sexta-feira, março 22, 2013

PIB, olhando para a frente - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

FOLHA DE SP - 22/03

Não se deve esperar medida mais heroica do governo no sentido de enfrentar os desafios estruturais


Em nosso encontro passado, chamei a atenção do leitor para o medíocre crescimento da economia em 2012 e fiz uma previsão de dias melhores para este ano. Os dados já disponíveis sobre o comportamento da economia neste primeiro trimestre caminham nessa direção.

O Banco Central divulgou recentemente que o PIB que mede mensalmente, relativo ao mês de janeiro passado, cresceu 1,3% em relação ao mês anterior. Embora a correlação entre esse número e o PIB calculado pelo IBGE tenha sido muito baixa no período recente, esse índice IBC-BR ainda faz parte de um grupo de indicadores utilizados pelo mercado para estimar o crescimento da economia.

Outros números que funcionam como indicadores antecedentes do PIB apontam também para um crescimento mais forte neste trimestre que se encerra. Dois deles me chamaram a atenção e devem ser destaques quando o número oficial for conhecido: o crescimento da produção agrícola e o da produção e da venda de caminhões.

Fernando Montero, um dos analistas que acompanho regularmente, prevê para 2013 um crescimento do PIB agrícola de 8%. Mas, para o primeiro trimestre, em razão da sazonalidade da agricultura, o crescimento pode chegar a 13% em relação ao mesmo período de 2012.

Como o peso da agricultura no PIB é da ordem de 5%, somente esse item deve gerar um crescimento de cerca de 0,6%.

Outro setor da economia que vem mostrando um crescimento elevado, neste início de ano, é o de caminhões, bom indicador da formação bruta de capital, nome complexo do investimento nas contas nacionais do IBGE.

Com isso, mantendo o crescimento do setor de serviços na faixa dos 2,5% ao ano e projetando uma recuperação da indústria da ordem de 3%, chegamos a um crescimento no trimestre -em relação ao trimestre anterior- da ordem de 1,3%, ou seja, 5,2% anuais.

Mas, com a sazonalidade da agricultura, a taxa de crescimento dos trimestres seguintes deve se reduzir para algo como 0,8%, ou seja, 3,2% ao ano. Com isso, o número final de crescimento do PIB em 2013 será -se suas avaliações estiverem corretas- de 3,3%, com os serviços crescendo 2,6%, a indústria, 3,0%, e a agropecuária, 8,3%.

Outro economista que acompanho nas avaliações de conjuntura de curto prazo é Fabio Ramos, da Quest Investimentos. Suas previsões estão na mesma direção de Fernando Montero, mas com uma velocidade de crescimento mais baixa. Seus números hoje são 1% de crescimento para o primeiro trimestre deste ano e 2,9% a 3,2% para o ano como um todo.

Se confirmadas essas previsões, dois comentários se impõem: o primeiro é que, dado o crescimento medíocre de 2012, esses números ainda mostram uma economia com extrema dificuldade de retomar a velocidade de crescimento do período de ouro de Lula.

A segunda observação é a que essa velocidade de crescimento será suficiente para manter a geração de emprego no nível mínimo necessário para perenizar o nível atual do desemprego.

Portanto, a correção dos salários nos próximos meses deve se manter acima da inflação, garantindo aumentos reais aos trabalhadores.

Como já entramos no radar das eleições presidenciais do próximo ano, não se deve esperar nenhuma medida mais heroica do governo no sentido de enfrentar os desafios estruturais que dominam a economia brasileira hoje. Essa velocidade de crescimento e a manutenção da situação de quase pleno emprego devem ser suficientes para garantir a reeleição da presidente.

Por isso vamos continuar a ver -e a conviver- por muito tempo ainda as filas absurdas de caminhões nos principais portos do país, bem como os atrasos de dias para que os navios possam embarcar suas cargas, onerando nossas exportações.

Também as pressões inflacionárias que começam a crescer em razão de descompassos de oferta em mercados importantes serão enfrentadas com medidas paliativas, como redução de impostos na ponta do consumo. Até mesmo a política de superavit fiscais primários, que têm permitido uma redução continuada da dívida pública, será imolada no altar da reeleição.

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