quinta-feira, fevereiro 21, 2013

Olho nos serviços - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 21/02

Ontem saiu o último dado do Banco Central sobre nível de atividade da economia em 2012. Por esse indicador, o crescimento do país ficou um pouco acima de 1%, mas o dado do BC não tem refletido muito o número oficial do IBGE, que ainda será divulgado. Todo mundo viu que a indústria se esborrachou, mas o que pouca gente se deu conta é que o setor de serviços caiu fortemente, e ele tem a maior fatia do PIB.

A economista Silvia Matos, do Ibre/FGV, alerta para esse detalhe. O que tem surpreendido para baixo no PIB é o setor de serviços. O gráfico mostra a desaceleração desde o terceiro trimestre de 2010. Os serviços cresciam a um ritmo de 5,4% e de lá para cá só perderam força. Foram a 1,5% no terceiro tri de 2012, último dado do IBGE. Como os serviços têm um peso de quase 70% no crescimento, eles explicam melhor o que está acontecendo.

- O governo tenta salvar a indústria, mas tem um diagnóstico equivocado. O que melhor explica a queda do PIB é o setor de serviços e ele também pode estar enfrentando problemas estruturais - disse Silvia.

Os entraves da indústria já são conhecidos, por isso, esse alerta para os serviços é preocupante. Silvia acredita que o problema está no mercado de trabalho, porque o setor de serviços é intensivo em mão de obra e cresceu muito nos últimos anos incorporando trabalhadores ociosos. Com a queda do desemprego, o crescimento terá que vir por treinamento e educação:

- Em todo o mundo, crescer décadas seguidas pelos serviços é um enorme desafio. Os EUA conseguiram.

Mas eles investiram muito em educação, por muitos anos, e começaram há muito tempo.

Dois subsetores dentro dos serviços têm um cenário particular e desafiador: o mercado financeiro expandiu muito a concessão de crédito, que mais que dobrou em 10 anos, e a inadimplência permanece alta. Sofreu uma desaceleração fortíssima, de 6,3% de alta no terceiro tri de 2011 para 0,6% no mesmo período de 2012, numa taxa acumulada de 12 meses. Da mesma forma, os serviços de informação cresceram pelo boom inicial da internet e da telefonia móvel. Saíram de 4,9% para 3,4%.

Também chama atenção o PIB do comércio, que despencou de 5% para 1,1%, no mesmo tipo de comparação.

Olhando o PIB por dentro, outros indicadores são ruins. Os investimentos caem há cinco trimestres e as projeções apontam para uma nova retração quando sair o número de 2012, em março. Só dá para dizer de bom que a retração no quarto trimestre deve ser menor que a ocorrida no terceiro: -1,6% contra -2%.

A indústria cresceu 1,1% no terceiro tri mas deve desacelerar para 0,3% no quarto, pela projeção do Ibre. Ou seja, todo o esforço para levantar o PIB industrial não deu o resultado que se esperava. No ano, a indústria deve fechar com retração de 0,8%.

Pelo lado que cresce, quem lidera é o consumo do governo, que deve fechar o ano com alta de 3%, acima do consumo das famílias, em torno de 2,9%. A queda do comércio em dezembro acendeu a luz amarela sobre o vigor das vendas. A impressão generalizada é que a economia neste início de ano continua morna.

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