quinta-feira, abril 11, 2013

Infernos artificiais - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 11/04

A dor de cabeça provocada por uma sucessão presidencial antecipada pode ser infinitamente pior do que ressaca provocada por um uísque falsificado. Quem é do governo que o diga. Daqui para a frente, nada será feito de forma natural e tranquila. Tudo será transformado em crises. Fabricadas exatamente para que alguém ganhe alguma coisa com ela. E, certamente, esse alguém não será o cidadão comum, muito menos o contribuinte. A fila de crises está grande. CPI da Petrobras, o novo marco relatório dos portos, o Orçamento Impositivo, as disputas em torno da Comissão Mista de Orçamento e até mesmo nuances da natimorta reforma política são faces da mesma moeda, cunhada especialmente para tentar colocar o governo nas cordas, ou dificultar a vida a ponto de deixar a presidente Dilma Rousseff no papel de ter que dançar conforme a música ditada pelos congressistas.

A CPI da Petrobras, por enquanto, é o que salta aos olhos. Nenhuma CPI interessa ao governo e essa, muito menos. Mas está proposta justamente por deputados que se dizem aliados ao Planalto: Maurício Quintella, do PR de Alagoas, Leonardo Quintão, do PMDB de Minas Gerais, que ficou insatisfeito com o fato de não ter sido escolhido ministro, e, ainda, Carlos Magno, do PP de Rondônia. Os lideres dos partidos deixam o barco correr. Não estão com pressa de abafar essa ou aquela crise. Deixam correr para ver como é que fica. Afinal, ainda há uma lista de posições de governo restrita ao PT e a técnicos que rezam pela cartilha de Dilma.

Enquanto isso, no plenário...

A única proposta em discussão na Câmara que soa sob encomenda para ajudar a presidente é a janela para troca de partido. Há em curso no Congresso, conforme é do conhecimento daqueles mais familiarizados com o tema, propostas para tentar abrir a janela para troca-troca partidário sem que seja necessário criar uma nova legenda. Mas, na verdade, o que os grandes partidos desejam é coibir a criação de novos partidos com direito a horário eleitoral gratuito de rádio e tevê. Hoje, se um deputado migra para uma nova legenda, leva consigo a fração de rádio e tevê que ajudou seu partido a conquistar. Algo em torno de 2 segundos. As grandes legendas e o PSD de Gilberto Kassab, que se beneficiou da regra há um ano, querem agora estancar essa sangria por causa da oposição. O presidente do PPS, Roberto Freire, se prepara para criar uma nova legenda, fruto da fusão entre o PPS e o PMN. Considera essa proposta a janela para a oposição, da mesma forma que o partido de Kassab funcionou como um portal para oposicionistas interessados em migrar para o apoio ao governo. E é justamente a abertura dessa porta para apoio a Eduardo Campos, do PSB, ou à Rede de Marina Silva que PT e PMDB planejam evitar.

Por falar em PSB...

Na hipótese de os deputados se rebelarem contra a cúpula de seus próprios partidos e preferirem manter a “portabilidade” do tempo de tevê em caso de migração para um novo partido, o Planalto manterá o plano A em relação aos socialistas. Consiste em manter o governador do Ceará, Cid Gomes, agarradinho. Nesse sentido, que ninguém se surpreenda se o PT cearense amansar em relação ao futuro e fechar com o PSB na corrida ao governo estadual. Pelo menos até que o PSB decida seu caminho, é o governador a ponta de lança petista para tentar matar a pré-candidatura de Eduardo Campos. Por isso, daqui para frente, vale observar de perto todos os movimentos de Cid e Ciro Gomes, como também os de Dilma Rousseff em relação ao governador, bem como as crises artificiais, criadas especialmente para emparedar o governo.


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