdistas" apenas assistem a decadência do bloco econômico.

Não é a primeira vez que o Mercosul passa por dificuldades. A crise do governo De La Rúa quase acabou com tudo. Não obstante, o bloco voltou a crescer com a alternância de poder generalizada que tomou a região e trouxe ânimo novo àquela época.

Agora a situação parece mais grave não porque a Argentina esteja em bancarrota, e sim por causa da perda da importância relativa desse arranjo regional. Vizinhos latino-americanos inventaram uma aliança do Pacífico com livre comércio que nos exclui. E EUA e União Europeia fecham uma gigantesca área do mesmo tipo da qual também estamos fora. O Ocidente está se movendo como não fazia desde 1941.

As peças do tabuleiro internacional estão se mexendo e o Brasil está parado. A política da "paciência estratégica" envelheceu. É fácil constatar a desorganização econômica da Argentina: inflação alta e crescente. Faltam alguns bens nas prateleiras, e os supermercados começam a retirar valores que orientam os consumidores. Enfim, atraso de duas décadas.

Em nada a paciência estratégia pode agora ajudar a Argentina. Ao contrário. As coisas tendem a piorar até mesmo no Brasil, com o desequilíbrio da sua balança comercial e a importação inflacionária não só do vizinho portenho, mas também da Venezuela. A política comercial brasileira deixou todos menos competitivos no bloco.

Infelizmente, o que seria um erro há alguns anos, agora é a única saída: acabar com a união alfandegária para que possamos fazer nossas próprias negociações no comércio internacional sem precisar que todos os vizinhos concordem. O Brasil enfrenta hoje em dia o que o Rio já sofreu, perdendo no passado suas indústrias, enquanto o Brasil se industrializava. Dessa vez, é o país que perde suas indústrias enquanto os asiáticos crescem aceleradamente. Um deslocamento externo.

A indústria brasileira que mal repõe neste momento perdas de 2012 não altera a tendência de voltarmos a sermos vendedores de produtos primários, com raríssimas exceções. A verdade é que esse período, desde o final do governo Lula, deve entrar para a história como aquele em que perdemos o "diamante" do desenvolvimento.

A cooperação com o nosso maior parceiro regional deve prosseguir. Há muito mais em jogo do que economia. O que está acontecendo no Brasil não é culpa do Mercosul. Mas o bloco tem uma trava que se tornou inconveniente. Temos que melhorar para os vizinhos também melhorarem. Sigamos em frente.

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