quarta-feira, janeiro 09, 2013

Apostas & blefes - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 09/01


O leitor que se prepare. Até setembro, está aberta a temporada do pôquer e do truco políticos, repleta de jogadas ousadas e outras nem tanto. Falei um pouco sobre isso no último domingo. Ali, o tema foi Marina Silva e seu desejo de formar uma nova sigla. Agora, vem parte do grupo aliado ao ex-governador de São Paulo José Serra na mesma batida de uma nova legenda. Os dois casos nos dão alguma pista de onde estão os blefes e os projetos, ainda que remotos.

No caso de Marina, seu projeto tem, pelo menos, um rumo: a defesa das causas ambientais. Seria uma espécie de “Partido Verde do B”, com características próprias, aliadas ainda a um discurso que trata da nova forma de fazer política. Vejamos a situação de José Serra. O projeto de um novo partido nasce com um ar de plano B, pelo fato de o ex-governador ter perdido a condição de primeiro da fila dentro do PSDB para concorrer à Presidência da República. E fica à beira de virar um blefe no momento em que surge a perspectiva de que esse assunto só seja debatido depois da troca de comando do PSDB, em maio.

O prazo limite para filiações partidárias de candidatos às eleições do ano que vem vale para Serra e para Marina. O ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab levou quase dois anos para consolidar o PSD. Sendo assim, Serra e o presidente do PPS, Roberto Freire, não teriam condições de formar um partido em cinco meses. Sobraria a Freire, conforme consta hoje na reportagem de Paulo Tarso de Lyra, neste Correio, filiar Marina e Serra ao PPS. Esse projeto é considerado inviável pelos aliados de Marina, uma vez que ambos têm o mesmo objetivo: concorrer à Presidência da República. Por isso, fica difícil acomodá-los bem, seja dentro do PPS ou de qualquer outro partido.

A forma de receber os dois seria Marina aceitando uma vaga de vice numa chapa encabeçada por Serra. Mas se Marina quer pregar algo novo, como pode ser candidata a vice numa chapa encabeçada por um político que, embora competente e bem avaliado em todos os cargos públicos que exerceu, vem do PSDB que ela tanto criticou? A primeira impressão dessa aliança soaria tão esquisita quanto colocar num mesmo prato feijoada com bacalhau à portuguesa. Não combinam.

A maior ponte que une Serra a Marina, hoje, além de Roberto Freire, é o fato de os dois fazerem oposição à presidente Dilma. Têm em comum ainda o isolamento nos respectivos partidos. Serra parece tão isolado no PSDB quanto Marina esteve no PT. A diferença é que Serra foi enaltecido em várias oportunidades pelo PSDB, teve por duas vezes a chance concorrer à Presidência da República e perdeu. Marina não obteve essa deferência dos petistas e ainda se viu exonerada do cargo de ministra do Meio Ambiente de Lula ao trombar com Dilma Rousseff. Portanto, ou Freire acolhe Marina ou acolhe Serra. Se optar por Serra, o que parece mais provável, terá dificuldade para construir uma “novidade”. Uma terceira campanha serrista, ainda que por um partido diferente, soaria velha e com um tempo de TV ainda menor do que o do PSDB.

Enquanto isso, no PSDB…

Muitos tucanos consideram esses movimentos de Serra uma tentativa de cavar espaço dentro do partido e sair do isolamento. E, num ponto, Serra tem razão: quem foi para o segundo turno contra Lula, em 2002, e contra Dilma, em 2010, não pode ser desprezado. Ocorre que a fila tucana de candidatos a presidente andou e, ao que tudo indica, Serra quer continuar na frente. Portanto, para que essa relação seja refeita, o PSDB tem que estancar esse desprezo ao ex-governador. Serra, da sua parte, precisa largar essa obsessão por ser candidato a presidente da República. Afinal, o inimigo comum entre Serra e Aécio Neves, o virtual candidato do PSDB à Presidência da República, é o PT de Lula e Dilma. E, enquanto os tucanos brigam entre si, fica difícil buscar um rumo para alavancar uma pré-campanha contra os petistas. Para sorte da oposição, os ventos, no momento, parecem não soprar a favor do governo.

Por falar em Dilma…

A presidente volta hoje disposta a botar ordem no setor de energia. Não ficou nada bom ela fechar 2012 prometendo uma conta de luz mais barata e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, abrir 2013 dizendo na tevê que a conta de luz pode ficar mais salgada por causa do acionamento das usinas térmicas movidas a óleo. Lá vem bronca. Podem apostar.

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