terça-feira, março 12, 2013

O preço do passado - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 12/03

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso assumiu de vez o posto de “puxador do samba” no PSDB, da mesma forma que Lula exerce esse papel no PT. Foi Fernando Henrique que, pela primeira vez, citou a necessidade de seu partido preparar um projeto para atender às demandas da nova classe média. Essa semana, parte dele a linha mestra que os tucanos devem seguir daqui por diante, no sentido de retomar o projeto das privatizações que o PT tomou emprestado.

Para quem não leu as últimas declarações de Fernando Henrique, aqui vai um breve resumo. Do México, onde participa de reunião da Sociedade Interameicana de Imprensa, o ex-presidente avalia que os petistas pegaram o projeto de concessões de serviços públicos e não estão executando a contento, haja visto o atraso nas obras, especialmente, nos aeroportos. Emenda dizendo que, se é para seguir por esse caminho de concessão de serviços — caso da energia, dos aeroportos, dos portos e das estradas —, que passem o bastão para o PSDB, que sabe como fazer.

Nas considerações de Fernando Henrique, publicadas ontem em O Estado de São Paulo, ele menciona ainda as dificuldades da Petrobras e o endividamento da classe média, dizendo que o PSDB terá os meios de resolver os problemas.

Ora, como dizia uma velha frase de um dos programas eleitorais, “se fosse fácil, alguém já tinha feito”. Talvez, se o PSDB tivesse se colocado na defesa dos serviços privatizados e das concessões desde que era governo, os petistas não teriam sucesso ao tentar tirar esse discurso do partido de FH. Mas agora não adianta mais os tucanos chorarem perante o leite derramado.

O desafio de retomar a proposta recairá sobre o colo do senador Aécio Neves (PSDB-MG). Está nas mãos dele a missão de corrigir o biombo erguido por três campanhas presidenciais, que evitaram o debate das privatizações para não dar margem ao discurso petista de que houve erros no processo durante o governo Fernando Henrique Cardoso.

O ex-governador de São Paulo José Serra perdeu a condição de defender os ativos do governo FHC desde 2002, quando resumiu a gestão tucana a seus feitos na saúde. Praticamente repetiu a dose em 2010, quando sua campanha ressaltou os benefícios que empreendeu como governador de São Paulo, como por exemplo, a nota fiscal paulista, copiada depois em várias unidades da Federação. Entre 2002 e 2010, Geraldo Alckmin passou a campanha inteira renegando as privatizações.

Agora, FHC quer que Aécio desfile no ritmo de seu antigo governo jogando para frente, da mesma forma com que Lula quer Dilma Rousseff em harmonia com o do antecessor. O problema é que os petistas têm uma máquina governamental voltada para isso, enquanto Aécio só tem hoje a tribuna do Senado e as entrevista que concede aqui e ali.

A luta será tão desigual quanto a que resultou na desoneração de impostos dos produtos da cesta básica. Apenas os privilegiados leitores de jornais sabem que há seis meses essa proposta foi apresentada pelos tucanos e vetada pela presidente Dilma Rousseff. A maioria do eleitorado, entretanto, atribui tal iniciativa exclusivamente à presidente, que a anunciou em alto e bom som na última sexta-feira no rádio e tevê. Esse episódio passou e, para o eleitor, interessa o resultado e não o autor do pedido.

Enquanto isso, no “data-táxi” paulistano…

Os taxistas ainda não estão fechados com o atual prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Quando alguém pergunta sobre como está a atual administração da cidade, a maioria responde que ainda não há o que dizer porque, “até agora, Haddad não fez nada”. Os mesmos cidadãos não elogiam os tucanos. Muitos têm a sensação de que os dois partidos estão muito parecidos, tudo igual. Há quem diga que nem quer mais votar. Mais um desafio para os candidatos superarem. Sob pena de levarem um “chapéu” do eleitor. Mas essa é outra história.

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