terça-feira, fevereiro 26, 2013

Onde estaremos, para onde iremos? - ANTONIO DIAS LEITE

O GLOBO - 26/02

Cada pessoa que procure interpretar a vida econômica e social do país tende a enfatizar diferentes componentes históricos: crescimento econômico, repartição da renda e eliminação da pobreza, consumo e poupança, estabilidade monetária, responsabilidade fiscal, contas externas, dentre tantas outras. Com o advento de sofisticada globalização financeira surgem outros requisitos que se superpõem aos tradicionais da economia real. Incluem-se ainda o desenvolvimento sustentável e a mudança climática.

As discussões em torno desses temas envolvem de um lado preferências políticas e, de outro, teorias econômicas. Além de tudo isso, é diferente a visão de curto e de longo prazos de cada agente econômico ou analista, em função da posição que ocupa na sociedade: em cargo público, na atividade privada, ou na academia.

Cada vez mais se complicam as tarefas de formular, conduzir ou comentar a política econômica corrente, neste momento em que, na falta de uma estratégia nacional de longo prazo, estamos, na opinião de muitos, desnorteados.

Convivemos, no campo político, com uma coalizão partidária sem consistência programática, sem muito interesse e consideração pelo bem comum e que domina o Congresso. Há indício recente inclusive que o choque ético, protagonizado pelo STF, com a participação da sociedade civil, possa não vir a ter o efeito sanea-dor que dele se espera.

Temos que levar a reboque também, com enorme e cada vez mais ineficiente máquina administrativa instituída e politicamente aparelhada, neste princípio de século, a duplicação do número de ministérios e a multiplicação de cargos de confiança, ocupados por funcionários sem concurso que, não obstante limpeza parcial já feita, porém sem resultado significativo, não ajuda. Improvisa programas e planos de ação em grande parte inexequíveis e cria incessantes crises de gestão imprópria.

A ausência de reconhecimento explícito de erros e falhas de governança e de punição adequada, segundo a gravidade das culpas, gera a suspeita, que hoje existe, da conivência, que se estende ao comportamento ético das próprias pessoas face à sociedade.

Tudo isso convergiu, até agora, no campo econômico, para a infeliz combinação de desaceleração do crescimento com aceleração da inflação.

Fora do governo aumentam o número e a confluência de opiniões expressas na mídia, que alertam sobre o perigo da falta de rumo consistente para o desenvolvimento sustentável do país. Muitas dessas manifestações têm caráter de oposição política partidária. Outras têm conteúdo técnico e objetivo construtivo. No entanto, diante da complexidade do quadro adverso em que o Brasil e seus dirigentes se meteram, seria necessário, para encontrar um caminho, deixar de lado atitudes teóricas intransigentes, aceitar o contraditório e somar esforços e competências, onde estiverem, o que não parece ser, até aqui, do gosto do Planalto. A principiar pela indisposição, no âmbito do Poder Executivo Federal, de rever erros cometidos: 1— na área das finanças públicas, que resultaram na destruição da ideia de responsabilidade fiscal, a duras penas conquistada, colocando sob suspeita a informação oficial;2 — na área de infraestrutura, com a (desmontar, desarranjar) desestrutura-ção dos setores de energia, além da consequente insegurança institucional; 3 — na área das obras públicas, com inúmeros projetos fisicamente inexequíveis ou sem viabilidade econômica, que precisam ser descartados.

Diante dos embaraços impostos por esse complexo quadro, a presidente Dilma Rousseff ainda conta, na metade do seu mandato, com a aprovação da maioria da opinião pública, que reconhece o mérito do seu esforço em prol do progresso social e confia nas suas boas intenções. É difícil prever, no entanto, o que se passará na segunda parte do mandato.

Às dificuldades que já enfrenta se somarão à necessidade de assegurar apoio político para a sua candidatura à reeleição, por ela própria anunciada, o que pode impedir tentativas de recuperação, tanto da máquina administrativa do governo como das estruturas degradadas da economia nacional. No entanto, essa recuperação é, por sua vez, indispensável à retomada do desenvolvimento econômico, que possa sustentar a consolidação do progresso social, sem o qual o seu prestígio declinará, dando lugar, inclusive, ao "fogo amigo”!

A conjugação de perspectivas ruins, tanto políticas como econômicas, nos conduz à desesperança. Onde estaremos no final de 2014? E para onde iremos, a seguir?

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