quarta-feira, janeiro 16, 2013

A hora das décadas - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 16/01


Empenhado em esticar ao máximo sua estada como inquilino do Palácio da Alvorada, o PT prepara a largada de 2014 disposto a colocar na roda a chamada política de resultados. Baseados na premissa de que ondas de denúncias não influenciam tanto os resultados eleitorais — nem para o partido de Dilma Rousseff nem para os adversários dela —, os petistas preparam uma guerra de números. A ordem é perguntar ao eleitor quando o país melhorou mais, se na década em que foi administrado pelo PT (governos Lula e Dilma) ou no período em que foi comandado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, incluídos aí os dois anos do governo Itamar Franco, quando foi concebido e implantado o Plano Real.

Esse discurso começará a ser montado ainda este mês no seminário dos prefeitos marcado para a última semana de janeiro. Ali, a presidente Dilma pretende anunciar um “robusto” programa de saneamento para atender os municípios de até 50 mil habitantes. O líder do partido na Câmara, José Guimarães (CE), vai propor na semana que vem uma fórmula que permita ao Poder Executivo atender ainda o lado político nessa história: “Precisamos combinar três vertentes: emendas parlamentares, atendimento aos prefeitos e desenvolvimento. Afinal, 2013 pede pressa”, diz ele.

O líder tem razão quando diz que o ano pede pressa. Como bem lembrou o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, numa entrevista ao Correio no ano passado, é preciso ganhar 2013 para conquistar 2014. O PT parece ter entendido o recado e pretende puxar esse debate já com os prefeitos antes que os adversários deixem prosperar a versão deles sobre esses últimos dez anos.

A ideia dos petistas é preparar o debate de métodos sobre a construção do país. O PT baterá na tecla que, em seu período, 40 milhões de brasileiros ascenderam socialmente fortalecendo o mercado interno, em especial, o de consumo. E esse quesito da ascensão social é considerado emblemático para os petistas tentarem mostrar que o método deles é mais eficaz que os dos adversários, apesar dos problemas que o partido tenha enfrentado, como o caso do mensalão.

A oposição, por sua vez, dirá que o governo tucano foi quem forneceu os alicerces para que os programas sociais, muitos deles lançados no governo Fernando Henrique, dessem resultado. Esses ingredientes, aliás, estiveram presentes nos programas do partido no ano passado, embora não tenham sido explorados nas campanhas presidenciais do PSDB, mais voltadas às realizações de José Serra na área de saúde do que na privatização da telefonia, uma iniciativa que popularizou o serviço, apesar dos problemas que o partido enfrentou, que geraram as acusações de “privataria”.

Assim, colocadas as vantagens de cada partido, o brasileiro terá de medir quando e quanto sua vida foi melhor. Ambos têm lá a sua dose de razão e Dilma abre janeiro com a vantagem. Afinal, o discurso do PT dos 40 milhões inclusos parece mais fácil do que puxar na memória do eleitor os primeiros anos do Real. A esse quesito soma-se o fato de que ela terá as delícias da máquina pública, mas também suas dores.

Sem essa certeza quanto à intensidade dessas dores, a ideia dos petistas é jogar o debate das duas décadas e com ele tentar vencer 2013. Assim, se der problema ali na frente — leia-se ano eleitoral —, os petistas acreditam ser possível compensar qualquer deslize econômico com a tese de que essa inclusão dos 40 milhões de brasileiros pode se perder se o partido de Lula não permanecer no poder. É uma tese absurda, nenhum partido gostará de ver o Brasil retroceder. Mas, se essa história “pegar” no eleitorado como “pegou” o antigo discurso que demonizava a privatização, aí a oposição terá problemas.

Por falar em oposição…

Dia desses, o ex-prefeito do Rio de Janeiro César Maia contava como seu caminho se cruzou no passado com o do ex-aliado Eduardo Paes. Os dois estavam no carro, Maia prefeito. Passavam pela Barra da Tijuca. O “menino” Paes queria um posto na companhia de limpeza urbana, a Comlurb. Maia desconversou. Respondeu que criaria uma subprefeitura da Barra e iria nomeá-lo para o cargo. Pensou que o menino ficaria por ali. Quem viu, quem vê. Paes, hoje, é considerado a principal aposta do PMDB a médio prazo. Afinal, se a turma da política vive hoje como se fosse 2014, tem gente certa de que 2018 é logo ali.

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