terça-feira, janeiro 29, 2013

Gestos & rotinas - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 29/01

O gesto da presidente Dilma Rousseff de se deslocar até Santa Maria (RS) e prestar solidariedade aos familiares das vítimas do incêndio da boate Kiss e acompanhar de perto as ações, comentado aqui ontem, dividiu opiniões, e não sem razão. Afinal, o país não está acostumado a ver seus governantes em cenários trágicos. Nessas situações, os frios marqueteiros, pagos para pensar em como colher louros políticos de tudo, sempre aconselham as autoridades a soltar uma nota oficial, mas não aparecer muito para que não tenha a imagem vinculada à tragédia.

A imagem de Dilma no hospital e no centro esportivo, onde pais e mães choravam a dor de perder seus filhos tão jovens, foi obra da própria presidente. Ali, os marqueteiros foram dispensados. Uma leitora gaúcha não acredita que seja uma mudança de atitude. Ela suspeita que Dilma tenha adotado a postura de cancelar tudo e ir direto a Santa Maria por conta de seus laços afetivos e políticos com o Rio Grande do Sul.

E pergunta: “Onde estava Dilma tantas outras vezes? Por que não recomendou ao ministro da Saúde que, em cooperação com o secretário de Saúde do DF, investigasse os casos recentes de abusos de médicos e as mortes, inclusive de um filho de funcionário público (na verdade, Marcelo, filho do presidente da Embratur, Flávio Dino)? Quando morreu um assessor, houve mobilização, mas o resto de nós fica à deriva. Onde estava Dilma quando ruíram os prédios na Cinelândia há um ano? Onde estava Dilma quando o Correio publicou há cerca de uma semana a série de artigos sobre as comunidades esquecidas e paupérrimas de Goiás? Não é seu plano acabar com a pobreza extrema? Por que não convocou seus ministros e mandou-os tomar providências, ajudando os secretários de Goiás e do DF e liberando recursos?”.

Obviamente, um presidente da República não pode estar em todos os lugares, tampouco ler tudo o que sai nos jornais. Mas a leitora tem razão no que diz respeito à necessidade de um governante antenado. Ela recorda que, no passado, com o Rio de Janeiro alagado, em 2010, o então presidente, Lula, manteve sua agenda sem se preocupar se as pessoas teriam condições de chegar ao trabalho. O governador do Rio, Sérgio Cabral, tampouco largou seus afazeres no ano-novo para acompanhar a tragédia em Angra dos Reis.

Agora, há uma expectativa — não só entre os petistas, mas entre os políticos de uma maneira geral — de que esse gesto de Dilma não tenha sido apenas por conta da ligação pessoal com o Rio Grande do Sul, mas uma atitude que se torne normal, seja quem for o presidente da República. Os governantes e, por tabela, seus partidos, têm que adotar uma postura de parceiros da população, atentos às dores e às necessidades do povo. Parece o óbvio, mas é preciso reforçar isso, até para que as posições dos líderes políticos não sejam meros projetos de poder, como se vê hoje, por exemplo, na disputa pela presidência da Câmara e do Senado.

Por falar em Congresso…

Muito tem se falado nos últimos dias sobre ética e sobre a candidatura de Renan Calheiros (PMDB-AL) à presidência do Senado. Vale perguntar por que nenhum dos peemedebistas indignados se apresenta para concorrer contra o senador alagoano. Afinal, se a indignação é tão grande, deveriam ser candidatos, nem que fosse para ter apenas o próprio voto, uma vez que cabe ao maior partido ter a presidência da Casa. Na Câmara, a deputada Rose de Freitas (PMDB-ES) está em plena campanha contra Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e Osmar Terra (PMDB-RS) se lançou de corpo e alma na disputa pela liderança do partido, numa campanha hoje polarizada entre os deputados Eduardo Cunha, do Rio de Janeiro, e Sandro Mabel, de Goiás, ambos considerados polêmicos.

Tudo isso mostra que ali, no Congresso, também há aqueles que reclamam, mas não tomam atitudes. Sinal de que gestos e rotinas estão mesmo descompassados. Esperamos que os gestos de solidariedade e de se apresentar para disputas virem rotina. Afinal, se ninguém agir, nada vai mudar mesmo.

E os prefeitos, hein?

Os prefeitos petistas fizeram uma reunião ontem pela manhã antes do encontro global, com prefeitos dos mais variados partidos, no qual Dilma anunciou recursos para saneamento. Ali, os eleitos ou reeleitos pelo PT trataram da candidatura da presidente à reeleição como algo líquido e certo e lembraram que é preciso ficar atento ao PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Mas essa é outra história.

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