quinta-feira, março 21, 2013

Tiro no pé - EDUARDO HALPERN

O GLOBO - 21/03

Em diversas declarações à imprensa, autoridades brasileiras vêm reafirmando a sua disposição para coibir eventuais tentativas da rede hoteleira de aumentar abusivamente o preço das suas diárias durante a realização dos grandes eventos previstos para acontecer no Brasil até 2016. Durante a Rio+20, os hotéis já haviam sido pressionados a reduzir os preços cobrados para as delegações estrangeiras que viriam para o evento. Em ambos os casos, foi manifestada uma preocupação de não permitir que o Rio fosse considerado uma cidade cara.

A leitura de tais notícias reforça a impressão de que as empresas brasileiras pretenderiam, malandramente, tirar proveito para aumentar seus lucros de forma indevida. No entanto, basta uma rápida pesquisa para se constatar que tal prática está longe de ser uma invenção nacional ou carioca.

A BBC, por exemplo, constatou um aumento médio de 315% no preço das diárias da rede hoteleira durante as Olimpíadas de Londres. O "The Telegraph" mostrou que as diárias em Pequim chegaram a ser aumentadas em dez vezes durante os Jogos locais. Surpreendente? Mais surpreendente ainda é constatar a reação das autoridades locais diante de tais aumentos. O que elas fizeram? Nada! Aparentemente consideraram que a realização de eventos de grande porte representava uma oportunidade rara para que as empresas locais faturassem mais, pagassem mais impostos e contratassem mais. Foi isso que as fez batalhar tanto para atrair tais eventos! A constatação é importante quando se reconhece que empresas do setor de serviços costumam operar com pequena rentabilidade em períodos de baixa demanda, em função da sua maior capacidade ociosa. Assim, o aumento de preços em períodos de alta demanda é uma ação fundamental para garantir sua sustentabilidade econômica.

É importante que a posição das autoridades brasileiras em relação ao tema seja repensada, já que não teremos eventos de tal magnitude novamente em horizonte de tempo tão curto. Se nossas empresas e nossa sociedade não puderem se beneficiar economicamente das oportunidades proporcionadas pela aproximação da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, estaremos dando um tiro em nossos próprios pés! l 

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