terça-feira, janeiro 22, 2013

Faltam líderes, dizem os líderes - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 22/01


Pesquisa mostra que o "povo de Davos" tem escassa confiança nos que fazem a governança global


ZURIQUE - Os senhores do universo, que há 43 anos se reúnem todo janeiro em Davos para o Fórum Econômico Mundial, assumem que estão em dívida com o mundo.

É a interpretação cabível para os resultados do Índice de Confiança Econômica, uma pesquisa que o Fórum fez com 390 especialistas, divulgada ontem, antevéspera da inauguração do encontro-2013.

Perguntados sobre seu teor de confiança em relação a cooperação, economia e governança globais, é neste último quesito que aparece a maior dose de desconfiança: a maioria (50,5%) diz ter pouca ou nenhuma confiança. Escassos 14,6% são otimistas. Os demais são neutros.

Como governança global é responsabilidade não só do governo, mas também das corporações, muitas vezes mais poderosas que os próprios governos, fica claro que há uma desconfiança planetária nos líderes.

Desconfiança que aparece também no quesito "cooperação global", outro ponto que depende de líderes fortes e competentes: apenas 24,6% dos pesquisados confiam em que haverá cooperação, contra 44,6% que têm pouca ou nenhuma confiança. Porcentagens parecidas surgem quando se fala em confiança na economia global: 22,6% confiam, 43,1% desconfiam.

Depõe Martina Gmür, chefe da Rede dos Conselhos da Agenda Global, um dos muitos braços do Fórum Econômico Mundial:

"Liderança emerge como o maior desafio para todo o ano de 2013 e além dele, o que talvez não seja surpreendente se se considerar que quase todos os líderes de hoje cresceram em um mundo totalmente diferente do que temos atualmente".

Reforça Pascal Lamy, chefe da Organização Mundial do Comércio: "Necessitamos governança global adequada e que tenha os necessários instrumentos, poder e energia para criar um campo de jogo mais equilibrado no nível internacional".

A anemia da liderança planetária ajuda a explicar por que a economia continua patinando cinco anos após eclodir a chamada Grande Recessão, ao menos na percepção dos pesquisados pelo Fórum.

É verdade que a confiança no estado da economia mundial melhorou algo neste início de ano: o Índice de Confiança Econômica subiu de 0,38 no último trimestre do ano passado para 0,43 agora, em uma escala de 0 a 1. Mas permanece em território negativo.

Para dobrar a esquina rumo ao positivo, é necessário alcançar 0,5, com o que se volta ao deficit de liderança: "Precisamos de liderança dinâmica para conduzir a economia para a frente e superar desafios", diz Martina Gmür.

É nesse ambiente morno que começa o encontro anual-2013. E começa, mais uma vez, com raquítica presença brasileira. Só um ministro (Celso Amorim, Defesa, área que não está no foco das preocupações). Da equipe econômica, só Luciano Coutinho, presidente do BNDES, em geral avesso a holofotes.

O governo perde, com isso, a chance de mostrar para os senhores do universo, o público de Davos, que a economia brasileira está longe de ser "moribunda", como chegou a dizer a "Economist", a revista mais lida em Davos.

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