sexta-feira, janeiro 18, 2013

Cadê o espírito esportivo do COB? - BARBARA GANCIA

FOLHA DE SP - 18/01


O fato de o comitê não ver o uso da palavra como homenagem já deveria cheirar a mercantilismo


O sr. Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olím­pico brasuca, merece uma medalha. Não bastasse a evolução ocorrida no panorama esportivo nacional ao longo do seu breve mandato (o que são duas decadazinhas no poder, afinal?), ele ainda poder se jactar de uma edição im­pecável dos Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007.

Não é à toa a enor­me pressão para vê-lo sair candida­to a presidente do país, não? Ué, ninguém nunca pressionou para que ele virasse o Romney tapuia? Como assim?

Das piscinas do Complexo Aquá­tico Maria Lenk, como bem sabe­mos, desfrutam todas as crianças provenientes das comunidades pa­cificadas. Passamos a produzir campeões olímpicos aos borbo­tões, a mudança a partir do Pan do Rio foi notável. E a pulverização do autódromo de Jacarepaguá, patri­mônio do esporte nacional, é outra medida merecedora de loas.

Pois esta magnífica entidade, que não viu as contas do Pan carioca de 2007 aprovadas pelo TCU até hoje e vive cercada por denúncias, resol­veu nos agradar de novo.

O COB está tomando medidas judiciais -veja que beleza!- para prevenir que universidades e associa­ções de pesquisa usem a palavra "o­limpíada" em suas competições educacionais -como Olimpíada de Matemática ou de História. Alega o Comitê Olímpico Brasileiro que o uso das palavras "olimpíada" e "jo­gos olímpicos" é privativo" seu.

Do latim "olimpiade" e do grego "olimpiados", genitivo de olímpias, o termo era usado pelos gregos como indicador de unidade de tempo. Foi revertido ao uso moderno em 1896 pelo amigo Coubertin.

Ser olímpico, por outro lado, significa pertencer ao Olimpo, ser um deus grego ou, de novo, quando re­vertido ao uso moderno, ser al­guém que compete em Olimpíadas. Há ainda outros três ou quatro usos e formas, uma ligada ao Monte Olimpos da província de Elis e ou­tra ao Monte Olimpos da Tessalô­nica. Mas, calma, o objetivo aqui não é causar um ataque de narco­lépsia para provar o meu ponto.

O COB justifica sua atitude gulosa alegando que a exclusividade do uso do termo "olimpíada" tem um "caráter educativo" para não "vin­culá-lo a questões comerciais".

O mero fato de o comitê não en­xergar no uso da palavra por enti­dades educativas uma homenagem ou tentativa de emular o espírito olímpico, que deveria ser jogar lim­po e não meter dinheiro no meio da história, já deveria cheirar a mer­cantilismo arregaçado.

Quem é que está tentando garan­tir todas as vantagens para si da for­ma mais ganaciosa possível? Onde estão a camaradagem, a tolerância, a ética, a nobreza que o esporte re­quer e todas as qualidades mais ca­ras à formação do indivíduo? Cadê a parte educativa nesse gesto grosseiro e tão típico da perda de valores dos tempos atuais que está sendo perpetrado pelo COB?

Ou será que... Peraí... Será que es­tamos diante de um novo "Corte de cabelo do Ronaldo"?

Na Copa do Japão, para desviar o foco do seu desempenho, Ronalducho apareceu em campo com um novo corte de cabelo, e todas as lentes e flashes se concentraram no seu cocuruto. A partir daquele momento, ninguém mais falava de jo­go, só do corte "Cascão" do Ronaldo. Objetivo alcançado.

Se for essa a manobra que o COB está tentando (não duvido de mais nada) ao querer se apropriar da pa­lavra "olimpíada", eu também exijo tomar posse de alguns termos. Quero para mim, desde já "orça­mento quadruplicado", "equipa­mentos inutilizados" e "denúncias de superfaturamento". Bora alugar a orelha do juiz!

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