quinta-feira, dezembro 06, 2012

A tunga dos royalties - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 06/12


Numa reunião de portas fechadas, ontem, na Câmara, Arlindo Chinaglia, líder do governo, mostrava preocupação com a possibilidade de a tunga dos royalties do Rio ir parar no STF:
— Se cai na mão do (ministro Luiz) Fux ( ... ). Ele é guitarrista e adora exibir os músculos nas praias... Imagina o que iria fazer se tivesse uma liminar dessas nas mãos?
É. Pode ser.

Acabou em samba
Noca da Portela, que faz 80 anos dia 12 agora, está compondo um samba em homenagem a Joaquim Barbosa.
Espera cantá-lo no réveillon do Feitiço Mineiro, reduto da esquerda em Brasília. O sambista vai animar a virada para 2013 na casa.

Coisa civilizada
O petista Jaques Wagner vai levar ACM Neto, prefeito de Salvador, a uma audiência com Dilma, hoje, às 16h, no Palácio do Planalto.
É a primeira vez na política da Bahia que um governador faz isso com um prefeito de oposição (no caso, do DEM).

Sobrou para o BMG
A 2ª Vara Empresarial do Rio estendeu ao empresário mineiro Flávio Pentagna Guimarães, do BMG, os efeitos da falência da centenária Cia. Têxtil Ferreira Guimarães.
A indústria tem quatro fábricas produtoras de fios, tecidos e beneficiamento.

Morte súbita
“The casual vacance”, primeiro romance adulto de J. K. Rowling, a autora de Harry Potter, será lançado no Brasil, como se sabe, com o nome de “Morte súbita”, pela Nova Fronteira. Mas pode dar problema.
É que o título, já registrado e anunciado, batiza o novo romance do gaúcho Marcelo Bakes, que vai sair pela Companhia das Letras em 2013.

Memórias do cárcere
Nesta semana do Dia Internacional de Direitos Humanos, de ontem até segunda, parentes e amigos dos mortos e desaparecidos na ditadura homenageiam os que se foram para nunca mais com fotos no Facebook.
Em vez de suas imagens, põem a de um desaparecido. Há um site para copiar as fotos: desaparecidospoliticos.org.br.

Al-Jazeera no morro
A invasão de gringos nas favelas pacificadas do Rio virou reportagem de 2 minutos e 44 segundos na TV Al-Jazeera.
Uns falam da bela vista para o mar, e até Ignacio Cano, o sociólogo da Uerj, é ouvido sobre o fenômeno. Assista em http://goo.gl/0XdJX.

Mr. Da Viola
O “New York Times” cobriu de elogios o show do nosso Paulinho da Viola no Carnegie Hall.
Tratado como “Mr. Da Viola, ágil e elegante aos 70 anos”, Paulinho, segundo o jornalão americano, “ronronou sua música serena” no palco, como “um mensageiro do samba de morro na sua forma mais calma”.

Grande hotel
O STJ manteve decisão do TJ-RJ e suspendeu a construção de um prédio de 17 andares na área do Hotel Intercontinental, em São Conrado.
Na ação, moradores do São Conrado Green reclamam da destruição de jardins de Burle Marx e dizem que o espigão tiraria a “vista eterna para o mar”, garantida na compra das unidades, nos anos 1970.

Calma, gente
O casal homoafetivo José Cláudio Quaquio e Márcio Camilo conseguiu autorização do juiz Luiz Olímpio Mangabeira, de Sapucaia, RJ, para oficializar o matrimônio no cartório da cidade, dia 14, às 14h.

Só que...
Alguns evangélicos do município souberam da autorização e fizeram um abaixo-assinado contra a decisão do juiz.
Prometem até passeata para tentar impedir o casamento.

Lado B do Rio
Domingo, por volta de 20h, um menino de 14 anos andava pelo calçadão do Leblon, no Rio, quando foi rendido e agredido por dois assaltantes. Um deles, meu Deus, cravou uma faca no pescoço do garoto. A lâmina se partiu e ficou presa na garganta do menor.
Tudo para levar o celular e a carteira do adolescente.

Rapper x Paes
Paes parece não fazer muito sucesso com a turma do Planet Hemp.
No show de terça, no Barra Music, no Rio, o rapper B Negão pegou o microfone e disparou palavrões contra o prefeito.

NAQUELA MESA
Antônio Callado (1917-1997), João Saldanha (1917-1990), Darcy Ribeiro (1922-1997) e Maysa (1936-1977), grandes brasileiros que deixaram saudade, agora “dividem” uma mesa de botequim em Maricá, RJ. É que a prefeitura pôs no Canal da Cidade estas esculturas em bronze para homenagear os quatro — que, cada um no seu tempo, tiveram casa de praia ali (Maysa, aliás, morreu num acidente de carro quando dirigia para Maricá). A obra é do casal de artistas plásticos Alexandre e Rosaura Shiachticas. Repare que há uma cadeira vazia para quem quiser sentar e tirar fotos 

PARECE, MAS NÃO É
Não é Liza Minnelli no filme “Cabaret”. É a minha, a sua, a nossa linda Guilhermina Guinle de graça nas gravações de “Guerra dos sexos”, a novela da TV Globo. A formosa atriz aparecerá assim no capítulo de logo mais

A DAMA DE VERMELHO
Bebel Gilberto, a cantora filha de Miúcha e João Gilberto que faz o maior sucesso lá fora, posa para fotos que vão ilustrar o encarte de seu novo DVD, gravado ontem em show na Praia do Arpoador 

Ponto Final
No mais... Ciro Gomes, que morou muito tempo no Jardim Botânico, no Rio, poderia convidar seu irmão Cid, que deseja tungar os royalties fluminenses, para ver de perto como os cariocas são hospitaleiros com pessoas de outros estados. O governador avoado pode até trazer a sogra, se quiser, desde que pague a passagem do seu bolso. Com todo o respeito.

O bebê de Lady Kate - TUTTY VASQUES


O Estado de S.Paulo - 06/12


Cansados de perder dinheiro tentando adivinhar quanto tempo falta para a morte anunciada de Pete Doherty - roqueiro cuja autodestruição chegou a estar mais cotada que a de Amy Winehouse nas bolsas de Londres -, os ingleses estão gastando todo o 13.º salário em apostas sobre o bebê de Kate Middleton.

Pode parecer esquisito cravar já no terceiro mês de gestação que serão gêmeos os novos herdeiros do trono, mas, para o britânico acostumado a fazer uma fezinha até na causa exata da morte de suas celebridades, francamente, a gemelidade real é um palpite como outro qualquer fundamentado em diagnóstico médico: com a futura mamãe enjoada daquele jeito, já viu, né?

Quem não acredita nisso pode arriscar palpite na data de nascimento, na cor dos olhos ou do cabelo, no nome escolhido pelos pais, no peso e na altura do bebê, ou - sei lá! - em quem ele vai golfar primeiro! Quando Kate e William se casaram, apostou-se até em quem seria o primeiro a chorar, a mãe da noiva ou o Elton John?

O brasileiro talvez não ache graça nenhuma nisso, mas lá no país que inventou o críquete, convenhamos, tem coisa menos divertida para se jogar.


Escola do crime

O que tem de PM preso no Rio - fala sério! -, não demora muito a bandidagem vai ter de pagar propina até para comandar o crime organizado de dentro da cadeia.

Doença braba

Episódios como esse do sujeito que desceu do seu carro para espancar um homossexual que passava por uma rua de Pinheiros só evidenciam a necessidade de um amplo debate na sociedade sobre a cura dos heterossexuais - se é que essa raça tem cura, né não?

Dupla jornada

A polícia de São Paulo está investigando denúncia de que tinha flanelinha se fazendo de motorista de táxi no final do show da Madonna.

Pretexto

A torcida do Corinthians gostou tanto da baderna em Guarulhos que é bem capaz de voltar ao aeroporto amanhã para se despedir do Lula. O ex-presidente, que vai passar quase duas semanas na Europa, pediu a Andrés Sanchez para tentar conter a massa.

Uma fria

É dura a vida das feministas ucranianas do grupo Femen! Sabe lá o que é fazer topless para protestar nas ruas com sensação térmica ambiente de -31°C no Leste Europeu?

Ai, Jesus!

Estava demorando: Brahim Zaibat, namorado que acompanha Madonna na atual turnê da popstar, teve uma crise de ciúmes daquelas após o show no Morumbi! Descobriu que metade das palavras em português que a cantora anda dizendo no palco desde que chegou ao Brasil ela aprendeu fazendo sexo com o brasileiro Jesus Luz.

O fim da infância? - CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 06/12


O quarto de criança ideal é fofo: oferecemos à criança uma caricatura do amparo que nos faz falta


QUANDO AS notícias comunicam o número de mortos e feridos num atentado, numa catástrofe ou numa chacina, nunca falta o número de crianças. Podemos não saber se morreram mais homens ou mulheres, mas, se houve crianças entre as vítimas, seremos informados. E, das imagens que a reportagem nos mostrará, a mais tocante será a de um pai ou de uma mãe, carregando o corpo inerte do filho ou da filha.

Menos de dois séculos atrás, a frase "houve 12 vítimas, entre as quais quatro crianças" produziria provavelmente um pequeno alívio, como se a perda das crianças fosse menos deplorável do que a dos adultos. Hoje, é o inverso.

Da mesma forma, hoje, se a imprensa escrevesse que houve, entre as vítimas, cinco idosos, reagiríamos pensando que é uma pena, claro, mas, menos mal: eles já estavam de saída. Ora, um hipotético leitor de dois séculos atrás pensaria que os idosos são a perda irreparável: afinal, uma criança, ninguém sabe no que ela vai dar, enquanto um idoso é patrimônio consolidado. Num incêndio, você prefere que queime um caderno quase virgem ou o outro, no qual você anota seu diário há décadas?

A mostra "The Century of the Child" (o século da criança), no Museum of Modern Art, de Nova York, fechou em 5 de novembro. Mas o catálogo (com o mesmo título, publicado pelo próprio museu) é melhor que a mostra: os documentos que foram expostos são todos reproduzidos e acompanhados por uma coletânea de ensaios excelentes.

A tese geral é que, de 1900 a 2000, foi inventado e construído um mundo especificamente destinado às crianças e a suas necessidades presumidas, na sala de aula e na casa, na hora de aprender, de brincar e de se divertir.

Ao longo desse século, as crianças deixaram de ser consideradas como adultos em miniatura ou incompletos para se tornar uma espécie autônoma e, supostamente, melhor do que a nossa -em tese, sem as más influências dos adultos, elas poderiam ser geniais, inocentes e puras como o bom selvagem.

Pouco importa se perguntar o que é realmente uma criança e de qual barbárie ela seria capaz sem a ajuda dos adultos. A invenção da especificidade da infância não diz nada sobre as crianças em si, mas revela algo sobre os adultos. Pois essas crianças, tão diferentes de nós, encarnam o que gostaríamos de ser. Dois exemplos.

1) O quarto de criança de classe média (o habitat infantil idealizado) é dominado pela estética do fofo. Os adultos se livram do desconforto da arte e das incertezas do gosto para "apreciar' sem culpa patinhos de madeira, bonecos, florzinhas e estrelinhas no teto. Eles também se livram da história: nenhum móvel e nenhum objeto antigos (a higiene é a desculpa). Com esse interior atemporal, de conto de fada, o adulto moderno, atormentado por um irremediável desamparo existencial (falta de pátria, de classe, de tradição, se não de família), inventa, para a criança, a caricatura do amparo que ele deseja para si.

2) Quase no meio do século da criança, em 1938, Johan Huizinga publicou "Homo Ludens" (o homem que joga - ed. Perspectiva) -o clássico, que, como se sabe, situa o jogo como atividade humana por excelência. Vale a pena lê-lo ou relê-lo pelo prazer, e também para entender quanto e como a proposta de Huizinga foi, por assim dizer, extraviada -resultando numa massa de escritos em favor do divertimento, do ócio, das férias, do brincar e do infantil como atividades muito mais humanas, produtivas e interessantes do que o trabalho, a concentração, a reflexão e a maturidade.

Entende-se que crescer tenha se tornado difícil para as crianças, pois elas não podem parar de brincar, ou seja, de encenar a "virtude" do jogo, que nós, supostamente, perdemos.

No começo do catálogo que citei, Juliet Kinchin, curadora, escreve: "Falando solenemente para a câmera em 1995, como parte do documentário ficcionalizado 'Children´s Video Collective', um menino faz a predição seguinte: 'No futuro, as crianças não existirão mais. Minha geração é provavelmente a última geração de crianças. Ou melhor, a última geração a ter a experiência da infância. Isso não significa necessariamente que chegou o momento de guardar as coisas da infância. Ao contrário, isso pode significar que o uso das coisas da infância talvez acabe sendo prolongado indefinidamente, até a morte'".

Ou seja, a infância não vai acabar, mas os adultos já estão em extinção.

Histórias da história - CORA RÓNAI


O GLOBO - 06/12
Era uma vez uma princesinha triste que morava numa cidade mais triste ainda, um porto báltico chamado Stettin, no que era então conhecido por Pomerânia.

Não precisava de madrasta: tinha uma mãe que cumpria com brilho este papel. Apaixonada pelo filho mais novo, ela nunca deu qualquer afeto ou atenção à menina, que cresceu retraída e solitária, observando as pessoas e aprendendo a conquistá-las a duras penas, já que pela beleza - dizia a mãe - jamais iria a lugar algum.

Em 1744, quando estava com 14 anos, foi convocada por Elizabeth, da Rússia, para se casar com o primo Pedro, sobrinho da imperatriz solteira e herdeiro do trono. Gostou da ideia. Via ali a chance de escapar de Stettin, da mãe e da vida medíocre que levava. Inteligente, com um jeito inato para agradar, logo caiu nas graças da imperatriz. Atirou-se com afinco aos estudos da língua e da cultura do país e, logo, fez-se querida também do povo.

Ao se converter da igreja luterana para a igreja ortodoxa, Sophia Augusta Fredericka von Anhalt-Zerbst foi batizada de Catarina - e com esse nome entrou para a História.

O casamento foi um desastre. Pedro era imaturo, grosseiro, pouco educado e, aos 17 anos, já alcoólatra. Ao contrário da esposa, insistia em falar alemão e em usar uniformes prussianos, coisa que, compreensivelmente, em nada agradava aos russos. A imperatriz Elizabeth sabia o desastre que tinha em mãos, e queria que o jovem casal produzisse logo um herdeiro para garantir o trono. O que poderia ser simples em outras circunstâncias revelava-se, porém, uma impossibilidade.

Pedro, que já não era nenhuma maravilha física, ficou desfigurado depois de ter varíola. Isso o abalou tanto quanto à futura mulher, e o casamento não foi consumado.

Anos depois, o herdeiro tão ansiosamente esperado por Elizabeth acabou nascendo - mas filho do primeiro dos 12 amantes de Catarina.

Esse pequeno detalhe não chegou a atrapalhar ninguém. O menino foi prontamente capturado pela tia-avó, que fez questão de supervisionar sua educação pessoalmente. Os outros dois filhos de Catarina (cada qual de um outro pai) tiveram sorte semelhante.

Pedro reinou por apenas seis desastrosos meses, durante os quais quis mudar a religião e o exército russos. Foi deposto pela própria mulher, que tinha juízo e bons aliados e que, com o tempo, fez por merecer o epíteto que lhe deram: Catarina, a grande.

Eu sabia pouco a respeito dessa figura fascinante.

Sabia que havia sido imperatriz da Rússia, que trocara correspondência com grandes iluministas como Diderot e Voltaire e que tinha tido uma quantidade absurda de amantes. Sabia também que foi a responsável pela criação do Hermitage, um dos grandes museus de arte do mundo. Mas não tinha ideia da sua dimensão de estadista, da sua visão do mundo, das questões políticas que a cercaram.

Fui salva da minha ignorância por "Catarina, a grande: retrato de uma mulher", de Robert Massie (Editora Rocco, tradução de Ângela Lobo de Andrade). O livro chegou às minhas mãos no sábado. Atravessei o fim de semana lendo compulsivamente, sem conseguir me afastar da história.

Dormi o mínimo possível, quase não saí de casa; cheguei ao fim das 640 páginas absolutamente encantada, tanto com a biografada quanto com o biógrafo.

A história de Catarina é daquelas que só podem mesmo acontecer na vida real; em ficção, seria exagero demais, impossibilidade demais. Por causa disso, aliás, não é fácil convertê-la em biografia. Sorte nossa que o historiador Robert Massie tenha, aos 80 anos, se dedicado a esse trabalho, para o qual está mais bem preparado do que ninguém.

Ele recebeu o Prêmio Pulitzer de 1981 por sua biografia de Pedro, o Grande, mas escreveu outros livros sobre a Rússia tzarista: "Nicolau e Alexandra", que serviu de base ao filme "Nicholas e Alexandra", e "Os Romanovs".

"Catarina, a grande" é muito sólido historicamente.

Em nenhum momento, porém, o autor cai na armadilha de deixar a pesquisa se sobrepor à qualidade da narrativa. O livro se lê com paixão, como um delicioso romance, do qual nos despedimos com pesar.

Outro ótimo livro histórico é "Inferno, o mundo em guerra: 1939-1945", de Max Hastings (Editora Intrínseca, tradução de Berilo Vargas). Este me chamou a atenção pelo tamanho - 766 páginas - e pelo comentário do "Washington Post" reproduzido na capa: "A melhor história sobre a guerra escrita em apenas um volume". Ahn? Isso lá é elogio?! Apesar dessa qualificação bizarra, descobri que o livro é mesmo extraordinário. Todos nós conhecemos bem ou mal os fatos, mas Hastings nos traz algo mais tocante: as pessoas que os viveram. O trabalho que realizou é assombroso.

Para praticamente cada episódio da guerra, ele encontrou relatos em primeira pessoa de gente que estava lá. Sua descrição das batalhas é antológica, mas sua empatia com as vítimas do conflito é insuperável.

Escada do lazer, largo do amor - PAULA CESARINO COSTA

FOLHA DE SP - 06/12


RIO DE JANEIRO - A cena escancarada na foto da "Primeira Página" da Folha de ontem é um triste retrato das polícias brasileiras. Enfileirados, dezenas de policiais militares subiam, presos, o Quartel Central da PM do Rio. Ironicamente, na placa: escada do lazer. A farra tinha acabado para 63 PMs (quatro continuam soltos), acusados de ligação com o tráfico de drogas.

Em 2007, quase o mesmo número de policiais do mesmo 15º Batalhão (Duque de Caxias, Baixada Fluminense) já havia sido investigado e denunciado, mas, por falta de provas, não houve nenhuma condenação.

A operação Purificação teve a participação das Polícias Federal e Militar, Ministério Público Estadual e Secretaria da Segurança. Percebe-se, hoje, uma disposição de combater desvios e crimes de policiais, mas com resultados lentos e tímidos.

Como avalia a socióloga Julita Lemgruber, os atuais mecanismos de controle são ineficazes. Não há autonomia para investigar. As ouvidorias das polícias não avançam e dependem de corregedorias, muitas vezes com postura corporativista.

Pela Constituição de 1988, o Ministério Público tem a função de "exercer o controle externo da atividade policial". Pouco se vê do resultado dessa obrigação constitucional.

Na visão de Lemgruber, o ideal seria que as ouvidorias não fossem subordinadas ao Executivo. O Brasil poderia seguir o exemplo da Irlanda do Norte, onde o organismo de controle da polícia responde ao Legislativo.

Chama a atenção a indiferenciação de comportamento de traficantes e policiais. Escutas apontam que policiais "autorizavam" criminosos a atirar em agentes que não participavam da quadrilha e faziam o que deveriam: reprimir a venda de drogas.

Num grampo, PM diz a traficante que, se o dinheiro não for entregue, "acabou o amor". Um caso daqueles em que, como diria Millôr Fernandes, dinheiro compra "amor" verdadeiro.

Da janela se vê... um transatlântico! - LUIZ FERNANDO DE ALMEIDA


O GLOBO - 06/12
A singularidade da beleza do Rio de Janeiro, estabelecida pela interação entre a sua natureza exuberante e a cidade construída, é um patrimônio apropriado por seus habitantes, exaltado nas suas canções, alavanca dos seus negócios e fator objetivo e subjetivo do recheio daquela cesta de indicadores que compõem a nossa ideia de qualidade de vida.

A nomeação da paisagem carioca como patrimônio da humanidade, além de reconhecer os valores culturais universais da cidade, provoca e estimula a discussão pública sobre a sua dinâmica, especialmente sobre os seus projetos de intervenção urbana.

O cidadão, ao se apropriar do território comum e discutir o que acontece ou pode acontecer na rua, na praça, enfim, no espaço público, avança em um caminho essencial para o exercício pleno da nossa cidadania.

A área apresentada pelo IPHAN na candidatura avaliada e referendada pela Unesco seguiu para a sua delimitação alguns critérios metodológicos como, por exemplo, a recorrência da mesma imagem da paisagem na representação da cidade nos seus últimos 200 anos. Construídos a partir de critérios decodificáveis da qualidade desta paisagem, estes mesmos valores vão além dos limites dos seus marcos simbólicos.

Volta e meia escutamos ou nos manifestamos sobre uma ou outra intervenção urbana, aberrante ou não: "Isto não pode ser feito aqui e dessa forma, é patrimônio!", "Isto é horrível!", "Vão destruir a paisagem"...

Sendo protegido ou não, pela normativa urbanística ou por leis de tombamento, o patrimônio é uma construção social, e portanto de propriedade dos cidadãos. Por isso, estas manifestações que se apropriam da paisagem como patrimônio são extremamente positivas.

Como o Estado deve trabalhar com isto? Não vejo sentido, ainda que provoque tentações em alguns, a reedição de uma comissão de estética na prefeitura como a que existiu no início do século XX.

Então, como seria? Para a preservação e intervenção na paisagem não cabem decisões setoriais, precisamos colocar em prática novos instrumentos de gestão com uma estratégia de governança mais ampla e principalmente que considere a participação cidadã e a opinião pública como parâmetros para as decisões ainda herdeiras da nossa tradição autoritária.

A discussão sobre a pertinência ou não da construção do píer em Y, rechaçado pela sociedade carioca, evidencia e coloca em xeque a construção do Rio que queremos.

A implantação do projeto apresentado em nada considera as qualidades paisagísticas da Baía de Guanabara, expõe a ausência de diálogo entre órgãos públicos e destes com a sociedade e desqualifica a paisagem cultural do Rio.

Os motivos tomados um a um já seriam suficientes para a decisão de revisão da implantação do píer. Todos juntos e mais as manifestações já feitas por inúmeros arquitetos, urbanistas, agentes culturais, agentes públicos, Comitê Olímpico, cidadãos, então...

Acrescente-se a isto a inexistência de um projeto executivo que eventualmente afirmaria razões ainda desconhecidas para a manutenção da implantação do novo píer na altura dos primeiros armazéns ao lado do Píer Mauá.

É realmente um mistério o que justificaria a protelação da decisão de alteração da localização do píer. Com a palavra estão os promotores da obra, diante dessa demonstração tão rara de unanimidade. 

Como Lucy usava os braços - FERNANDO REINACH


O Estado de S.Paulo - 06/12


Hoje somos bípedes, mas nossos ancestrais eram quadrúpedes. Quando observamos aquelas figuras clássicas em que os esqueletos de nossos ancestrais estão alinhados, caminhando em fila, nossos ancestrais recentes são representados segurando uma lança. Os ancestrais mais antigos geralmente são bípedes, ainda caminham um pouco curvados, mas não seguram nada nas mãos.

Essa representação reflete uma dúvida que atormenta os cientistas. Uma vez que os braços não eram mais necessários para caminhar, qual foi sua primeira função? A descoberta de um esqueleto quase completo de um jovem Australopithecus permitiu aos cientistas ter uma primeira ideia de como usavam seus braços.

O Australopithecus afarensis viveu no norte da África entre 3,9 milhões e 2,9 milhões de anos atrás. Depois que desapareceu, passaram-se 2 milhões até que o Homo sapiens surgisse, na África. O primeiro esqueleto dessa espécie é a famosa Lucy, descoberta em 1974. Os cientistas não sabem se o Australopithecus é um de nossos ancestrais, mas provavelmente ele fazia parte do grupo de espécies que deu origem aos nossos ancestrais.

Sabemos que Lucy, apesar de seu pequeno cérebro, era bípede. Isso foi deduzido estudando o formato dos ossos de seu quadril. Nos macacos que se locomovem com os quatro membros, o fêmur, aquele osso comprido da perna, encaixa-se na bacia com um ângulo que dificulta a posição vertical do tronco. Nos humanos, esse ângulo permite a posição vertical do tronco. Foi com medidas como essa, tanto no quadril quanto nos joelhos, que os cientistas concluíram que Lucy era bípede.

Não somente ela era bípede como também não era capaz de usar o dedão do pé para agarrar objetos ou galhos de árvore como a maioria dos macacos modernos. O pé já era mais parecido com o nosso, incapaz de posicionar o polegar em frente do indicador. As mãos de Lucy eram semelhantes às nossas e podiam opor o polegar ao indicador, sendo capazes de agarrar objetos. Mas como ela usava seus braços?

Essa dúvida perdurou por décadas, pois o esqueleto de Lucy era incompleto e, apesar de os ossos do braço estarem quase intactos, a escápula, aquele osso na forma de um triângulo plano que está na nossas costas, não foi encontrada. Sem os ossos do ombro, é impossível deduzir como o braço se encaixa no corpo. Nos macacos modernos, esse encaixe permite que o braço se posicione facilmente na vertical, estendido para cima. Isso permite que eles se pendurem nos galhos das árvores e se balancem, pulando de galho em galho.

No nosso caso, o ângulo de encaixe do braço no ombro é mais propício para o braço ficar pendurado para baixo. Podemos erguer o braço acima da cabeça, mas quem já tentou pular de galho em galho pendurado pelos braços sabe como é pouco confortável.

Descobertas. Em 1975, foi descoberto um grupo de 13 esqueletos parciais de Australopithecus; em 1992, foi descoberto o primeiro crânio completo; e, em 2000, foi descoberto em Dikika, Etiópia, um esqueleto bem preservado de uma criança ou jovem Australopithecus chamado carinhosamente de Selan. Entre os ossos de todos esses exemplares estavam algumas escápulas de indivíduos adultos e as duas escápulas de Selan. Foi analisando essas escápulas que os cientistas puderam ter uma primeira ideia de como os Australopithecus usavam seus braços.

Comparando os ângulos de inserção dos braços de macacos e seres humanos jovens e adultos com os ângulos dos Australopithecus jovens e adultos, os cientistas descobriram que os braços dos Australopithecus ainda eram parecidos com os presentes nos macacos modernos.

A conclusão é que provavelmente esses nossos possíveis ancestrais usavam muito os braços para trepar em árvores, apesar de já andarem no solo na postura vertical e serem incapazes de usar os membros inferiores para se agarrar aos galhos.

Se esse resultado estiver correto, isso demonstra que a adaptação para a posição vertical e o caminhar sobre os pés ocorreu muito antes das modificações observadas nos membros superiores. Os Australopithecus provavelmente andavam sobre os pés, na posição vertical, mas ainda usavam as mãos para se pendurar nas árvores. Não eram mais macacos típicos, pois grande parte de sua atividade provavelmente ocorria no solo, mas tampouco haviam abandonado completamente o ambiente arbóreo.

Enquanto hoje os macacos vivem nas árvores e nós no solo, os Australopithecus provavelmente viviam em parte na terra e em parte nos galhos.

Pró-mercado? (1) - CARLOS ALBERTO SARDENBERG


O Globo - 06/12


Vamos falar francamente: as relações do governo Dilma com o setor privado caíram no pior dos mundos. Há uma perversa combinação de hostilidade ideológica, negócios de compadres e corrupção. Nesse ambiente, só investe quem consegue um jeito de transferir o risco para o governo, obter financiamento e/ou subsídio e/ou acertar com funcionários na base da propina.

Por partes: a hostilidade é evidente. A presidente Dilma acha que não existe isso. Para ela, o que há é má vontade e hostilidade da parte do setor privado contra seu governo.

Mesmo, porém, os aliados mais próximos da presidente, como Delfim Netto, admitem que "agentes públicos", em especial aqueles ligados ao setor de infraestrutura, "manifestam prepotência e muita idiossincrasia" - um jeito mais neutro, digamos, de falar ideologia estatizante. Ou seja, a culpa não é da presidente, mas o problema existe. Haveria, em torno da presidente, um pequeno grupo de assessores de viés estatizante.

Será?

Começa que Dilma não exerce uma administração, digamos, frouxa e maleável.

Ao contrário, todos dizem que costuma impor seus pontos de vista. Considerem o caso da Eletrobras e a proposta de redução das tarifas. Dirigentes e técnicos da estatal comentaram diversas vezes, para quem quisesse ouvir, que a proposta simplesmente quebra a Eletrobras. Mostraram os números. Aí, reúnem-se diretoria e conselho - e dão apoio entusiasmado à proposta da presidente. Além disso, a presidente manifesta com frequência, às vezes sem querer, sua visão negativa acerca dos empresários e banqueiros, estes alvos preferenciais.

"Ganharam muito dinheiro no mole, às custas do povo" - isto resume o sentido de várias manifestações.

Banqueiros, por exemplo, "perderam o último almoço grátis" com a redução dos juros, disse a presidente. Claro que os juros estavam muito elevados e que a rentabilidade dos bancos brasileiros era elevada - embora menos alta do que em diversos outros emergentes, Colômbia, por exemplo, países que, aliás, crescem mais que a gente.

Mas, vá lá, são governos liberais, não é mesmo? Como a presidente Dilma não se cansa de lembrar, todos os empresários que iam lá reclamavam dos juros.

Mas métodos contam. O movimento dos juros teve dois lados. De um, o BC reduziu fortemente a taxa básica, uma política meio contestada, meio apoiada, hoje vista como um risco razoável, mas cuja sustentabilidade está por ver (e com uma inflação que não vai para a meta de jeito nenhum). O segundo movimento foi mais importante: o governo mandou o Banco do Brasil e a Caixa reduzirem drasticamente os juros ao consumidor e aumentarem a concessão de crédito. Ou seja, o setor público impõe forte concorrência ao privado.

Essa concorrência é claramente desleal. Os bancos privados, diante da queda da rentabilidade, precisaram segurar o crédito, torná-lo mais seletivo e dar um jeito de reduzir custos. Os públicos não estão nem aí. Primeiro, porque não quebram. Quer dizer, quebram, como já quebraram antes, mas sempre contam com o dinheiro do contribuinte brasileiro, via resgates do governo. Seus dirigentes não correm riscos. O acionista privado, sim, este já está perdendo, mas o governo não está nem aí para eles.

A queda do valor das ações do BB teria sido "ataque especulativo" do mercado.

Além disso, BB e Caixa têm fontes de renda que os privados não têm: folhas de pagamentos dos servidores federais, depósitos judiciais e a prerrogativa de atuar como arrecadadores de tributos. No caso da Caixa tem mais: as tarifas caras espetadas no governo pela administração do FGTS e o quase monopólio do Minha Casa Minha Vida.

Ora, pensam os empresários que reclamavam dos juros altos: se ela faz isso com os bancos, pode fazer com qualquer outro setor da economia. E fez, com as elétricas, com o câmbio, com as regras sempre mudando.

Éden, utopia e inferno - KENNETH MAXWELL

FOLHA DE SP - 06/12


O Brasil era visto inicialmente como o Jardim do Éden. Sérgio Buarque de Holanda o definiu como "uma visão do paraíso", no qual as pessoas viviam inocentemente, em um clima perfeito, cercadas de pássaros exóticos e ani-mais estranhos.

Américo Vespúcio, em sua famosa carta a Lorenzo di Pierfrancesco de Medici, escrita de Lisboa em 1502, falava de um povo que vivia sem dinheiro, propriedade ou comércio, em completa liberdade social e moral, sem reis ou religião. A "Utopia", publicada por Thomas More em 1516, foi em parte inspirada pela vívida descrição do Brasil por Vespúcio.

Mas o mito demoníaco, com seu medo do atraso e do canibalismo, não demorou muito a se manifestar. A primeira xilogravura colorida a mão surgiu em Augsburgo em 1505, mostrando homens e mulheres marrons, usando chapéus de penas e mastigando braços e pernas humanos, defumando outras partes de corpos humanos em uma fogueira, em preparação para um festim. A legenda aproveitava o relato de Vespúcio: "Eles lutam uns contra os outros e devoram uns aos outros... Vivem por 150 anos. E não têm governo".

Mesmo os sempre pacientes jesuítas, que chegaram em 1549 em sua primeira missão ao Novo Mundo, às vezes se desesperavam quanto à capacidade dos indígenas de trabalhar seriamente.

O padre Anchieta observou, em 1586, que tampouco a natureza da terra ajuda, sendo relaxante, preguiçosa e melancólica, e, por isso, todo o tempo é dedicado a "festas, cantos e diversão".

As aspirações bíblicas para a América portuguesa como a "Terra de Santa Cruz" não se realizaram, claro. Em lugar disso, o comércio triunfou. A nova terra recebeu o nome do prosaico pau-brasil. Os portugueses logo passaram a recorrer à coerção, às safras de exportação e aos escravos africanos. O jesuíta Antônio Vieira descreveu os caldeirões fervilhantes das usinas de açúcar como "um espelho do inferno".

Os habitantes originais do Brasil haviam, nesse meio tempo, se tornado "índios", ainda que Pedro Álvares Cabral já soubesse que isso não era fato -ao contrário de Colombo, que persistiu em acreditar que estava na Ásia mesmo depois de passar um ano encalhado na Jamaica, em 1503/1504. Cabral, afinal, estava a caminho da verdadeira Índia ao avistar inadvertidamente a costa brasileira.

Cabral ficou pouco mais de uma semana. Mas Pero Vaz de Caminha escreveu a Lisboa em 1º de maio de 1500 descrevendo a beleza, a nudez e a inocência dos povos indígenas que os portugueses haviam encontrado nas praias de areia branca, e que tanto os havia chocado e deliciado.


Tradução de PAULO MIGLIACCI

Grandes negócios - ANDREIA ZITO


O Globo - 06/12


A Constituição Federal diz que controlar a entrada e saída de nacionais e estrangeiros em território brasileiro é atividade pública privativa do Estado e de competência da Polícia Federal. No entanto, a primeira pessoa a serviço do Estado com quem o estrangeiro tem contato, ao chegar ao Brasil, é um trabalhador terceirizado, um prestador de serviços. Recebendo baixos salários, sem qualificação específica e muitas vezes sem receber qualquer tipo de supervisão, esses trabalhadores detêm um poder que vai muito além do seu preparo e do compromisso com a defesa da soberania do país.

Em tese, os terceirizados não teriam poder decisório e atuariam apenas sob a supervisão de policiais federais, mas a realidade é que eles possuem senha de acesso ao Sistema Nacional de Procurados e Impedidos que contém informações sobre decisões condenatórias da Justiça. São eles que decidem quem pode entrar e sair do país.

Em relatório de junho de 2012, o Tribunal de Contas da União determina que o Departamento de Polícia Federal regularize esse controle, substituindo até 2016 todos os terceirizados por servidores do quadro permanente. Outra recomendação feita pelo TCU é para que o Departamento de Polícia Federal aumente o efetivo de policiais nos aeroportos, a fim de garantir maior eficácia e celeridade ao controle migratório. A recente realização de concurso público para agente da PF deveria ser destinada à substituição dos terceirizados, porém o edital estabelece prazo de validade de apenas 30 dias, prorrogáveis uma única vez por igual período. O exíguo prazo de validade do concurso impede a convocação dos aprovados excedentes.

A legislação vigente estabelece o prazo máximo (de até dois anos, prorrogável por igual período), mas não o mínimo. Para, de fato, combater a terceirização no serviço público e o incentivo à indústria de concursos públicos que, com certeza, representa uma receita elevada e permanente para as organizadoras dos certames, é essencial se estabelecer também o prazo mínimo de validade, que não deve ser menor que um ano, prorrogável.

Quais as razões para que o Ministério da Justiça não convoque os 236 candidatos excedentes, que já estão prontos e aptos a participar do curso de formação, o que seria economicamente mais viável e permitiria a redução de terceirizados em curto espaço de tempo? Por que o Ministério da Justiça contratou, em 2009, a Fundação Universidade de Brasília para a realização de concurso público para provimento de 600 cargos ao custo de R$ 2.676.758, e, em 2012, pagou à mesma fundação, para seleção de outros 600 similares, R$ 9.557.351, ou seja, 255% a mais?

São questões que precisam ser esclarecidas com urgência, sob pena de se estar beneficiando apenas as empresas que lucram com a realização de mais e mais concursos, enquanto candidatos aprovados veem os prazos de convocação se esgotarem rapidamente

Ueba! Tsumano no Japão! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 06/12


E os jogadores pediram pro piloto parar no Frango Assado! E confundiram Dubai com o Habib's!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Adorei a charge do Marco Aurélio com a dona Marisa no balcão do Aerolula: "A sua milhagem não é suficiente, dona Marisa, mas a senhora peça pra Rosemary que ela tem de sobra!".

Então dá as milhagens pros mano irem pro Japão! Rosemary empresta milhagem para corintianos! Diz que é o maior deslocamento humano do pós-guerra. A maior migração desde a Era do Gelo! Eu já acho que é FUGA EM MASSA! Rarará!

Tão chamando de Tsumano! Tsumano no Japão! E ainda tem passagens. Olha esta empresa: "Grande Promoção de Passagens! Ainda temos lugares nas asas". Já imaginou o Aviônibus do Timão? Com os manos dependurados nas asas e com as canequinhas batendo na lataria?

"Dress code", traje pra viagem. Dicas de Gloria Kalil: bermuda e moletom de capuz! Rarará!

E o voo dos jogadores? O Emerson levou um ursinho de pelúcia! Deve ser o Ted. Ursinho de pelúcia de corintiano só pode ser o Ted, o urso escroto! Rarará!

E os jogadores pediram pro piloto parar no Frango Assado! E aí eles confundiram Dubai com o Habib's! "Caraca, irado esse mega Habib's!". E eu tenho a melhor definição de Dubai: Salão do Automóvel de 2030!

E os corintianos vão pro Japão e os são-paulinos, pro show da Madonna! A Madonna tá parecendo boneca inflável de sex shop com a roupa da Xuxa. Se furar, demora três horas pra voltar!

E a Madonna mandou uma foto autografada pra Dilma! Verdade! A legenda devia ser: da Madonna para a Mandona! Rarará! "Maaantega! Manda essa Madonna ir cantar lá no galinheiro dela".

E anteontem a Madonna gritou no palco: " Caralh*". Tô adorando o dicionário português da Madonna: perereca, Flamengo, periguete e caralh*!

O retrato sonoro do Brasil. Da próxima vez ela vai fazer show em Salvador pra aprender a falar: "Porra!". Ela vai gritar: "Acordei virada na porra". Rarará! É mole? É mole, mas sobe!

O Brasil é Lúdico! Cartaz num supermercado em Alagoinhas, Bahia: "Não é permitido carinho na fila de pequenas compras". Que discriminação! O cara já leva pouco e ainda não pode fazer nada. Quer dizer que na fila de grandes compras com carrinho lotado pode até transar! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Guinada ruim - SONIA RACY


O ESTADÃO - 06/12

Cresce o receio em relação à economia brasileira. E não só por causa do desempenho do PIB. Pelo que esta coluna apurou entre três empresários de grande porte (dois deles próximos de Dilma) e dois políticos de primeiro escalão (da oposição e aliado), teme-se a reação da presidente diante das dificuldades no cenário econômico.

Acreditam que, sob pressão, ela possa... radicalizar. Sem romper contratos, mas aprofundando a atual centralização.

Guinada 2
Para o mercado financeiro, a pior coisa que Mantega poderia ter feito era reclamar publicamente dos números do IBGE.
Imediatamente, lembraram-se de Cristina Kirchner.

Leitura dinâmica
A Comissão do Senado que aprovou Paulo Vieira para a ANA, em 2010, “interpretou de forma equivocada” o currículo do moço. No rol de suas habilidades lidas e documentadas, parlamentares disseram que Vieira era “formado em Comunicação Social na USP”. E até enviaram cartas para ministros, ressaltando a qualidade.

Na verdade, ele iniciou curso de Latim, trocou para Turismo, pulou para Publicidade e abandonou a universidade... sem se formar em nada.

Dinâmica 2
Indagado, Vieira mandou dizer que quem leu entendeu errado, pois, em seu currículo, escreveu apenas que “cursou a graduação em Comunicação Social na ECA/USP (2007)”.

Poderosas
Amante de música clássica, Condoleezza Rice fez curiosa revelação durante palestra no Woman in The World, anteontem, na Casa Fasano. Contou que Kaddafi compôs uma canção para ela, intitulada Rosa Negra na Casa Branca.

A ex-secretária de Estado dos EUA, aliás, fez questão de acompanhara fala de MarinAlsop e Maria da Penha.

Poderosas 2
Coincidência ou não, a conferência, organizada por Nizan Guanaes, aconteceu no dia de Santa Bárbara, equivalente a Iansã, no candomblé – que representa a força feminina.

Poderosas 3
Alguns convidados notaram. Enquanto Mônica Waldvogel, no palco, com voz embargada, pontuava os relatos sobre tráfico de mulheres, na plateia, conhecida socialite gastava uma hora inteira para retocar a... maquiagem.

Retaliação
O São Paulo cogita romper contrato com aAmbev, por causa do investimento de R$ 35 milhões da empresa no Itaquerão.

A gigante das bebidas – que bancará a reforma das salas de imprensa do Morumbi e do CT da Barra Funda (orçada em R$ 9 milhões) – tinha se comprometido com o SPFC a não investir maior quantia em outro clube.

Outro dia
Juvenal Juvêncio havia marcado almoço com Lula esta semana. Foi cancelado.

À luta
Lurian, filha de Lula, defende que o PT vá às ruas em defesa de Zé Dirceu e contra o resultado do julgamento do mensalão.

De Sampa...
Madonna fez ensaio aberto de quase duas horas no Morumbi, anteontem, gastando seu paupérrimo português no palco. De “vocês me acham gostosa?” apalavras de baixíssimo calão.

O público foi à loucura.

...ao Rio
Nada de mágoas entre Jesus Luz e Madonna. O ex da rainha do pop curtiu o show no Rio, no camarote friends & family, com a namorada atual, Liliana Prior, e os filhos da cantora.

CALMA, ROSE - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 06/12

Uma linha direta foi estabelecida entre Lula e Rosemary Noronha, ex-secretária da Presidência da República em SP. Os dois conversaram depois de deflagrada a Operação Porto Seguro, que indiciou a ex-servidora sob acusação de tráfico de influência e corrupção.

CALMA, ROSE 2
A conversa de Lula com Rose, como é conhecida, teve o objetivo de "acalmar" a ex-secretária.

LATERAL
Rose tem cobrado dirigentes do PT. Ela quer que o partido saia em sua defesa, assim como sempre faz com Lula. "Mas quantos votos ela tem?", diz um petista, sob a condição de anonimato.

TÔ FORA
Lula, até agora, não pediu para que o PT a defenda. Ao contrário: a interlocutores, ele diz que ficou surpreso com as informações da investigação policial. Rose é acusada de pertencer à máfia de venda de pareceres liderada por ex-diretores de agências reguladoras do governo.

DE FORA
Pessoas do staff de Madonna estranharam o fato de a cantora não ter cantado "Love Spent" e "Like a Virgin", com um solo de piano, no show de SP. "Deve ter acontecido uma problema técnico, o piano não subiu", disse um produtor. A performance é o ponto alto da apresentação. Guy Oseary, empresário da cantora, disse que as canções foram cortadas por falta de tempo.

RETIRADA
Durante a última música do show, dois carros já estavam estacionados atrás do palco aguardando a cantora. Vans de sua comitiva também já estavam a postos. O comboio, com seis batedores da PM, levou 12 minutos para percorrer os 5 km entre o Morumbi e o hotel Hyatt. A ponte Morumbi teve um trecho fechado, assim como a avenida das Nações Unidas.

MORDIDA
E no backstage do show, muitas pessoas do entourage de Madonna seguravam repelentes. Contavam que estavam "traumatizadas" com as mordidas de mosquitos que levaram no Rio, no domingo. E mostravam pernas e braços com as picadas.

BEBÊ FESTEIRO
Levi Louis, de 11 meses, filho de Guy Oseary e da top Michelle Alves, ficou no escritório do pai montado no backstage do show. Quando a apresentação começou, foi levado para o hotel com a babá. Os outros dois herdeiros do casal, Oliver e Mia, ficaram no Rio com os filhos de Madonna, Mercy e David.

PROTAGONISTA
Cláudia Raia ficou surpresa com o espaço que ocupa em "Giane - Vida, Arte e Cultura", biografia de Reynaldo Gianecchini. "Não imaginava estar tão presente." Durante o tratamento de câncer, a atriz ensaiava para o musical "Cabaret" no quarto dele no hospital Sírio-Libanês. Chegou a comprar briga para impedir cobrança indevida na conta hospitalar. "É uma história de amor e amizade eterna", define.

CAFÉ NO BULE FM
Ratinho quer retornar ao início da carreira: "Adoraria voltar a ter um programa de rádio. Mas tinha que ser nacional", diz. Para burlar a falta de tempo, ele diz cogitar gravar no avião.

PRESENTES DE NATAl
Roberta Close esteve neste fim de semana no Brás, bairro de comércio popular paulistano, fazendo compras.

ARÓSIO DE VOLTA
"Um Só Coração" (2004), protagonizada por Ana Paula Arósio, será reprisada no canal pago Viva a partir de 7 de janeiro. A minissérie de Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira retrata São Paulo entre 1922 e 1954.

RAINHA DO POP...
O Museu Brasileiro da Escultura foi palco de festa pré-show de Madonna, anteontem. Foram aos Jardins o estilista Tufi Duek, a empresária Natalie Klein, a apresentadora Caroline Ribeiro e a atriz Camila Guebur. A atriz Gabriela Duarte foi madrinha do camarote, da marca Renner.

...E O REI DAQUI
Enquanto isso, o cantor Daniel e o maestro João Carlos Martins foram à Barra Funda para ver show de Roberto Carlos. A apresentação era para comemorar a reabertura do Espaço das Américas.

CURTO-CIRCUITO

Helena e Bel Pimenta Camargo lançam hoje a loja virtual Coollect.

Falcão faz show de seu novo projeto, Jet Dub System, no Royal. 18 anos.

A AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) realiza amanhã na unidade Ibirapuera sua feira de artesanato, com itens feitos por pacientes adultos. Gratuito.

A top plus size Fluvia Lacerda agora é representada no Brasil pela Mega.

O Mercado Feira Gastronômica acontece no domingo, em Pinheiros.

A dúvida do ministro sobre o trabalho do IBGE - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 06/11


Parece-nos muito grave que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, duvide dos dados do IBGE, que desde 1936 reúne estatísticas sobre o Brasil. Se se pode discutir a respeito de incluir ou não a taxa Selic nas Contas Nacionais, como fizeram alguns poucos economistas, não se pode levantar dúvidas sobre a qualidade do trabalho do IBGE, principal base das análises demográficas e econômicas do País.

O IBGE, salvo por um número muito restrito de dados, no período do regime militar, sempre resistiu às tentativas dos governos de falsear suas estatísticas, e algum "erro encomendado" sempre foi corrigido no prazo mais curto possível, a fim de preservar as séries apresentadas.

Seguramente, são os dados relativos às Contas Nacionais - que durante anos foram deixados a cargo da Fundação Getúlio Vargas - os mais importantes nas informações do IBGE. Ora, são estas as contas que o ministro da Fazenda põe em dúvida no momento.

Cabe informar que as Contas Nacionais são o resultado de uma série de estatísticas que fornecem as bases para as avaliações dos economistas - produção industrial, vendas no varejo, evolução de diversos índices de preços -, além daquelas vinculadas à atividade governamental - resultado do Tesouro Nacional, contas do setor público, comércio exterior - e das fornecidas por outras entidades.

O IBGE, ao montar seus dados, leva em conta quase todas as outras fontes de informação, o que permite que se avalie a credibilidade das suas estatísticas. E, ao longo da sua existência, procurou ampliar seu leque de informações, desenvolvendo desse modo um material precioso sobre a distribuição de renda no País.

É difícil imaginar como se poderia conduzir a política econômica sem o substrato que o IBGE oferece para acompanhar o desempenho da indústria, do comércio, dos serviços, do emprego. O que parece grave na dúvida manifestada em público pelo ministro da Fazenda é que ela afeta a todos que se utilizam dos dados do IBGE, que sempre tem a preocupação de corrigi-los assim que disponha de números definitivos.

O Brasil é, certamente, um dos países que dispõem de maior volume de dados socioeconômicos para fundamentar suas decisões de políticas. Os erros cometidos por seus dirigentes não podem ser atribuídos à falta de informação, mas apenas ao mau uso dela, como se vê atualmente na ação do governo e do ministro, fiéis ao princípio equivocado de que o crescimento da demanda, por si só, é capaz de atrair investimentos.

É o salário, estúpido - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 06/12


Relatório da Unctad dá razão ao Brasil, que só tem feito crescer o emprego


AO AUMENTAR ainda mais a já drástica política de austeridade, o governo britânico se alinha à corrente predominante na Europa, mas desafia o sentido comum, contido em relatório da Unctad, braço da ONU para comércio e desenvolvimento.

O texto diz que "criação de emprego é incompatível com aperto fiscal".

É uma obviedade, eu sei, mas torna-se obrigatório usá-la ante a obsessão dos países desenvolvidos, exceto EUA, em apertar os cintos com uma volúpia inacreditável.

O resultado dessa obsessão aparece nitidamente no relatório da Unctad: "Os salários nos países desenvolvidos caíram a seu nível mais baixo em seis décadas, e o desemprego (9%) disparou para um novo recorde pós-Segunda Guerra".

Corolário inescapável: "As famílias trabalhadoras são os mais importantes consumidores, mas, sob essa pressão, não podem consumir o suficiente para respaldar a recuperação da economia".

O texto ataca outra faceta muito presente nas políticas de ajuste: "Tentativas de melhorar a competitividade com corte de salários em relação à produtividade só podem terminar em empobrecimento geral". É a "race to the bottom", corrida para o fundo (do poço no caso).

O relatório é todo ele uma defesa dos salários e, por extensão, de seu pai, o emprego. A Unctad cita outra organização da ONU, a Unicef, que revisitou os relatórios do FMI sobre a economia de um mundão de países. Descobriu que 73 países desenvolvidos e em desenvolvimento estão planejando ou já adotando cortes de salários ou imposição de tetos, no período 2010/12.

Além disso, "esperam-se cortes do gasto público em 133 países, o que pode ter efeito adicional direto e indireto sobre emprego e salários".

A Unctad adverte ainda contra o mantra de "mercados trabalhistas flexíveis", um eufemismo para cortar benefícios sociais. Em vez dessa tática, a organização sugere "adotar políticas de renda ativas".

É justo dizer que o Brasil é um bom exemplo de como são de sentido comum as advertências e sugestões da Unctad: a partir do governo Itamar Franco, já faz 20 anos, a massa salarial (o total de salários pagos no país, para os setores público e privado) só subiu. Houve um ou outro vale, nos anos Fernando Henrique Cardoso e no início da gestão Lula, mas, a partir de 2004, embicou fortemente para cima.

Para ficar só nos dados mais recentes, entre julho e outubro de 2012 a massa salarial nas regiões metropolitanas subiu quase 5% acima da inflação, devido ao aumento da renda real e à criação de empregos.

Posto de outra forma: o Brasil vive uma situação exatamente oposta à da maioria do mundo rico, que tem recorde de desemprego e recorde de queda de salários. Parece óbvio que essa situação explica o crescimento de razoável para bom ocorrido nos anos FHC e, mais ainda, Lula. Assim como o ainda baixo nível salarial ajuda a explicar a desaceleração do primeiro biênio Dilma.

...E no 40º dia Noé fez um doce - DIAS LOPES


O Estado de S.Paulo - 06/12


Judeus e cristãos acreditam que após o dilúvio universal a arca de Noé parou no alto do então submerso Monte Ararat, na Turquia. Assim está escrito no Gênesis, primeiro livro da Bíblia. Quando as águas baixaram, o patriarca deixou a embarcação e ofereceu um sacrifício a Deus pelo fim da inundação que puniu a iniquidade humana. A seguir, na condição de primeiro homem a receber orientação para comer carne, Noé teria preparado um assado que saboreou e ofereceu aos familiares com os quais tinha enfrentado os 40 dias e 40 noites de chuvas torrenciais, junto de um casal de cada espécie animal.

Os turcos, que hoje professam majoritariamente o islamismo, acrescentam uma história apetitosa a esse relato. Afirmam que Noé e familiares também improvisaram um doce para comemorar o final do dilúvio, com os poucos suprimentos que restavam. Fizeram um pudim (uma sopa grossa, na verdade) à base de grão-de-bico, arroz, figos e damascos secos, zestes de laranja, uvas-passas, mel, avelãs, pistaches, snoobar, baunilha e água de rosas. Hoje, serve-se a sobremesa em tigelas, decorada com canela em pó, lascas de amêndoas e sementes de romã.

Se acreditarmos na versão, trata-se do doce mais antigo do mundo. Chama-se asure (em turco) ou ashure, palavra derivada do árabe ashura, que significa décimo. Destina-se ao uso litúrgico. Saboreia-se o pudim de noé (segundo nome do doce) no décimo dia do Muharrem, primeiro mês do calendário islâmico ou hegírico, que se baseia no ano lunar e tem 12 meses de 29 ou 30 dias. É um período sagrado, com ápice no dia 10, o Dia do Asure, em que os muçulmanos sunitas (mais numerosos no Islã) festejam a passagem vitoriosa do profeta Moisés pelo Mar Vermelho, fugindo do faraó. Atualmente, porém, inúmeros turcos preparam asure o ano inteiro.

Muitos fiéis sugerem que os ingredientes do pudim de noé sejam no mínimo dez. Mas o doce não tem uma receita padronizada. É feito de variadas maneiras por ricos e pobres, sempre em grande quantidade, para a distribuição entre parentes e conhecidos, independentemente da linhagem islâmica a que pertençam ou da religião professada por eles. Os muçulmanos dizem que o dinheiro gasto na preparação do asure "sempre foi uma boa ação". Segundo explicam, não se trata de uma sobremesa comum. Além da origem sagrada, seu ritual de consumo simboliza partilha, solidariedade, fraternidade e amor.

Alguns povos vizinhos da Turquia elaboram o asure sob diferentes nomes. Mas o país euro-asiático, que abrange a região famosa da Capadócia e está na moda no Brasil graças à novela Salve Jorge, da Rede Globo, reivindica energicamente sua paternidade. Convém levá-lo a sério. Em 2006, a Turquia, entrou em "guerra" com os gregos de Chipre, na disputa do baklava - doce de massa folhada recheado com nozes, pistache, amêndoa ou snoobar, temperado com mel ou calda de açúcar, água de rosas, flor de laranjeira ou xarope à base de suco de limão, eventualmente cravo, canela ou cardamomo, encontrado no Brasil em restaurantes árabes.

O baklava desfrutou de grande prestígio em todo o Império Otomano, que tinha como capital Constantinopla, hoje Istambul, a maior cidade da Turquia. Foi o doce predileto dos sultões. No século 16, era preparado na Turquia, Síria, Egito, Argélia, Bulgária, Sérvia, a maior parte da Grécia e da Hungria e grandes porções da Pérsia e Arábia, além dos principados tributários da Transilvânia, Valáquia e Moldávia. Mas o asure gozou de prestígio equivalente, com uma vantagem: nenhum doce turco ou de qualquer outro país o suplanta em pedigree e significados.

Antes da Copa - ALEXANDRE NOBESCHI

FOLHA DE SP - 06/12


SÃO PAULO - A Confederação Brasileira de Futebol pode passar por mais um constrangimento, com direito a repercussão internacional, poucos dias após o sorteio que definiu os grupos da Copa das Confederações, evento-teste para o Mundial.

O deputado federal Romário (PSB-RJ), craque do tetra e férreo opositor à cartolagem que comanda o futebol do país, protocolou ontem, na Câmara, pedido para a instalação de uma CPI que investigue a CBF. O principal alvo é o contrato firmado entre a entidade e a empresa aérea TAM.

Reportagem do colega Sérgio Rangel nesta Folha mostrou, em outubro, que empresas de Wagner Abrahão, amigo do ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira, recebem dinheiro de patrocínio da TAM que deveria ir para a confederação.

O acordo prevê o pagamento de US$ 7 milhões (R$ 14,8 milhões) por ano à CBF e foi fechado ainda na época de Teixeira, que ficou 23 anos no poder e renunciou ao cargo em março, após denúncias de corrupção.

Não é a primeira vez que a CBF se vê às voltas com os parlamentares. No começo dos anos 2000, as CPIs CBF/Nike e do Futebol, na Câmara e no Senado, desnudaram as tenebrosas transações de dirigentes do futebol brasileiro. No fim, não deu em nada, e Teixeira continuou seus desmandos à frente da entidade.

Desmandos que José Maria Marin, como presidente da CBF e do Comitê Organizador da Copa, herdou e dos quais se beneficia. Exemplo disso foi a mudança no estatuto que adiantou as eleições na entidade para abril de 2014 (seria em setembro), antes de um possível fiasco no Mundial.

Romário, é claro, aproveita o momento e posa como arauto da moralização do futebol. A seu favor para fazer vingar a CPI CBF/TAM pesa o pouco apreço do governo federal para com Marin e seu vice, Marco Polo Del Nero.

Tirá-los da tribuna dos jogos da Copa seria o caminho ideal para Dilma livrar-se de embaraços bem no ano de sua candidatura à reeleição.

Quarto do riso - ALEXANDRE SCHWARTSMAN


Valor Econômico - 06/12


Impossível não tratar do fraco crescimento da economia brasileira no terceiro trimestre, quando o Produto Interno Bruto (PIB) registrou expansão de meros 0,6%, praticamente selando crescimento ao redor de 1% este ano e sublinhando as dificuldades que o país terá que superar para atingir a meta de 4% em 2013. Eu, em particular, espero um número entre 3% e 3,5% no ano que vem, mas ficaria apenas moderadamente surpreso se ficasse pouco abaixo de 3%.

À luz da anemia econômica deste ano uma mente desatenta poderia até atribuir poderes mediúnicos ao Copom, que iniciou seu ciclo de redução da taxa de juros embalado pela "hipótese de que a atual deterioração do cenário internacional cause um impacto sobre a economia brasileira equivalente a um quarto do observado durante a crise internacional de 2008/2009".

Uma investigação minimamente mais cuidadosa, contudo, mostra um quadro muito distinto daquele suposto pelo Banco Central (BC). A começar porque, do ponto de vista da economia global, a desaceleração recente é pálida sombra do que foi a crise de 2008/2009. Naquele momento a economia mundial sofreu um colapso, como revelado pela contração de 13% no comércio internacional; em 2012, em contraste, embora o crescimento tenha se desacelerado, permanece ainda em terreno positivo, registrando expansão pouco superior a 2% nos 12 meses terminados em setembro relativamente ao mesmo período do ano anterior.

Os dados sugerem que o baixo crescimento nacional é um fenômeno local. Já as causas são objeto de debate feroz

Mais revelador que isso, contudo, é a comparação do desempenho da economia brasileira relativamente às suas contrapartes na América Latina. Da mesma forma que no meu artigo do mês passado escolhi as economias (Chile, Colômbia e Peru) que, além de compartilharem com o Brasil o perfil de exportadoras líquidas de commodities, adotam o regime cambial e monetário que vigorava até recentemente no país, isto é, mantiveram as metas para a inflação, assim como o câmbio flutuante, além do compromisso sólido com suas metas fiscais.

Assim, se a desaceleração da economia brasileira resultasse da crise internacional deveríamos observar um comportamento semelhante por parte dos demais países, como o ocorrido em 2009.

Há, porém, uma complicação técnica que precisa ser tratada: é necessário distinguir os movimentos cíclicos da economia daqueles associados à sua tendência de crescimento. De fato, os efeitos da crise internacional devem se manifestar como uma redução cíclica do crescimento, isto é, um desvio para baixo relativamente à sua tendência. Se tais efeitos não forem desembaraçados corremos o risco de atribuir à crise um ritmo de crescimento mais lento que, na verdade, se originaria de uma menor capacidade de expansão sustentável.

Para tratar uniformemente todas as economias em análise estimei uma tendência simples (um filtro Hodrick-Prescott) para cada uma delas e calculei o desvio do crescimento observado relativamente à tendência. O gráfico mostra os desvios do crescimento brasileiro, assim como a média dos desvios dos demais países (apenas para deixar o gráfico mais legível; chegaríamos às mesmas conclusões usando as informações separadas para cada país).

Os números são reveladores. É possível ver como os movimentos cíclicos no Brasil se assemelham aos dos demais países, em particular no período imediatamente posterior à eclosão da crise de 2008. Todos os países foram tragados pelo maelstron financeiro, desviando-se significativamente para baixo com respeito à sua tendência. Da mesma forma sua recuperação foi não apenas rápida, mas também vigorosa, revelando taxas de crescimento bastante superiores à tendência já em 2010.

Quando se examina o período mais recente, todavia, é visível a diferença de desempenho entre o Brasil e os demais países latino-americanos. Embora o crescimento tenha se desacelerado em todos eles (em média uma redução de 1 ponto percentual), a desaceleração brasileira foi muito mais forte (cerca de 4 pontos percentuais) e o Brasil é o único que registra expansão abaixo da tendência estimada.

Posto de outra forma, os dados sugerem que o baixo crescimento nacional é um fenômeno local. Já as causas são objeto de debate feroz, embora minha explicação favorita ainda aponte para o esgotamento do processo de incorporação de mão de obra ociosa como um culpado provável (no caso implicando também que a tendência acima estimada deve exagerar nossa capacidade de crescimento).

Isto dito, é preciso reconhecer que, em retrospecto, o ministro da Fazenda estava correto ao qualificar a projeção do PIB de 1,5% como piada; só não percebeu que a sua própria piada (crescimento de 4%) era bem mais engraçada...

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS E CIA

O GLOBO - 06/12


Amianto 1
O sucessor de Carlos Ayres Britto no STF vai herdar a relatoria da Adin 3355, que pretende anular a Lei 4341/2004, do Estado do Rio. Joaquim Barbosa era o relator. Mas deixou a função ao assumir a presidência do Supremo. O texto prevê indenização a trabalhadores expostos ao asbesto.

Amianto 2
Já a ministra Rosa Weber é responsável pela Adin 3406, contra a Lei 3.579/2011, que bane o amianto na indústria e no varejo fluminenses. Carlos Minc, secretário do Ambiente, quer a proibição da fibra. O STF julgará ações semelhantes contra SP e RS.

É bi
O Rio foi 1º no ranking de cidades preferidas por jovens executivos da América Latina para morar, pelo segundo ano seguido. Recebeu 10,9% dos votos dos que têm até 25 anos; 16,8%, de 25 a 36 anos; e 13,8%, de 36 a 45. Na lista geral, está em 6º. Os dados estão na revista “América Economia”, que sai amanhã.

Sabático
Quase 80% dos diretores de RH brasileiros consultados pela Robert Half em pesquisa global dizem que benefícios não financeiros ajudam a atrair ou reter funcionários. Entram no pacote horário flexível e período sabático. A média de 15 países foi de 81%. “É prova da profissionalização das empresas brasileiras”, diz o gerente Jorge Martins.

BUROCRACIA ATRAPALHA VENDA DE FRANGO À CHINA
Exportações do Brasil cresceram dez vezes em três anos, mas sem novos frigoríficos habilitados vão parar de subir
Um entrave burocrático trava a expansão das exportações de frango brasileiro para a China. Desde 2009, quando produtores locais começaram a vender para o gigante asiático, os embarques decuplicaram. Este ano, devem chegar a 230 mil toneladas, estima a Ubabef, que representa os exportadores. Encostam, assim, na capacidade máxima dos frigoríficos habilitados pelas autoridades chinesas. “Esse volume pode crescer em cerca de cem mil toneladas, se outros 13 frigoríficos forem liberados”, diz Francisco Turra, presidente da entidade. Entre março e abril deste ano, uma missão chinesa veio ao Brasil e aprovou cinco unidades frigoríficas de aves e listou exigências em mais oito. Só que, até hoje, o governo chinês não formalizou a habilitação das cinco primeiras. Ainda ontem, o Ministério da Agricultura brasileiro enviou mais um pedido de providências, segundo a Ubabef. Os oito frigoríficos restantes já cumpriram as exigências dos chineses. Para serem liberados, no entanto, outra missão do país terá de visitá-los. “Há demanda forte por asas e garras de frangos do país, que representam 80% das exportações. O que nos impede de vender é burocracia”, diz Turra.
230 mil
TONELADAS DE FRANGOS

É quanto o Brasil vai exportar para a China este ano, diz a Ubabef. Em 2009, quando as vendas começaram, foram 23.989. Os chineses compram 80% de asas e garras e 20% de coxas e sobrecoxas.

O CARA É ELE
Neymar estará hoje e amanhã na sede mundial na Nike, no Oregon (EUA). Vai gravar a mensagem de fim de ano para os 70 mil funcionários da empresa. Até então, Ronaldo fora o único brasileiro a mandar o recado ao pessoal da patrocinadora. De quebra, o craque fará testes para a chuteira artesanal, que a marca fará para a Copa das Confederações. A primeira exclusiva, batizada de Nike GS, ele usou nos Jogos 2012, de Londres.

Lajeado está para peixe
O Ministério da Pesca e Aquicultura planeja implantar parques para criação de tambaquis na barragem de Lajeado (TO). A iniciativa é consequência da liberação do Ibama para a criação da espécie em tanques-rede na bacia do Rio Tocantins. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União anteontem, resultado de demanda do próprio MPA. Segundo o ministério, piscicultores não contavam com espécies competitivas no mercado. O projeto em Lajeado deve sair do papel em seis meses. Em até três anos, sua produção anual deve chegar a 168 mil toneladas (R$ 840 milhões).

Pequenos negócios
As médias e grandes empresas demitiram 11.655 empregados com carteira assinada em outubro. Já os micro e pequenos negócios criaram 78.655 novos postos. O saldo, positivo, foi de 67 mil vagas.

Capitalização 1
O mercado de capitalização faturou R$ 13,6 bilhões de janeiro a outubro. É aumento de 18,6% comparado a 2011. Foram pagos R$ 703 milhões em prêmios, 22,5% mais.

Capitalização 2
A Brasilcap bateu R$1 bi em prêmios distribuídos desde 1995, com mais de 451 mil beneficiados. Em 2012, já foram R$ 98 milhões, alta de 22,5% sobre 2011.

Livre Mercado
A Alfaias abre a loja em Goiânia hoje. Aporte de R$ 400 mil, deve faturar R$1,5 milhão por ano.

A Franchise Store assina o plano de expansão da rede de cama e mesa.

A Unhas Fast estreia no Rio em 2013. Investimento de R$ 220 mil, a 1ª franquia ficará na Tijuca e deve fazer 13 mil atendimentos por mês. A rede tem três lojas em Goiânia e propostas para 40 em sete estados.

A Sony Music lançou ação digital para promover álbum da banda One Direction. Prevê 50 mil inscritos na primeira semana. A Fullpack assina.

Romero Britto assina painel no Hospital da Mulher de São João de Meriti. O da Cedae não é o primeiro.

Ao gênio Oscar Niemeyer, nossa homenagem; nossa saudade.

EM AGRADECIMENTO
A Claro estreia campanha hoje, no Rio, para agradecer a liderança no mercado local. A operadora tem 32,93% do mercado fluminense. A Ogilvy assina os anúncios para impressos e mobiliário urbano. Na orla da Zona Sul, na Lagoa e na Barra, 50 relógios de rua exibirão as peças.

Malhação
A Fórmula estreia em Niterói na terça. Investimento de R$1,8 milhão, é a 8ª da rede de academias. Até março de 2013, virão mais 20.

Lavanderia
A Laundromat, lavanderia self service, abre franquia modular na Barra, amanhã. A meta é abrir 40 em 2013. Vão custar R$ 10 milhões.

Limpeza
A House Shine vai investir R$ 4,7 milhões para trazer ao Rio seu sistema Pack, de limpeza em residências e empresas. Para se adequar ao mercado brasileiro, a portuguesa já gastou R$ 10 milhões. Tem 30 unidades em cinco estados, São Paulo, Minas e Pará, entre eles. Deve faturar R$ 92 milhões em 2013. Quer chegar a R$ 625 milhões em 2016.

‘FUSQUEATA’
Começa hoje a Caravana Fusca, ação da Volkswagen nas ruas do Rio e de São Paulo. Até domingo, unidades do novo modelo visitarão roteiros de gastronomia e compras das duas cidades. Clientes receberão um cartão com QR Code que dá acesso a mais informações sobre o carro.

Por uma nova política econômica - PAULO R. HADDAD


O Estado de S.Paulo - 06/12


"O dinheiro do governo federal acabou." Essa frase, pronunciada em 1979 pelo então ministro do Planejamento, Mário Henrique Simonsen, visando a conter a avalanche de demandas para novos programas e projetos vindos dos ministérios setoriais, Estados e municípios, mostra três dimensões da responsabilidade profissional e ética de quem conduzia a política econômica do País. Não se pode iludir a população e seduzir a classe política quanto à capacidade do governo em financiar ilimitadamente grandes projetos de investimentos na infraestrutura econômica e social de regiões, Estados e municípios. Não se pode ir expandindo o endividamento público para defender os níveis de renda e de emprego sob o risco de comprometer a confiança que os agentes econômicos depositam na gestão macroeconômica do País. E não se pode vender ilusões à opinião pública sobre as perspectivas de crescimento de uma nação, quando os instrumentos de intervenção do governo se encontram sob fortes restrições operacionais internas e externas.

Na verdade, se o governo federal mantiver a atual estrutura da política econômica, a presidente da República colherá, como resultados do segundo biênio de seu mandato, uma economia com inflação sob controle, embora relativamente alta para quem aspira a um regime de estabilidade; uma taxa de crescimento inexpressiva quando comparada aos demais países emergentes, todos submetidos à mesma conjuntura internacional adversa; e uma população insatisfeita com a qualidade dos serviços públicos essenciais num contexto em que os indicadores de pobreza melhoram, ao mesmo tempo que os indicadores das desigualdades sociais se ampliam.

Dizer que se trabalha atualmente com um modelo de crescimento baseado na dinâmica do mercado interno é muito controverso. No curto prazo, o mercado interno pode se expandir pelo acesso dos mais pobres ao consumo de bens duráveis, favorecido pelas condições de financiamento e pelas políticas sociais compensatórias. Mas, no médio prazo, o dinamismo do mercado interno depende fundamentalmente do tamanho da população, da produtividade total dos fatores de produção e da distribuição da renda e da riqueza nacional. São fatores estruturais de transformação lenta (ganhos de produtividade) ou que se esgotam depois de eliminados obstáculos político-institucionais (exaustão do ciclo distributivo da implantação das políticas sociais compensatórias da Constituição de 1988).

É preciso, pois, construir um novo ciclo de expansão da economia brasileira a partir dos fundamentos conceituais e ideológicos de uma nova política econômica. Do ponto de vista conceitual, trata-se de encontrar o caminho de um novo paradigma para a dinâmica de desenvolvimento sustentável da economia brasileira, o qual, em princípio, deve estar associado à concepção e implementação de nova onda de inovações tecnológicas e institucionais. Nesse sentido, deve-se privilegiar o potencial de crescimento dos segmentos produtivos que utilizam direta e indiretamente a nossa base de recursos naturais (o complexo do agronegócio, o minero-metalúrgico-mecânico, etc.) e que se têm destacado no cenário global pela sua inequívoca capacidade de inovar para competir.

Do ponto de vista ideológico, a atual administração do governo federal precisa se conscientizar de que a economia de mercado tem seus imperativos e sua lógica interna de acumulação e que convive adequadamente com regulamentações localizadas setorialmente, desde que estas sejam consistentes tecnicamente, politicamente negociadas e institucionalmente legalizadas.

Não há como a intervenção governamental ampliar o grau de incertezas dos empreendedores para além daquelas que são típicas da dinâmica dos próprios mercados. O governo não pode se transformar num multiplicador de incertezas pelo fato de não dispor de determinação política para induzir que os interesses do velho paradigma se desestruturem a fim de que o novo paradigma possa nascer.