quinta-feira, março 14, 2013

Formiga não é elefante - BORIS FELDMAN

Correio Braziliense - 14/03

Fábrica de automóveis não adere ao programa de etiquetagem pois o governo "se esqueceu" de avisar que o consumo lá estampado não é o mesmo do dia a dia

Todo motorista tem curiosidade de saber o consumo de seu automóvel. Pode não ser fator determinante para quem compra um luxuoso importado, mas é fundamental para quem procura um compacto barato. Quantos quilômetros o carro faz por litro de combustível, na estrada e no trânsito urbano, eram valores sempre presentes nos manuais de cada modelo. E uma fonte de dor de cabeça para os fabricantes, pois o consumo varia de acordo com dezenas de fatores, o que leva o dono do carro a protestar quando não é o valor anunciado. Influem o "peso" do pé direito do motorista, a qualidade do combustível, a carga transportada, a regulagem do motor, a topografia da cidade, a velocidade média, a calibragem do pneu, a altitude, a umidade e muitos outros. Por isso, várias fábricas decidiram omitir esse valor para evitar até questionamento judicial por alguns motoristas.Antes de se estabelecer um padrão de aferição, cada fábrica determinava esse valor de acordo com seus próprios critérios. E aí vinha a história do carro que era testado com um motorista bem magrinho, sem estepe nem manual (para reduzir peso), pneus calibrados no máximo, (para diminuir atrito), numa estrada bem asfaltada, na beira da praia, com ventos favoráveis...

A ABNT publicou então uma norma (NBR 7024) que estipulou como aferir o consumo. É um teste de laboratório, sobre dinamômetro de rolo, que simula as acelerações, freadas e mudanças de marchas semelhantes às que se praticam no dia a dia. É claro que o resultado obtido pode se aproximar, mas não reflete os valores reais encontrados pelo dono do carro. É um referencial, ou seja, só dá para comparar o consumo entre dois modelos.O Inmetro criou então um programa de etiquetagem baseado na classificação de cada modelo em seu segmento de mercado. Entre os diversos hatches compactos, por exemplo, qual apresenta o menor consumo? E o maior? A partir dessa classificação, dependura-se uma etiqueta no vidro do carro que ainda está no showroom. Assim, o freguês tem condições de comparar quanto bebe um modelo em relação a outros do mesmo segmento. Mas o programa de etiquetagem esbarra num problema: como é voluntário, nem todas as montadoras aderiram, o que impede a comparação.

Perguntei a um diretor da GM por que ela não aderiu ao programa. "É simples" — ele respondeu. "Nossa pesquisa indicou, primeiro, que quase ninguém repara nelas, assim como nas geladeiras, onde elas também estão dependuradas mas ninguém dá pelota". E terminou com um argumento irrefutável: "Segundo, porque se repararem, será pior, pois o governo "se esqueceu" de explicar que o consumo estampado na etiqueta não é o que o motorista vai conseguir no dia a dia. Já pensou a quantidade de aborrecimento que teremos de enfrentar até provar que formiga não é elefante?"

Um comentário:

Anônimo disse...

Bom dia Boris , eu vi sua coluna no correio Braziliense desta quarta feira (10) sobre o carro JAC 2 , e eu queria dar a sugestão sobre um fato sobre o carro AZERA , comprei , mas não era aquilo que esperava . Poderia me ajudar ? Aerton Marzagão .
(61) 8466-7222