quinta-feira, fevereiro 14, 2013

Telefonia imóvel - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 14/02


Deficiências das operadoras de celular não são novas nem desconhecidas pela Anatel, mas agência reguladora falha na defesa dos usuários

No celular, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversa com a sucessora, Dilma Rousseff, e a ligação cai. A falha se repete duas vezes. O relato de um ministro, de agosto de 2012, é um exemplo acabado das agruras do usuário de telefonia móvel no país.

Não há, portanto, novidade no relatório da agência reguladora do setor, a Anatel, que indica estar abaixo do estipulado a qualidade da internet por celular ou tablets (3G) e do envio de mensagens de texto (SMS).

O estudo apontou que, entre agosto e outubro do ano passado, 4% do tráfego de internet e SMS teve falhas de conexão ou envio. É o dobro do limite permitido, fixado pela própria Anatel.

Ainda mais preocupante é que, apesar de os problemas serem recorrentes, a agência não age com rigor para impedir que se repitam. Segundo a Anatel, nenhuma das operadoras será punida desta vez, mas não estão descartadas medidas "severas", se necessárias.

A transigência poderia ser aceitável se o setor de telefonia móvel não fosse figura frequente nos diversos rankings de reclamações de consumidores. As operadoras de celular lideraram, por exemplo, a lista de reclamações aos vários Procons do país em 2012.

Nem mesmo a reação de julho do ano passado, quando a Anatel suspendeu a venda de novos números pelas marcas Oi, Tim e Claro, parece ter produzido efeitos.

Desde então, não são raros os relatos de panes no sistema das três operadoras e também da Vivo (que não foi punida na ocasião), como a que afetou milhões de usuários no Estado de São Paulo no mês passado.

A infraestrutura é claramente insuficiente para acomodar o crescimento do número de usuários -há mais de uma linha de celular por habitante- e dos acessos à internet por aparelhos móveis.

No final de 2012, a média era de 66 milhões de acessos via banda larga móvel (3G) por mês. Um crescimento de 170% em relação ao início de 2011.

As operadoras dizem, em sua defesa, que ampliaram os investimentos. Prometem fazer novos aportes para melhorar a qualidade do serviço. Para o consumidor que paga caro, no entanto, o salto de qualidade não se materializou nem parece à vista.

O celular, para o brasileiro, é muitas vezes o único telefone de que dispõe para falar com amigos e clientes. E, com cada vez mais frequência, também sua porta de entrada para a internet.

Oferecer um serviço ruim e a preços exorbitantes é intolerável. Cabe à Anatel cobrar das empresas a garantia de que entregarão o que prometem à agência e aos usuários.

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