sábado, novembro 24, 2012

LULA E SARNEY DOIS VAGABUNDOS, ESCROTOS E SAFADOS

 JOSIAS DE SOUZA


Servidor preso pela PF foi aprovado no Senado graças a pressão de Lula e manobra de Sarney





Senado aprovou o preso Paulo Vieira em votação viciada

Preso pela Polícia Federal na Operação Porto Seguro, Paulo Rodrigues Vieira, diretor de Hidrologia da ANA (Agênca Nacional de Águas), foi guindado ao cargo graças a uma forte pressão de Lula e a uma manobra patrocinada por José Sarney (PMDB-AP). Como ocorre com todos os indicados para diretorias de agências reguladoras, o nome de Paulo Vieira teve de passar pelo Senado. Uma pesquisa nos anais do Legislativo revela que, neste caso, a aprovação foi tumultuada, atípica e violou as regras regimentais.

Assinada por Lula, a mensagem presidencial que indicou Paulo Vieira para uma poltrona da agência de águas teve tramitação relâmpago. Em sabatina precária, o indicado foi aprovado pela Comissão de Meio Ambiente do Senado em 16 de dezembro de 2009. No mesmo dia, o nome seguiu para o plenário. Ali, realizaram-se duas votações. Numa, houve empate. Noutra, o nome de Paulo Vieira foi rejeitado por diferença miúda: 26 votos contra, 25 a favor e uma abstenção.

Como manda o regimento, o Senado enviou ao Planalto ofício comunicando a Lula que seu escolhido não passara pelo crivo dos senadores. Não restava ao presidente senão sugerir outro nome. Passaram-se quatro meses. E nada. De repente, quando se imaginava que o jogo estivesse jogado, Sarney valeu-se de sua autoridade de presidente do Senado para reinserir na pauta de votações o nome de Paulo Vieira.

Na tarde do dia 14 de abril de 2010, uma quarta-feira, a indicação de Paulo Veira foi votada pela terceira vez. O nome foi, então, aprovado por 28 votos a 15. Houve uma abstenção (a foto lá do alto exibe o resultado no painel). A votação foi atípica porque o Senado não poderia ter aprovado o nome que rejeitara. Foi antiregimental porque a decisão anterior jamais foi revogada. Foi tumultuada porque um parecer da Comissão de Justiça tachara a ‘revotação’ de ilegal.

Descobre-se agora que aquilo que começou errado terminou em desastre. Na operação deflagrada nesta sexta (23), a Polícia Federal indiciou 18 pessoas e prendeu seis. Entre os presos estão Paulo Vieira e um irmão dele, o diretor de Infraestrutura da Agência Nacional de Aviação Civil Rubens Carlos Vieira (também indicado por Lula e aprovado pelo Senado e 7 de julho de 2010, sem manobras). Entre os indiciados está Rosemary Novoa de Noronha, a Rose, chefe de gabinete do escritório regional da Presidência da República em São Paulo.

Descobriu-se que foi Rose, uma servidora nomeada por Lula e mantida por Dilma Rousseff, quem patrocinou as indicações dos irmãos Vieira. Mais: os três participavam de um esquemade venda de pareceres de interesse de empresas nas agências reguladoras e em outros órgãos públicos. Pior: suspeita de corrupção, tráfico de influência e falsidade ideologica, Rose é investigada por ter supostamente exigido e recebido por intermédio dos Vieira vantagens monetárias e favores que vão do custeio de uma cirurgia plástica a viagens.

Além dos indiciamentos e das prisões, a PF realizou batidas de busca e apreensão de documentos e computadores em Brasília e São Paulo. para constrangimento do governo, varejaram-se inclusive os gabinetes de Rose, de Rubens Vieira e de Paulo Vieira. No caso deste último, o diretor que o Senado aprovou na marra, sua sala na ANA foi varejada por quatro horas e 15 minutos –das 6h30 às 10h45. Depois de coletar papéis e computador, a PF lacrou o recinto.

De passagem pela Índia, Lula foi informado pelo telefone sobre a encrenca que engolfou sua ex-assessora Rose e os dois diretores que ela indicou e ele patrocinou no Senado. Os arquivos do Senado revelam que Lula empenhou-se pelos Vieira com um interesse revelador do prestígio de Rose, a quem conhecera na década de 90. Por 12 anos, ela assessora José Dirceu na máquina partidária do PT. Eleito, Lula fez de Rose, em 2003, assessora especial da Presidência em São Paulo. Em 2005, promoveu-a a chefe de gabinete.

Em toda a história do Senado, só havia dois casos de autoridades que, tendo sido rejeitadas pelo plenário, foram aprovadas em votações posteriores –Alexandre Morais, para o Conselho Nacional de Justiça; e Diaulas Costa Ribeiro, para o Conselho Nacional do Ministério Público. Num dos casos, a segunda votação fora precedida de decisão da Mesa diretora do Senado. Noutro, fora referendada pela unanimidade dos líderes partidários. No episódio de Paulo Vieira, Sarney decidiu sozinho pela realizaçã de uma terceira votação.

Líder de Lula no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) recebera ordens do Planalto para reverter a rejeição ao nome de Paulo Vieira. O senador alegara que obtivera o assentimento dos líderes. Foi com base nesse suposto entendimento que Sarney devolveu o nome ao plenário. Os desdobramentos revelariam que Jucá mentira. Em 15 de abril de 2010, um dia depois da violação das regras, o PSDB e o DEM entregaram a Sarney um pedido de anulação da pantomima. Assinaram a peça os líderes do DEM, José Agripino Maia; e do PSDB, Arthur Virgílio, hoje prefeito de Manaus. Ficou entendido que o alegado acordo de lideranças era lorota.

“Não havia nenhuma justificativa para que essa matéria voltasse ao Plenário”, disse Agripino, conforme os registros da sessão. “Para surpresa de todos, a proposição rejeitada foi arbitrariamente colocada novamente em votação na sessão deliberativa de ontem. Trata-se de uma ilegalidade jamais vista na história desta Casa Legislativa”, ecoou Virgílio, segundo registram as notas taquigráficas.

Decorridos cinco dias, Sarney enviou o recurso de Agripino e Virgílio à Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Nessa época, presidia a comissão um ainda respeitado Demóstenes Torres. Em 27 de abril de 2010, esse Demóstenes pré-Cachoeira emitiu seu parecer. Considerou que não era atribuição da Comissão de Justiça dirimir a querela. Por quê? A presidência do Senado só poderia acionar a comissão em casos que envolvessem interpretações do texto constitucional.

Demóstenes anotou: “Evidentemente que a questão de ordem ora analisada não diz respeito à interpretação de qualquer dispositivo constitucional. Questiona-se o atendimento, ou não, a preceito regimental. Portanto, incabível a apreciação dessa matéria pela CCJ”. No mesmo documento, Demóstenes apontou “falhas gritantes” no processo que levou à aprovação da indicação de Paulo Vieira. Recordou que a Comissão de Justiça já havia se manifestado sobre a matéria.

Lembrou que, na sequência da rejeição do indicado de Lula, o senador Magno Malta recorrera à Mesa presidida por Sarney. Um recurso não previsto no regimento do Senado. Foi “por absoluta falta de previsão legal”, escreveu Demóstenes, que a Comissão de Justiça rejeitara esse primeiro recurso, assinado por Malta. Evocando os dois únicos precedentes disponíveis nos anais do Senado, Demóstenes aventou a hipótese de o plenario deliberar sobre a conveniência de realizar ou não uma nova votação no plenário. Porém…

Demóstenes realçou que seria preciso que a Mesa ou os líderes aprovassem a realização da nova votação. “Embora […] o senador romero Jucá tenha afirmado que a matéria legislativa já havia sido objeto de ‘entendimento entre os líderes’, quer me parecer que tal entendimento não ocorreu. Sustento-me na iniciativa dos líderes Agripino e Virgílio, que subscreveram essa questão de ordem”, anotou Demóstenes. “Não concebo que precedente tão grave, que atropela o regimento interno, possa ser adotado sem o acordo de todos os líderes partidários.”

De resto, Demóstenes enfatizou que a aprovação de Paulo Viera ocorrera sem que a rejeição ao nome dele tivesse sido anulada. “Uma decisão do plenário [a rejeição da indicação de Paulo Vieira] estava em pleno vigor, inclusive dela já estava informada a Presidência da República, e sobre ela outra foi tomada, sem sequer se discutir as razões pelas quais aquela deveria ser anulada. Nem é o caso de se dizer que a segunda votação revogou tacitamente a primeira.”

Em sessão realizada no dia 4 de maio de 2010, já munido do parecer do Demóstenes pré-clube Nextel, Sarney deu por encerrada a querela. Rejeitou o pedido de Agripino e Virgílio e deu por válida a aprovação do agora encrencado Paulo Viera. Alegou que não tinha poderes para se subrepor à decisão do colegiado. “Não aceito a questão de ordem por não ter competência para agir em nome do plenário”, disse.

Sarney comprometeu-se a editar um ato regulamentando a votação de autoridades. Algo que evitasse a repetição das anomalias. Virgílio foi ao microfone: “Devemos tomar isso como lição para adotar medidas de responsabilidade. A Mesa deve impedir que fatos semelhantes ocorram daqui pra frente.” Agripino ecoou-o: “O episódio foi lamentável. Temos que ter a devida instrução da Mesa. Que permaneça a cautela em episódios futuros, para que não seja repetido esse fato.” E a coisa ficou nisso. Passados dois anos e meio, a Polícia Federal entra em cena.

Explode coração - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 24/11

Um ministro do STF é testemunha: Dilma, que foi fria com Joaquim Barbosa ao chegar para sua posse, quinta, entregou os pontos ao longo da cerimônia e, no fim, foi carinhosa ao se despedir do novo presidente do Supremo.

Melhor assim.

GOLPE COMUNISTA

Terça, o Departamento de Educação e Cultura do Exército promoverá uma solenidade em homenagem às vítimas da Intentona Comunista de 1935, às 8h, na Praia Vermelha, no Rio.

O levante foi uma tentativa de golpe contra o governo Getúlio Vargas.

CASO MÉDICO

Ontem fez um mês que o técnico de basquete Ary Vidal, 76 anos, segue internado.

Comandante da seleção no ouro histórico no Pan de 1987 (vitória sobre os EUA na final), Vidal está no CTI do Hospital São Lucas, em Copacabana, com insuficiências renal e cardíaca.

SALA DE AULA

Semana passada, três alunos da unidade Humaitá do Colégio Pedro II, no Rio, foram pegos dentro do grêmio fumando maconha. Foram transferidos para outras unidades da escola na cidade.

LULA DE VOLTA AO LAR

Lula volta hoje de um giro por África do Sul, Moçambique, Etiópia e Índia.

COMO EU IA DIZENDO

Black friday é o cacete.

NO MAIS

O fato de o Brasil ter uma mulher na Presidência e um negro no comando do STF é sinal de que o país avançou, mesmo longe de ser uma nação economicamente e socialmente justa.

Com todo o respeito.

BARBA ENSOPADA

“Barba ensopada de sangue”, romance de Daniel Galera, lançado pela Companhia das Letras, do editor boa-praça Luiz Schwarcz, está sendo disputado mundo afora.

Há, no momento, um leilão entre algumas editoras de Israel e da Suécia pelo direito de publicação do livro nos dois países.

LADO B DO RIO

O coronel Erir da Costa Filho, comandante-geral da PM do Rio, discordou do relatório de um IPM e decidiu indiciar dois cabos do 2º BPM (Botafogo) que teriam extorquido R$ 50 de um turista português.

O patrício conversava com um travesti na Av. Augusto Severo, na Glória, quando foi abordado pelos policiais.

SEGUE...

Os PMs teriam rodado bom tempo com o português na viatura até que o homem decidiu pagar para ser liberado.

Consta do inquérito que, ironicamente, um dos policiais teria perguntado: “O dinheiro é de coração?” A vítima disse: “Com certeza.” Mas o caso foi denunciado à Delegacia de Atendimento ao Turista, e deu no que deu.

CABUM!

Um elevador do Shopping da Gávea, no Rio, despencou do primeiro andar, quarta. Três pessoas se machucaram.

SHALOM

Amanhã, às 10h, vai haver uma caminhada em solidariedade ao povo de Israel e pela paz no Oriente Médio, em Copacabana.

POXA, JORGE ROBERTO

A Prefeitura de Niterói enforcou o dia, ontem, por causa de um feriado municipal na véspera.

Aliás, o feriadão na cidade pode entrar para a História como o maior de todos os tempos: começou quinta passada (15 de novembro), avançou até terça (Dia de Zumbi) e chegou a esta quinta, data da fundação da cidade.

BENÇA, VOVÔ CHICO

Quinta à noite, numa área reservada do Wine Bar da pizzaria Capricciosa, no Jardim Botânico, no Rio, vovô Chico Buarque estudava a Revolução Industrial com o neto, filho de Carlinhos Brown, enquanto comia pizza de margherita e focaccia de presunto. Um fofo.

FERMENTO NO BISCOITO

A Piraquê, gigante dos biscoitos, abrirá unidade de 50,4 mil m² em Queimados, RJ, beneficiada pela lei de Cabral que dá incentivos tributários a indústrias. O investimento é de R$ 85 milhões. Começará a operar em 2014. Deve gerar 500 empregos diretos até 2018 e faturar uns R$ 140 milhões em 2017. A fábrica de Madureira será mantida.

EMBAIXADOR NA ARMÊNIA

Edson Monteiro será embaixador brasileiro na Armênia.

VOCÊS QUEREM BACALHAU?

O Brasil já é o terceiro maior parceiro comercial da Noruega, atrás apenas dos EUA e Europa. Por isso, a ministra da Pesca da Noruega, Lisbeth Berg-Hansen, veio ao Brasil para sugerir aos brasileiros que comam mais bacalhau, não só no Natal e na Páscoa. Com a embaixadora Aud Marit Wiig, a ministra participou em São Paulo de encontro com supermercadistas, clientes e parceiros.

A expectativa é de que, ano que vem, seja batido o recorde mundial de pesca de bacalhau na Noruega. Serão 1 milhão de toneladas de peixes “gelados”, um aumento de 33% em relação a este ano.

Limites de um certo jardim - ELIANA CARDOSO


O Estado de S.Paulo - 24/11


"Lisboa não é mais", escreve Voltaire comovido pelo amontoado de mulheres e crianças mortas no terremoto de novembro de 1755: "Que crime, que falta cometeram esses meninos

A sangrar, esmagados sob o seio materno?"

E termina o Poema Sobre o Desastre de Lisboa com versos dirigidos a Deus:

"Trago-lhe, único rei, ser infinito,

Tudo o que não tens na tua imensidão:

Os defeitos, as lamentações, o mal e a ignorância.

E poderia ainda ter somado a esperança".

Como reconciliar o mal e o sofrimento de inocentes com a bondade e a onipotência de Deus? Para o politeísmo do mundo antigo, existia uma resposta simples: alguns deuses eram do mal. Mas para o monoteísmo, o sofrimento de inocentes desafia a lógica.

Os dois primeiros capítulos do Gênesis oferecem duas explicações diferentes. No primeiro, a matéria simbólica do mal existia antes da criação do mundo. "A terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas." O vazio, o abismo e a escuridão são a matéria simbólica do mal e lá estavam antes do "Haja luz" com que Deus trouxe ordem ao caos preexistente.

Em contraste com essa interpretação, a teologia dominante no tempo do francês Voltaire (1694-1778) difundia a ideia de que Deus criara o mundo do nada. A explicação para a existência do mal se encontraria no segundo capítulo do Gênesis, em que o homem, violando o mandamento de Deus, teria com seu pecado aberto portas e janelas para catástrofes, desditas e infortúnios.

Mas essa solução permanece insatisfatória, diante do argumento de que a bondade de Deus, sua onipotência e a existência do mal formam uma trindade impossível. Se o mal existe, Deus ou não é bom ou não é onipotente. Se não o é, o universo segue a ordem da natureza e a razão exige a substituição da ordem religiosa por uma ordem social, como Voltaire ilustraria em Cândido, ou o Otimismo (introdução de Michel Wood, notas de Theo Cuffe, tradução de Mário Laranjeira, Penguin Companhia).

Graças a Voltaire, a destruição de Lisboa teve consequências poderosas sobre a forma como separamos o mal natural do moral. E a interpretação do mal estava presente na discussão portuguesa sobre o significado do terremoto: mensagem divina ou fenômeno da natureza?

Malagrida, um jesuíta italiano, pregava o abandono da reconstrução e o retiro espiritual para aplacar a ira divina. Do outro lado, apoiando-se em explicações naturalistas, Pombal, o todo-poderoso primeiro-ministro, tratou de dispor dos cadáveres para evitar a peste, distribuiu alimentos e colocou a milícia na rua. Garantiu a distribuição do jornal, pois, sem informações confiáveis, rumores e especulações poderiam impedir a volta à normalidade. Malagrida morreu num auto da fé. Pombal venceu.

Mas, se Pombal e Voltaire queriam pôr fim à interpretação de Deus como portador de função pública, nem por isso acabaram com os debates sobre a providência divina. Gottfried Wilhelm Leibniz, defensor da corrente de pensamento conhecida como o otimismo filosófico, afirma - nos Essais de Theodicée Sur la Bonté de Dieu (importado, GF, R$ 38,20) - que Deus não iria criar um mundo perfeito, pois é ele o único ser perfeito. Sabendo que o mundo seria necessariamente imperfeito, criou "o melhor de todos os mundos possíveis". Ocorre, entretanto, que nossa perspectiva limitada não alcança os motivos de seu funcionamento. Essa conclusão coincide com a desenhada por Alexander Pope no Essay on Man and Other Poems (importado, Dover Thrift, R$ 8,60) que argumenta que tudo o que é está certo. O que percebemos como ruim faz parte da harmonia universal que escapa à nossa compreensão.

Ao contrário, o poema sobre o desastre de Lisboa vê como inexplicável o sofrimento causado, por exemplo, por terremotos, e rejeita o otimismo filosófico. Jean Jacques Rousseau reagiu com fúria ao poema. Acusou Voltaire de atacar a providência divina e construiu um argumento baseado na afirmação de que as cidades são centros de corrupção. Puxando a sardinha para sua brasa, pois pregava o mito do bom selvagem, afirmou que Deus nos criou para a vida simples do campo e harmonizou o mundo físico e o moral, usando os terremotos para nos mostrar onde e como devemos viver.

A resposta de Voltaire - que tomou a forma de Cândido - demorou três anos para aparecer. Ele atravessava um período de tristeza e ansiedade depois da morte da Sra. du Châtelet, uma mulher rica e inteligente, em cujo sítio Voltaire morava lá se iam 15 anos. Sim, ela era casada. Mas... Com marido compreensivo no país que inventou a tradição do ménage à trois.

A morte da Sra. Du Châtelet marca o início do período difícil durante o qual - deixando de lado o terremoto de Lisboa e a eclosão da guerra dos sete anos - Voltaire enfrentou uma estada frustrante na Prússia e cinco semanas na prisão até obter permissão para viver em Genebra. Em 1759, comprou Ferney (uma propriedade na fronteira franco-suíça) e publicou Cândido, que, circulando ilegalmente, obteve sucesso instantâneo e condenação imediata. Os temas da novela giram em torno da irrelevância da metafísica abstrata, da realidade do mal e da necessidade do trabalho para alívio do sofrimento.

Cândido - estudante e admirador de Pangloss, um filósofo dedicado à demonstração da verdade da crença de Leibniz - ama Cunegunda, filha do Barão Thunder-ten-tronckh, que o expulsa da Westfalia, quando o pega dando um beijo na amada. Forçado a se tornar soldado no Exército búlgaro se envolve em terrível batalha e alcança a Holanda, onde reencontra Pangloss, agora mendigo com o nariz carcomido pela sífilis, que pegou de Paquette, camareira no palácio do Barão. Tudo bem: se Colombo não tivesse trazido a sífilis da América, o Velho Mundo não teria conhecido o chocolate. Pangloss conta a Cândido que Cunegunda fora violada e estripada por soldados búlgaros.

Embarcam então num navio que naufraga, mas chegam a Lisboa a tempo de presenciar o terremoto e um auto da fé, em que vítimas são queimadas em fogo brando para evitar que a terra volte a tremer. Uma velha salva Cândido e o leva ao encontro de Cunegunda, que fora vendida a um mercador judeu, que divide seus favores com o grande inquisidor. Ameaçado, Cândido mata os dois. A velha planeja a fuga para Cádiz, onde Cândido é contratado para lutar contra os jesuítas do Paraguai.

A bordo do navio, a velha conta sua história de desgraças e confessa que, tendo pensado cem vezes em se matar, não o fez, porque partilha da mais ridícula das fraquezas da humanidade: ama a vida. "Pois existe algo mais tolo do que acariciar a serpente que nos devora até que ela nos tenha comido o coração?"

Essa velha é a personagem que menos sofre com as farpas satíricas de Voltaire, porque voltada para ação, não se deixa paralisar pela indiferença filosófica e oferece contrapontos à inépcia de outros personagens. Vítima de violência, estupro e escravidão, aprendeu a sobreviver e não exagerar seus ferimentos. Não guarda ilusões e, ao afirmar que continua amando a vida, articula um dos temas centrais de Voltaire: a vontade absurda, mas invencível que temos de viver.

Quando o grupo chega a Buenos Aires, Cunegunda se torna amante do governador. Alertado de que estão sendo perseguidos, Cacambo, servo de Cândido, sugere que, ao contrário do planejado, se unam aos jesuítas do Paraguai.

Ao ver dois macacos perseguindo duas meninas nuas a lhes mordiscar as nádegas, Cândido atira nos macacos e as duas meninas choram e lamentam a perda dos amantes. Em seguida, Cândido e Cacambo escapam dos Orelhinhas - que planejavam cozinhá-los para o jantar - e chegam ao Eldorado. Como Cândido não pode viver sem Cunegunda e Cacambo tem um espírito inquieto, deixam aquele paraíso com cem ovelhas carregando tesouros. Após cem dias e com apenas dois carneiros, encontram um pobre e torturado escravo e Cândido considera se deve renunciar ao otimismo de Pangloss. Cacambo pergunta: "O que é otimismo?". Responde Cândido: "É a mania de dizer que tudo está bem quando se está mal".

As viagens prosseguem. Cândido contrata um erudito pobre chamado Martinho para acompanha-lo à França. Na Inglaterra, presenciam a execução de um almirante condenado por não ter mandado matar gente em número suficiente. Chegam a Veneza e Cândido tenta refutar o cinismo de Martinho, apontando para um padre teatino e uma menina que andam juntos e felizes. Mas a mulher é Paquette, que se tornou prostituta a serviço de um padre, um oficial e um monge.

Apesar do pessimismo e sagacidade de Martinho, seria um erro escutar na sua voz a de Voltaire. Martinho não se revolta com injustiças, acredita que o diabo governa a existência humana, a miséria é inevitável e fúteis os esforços para reduzi-la - fatalismo que o aproxima do otimismo filosófico. Por que trabalhar para prevenir a guerra e a doença, se essas coisas continuarão a existir? Voltaire, ao contrário, favorece o ativismo. Sim, o mal existe, a providência divina é ininteligível, a metafísica, irrelevante, mas precisamos identificar as fontes do sofrimento remediável.

Em Constantinopla, Cândido reencontra Cunegunda, que se tornou feiíssima. Mesmo assim ele se casa com ela e compra uma pequena fazenda onde todos, insatisfeitos, se perguntam se o tédio não é ainda pior do que as torturas anteriores. Um turco lhes diz que só o trabalho impede os três grandes males da humanidade: o tédio, o vício e a pobreza. Martinho observa: "Trabalhemos sem arrazoar; é o único meio de tornar a vida suportável". Pangloss ainda filosofa, provando que tudo acabou como deveria. Cândido aprova, mas tem a palavra final: "Bem dito, mas é preciso cultivar nosso jardim".

Na fazenda de Cândido, o trabalho combate os efeitos perniciosos do tédio e baniram-se hierarquias destrutivas de instituições políticas e religiosas. Embora a solução possa não funcionar em grande escala, talvez permita certo grau de autonomia e paz. E o leitor termina como o protagonista, provisoriamente esperançoso, mas desconfiado do próprio julgamento. Afinal, uma postura mais esperançosa violaria o tom satírico do conto.

A sátira funciona também ao nível formal ao zombar da credulidade dos leitores de ficção e escolher uma estrutura narrativa que depende dos gêneros populares como os contos de fadas e as narrativas picarescas. Abandona o realismo a favor de hipérboles para sublinhar o absurdo e estende a ausência de realismo a personagens estereotipados. Cândido é uma paródia do herói do Bildungsroman. Embora ridículo na sua credulidade, é capaz de reconhecer o próprio desejo e a idealização de Cunegunda lhe permite perseguir a felicidade. No diálogo final, o herói ingênuo parece distanciar-se do otimismo puro de seu mentor.

Voltaire nos propõe mais do que a demonstração da existência do mal no mundo criado por uma divindade benéfica. Catástrofes naturais aparecem na narrativa, mas não só são apenas três (a tempestade na costa de Portugal, o terremoto de Lisboa e a peste da Argélia), como de pequena monta quando comparadas aos horrores criados pelo homem. A pergunta que ele nos deixa é como homens bons devem viver num mundo mau.

Ave, Verissimo! - PAULO SANT’ANA

ZERO HORA - 24/11


Fomos todos impactados durante a semana com a notícia de que o companheiro Luis Fernando Verissimo estava internado em estado gravíssimo.

Fui para o barbeiro, e a RBS TV confirmou a notícia. Quando dá na televisão, é porque a coisa está feia.

Estou fazendo a barba e não me sai da cabeça o Verissimo em sérios apuros.

Interessante como a gente fica tomado de afeição por colegas. Essa nossa profissão liga-nos umbilicalmente aos veículos em que trabalhamos. Parece que criamos uma nova família.

E na minha aflição pelo estado do Verissimo é que pude perceber então como prezo a ele, principalmente prezo-o como cronista, como necessário e imprescindível à imprensa. Eu também estava chocado porque tinha a impressão de que iria morrer antes dele, pelo simples fato de que tinha menos saúde que ele.

Felizmente, com uma certa melhora que o Verissimo teve na UTI, parece que vai acontecer mesmo o que previ: morrerei antes dele.

O que mais chama a atenção na personalidade do Verissimo é a sua facilidade em escrever talentosamente, enquanto para falar ele se revela quase impotente, difícil arrancar uma frase dos seus lábios.

Pela tarde, na companhia do governador Tarso Genro, fui ao Hospital Moinhos de Vento, onde ficamos sabendo dos médicos e da Fernanda, filha do Verissimo, que ele já reagia melhor ao tratamento de urgência.

Saímos de lá rezando pelo grande cronista, ele haveria de sair-se bem de mais essa.

Esta idade de mais de 70 anos é delicada. Os órgãos já estão gastos, qualquer acidente na saúde causa pânico no paciente.

Assim é a vida. Quem passa dos 70 entra na faixa perigosa.

E chamou a atenção a repercussão que a doença do Verissimo teve em todo o país.

De uns tempos para cá, valorizou-se na sociedade o papel dos jornalistas.

E o Verissimo é pedra 90 do jornalismo.

O número mágico - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 24/11


RIO DE JANEIRO - Escritores tendem a se misturar com a multidão. Ao contrário de jogadores de futebol, estrelas de novela e grã-finos de "Caras", nós, os intelectuais, podemos saracotear à vontade pelas ruas sem despertar comoções. No máximo, alguém nos dirige um sorriso ou, em casos de extrovertidos extremos, nos aperta a mão.

Assim, não admira que os escritores sejam carentes e aproveitem cada oportunidade para aparecer. Donde aceitam desde paraninfar uma turma de escolares no Guaporé até fazer uma palestra na magnífica Fliporto, de onde, por sinal, acabo de voltar (da Fliporto, não do Guaporé). Em todas, a noite termina com o escritor atrás de uma mesa e com uma caneta cheia de tinta para autografar seus livros.

E, então, não importa quanto tempo ele passe à mesa, dá-se um milagre. Ao relatar depois quantos livros autografou, surge sempre um número mágico: "Por volta de 400".

Os profissionais sabem que, para autografar 400 livros de uma sentada, exige-se pelo menos 400 minutos -um minuto por livro. É o tempo que se leva para receber o leitor à mesa, levantar-se, trocar um abraço, agradecer um elogio, sentar de novo, abrir o livro na página de autógrafos (rezando para que o nome do leitor conste de um papelucho e nos poupe do vexame do esquecimento), produzir o dito autógrafo, devolver o livro ao leitor, agradecer de novo, levantar-se para o abraço final e só então sentar-se para receber o leitor seguinte. Isso quando o leitor não vem em dupla, com o que o tempo é em dobro.

Bem, 400 minutos são seis horas e 40 minutos. Não conheço escritor que tenha ficado tanto tempo sentado, autografando sem parar nem para ir ao banheiro, e apenas pelos clássicos 400 livros. Mas já ouvi falar de gente que, em menos de três horas, autografou 2.000 livros. Sem tirar e, com toda certeza, nem pôr.

O afeto que se encerra - CLÁUDIA LAITANO

ZERO HORA - 24/11


A certa altura do documentário Caro Francis (2008), a viúva Sonia Nolasco lê uma carta em que Paulo Francis (1930 – 1997) narra a um amigo os últimos dias da gata Alzira e seu desconsolo diante da morte iminente do bichinho. É um trecho emocionante do filme, mas é inevitável sentir algum desconforto quando nos damos conta de que o próprio jornalista, se consultado, provavelmente não teria autorizado uma exposição tão escancarada da sua intimidade.

Podemos imaginar Paulo Francis desafiando inimigos, ridicularizando adversários, ou mesmo saindo no tapa com algum desafeto depois de um ou dois uísques a mais, mas dificilmente chorando – e menos ainda pela morte de um gato. A sua revelia, desfez-se em um par de minutos de um filme boa parte da imagem cínica e durona cultivada ao longo de 40 anos de jornalismo macho alfa.

A cantora americana Fiona Apple, 35 anos, situa-se mais ou menos no extremo oposto no espectro da sensibilidade à flor da pele. Dona de olhos tristes e canções mais melancólicas ainda, Fiona transformou a própria fragilidade na matéria viva que recheia a maior parte das letras que compõe.

Como muitos artistas que surgiram a partir dos anos 90, a cantora confessa inseguranças e desajustes íntimos com a mesma desenvoltura com que um Hemingway (ou um Paulo Francis...) se vangloriaria das grandes conquistas. Sem medo de ser infeliz, a cantora é um retrato bastante emblemático da sensibilidade artística de boa parte da sua geração.

Não chega a ser surpreendente, portanto, que Fiona Apple tenha decidido cancelar sua turnê na América Latina (Porto Alegre, inclusive) para ficar ao lado da cachorra Janet naqueles que podem ser seus últimos meses de vida. Escrita à mão e postada em uma rede social, a carta comove até mesmo aqueles que nunca tiveram um cachorro (como eu) ou pertencem àquela parcela da humanidade que se identifica mais com a independência felina do que com a fidelidade irrevogável dos cães (idem).

Isso porque a justificativa de Fiona para o cancelamento da turnê acabou se tornando menos um testemunho, como tantos outros, a respeito da amizade por um bicho de estimação do que um tocante depoimento sobre a proximidade da morte de alguém querido e a forma mais apropriada de viver esse momento.

“Não serei aquela pessoa que coloca a carreira acima do amor e da amizade. Vou ficar em casa, ao lado da minha mais antiga e querida amiga, fazendo com que ela se sinta confortável, confortada, segura, importante”, diz Fiona na longa carta em que conta como encontrou Janet em um parque, 13 anos antes, machucada e abandonada, e como as duas tornaram-se inseparáveis nos anos seguintes.

Muitos fãs devem ter achado esquisito cancelar uma turnê por causa de um cachorro, muito estranho até mesmo para a excêntrica Fiona. Mas intimamente, amantes de cachorro ou não, todos sabemos que ela fez a coisa certa. Diante de um afeto que se vai, não existem fortes nem fracos, cínicos ou frágeis, mas apenas nossa precária e atônita humanidade – e o tanto de amor que conseguimos aprender a dividir.

A França se supera - GILLES LAPOUGE


O Estado de S.Paulo - 24/11


A França é um país criativo. Sempre quer ser melhor do que os outros e frequentemente o consegue. Por exemplo, em termos de ridículo.

O que vem ocorrendo há alguns dias dentro do partido de direita (UMP) que colocou Sarkozy em órbita para a eleição presidencial, não tem precedente. E é também muito bizarro.

Em resumo: Sarkozy foi derrotado na última eleição presidencial e substituído pelo socialista François Hollande. À direita, a frustração foi grande. Mas veio a reação. E o partido se recompôs rapidamente.

Para começar, afirmou que os socialistas são um bando de idiotas. Mas quando isso é repetido durante meses, o público fica cansado. Então, ela implantou seu "plano B"; para a chefia do partido decidiu eleger um homem forte, incontestável, um gênio, um vencedor.

Essa eleição teve lugar no domingo passado. Havia somente dois candidatos, as duas vedetes da direita: François Fillon, que foi primeiro-ministro de Sarkozy durante cinco anos - uma personalidade do interior, melancólico, sério, democrata, sem bravatas e muito honesto.

Seu concorrente foi Jean-François Copé, ex-secretário da UMP que pretende se candidatar a presidente. Um perfil bem diferente: ele representa a direita radical. Não gosta dos muçulmanos. Brilhante, burlão, cruel, sem escrúpulos, arrogante. Uma máquina de guerra, estilo Sarkozy.

A eleição foi um desastre. Como no Zimbábue ou na Transcaucásia, manipulação das urnas, fraudes, trapaças. Copé diz que venceu no voto. Fillon diz que foi ele o vencedor. Os votos foram recontados. A "comissão de verificação" deu seu veredicto: Copé foi o vitorioso.

Então o calmo e distinto François Fillon explodiu como uma velha granada da guerra de 40. Não é possível. Todos os seus amigos se reuniram em seu apoio. Os amigos de Copé se rebelaram. O grande partido da direita francesa se decompõe. A França hesita entre o pânico e o riso.

Na manhã de terça-feira, Fillon, o mau perdedor, surgiu com um trunfo surpreendente: ele se deu conta que, na contagem dos votos, foram esquecidos três territórios franceses localizados no fim do mundo: Mayotte, no Oceano Índico, Nova Zelândia, no Pacífico, e também Wallis-et-Futuna, um arquipélago isolado com 12 mil habitantes. E se levados em conta os três esquecidos, Fillon venceria a eleição por 28 votos a mais. Fillon diz que ele venceu a eleição. Copé responde "não, fui eu".

Como explicar esse grotesco combate? Os dois homens se odeiam. Fillon diz que Copé é um "rufião". Que considera Fillon uma "nulidade". Mas há principalmente uma divisão ideológica. Copé dirige uma "direita desinibida, cínica, brutal, quase militar, tentada pela xenofobia".

Fillon lustra uma direita mais educada, que flerta com o centro, os moderados, os conservadores, o século 19, a fadiga...

E agora? O grande partido da direita vai se romper? Estamos à procura de um "sábio" para resolver. Como Alain Juppé, mas Juppé não gosta de Fillon, tampouco de Copé.

Surge então uma pergunta: por que não pedir a Nicolas Sarkozy que, quando presidente, tinha os dois homens a seu serviço, para intervir. Ele seria a pessoa certa para colocar os doidivanas no seu lugar e acalmá-los. Infelizmente, Sarkozy não quer se envolver na política, no momento.

Além disso, nesta semana ele foi interrogado durante longas horas por um juiz que suspeita que ele teria usado dinheiro da velha bilionária Liliane Bettencourt para financiar ilegalmente a campanha eleitoral que o levou à presidência da república em 2007.

A internet está zunindo. Essa mensagem por exemplo: "Sarkozy diante do juiz. Copé e Fillon pegos com a mão no vidro de geleia. E dizer que confiamos as chaves para esses três tipos..."

Os socialistas estão discretos. É verdade que, do seu lado, não estão dando um espetáculo maravilhoso. Então, quem está contente? Marine Le Pen, chefe do partido xenófobo, a Frente Nacional. Desde quinta-feira ela parece um urso marrom que encontrou o seu vidro de geleia. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Veta um pedaço, Dilma - LINDBERGH FARIAS

O GLOBO - 24/11


Não é por ganância que o Rio se opõe à divisão proposta dos royalties; é para não ser punido duas vezes e de forma inconstitucional



A presidenta Dilma Rousseff tem até o final do mês para sancionar ou vetar, integralmente ou em parte, o substitutivo do senador Vital do Rêgo (PMDBPB) ao Projeto de Lei do Senado nº 448/2011, que redistribui os royalties do petróleo e penaliza os estados produtores em favor dos não produtores. O debate no Congresso gerou muito calor e pouca luz, e criou ilusões que urge desfazer, sob pena de criar no país um conflito federativo que não beneficiará ninguém.

A primeira ilusão é que a briga do Rio de Janeiro pelos royalties é um choro egoísta de um estado rico contra reivindicações justas das demais unidades da Federação. Não é. A receita subtraída do estado apenas em 2013 seria de R$ 4,6 bilhões. Até 2020, a perda seria de R$ 77 bilhões. O governador Sérgio Cabral não exagera ao falar em comprometimento da organização da Copa do Mundo e das Olimpíadas.

É preciso lembrar qual é a razão da existência dos royalties. A Constituição Federal, no parágrafo 1º de seu artigo 20, assegura a estados e municípios produtores o pagamento de royalties como compensação pelos impactos socioeconômicos e ambientais decorrentes da exploração de recursos naturais, provendo-lhes a capacidade de prevenir riscos (pense no vazamento no campo de Frade em 2011 ou, mais grave, no da Petrobras na Baía da Guanabara em 1999) e atender ao aumento da demanda por serviços públicos.

Mas não é só isso. Como lembram juristas ilustres, como o professor Luís Roberto Barroso e o ex-ministro do STF Nelson Jobim, o artigo 20 deve ser lido em conjunto com outras normas da Carta, que disciplinam o imposto sobre circulação de mercadorias. No artigo 155, parágrafo 2º, inciso X, alínea B, fica estabelecido que o ICMS é cobrado, no caso do petróleo e da energia elétrica, no estado de destino — e não no de origem, como é regra geral. No lugar da tributação do ICMS, os estados produtores de petróleo fazem jus aos royalties e às participações especiais. Uma coisa compensa a outra.

Portanto, não é por ganância que o Rio se opõe à divisão proposta dos royalties; é para não ser punido duas vezes e de forma inconstitucional. Trata-se de combater uma violação absurda do pacto federativo, que se torna mais grave por mexer em contratos já firmados e no ato jurídico perfeito, ao alterar a divisão dos royalties também do óleo explorado em regime de concessão.

Uma segunda ilusão é a de que o substitutivo do senador Vital do Rêgo ao projeto original do senador Wellington Dias (PT-PI) seja a tábua de salvação para a penúria em que se encontram as finanças dos estados e municípios não produtores. Sei das dificuldades que estados e municípios estão enfrentando neste momento com a desaceleração da economia e a isenção de IPI — 58% dele vão para os fundos de participação dos estados e dos municípios.

O impacto da redistribuição dos royalties para as finanças será mínimo. Não é com essa suposta justiça redistributiva que os problemas de estados e municípios serão solucionados: é com um debate de altíssimo nível sobre o pacto federativo com a União, que tem concentrado arrecadação de forma crescente. A União precisa compensar estados e municípios — precisa mexer na dívida.

Minha proposta, a proposta do Rio, é que a presidente faça um veto parcial ao texto, suprimindo o artigo 3º, o artigo 4º e aos parágrafos 1º e 2º. Ao fazer isso, estará preservando os contratos que foram feitos sob o regime de concessão, mas deixando as regras estabelecidas pelo Congresso Nacional para o regime de partilha. Os estados não produtores vão ganhar mais e os estados produtores, inclusive o Rio de Janeiro, vão ganhar menos.

Esta solução, quero deixar claro, não atende ao Rio de Janeiro. Nós defendíamos, desde o início, aquilo que foi acordado com o presidente Lula em 2010. Naquele acordo, os estados produtores receberiam 25% dos royalties no regime de partilha. Com a nova regra, receberiam 22% no mar e 20% em terra. O fundo especial para estados e municípios não produtores teria sua fatia aumentada de 44% para 50%. Não é o ideal para o Rio, mas é uma solução de equilíbrio. Ao optar por um veto parcial, a presidente comunicaria à nação que o Brasil é um país que cumpre contratos e beneficia a todos, mas sem disputas fratricidas nas quais alguns Estados ganham às expensas de outros.

Real fraco tem seu preço - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 24/11

COM ALVARO GRIBEL E VALÉRIA MANIERO 

O fim da Webjet e as demissões da empresa têm relação com a alta do dólar. O real mais fraco é aumento de custo na veia para as companhias, porque o preço do querosene de aviação é cotado em dólar, mas a receita das passagens continua em real. Há perda dos dois lados. O câmbio, ao mesmo tempo em que ajuda uns, prejudica outros. Há empresas que perdem e ganham simultaneamente.
Os combustíveis representam 46% dos gastos da Gol porque o querosene de aviação, em reais, disparou. O aumento de custos com o real mais fraco, na verdade, não está restrito às aéreas, se espalha por vários setores. Importar máquinas, por exemplo, está mais caro para todos. Isso dificulta investimentos.
Algumas empresas sentem, ao mesmo tempo, o efeito positivo e negativo do dólar. A Braskem é uma delas. Segundo o vice-presidente de polímeros e químicos renováveis da petroquímica, Luciano Guidolin, a receita com exportações subiu, de R$ 4,9 bilhões para R$ 5,6 bilhões, de janeiro a setembro, ante o mesmo período de 2011. Ou seja, o dólar ajudou nas vendas.
“Para as indústrias que exportam, o começo do ano foi difícil, o real estava valorizado. Depois, ficou melhor”, disse Guidolin.
Mas pelo lado financeiro o impacto foi muito negativo. Segundo relatório do Banco do Brasil Investimentos, 69% da dívida bruta da Braskem é atrelada ao dólar. Isso fez com que a empresa tivesse prejuízo no terceiro trimestre de R$ 124 milhões. Enquanto o lucro operacional foi de R$ 387 milhões, a despesa financeira chegou a R$ 568 milhões.
Ninguém sabe mais se existe ou não banda cambial. Oficialmente, não. Mas as intervenções do BC e as entrevistas das autoridades sugerem o contrário. Somente esta semana, a presidente Dilma, o ministro Guido Mantega e o presidente do BC, Alexandre Tombini, falaram sobre o assunto.
Se não bastassem as incertezas com a economia internacional - que afetam o preço do dólar -, empresários, investidores e consumidores que viajam ao exterior têm que decifrar o que querem dizer as autoridades. Há incerteza sobre incerteza.


CUSTO MAIOR PARA AS AÉREAS
O querosene de aviação tem alta correlação com o dólar, como mostra o gráfico. Quanto maior o preço da moeda americana, maior é o custo para as companhias aéreas porque grande parte do querosene consumido no país é importado. Segundo dados do CBIE, o preço médio do querosene de aviação saiu de R$ 1,26 em janeiro de 2011 para R$ 1,81 em outubro deste ano. Alta de 43%. Já o dólar foi de R$ 1,67 para R$ 2,03, na média mensal calculada pelo Banco Central. Crescimento de 21%.


MERCADO DE TRABALHO
A criação de emprego formal chegou a 953 mil, em 12 meses, até outubro. No mesmo período de 2011, foram 1,6 milhão de vagas com carteira assinada.
Pequeno respiro. As ações PN da Eletrobras subiram ontem 7%. Na semana, a queda é de 33%.
Arrecadação baixa. Em termos reais, descontada a inflação, acumula alta de 0,18% até outubro.
“O câmbio, ao mesmo tempo em que ajuda uns, prejudica outros.”

UMA GOSTOSA

 MELHOR  QUE GOIABADA COM CREME DE LEITE!




O grande e velho planeta - PAUL KRUGMAN

O Estado de S.Paulo - 24/11


Como os EUA pesquisarão recursos naturais se as escolas que ensinam geologia precisarem dedicar igual tempo a afirmações de que o mundo tem só 6 mil anos?



N o início desta semana, a revista QG publicou uma entrevista com o senador Marco Rubio, para muitos um possível candidato à indicação republicana nas eleições presidenciais de 2016. Uma pergunta feita a Rubio foi sobre a antiguidade do mundo. Depois de dizer "não sou um cientista", o senador assumiu um comportamento desesperadamente evasivo, para acabar declarando que "esse é um dos grandes mistérios".

É uma situação engraçada e conservadores gostariam, como nós, de esquecer o ocorrido o mais rápido possível. Ora, dizem eles, o senador estava querendo apenas satisfazer os prováveis eleitores nas primárias republicanas de 2016. Afirmação que por alguma razão seria para nos tranquilizar. Mas não devemos esquecer essa história facilmente. Ler a entrevista de Rubio é como dirigir por um cânion profundo; de repente você consegue ver claramente o que está sob a superfície. Como as camadas de rochas que nos explicam as eras geológicas, a incapacidade de Rubio para reconhecer uma evidência científica também explica a mentalidade antirracional que tomou conta do seu partido político.

A propósito, esse assunto não surgiu de repente. Como presidente da Câmara dos Deputados da Flórida, Marco Rubio prestou uma enorme ajuda aos criacionistas que querem restringir a educação científica. Numa entrevista, ele comparou o ensino da evolução às táticas de doutrinação comunistas, embora tenha acrescentado: "Não estou equiparando os evolucionistas com Fidel Castro". Puxa, obrigado! Qual é a reclamação de Rubio com relação ao ensino de ciências? Que pode destruir a fé das crianças naquilo que seus pais disseram que deviam acreditar. E aí você tem a visão moderna do Partido Republicano, não no caso da biologia, mas com relação a tudo. Se a evidência contradiz a fé, vamos suprimir a evidência.

O exemplo mais óbvio, além da questão da evolução, é o problema da mudança climática provocada pelo homem. À medida que o aquecimento do planeta se torna cada vez mais evidente e assustador, os republicanos se afundam cada vez mais na negativa, com afirmações de que tudo é uma fraude criada por uma vasta conspiração de cientistas. E essa recusa é acompanhada de medidas frenéticas para silenciar e punir qualquer pessoa que reporte fatos inconvenientes.

O mesmo fenômeno é observado em muitas outras áreas. A mais recente demonstração foi no caso das pesquisas eleitorais. Na última eleição, as pesquisas por Estado apontaram uma vitória de Obama, mas quase todo o Partido Republicano recusou-se a reconhecer essa realidade. Analistas e políticos rejeitaram furiosamente os números e atacaram pessoalmente todos aqueles que mostravam o óbvio: a demonização de Nate Silver, do The Times, em particular, foi notável.

O que representa esta rejeição? No início deste ano, Chris Mooney, jornalista que cobre matérias científicas, publicou "The Republican Brain", que não é, como você pensaria, uma ladainha partidária, mas um levantamento da hoje extensa pesquisa ligando ideias políticas a tipos de personalidade. Como ele mostrou, o moderno conservadorismo americano está muito vinculado a uma propensão autoritária - e os autoritários têm uma forte inclinação a rejeitar qualquer evidência que contradiga suas crenças. Os atuais republicanos se escondem numa realidade alternativa definida pela Fox News, por Rush Limbaugh e a página editorial do The Wall Street Journal. Somente em raras ocasiões, como na noite da eleição, encontram algum indício de que aquilo em que acreditam pode não ser verdade.

Isso não é simétrico. Os liberais, como humanos, com frequência cedem a quimeras, mas não da mesma maneira sistemática, abrangente.

Voltando à idade do mundo, é importante? Não, disse Rubio, proclamando que se trata de "uma disputa entre teólogos". E quanto aos geólogos?, eles "não tem nada a ver com o PIB ou o crescimento econômico dos Estados Unidos". Ele não pode estar mais errado.

Afinal, vivemos numa era em que a ciência tem um papel econômico crucial. Como os EUA vão pesquisar eficazmente os recursos naturais se as escolas que ensinam geologia moderna precisarem dedicar igual tempo a afirmações de que o mundo tem somente seis mil anos? Como o país vai continuar competitivo no campo da biotecnologia se as aulas de biologia evitarem qualquer matéria que possa ofender os criacionistas?

E ainda há a questão de usar a evidência para criar uma política econômica. Recente estudo do Serviço de Pesquisa do Congresso concluiu que não existe apoio empírico para o dogma segundo o qual cortar impostos dos riscos acarreta um maior crescimento econômico. Como os republicanos responderam a isso? Suprimindo o relatório. Na teoria econômica, como nas ciências exatas, os modernos conservadores não querem ouvir nada que conteste suas ideias preconcebidas. E não querem que ninguém ouça esse tipo de coisa também.

Portanto não deve-se tratar com indiferença esse momento embaraçoso de Rubio. Sua incapacidade para lidar com a evidência geológica é indicativo de um problema mais amplo - que pode, no final, colocar os EUA no caminho de um inexorável declínio. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Conversa, tradução, humor - SÉRGIO TELLES


O Estado de S.Paulo - 24/11



Chegando tarde a uma grande festa de casamento, vimo-nos obrigados a compartilhar uma mesa com um casal idoso desconhecido. Seguindo as regras de civilidade, logo tentamos "entabular uma conversação", expressão que bem poderia fazer parte do glossário de chavões ou clichês listado por Bouvard e Pécuchet, mas que não me privo de usar sempre que me dá na telha (outra expressão cabível naquela lista), sem me deixar intimidar pelos guardas de trânsito da língua, que querem tirar de circulação termos ou locuções tidas como lugares-comuns ou fora de moda, como se seu uso pudesse provocar engarrafamentos ou congestionamentos inconvenientes em discursos e relatos de variado gênero e teor. Eles não entendem que a vitalidade da linguagem está justamente nessa mistura de velhas palavras ou expressões caindo aos pedaços, saturadas de sentido e as reluzentemente novas, que passam chispando procurando estabelecer seus próprios valores e trajetos.

Dado o ensurdecedor volume da música, a conversa não progredia sem dificuldades, pois o velho senhor falava baixo e talvez não ouvisse bem. No que me dizia respeito, de vez em quando percebia que estava falando aos gritos. De longe, observávamos a beleza da juventude, que dançava com entusiasmo. Previsivelmente, falamos sobre a passagem do tempo e o choque de gerações, trocando as platitudes apropriadas ao tema e às circunstâncias. Era grande o barulho e eu não seguia bem as palavras do velho senhor. Lá pelas tantas, se entendi bem, ele afirmava que a maioria das pessoas se enganava ao pensar que não havia mais nada a aprender na velhice, que nessa quadra da vida não existia mais nada a ser descoberto, ali tudo se repetia e só restava usufruir a experiência decorrente dos anos vividos. Nada mais equivocado, dizia ele. Na velhice descobrimos, por exemplo, um novo corpo, o corpo velho, com novas exigências, novas rotinas, mudanças e adaptações.

O esforço de manter a conversa já começava a pesar e eu não estava disposto a acompanhar o tom grave que nela poderia eventualmente se instalar. O champanhe, a alegria pulsante da música e o tumulto animado da festa agudizavam em mim a consciência de que estar vivo naquele exato momento era um privilégio e que isso exigia uma celebração imediata. De forma inopinada, levantei-me e me despedi efusivamente do velho senhor e sua companheira, que ficaram a me olhar surpresos enquanto os deixava, rebocando minha mulher para a pista de dança e planejando procurar os amigos que deviam estar por ali, dispersos na multidão.

***

Ficando Longe do Fato de Já Estar Meio Que Longe de Tudo, de David Foster Wallace, foi lançado agora pela Companhia das Letras. Enfeixa seis textos encomendados por publicações como a revista Harper's e o New York Times. O talento e a aguda percepção de Wallace subvertem os temas propostos, fazendo com que as reportagens se transformem em alentados ensaios onde expõe de forma patética a comédia humana.

Estava lendo o texto que dá título ao livro, quando tropecei num parágrafo que dizia "os rostos dos cavalos são compridos e por algum motivo lembram caixões". Como assim, "caixões"? Seria um propositado nonsense, uma provocação por parte do autor? Haveria alguma significação que me escapava? Ou estaria ele se referindo a "caixão de defuntos"? Se assim fosse, o sentido logo se evidenciava, pois, de fato, eu nunca me apercebera disso até então (não sei se você, caro leitor, já percebera), vista de frente, a cara do cavalo lembra, sim e muito, um caixão de defunto. Procurei na internet e logo confirmei minhas suspeitas ao ler - "the horse's faces are long and somehow suggestive of coffins". "Coffin" - esquife, ataúde, féretro, caixão de defunto.

A rigor, a tradução não está errada, mas não facilita a compreensão da original imagem criada por Wallace, na qual a morte se insinua num lugar tão inesperado como a cara de um cavalo, animal usado habitualmente como símbolo de força vital. Além do mais, parece não reconhecer nesse fragmento a emergência de um elemento que se tornaria cada vez mais importante na obra do autor, especialmente quando se leva em conta seu suicídio aos 46 anos em 2008.

É claro que esse pequeno lapso não compromete a trabalho e a escolha de escritores como Daniel Galera e Daniel Pellizzari para traduzirem o livro de Wallace é a decisão correta nem sempre seguida por nossas editoras quando da tradução de textos literários de alto nível.

Agora mesmo me chamou a atenção o cuidado tomado pela Bellevue Literary Press (Nova York) e a Pushkin Press (Londres) com a tradução para o inglês do livro El Boxeador Polaco (O Boxeador Polonês) do escritor guatemalteco Eduardo Halfon, que vive entre seu país e os Estados Unidos, autor de vários outros livros e vencedor da prestigiada bolsa Guggenheim. Com cerca de 180 páginas, a versão em inglês de The Polish Boxer foi realizada conjuntamente por uma equipe de cinco tradutores.

Com um narrador que usa o mesmo nome do autor, Halfon deliberadamente confunde memória e ficção, contando poucas histórias - a descoberta do talento poético de um aluno de parcos recursos, o que coloca o narrador em contato com a cultura e a língua dos povos nativos de sua terra, excluídos dos padrões eurocêntricos dominantes; sua lamentável participação enquanto único professor do Terceiro Mundo num colóquio norte-americano sobre Mark Twain; o resgate da história de seu avô sobrevivente de Auschwitz e o relato, num registro menos ficcional, de uma palestra no festival literário Correntes d'Escritas em Portugal, onde, com o carioca João Paulo Cuenca, discorreu sobre o tema "a literatura rasga a realidade".

Em seu texto mais longo, desmembrado em vários contos e no qual seguimos o narrador em sua obcecada procura por um amigo pianista sérvio desaparecido em Bucareste enquanto buscava sua remota e fugidia identidade cigana, talvez se encontre o grande tema do livro: a condição nômade, apátrida, exilada, "estrangeira" não do judeu - como costuma se pensar - e sim do artista, um ser desterrado, vivendo desde sempre um involuntário exílio num mundo regido por outras prioridades que não as suas e cujo desamparo o obriga muitas vezes a mendigar a custosa proteção de poderosos mecenas.

Castigat ridendo mores. É impagável o Diário de Dilma, na sempre ótima Piauí. São sem rivais a ironia e a comicidade do texto de Renato Terra.

O Japão e o crime - ALEXANDRE VIDAL PORTO

FOLHA DE SP - 24/11

A Justiça penal severa é determinante para a baixa criminalidade no Japão, onde não se tolera o crime


Os índices de criminalidade no Japão são dos mais baixos entre os países desenvolvidos. Segundo relatório divulgado pelo Ministério da Justiça local, o total de crimes cometidos no país apresenta queda pelo nono ano consecutivo.

Em termos de qualidade de vida, isso faz diferença. Na noite em que começaram a queimar ônibus em Florianópolis, eu saí para jantar com amigos em Tóquio.

Enquanto, no Brasil, pessoas se trancavam em casa com medo da violência, eu caminhava sozinho, na madrugada, por um dos maiores parques da cidade. Cruzei com atletas noturnos e casais namorando nos bancos. Todos tranquilos.

Percebi que, naquela noite, experimentava um prazer que os brasileiros de minha geração não tinham mais. No Japão, a Justiça penal severa é fator determinante para a baixa criminalidade. Mais de 90% dos processos criminais iniciados acabam em condenação.

Tal severidade é criticada por organizações de direitos humanos. Mas a noção de que o criminoso tem uma dívida com a sociedade e deve pagá-la é arraigada. A população japonesa é intolerante com o crime.

Cerca de 85% são a favor da pena de morte. Neste ano, até o momento, sete pessoas foram executadas pela Justiça do país.

As condições nos presídios são consideradas dignas. Não há problema de superlotação.

Porém o regime disciplinar é draconiano. Existem regras sobre a utilização de banheiros e a arrumação das celas. Todos os horários dos presos são cronometrados. Visitas de familiares e comunicação com o mundo exterior são limitadas e monitoradas. Violações são punidas com rigor.

Há acusações de abusos e de brutalidade policial contra detentos no Japão. As autoridades judiciárias alegam que a rigidez das penas e o controle estrito da ordem contribuem para a segurança da população carcerária e ajudam seu processo de reintegração à sociedade.

Entre os japoneses, parece haver o entendimento claro de que a finalidade das prisões é preparar os detentos para reintegrarem-se à sociedade. Os recursos investidos no sistema prisional são vistos como investimento social.

Os presos trabalham duro por salários reduzidos e são obrigados a cumprir programas de capacitação. O objetivo é devolver à sociedade um cidadão produtivo e autossuficiente.

O Ministério da Justiça japonês pretende celebrar dez anos de redução na taxa nacional de criminalidade. Com esse fim, seu relatório anual incluiu capítulo especial com propostas para a diminuição do número de reincidentes, como, por exemplo, programas de auxílio para a obtenção de emprego estável e moradia fixa, fatores decisivos na definição no índice de reincidência criminal.

Em qualquer país do mundo, a redução da criminalidade exige a implementação eficiente de políticas públicas de qualidade.

Isso é lógico. É esse o preço a pagar para caminhar em segurança na cidade onde se vive. Falhas na elaboração ou na prática dessas políticas tornam o combate à criminalidade bem mais custoso. E quem paga o preço é a população.

Meia-volta - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 24/11

O relator da CPI do Cachoeira, Odair Cunha (PT-MG), vai retirar do texto o pedido de investigação sobre o PGR Roberto Gurgel. A inclusão está sendo criticada no PT. Cunha está sendo chamado de “ingênuo” por ter ignorado alertas de que um ato contra Gurgel seria visto como vingança do mensalão. A despeito de críticas, ele pretende manter o indiciamento de Policarpo Junior, de “Veja”.

Mensalão: cadeia só em 2014
Ministros do STF projetam para a primeira semana de dezembro, ali pelos dias cinco ou seis, o encerramento do julgamento do mensalão. Depois disso, abre-se um prazo para a publicação do acórdão (são 60 dias sem contar o recesso) e dos recursos dos advogados. Isso significa dizer que o capítulo final do mensalão, com os condenados sendo de fato algemados e presos, está longe de ocorrer. A previsão feita por um dos ministros é que os condenados só vão para trás das grades em 2014, coincidentemente, em mais um ano de eleições. O julgamento do mensalão tucano, que tem como réu o deputado Eduardo Azeredo (MG), será no segundo semestre de 2013.

“O STF devia mandar prender os condenados (do mensalão). Os embargos infringentes e declaratórios não mudam a decisão”
Pedro Taques Senador (PDT-MT)

Destinos amarrados
A prioridade do DEM é viabilizar a gestão de ACM Neto na prefeitura de Salvador. Por isso, a cúpula do partido vai pegar leve com o governo Dilma. A situação é a seguinte: se o governo de Neto fracassar na Bahia, o DEM acaba.

O conselheiro
O presidente do STF, Joaquim Barbosa, encontrou no ministro Luiz Fux um conselheiro nos dias que antecederam sua posse. Partiu de Fux a sugestão para que Joaquim se mostrasse mais calmo e tranquilo, deixando de lado o habitual mau humor.
Atitude nova para o cargo novo. A reta final do julgamento do mensalão também baixa a tensão.

Consumidores na rua
O presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, está organizando uma manifestação pela redução da tarifa de energia elétrica. O ato pretende dar um empurrão na aprovação da Medida Provisória das Concessões de Energia.

Gurgel: o que estava combinado
Os petistas relatam que Odair Cunha (PT-MG) tinha combinado com o partido que o relatório da CPI do Cachoeira se limitaria a descrever a ação do PGR Roberto Gurgel na investigação da Polícia Federal sobre o ex-senador Demóstenes Torres. Fora da CPI, deputados petistas subiriam à tribuna para pedir que o Conselho Nacional do Ministério Público investigasse sua conduta.

Novo hobby
Aos convidados ao Palácio da Alvorada, a presidente Dilma conta que está feliz da vida porque se tornou criadora de emas e que passou a distribuir as ninhadas para a Granja do Torto, o Palácio do Jaburu e para a sede do Ibama.

Negro gato
Em show quinta-feira à noite em Brasília, o cantor Luiz Melodia saudou várias vezes a posse do ministro Joaquim Barbosa na presidência do STF. E para enaltecer o fato improvisou entoando: “Eu sou o negro gato/ sou Joaquim Barbosa”.
A REDUÇÃO do Fundo Partidário, devido à criação do PSD, fez vítima ilustre. O historiador Antonio Paim foi demitido da assessoria do DEM.

Sabe a última da Black Friday? - TUTTY VASQUES


O Estado de S.Paulo - 24/11


Pra começar não é verdade! Psicose, o célebre filme de Hitchcock, jamais se chamou O Filho Que Era Mãe nos cinemas de Portugal. Cansados de tentar explicar aos amigos brasileiros que essa história não passa de uma piada (Psicose manteve na terrinha o título original Psycho), os patrícios passaram a retrucar a blague com fino sarcasmo lusitano:

"No Brasil, The Sound of Music virou A Noviça Rebelde decerto porque 'sound' quer dizer noviça e 'music' é rebelde em inglês!"

Pior ainda quando a gente resolve não traduzir: tem coisa mais ridícula que chamar a "Black Friday" de "Black Friday"?

A novíssima classe média brasileira, que a tudo aprende muito rápido, logo entendeu que "black" quer dizer dia e que "friday" é o mesmo que desconto, mas custava chamar a tal super sexta-feira de preços baixos de Dia do Desconto?

Só não vou aqui perguntar que fim levou o projeto de lei do Aldo Rebelo proibindo o uso de expressões estrangeiras no País para não voltarem à baila os boatos de que, se aprovado no Congresso, o Brasil passaria a chamar o futebol (do inglês football) de 'ludopédio'.

Vai que algum português esteja me lendo e...


Medida certa

Luciana Gimenez perdeu 27 quilos em 6 meses. Isso dá mais ou menos uma barriga do Ronaldo Fenômeno por trimestre.

Código Morsi

O estrondoso sucesso das negociações que protagonizou para o cessar-fogo entre Israel e o Hamas subiu à cabeça de Mohamed Mursi. O presidente do Egito voltou pra casa se achando no direito de colocar seus poderes acima da Justiça. Resultado: em menos de 48 horas, passou de herói da paz a cretino de marca maior no noticiário internacional! E pensar que há três dias a gente não sabia quase nada sobre ele.

Outro tanque cheio

A Ambev, fabricante de cervejas, já tem valor de mercado maior que a Petrobras! Isso quer dizer o seguinte: o pessoal está levando a sério a campanha 'se beber, não dirija'!

Sem saída

O deputado Odair Cunha (PT-MG), relator da CPI do Cachoeira, pode fugir do País a qualquer momento. Se ficar, vai continuar apanhando de todo mundo no Congresso!

Então era isso!

Está explicada a peruca de Luiz Fux: o ministro é guitarrista! A cabeleira lhe cai muito bem quando ele toca o instrumento, viu-se na festa para Joaquim Barbosa!

Black power

Tal qual a Black Friday, o Back2Black que está rolando no Rio também não tem nada a ver com a posse de Joaquim Barbosa no STF! E não se fala mais nisso, ok?

Ah, bom!

Quem já viu a expressão de satisfação de Dilma Rousseff em dia de bife a cavalo no cardápio do Palácio da Alvorada garante: aquela sua cara de quem comeu e não gostou na posse de Joaquim Barbosa não quer dizer absolutamente nada.

LULA E O CHEIRO DA LIBERDADE


Mais um super-herói social - GUILHERME FIÚZA

O GLOBO - 24/11


Joaquim Barbosa tomou posse no STF com discurso militante, para delírio dos progressistas que o veneram pela cor da pele



José Dirceu acertou uma: disse que o populismo chegou ao Supremo Tribunal Federal. E chegou mesmo. Não no mérito do julgamento do mensalão, que é o que Dirceu quer desclassificar. Mas nas maneiras e nos discursos afetados dos ministros, em especial o presidente que a Corte acaba de empossar, Joaquim Barbosa — o novo herói brasileiro.

O presépio está ficando completo: a “presidenta”, afilhada do ex-operário, que indicou o negro para a elite do Judiciário. Negro como Barack Obama, o presidente da nação mais rica, que ganhou o Nobel da Paz sem fazer nada — não por seus belos olhos, mas pela cor da sua pele. O mundo politicamente correto é racista.

Depois do Nobel “étnico”, Obama começou a trabalhar e mostrou enfim quem era: um líder fraco, canastrão, tentando se equilibrar entre o conservadorismo americano e seu símbolo de defensor dos fracos. Não agradou verdadeiramente a ninguém. Conseguiu uma reeleição apertada contra um dos piores candidatos republicanos dos últimos tempos. E já saiu anunciando aumento de impostos para os “ricos” — a única coisa que os populistas sabem fazer: garfar quem produz e quem investe para engordar a burocracia estatal.

Claro que Obama não vai produzir bem-estar social nenhum desse jeito, sangrando uma economia asfixiada a pretexto de distribuir renda. Os esquerdistas que emergiram na Europa panfletando contra o rigor fiscal alemão já começaram a dar com os burros n’água. As sociedades cresceram demais, e o que pode salvá-las é mais dinamismo, e não mais impostos e gastos estatais. Mas o mito do governante bonzinho que vai salvar a todos parece indestrutível.

O Brasil vive esse sonho de ter um governo mais humano por ser presidido por uma mulher. As pessoas acreditam em qualquer coisa. Basta ver os argentinos dando corda para os delírios autoritários de Cristina Kirchner (o presépio progressista tinha que ter uma viúva profissional). Cristina e Dilma são irmãs gêmeas em certas decisões maternais, como a redução na marra das tarifas de energia. O desastre decorrente dessa bondade já se consumou na Argentina, e começa a se consumar no Brasil, com as ações das empresas do setor desabando vertiginosamente. É comovente como o populismo arruína as estruturas de um país sem perder a ternura.

Enquanto a propaganda do oprimido funcionar, o governo sabe que não precisa governar. A última pérola é a campanha publicitária da Infraero. Como se sabe, o governo Dilma não planeja nada (não dá tempo), e aí vem a Copa do Mundo jogar um holofote nos remendos da infraestrutura. O que faz então o governo? Propaganda. Após anos de escárnio no Aeroporto Internacional do Galeão, onde já se viu até passageiro arrastando bagagem pela escada por falta de elevador, o contribuinte tem que ouvir agora a mensagem de que a Infraero está trabalhando pelo seu conforto etc. Podem zombar, os brasileiros não ligam.

Nem se importam que o ministro da Justiça faça comício contra as prisões brasileiras, quando seus companheiros mensaleiros se encaminham para elas. José Eduardo Cardozo disse que preferia morrer a ir preso no Brasil. Aparentemente, também prefere a morte a ter que descer do palanque e administrar as prisões. Com a crise de violência em São Paulo, um preposto do ministro apareceu para declarar que ofereceu uma maleta detetora de celulares ao governador paulista. O mais importante era avisar à imprensa que o governo tucano não respondera à generosa oferta. Em meio à onda de mortes, a estratégia do governo popular era fazer pegadinha partidária.

Cardozo disse que as prisões brasileiras são medievais. Em seguida, por coincidência, Dias Toffoli, o ministro do PT no Supremo, declarou que as penas de prisão para os mensaleiros são medievais. Os brasileiros não se incomodam de ter um juiz partidário fingindo que julga seus companheiros, e aí ficam achando que o que julga de verdade é herói.

Onde está o heroísmo de Joaquim Barbosa? Ele foi o relator de um processo julgado sete anos depois do fato — e nesse intervalo o partido dos réus fez a festa em três eleições. A estratégia petista de fazer o mensalão sumir no retrovisor só não deu certo porque a imprensa gritou contra o escândalo do escândalo — e praticamente empurrou o STF para o julgamento.

Joaquim fez bem o seu trabalho. Mas também fez bravatas, mostrou pouca serenidade em bate-bocas com colegas (tivera um embate público quase infantil com Gilmar Mendes), se empolgou às vezes com sua própria mão pesada, mostrou-se intolerante e preconceituoso ao dizer a jornalistas que eles estavam fazendo “pergunta de branco”. Tomou posse no STF com discurso militante, para delírio dos progressistas que o veneram por sua origem pobre e pela cor da sua pele.

O Brasil mimou o ex-operário e não aprendeu nada com isso. Continua em busca do seu super-herói social. Os parasitas da nação agradecem. Eles se saem muito bem no reino da fantasia.

Ciclomodismo - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 24/11


A exemplo do que ocorre em outros países, as bicicletas andam em moda também nas cidades brasileiras. Em São Paulo, a mais populosa, complexa e congestionada, sua disseminação acarreta problemas nada triviais.

A Pesquisa Origem e Destino, feita de dez em dez anos pelo Metrô de São Paulo, mostrou em 2007 que aconteciam 38 milhões de deslocamentos por dia na região metropolitana -21% mais que em 1997.

Deste total, 34% eram viagens não motorizadas, a maioria delas a pé. Os percursos em bicicletas eram 304 mil, número que hoje se estima em cerca de 350 mil.

Embora represente pouco no quadro geral (percursos em automóveis eram 10,4 milhões por dia em 2007), a presença de ciclistas quase dobrou entre 1997 e 2007.

O levantamento indicou que a maioria das viagens de bicicleta ocorre em bairros periféricos e não é feita por lazer. São claros, todavia, os sinais de que nos últimos anos o uso para fins recreativos ou utilitários aumenta também em bairros de renda alta.

Setores da juventude de classe média pressionam para que ciclistas ganhem na prática o reconhecimento que têm no Código de Trânsito Brasileiro e possam compartilhar as vias, de maneira pacífica, com outros meios de transporte.

As autoridades municipais parecem atuar de maneira cosmética ou atabalhoada, como se estivessem antes preocupadas em contemplar um modismo politicamente correto do que em integrar esses veículos no trânsito paulistano de modo menos arriscado.

A prefeitura criou 57,5 km de ciclovias, a maioria longe de vias importantes, e 36 km de Ciclofaixas de Lazer (aos domingos e feriados). Nada que se compare a uma infraestrutura cicloviária planejada e funcional para a cidade.

Mais do que iniciativas pontuais, é preciso organizar um sistema de ciclovias permanentes, rotas e bicicletários que facilite o acesso do ciclista ao transporte público, em especial trens e metrô, e o induza, nos bairros, a trafegar por vias mais adequadas e seguras.

A ausência dessa infraestrutura só favorece a indisciplina e a impunidade -até dos próprios ciclistas, diga-se-, além de estimular conflitos com os demais veículos.

É necessário, ainda, que a ampliação das ciclofaixas observe critérios. São bem-vindas, mas sua multiplicação gera transtornos e dificulta o acesso de outros cidadãos a vários destinos na cidade.

Mesmo nos domingos e feriados, os paulistanos ainda precisam usar o carro, dada a precariedade dos transportes públicos.

Resistente - SONIA RACY


O ESTADÃO - 24/11

Tudo caminha para Luciana Temer ser secretária de Assistência Social de Haddad. Embora o pai, Michel, tenha resistido inicialmente à indicação, o PMDB paulista chegou a consenso e levará, hoje, o no-me de Luciana ao prefeito eleito. Pesa a favor o perfil técnico: a moça é doutora em Direito e professora da PUC. Além de já ter sido secretária da Juventude do Estado de SP.

Em tempo: o PMDB deve indicar Marianne Pinotti para a pasta da Pessoa com Deficiência e também ficar coma Segurança Urbana.

Telescópio
O Cade e órgãos de defesa do consumidor acompanham de perto todos os desdobramentos do fim da WebJet anunciado ontem pela Gol.

A fusão só foi possível porque as empresas se comprometeram a não cancelar mais de 15 voos a cada 100 pousos ou decolagens no Santos Dumont.

Noves fora
Circula explicação para a saída de José Luiz Alquéres, ex-presidente da Eletrobrás, do conselho de administração da estatal. Estaria difícil defender, em termos econômicos, a renovação da concessão nas bases determinadas por Dilma.

Como mostra o derretimento do preço das ações na BM&F/ Bovespa, essa opção não parece boa para a saúde da estatal.

Para a história
Em meio ao processo de Eliza Samudio, há quem lembre o primeiro caso brasileiro de acusação de homicídio sem corpo, que completa 75 anos: o dos irmãos Naves. Para marcar a data, acontece hoje, em Araguari (MG), o Projeto Família Naves –para discutir erros judiciais e lançar livro sobre a dupla.

Os irmãos foram presos e torturados até confessar o assassinato de um primo. Anos depois, a suposta vítima reapareceu, e o caso virou filme.

Quatro rodas
A Audi terá fábrica no Brasil? Pode ser. A montadora está decidindo se constrói unidade nova ou usa as instalações da VW no País para tanto.

Ponta da língua
Os senadores Ana Amélia e Cyro Miranda conseguiram horário, terça, na agenda de Gleisi Hoffmann. Vão tratar da implantação do novo acordo ortográfico – que entra em vigor no ano que vem.
Falarão das ações da Comissão de Educação e do projeto que estende até 2019 o período de adaptação às regras.

Aposentação - WALTER CENEVIVA

FOLHA DE SP - 24/11


O fato de todos serem iguais perante a lei não impede que a própria lei crie diversos caminhos ao definir o direito


HÁ PESSOAS que anseiam, para que chegue o dia em que poderão aposentar-se, ou seja, afastar-se de seu trabalho remunerado (na atividade privada ou pública), tendo direito de receber proventos próprios de sua condição de aposentado.

Este, durante o tempo de serviço, sofreu descontos destinados ao caixa de instituições oficiais garantidoras, em tese, dessa retribuição.

O limite para a aposentadoria, no serviço público (servidores de entidades governamentais) ou na iniciativa privada (trabalhadores com relação de emprego), chega aos setenta anos de idade.

Nem sempre é assim, conforme sabem todos os que trabalham. A Constituição estabelece a forçada aposentadoria, aos setenta anos para o servidor público (art. 40). Este, queira ou não queira, sofre a aposentação expulsória. Essa forma áspera de dizer as coisas serve para mostrar que o fato de todos serem iguais perante a lei (art. 5º), não impede que a própria lei crie diversos caminhos, ao definir o direito.

Há muitas alternativas na busca das soluções. As mulheres, por exemplo, querem, com muita justiça, oportunidades iguais às dos homens, mas podem aposentar-se mais jovens que a idade imposta ao sexo masculino.

A solução legal é justa. Respeita, fora do vínculo profissional, a diferença das atribuições delas, no trato do lar e da família. A pluralidade das situações é, a rigor, ilimitada, conforme se vê do tratamento diferenciado para melhor, para os parlamentares, homens e mulheres. Sua aposentadoria é proporcional ao tempo de exercício do mandato, dure este o tempo que durar.

Outro exemplo, colhido no direito brasileiro, é dos tabeliães e registradores públicos. Não precisam aposentar-se aos 70 anos. São agentes públicos, mas não servidores públicos. A exceção vem da interpretação que o Poder Judiciário deu ao art. 40 da Carta Magna, combinado com seus arts. 37 e 236 e com a mudança vinda com a EC n° 41, tendo, assim, estrita legalidade.

Exemplo atualíssimo é o do ministro Ayres Britto, do STF (Supremo Tribunal Federal). Foi alcançado pela aposentadoria compulsória aos 70 anos, quando sua cultura e capacidade profissional mostram que teria condição de continuar na tarefa, por muito tempo. Nesta coluna referi o caso do ministro Celso de Mello, para afirmar que seria lamentável se confirmasse a vontade de pedir aposentação antes dos 70 anos. Trata-se de magistrado exemplar, que tem dado contribuição muito qualificada nos julgamentos do STF, do qual é o decano.

Tomo o exemplo da Corte Suprema dos Estados Unidos, para o cargo vitalício. Sabe-se, porém, que a permanência estendida gera situações negativas, quando o magistrado não tem condições de trabalho, compatíveis com suas tarefas em face das mudanças que a vida impõe.

Mesmo em se sabendo que, com os progressos da ciência, é comum, ver homens e mulheres com mais de 70 anos, em plena forma, o adiamento da aposentadoria, nos tribunais, tem um lado a considerar: impede a abertura de novas vagas, nas promoções. Daí a conveniência do meio termo, que considere a velocidade das transformações da vida moderna.

A preocupação que fica no ar está na dosagem da mudança e no tempo dela, pois não há dúvida quanto à necessidade do ajuste, a ser enfrentado. Logo.

OS PRESOS "POLÍTICOS" DO PT


Uma luz no fim do túnel - LUIZ FERNANDO JANOT


O GLOBO - 24/11


A atual política nacional de oferta de moradia de interesse social passa por um estreito relacionamento com os programas de aceleração do crescimento e geração de empregos na construção civil. Em meio a essa realidade, percebe-se que a qualidade dos projetos e das construções foi relegada a um plano secundário. Por outro lado, é evidente que a aplicação de critérios restritivos impostos pela Caixa Econômica Federal — repassadora dos recursos para a construção — na avaliação dos projetos habitacionais acabou se constituindo em um elemento indutor de soluções arquitetônicas medíocres e de baixa qualidade.

Diante das críticas generalizadas, alguns setores do governo e da sociedade passaram a se preocupar com a precária qualidade da habitação popular e da sua inserção nas cidades. O desapontamento atual não se restringe às reduzidas dimensões dos imóveis. As críticas se estendem, também, para o acabamento das edificações. Por não resistirem à ação do tempo, os revestimentos externos acentuam as marcas de um envelhecimento precoce e obrigam os moradores a arcarem, periodicamente, com o ônus da sua manutenção.

Diante da falta de recursos para honrar esse compromisso, o resultado não poderia ser outro, senão o comprometimento da integridade física do edifício, das suas condições de habitabilidade e, consequentemente, a perda da autoestima dos moradores.

Do ponto de vista urbanístico incorre-se em erro semelhante. Nada justifica as ocupações de áreas inóspitas e afastadas do núcleo urbano das cidades. Um programa governamental com a envergadura do Minha Casa Minha Vida deveria servir como exemplo para nortear a aplicação dos vultosos recursos financeiros em benefício da população e das cidades. Nesse sentido, não se pode aceitar a visão imediatista dos governos e das grandes empreiteiras da construção civil que determinam, de comum acordo, os parâmetros das construções populares.

Todavia, no meio dessa complexa estrutura, ao que parece, desponta uma luz no fim do túnel. Algumas universidades brasileiras se dedicam a avaliar, comparativamente, a qualidade da produção habitacional no Brasil e no exterior. As pesquisas elaboradas recentemente por uma equipe de arquitetos cariocas, vinculados ao Ippur/UFRJ, já apresentam resultados concretos. Esse trabalho, financiado pela Finep, vem tramitando nacionalmente em rede, de forma a permitir um maior intercâmbio e troca de ideias entre pesquisadores das universidades de outros estados. O objetivo principal desse grupo de arquitetos consiste em planejar e utilizar nas habitações de interesse social o maior número possível de componentes construtivos industrializados que se encontram à disposição no mercado.

Não se trata de empregar as técnicas obsoletas de pré-fabricação em grande escala. A proposta é criar uma espécie de “montadora da habitação”, a exemplo do que ocorre nos processos de montagem de produtos industrializados. Cada edificação seria planejada levando em consideração a existência desses elementos construtivos — vigas, pilares, painéis divisórios, forros, elementos de fachada, esquadrias, banheiros completos — e a sua adequação ao projeto do empreendimento e ao contexto físico local. O projeto pretende racionalizar o sistema construtivo, oferecer uma melhor qualidade de acabamento e propor uma solução estética que valorize as edificações e o ambiente urbano no seu entorno.

Espera-se que iniciativas dessa natureza recebam a acolhida da Secretaria Nacional de Habitação do Ministério das Cidades em benefício da requalificação dos empreendimentos habitacionais e da sua integração ao processo de construção de cidades inclusivas e sustentáveis.

Black Friday! Tudo de segunda! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 24/11


'Black Friday' no Congresso: deputados vendem apoio por 50% das verbas. Fale com o líder da bancada!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Piada Pronta: "Antes da posse, Joaquim Barbosa leva tombo e é socorrido por Lewandowski".

O que é pior? O tombo ou o socorro? Rarará!

E eu sei por que o Barbosa levou um tombo! Praga do Zé Dirceu! E a cara de tédio da Dilma? "MAAAANTEGA! ME TIRA DESSA CHATICE!" Outro disse que ela tava com cara de impávido colosso!

Enfim, o Barbosa teve uma posse agitada: levou um tombo e foi socorrido pelo Lewantovski e enroscou a toga na cadeira da Dilma. Rarará! E a fofa do século: a mãe do Barbosa. Dá vontade de apertar aquelas bochechas!

E adorei essa faixa numa igreja evangélica: "Grande Testemunho: Pastor Reinaldo. 7 tiros de fuzil e pistola. 3 dias morto". Não perco de jeito nenhum!

E essa "Black Friday"? Uma amiga disse que "o bom do 'Black Friday' é que não deu para comprar por impulso. Até o site da loja funcionar, passou a vontade".

Black Friday na Argentina: "Vendo todo! Me voy a la mierda!". Rarará! Black Friday no Flamengo: "Flamengo vende até a alma! Produto com defeito! Leve já! Frete grátis!". O Adriano faz a entrega! Rarará!

E diz que no Palmeiras não teve "Black Friday" porque eles perderam todos os pontos de revenda. "Black Friday" no Congresso: deputados vendem apoio por 50% das verbas. Só hoje. Fale com o líder da bancada!

E existe coisa mais caipira e colonizada que "Black Friday" no Brasil se chamar "Black Friday"?! Por isso um cara escreveu no Twitter: "Black Friday o c*, meu nome é Zé Pequeno!". Rarará!

E na 25 de Março: "Bleque Fliday! Made in China!". "Black Friday"! Tudo de segunda! Rarará!

É mole? É mole, mas sobe!

E o goleiro Bruno na cadeia? "Carcereiro, qual é a quentinha hoje?". "MACARRÃO!". "De novo? Num guento mais comer macarrão!". E essa: "Júri decide o destino do Macarrão". A panela! Rarará! E o chargista Duke revela a ultima exigência do goleiro Bruno: "Quero o mesmo advogado que o Cachoeira!".

E Interlagos? Os pilotos gringos procuram duas coisas em São Paulo: churrascaria e casa de entretenimento. Churrasco e quenga! Ou seja, vêm pra comer! Correr e comer!

Aliás, eles deviam vir com colete à prova de bala! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza! Hoje só amanhã!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

O rei, a presidente e os investimentos - LEONARDO CAVALCANTI


CORREIO BRAZILIENSE - 24/11

O rei pode até não parecer mais o mesmo, aliás, a Espanha não é a mesma. E, de mais a mais, as expressões de dor por causa da cirurgia do quadril real nos remetem o tempo todo ao fiasco de uma caçada a elefantes ocorrida há seis meses. Mas, vá lá, não é todo o dia que um rei nos clama um favor.

E assim nos faz humildemente. Juan Carlos Alfonso Víctor María de Borbón y Borbón-Dos Sicilias — o homem responsável pela transição franquista e a democracia da Espanha — nos pediu uma gentileza: o Brasil bem que poderia facilitar os vistos de trabalho para profissionais espanhóis.

A simbologia do gesto e do tom de sua majestade poderia ser suficiente para nós, plebeus, passarmos uma semana em festa. Chegamos lá, pois. Os favores agora são dados por nós. Não precisamos mais mendigar para entrar naquele país ou ser barrados, e assim chorar por 11 horas ao longo do voo de volta.

O pedido de Juan Carlos foi feito a Dilma na última segunda-feira, em Madri. Antes de um almoço no Palácio Real, o homem solicitou a colaboração das autoridades brasileiras. Diplomatas e ministros dos dois países já tentam encontrar formas para fazer a liberação dentro das regras atuais de imigração.

Há uma série de normas a serem avaliadas antes da liberação do trabalho de estrangeiros no país, como os médicos, por exemplo, que teriam de fazer provas de revalidação do diploma no Brasil. Mas isso é outra história. O que interessa aqui é o pedido do rei e o nosso poder. Ou a falta dele.

Até bem pouco tempo, as autoridades de imigração espanholas barravam mais de 1.500 brasileiros por ano. Foi o que ocorreu em 2010, por exemplo, quando o 1.695 dos nossos foram mandados de volta ao país ao desembarcarem nos aeroportos de Madri e Barcelona. As notícias causaram revolta à época.

No ano seguinte, em 2011, tal número caiu um pouco, chegando a 1.419. Com a crise europeia e o aumento do poder de consumo do Brasil, a situação mudou. De uma hora para outra, as autoridades espanholas ficaram mais simpáticas — e agora mais humildes, como demostra o próprio rei.

Nos três primeiros meses deste ano, apenas 90 brasileiros foram rejeitados. Os números caíram ainda mais em maio, junho e julho, quando apenas 70 pessoas voltaram para casa. “Ao que parece, apenas quem realmente não tem condições de entrar foi barrado”, disse um embaixador brasileiro.

Os números acima servem para os espanhóis mostrarem que estão dispostos a acolher os brasileiros. Se dizem abertos para a América Latina, “povos amigos desde criancinha” etc. Aqui, entretanto, um detalhe: até que ponto estamos fortes o suficiente para servimos de boia para a Espanha?

Desconfio que nada seja tão fácil. Primeiro, porque não dá para considerar um pedido de alguém como um prêmio. Depois, não dá para comemorar uma dificuldade alheia quando parecemos crescer. Por último, porque não estamos com essa banca toda. Temos cá nossos problemas.

Mais latinos
Mesmo depois da entrevista a políticos e a autoridades espanholas e brasileiras, ainda não está claro se estamos próximos do Primeiro Mundo ou se a Espanha ficou mais perto da América Latina. A melhor resposta, como disse-me um diplomata daqui, talvez fosse um pouco das duas coisas.

Por mais que tenhamos um mercado consumidor gigantesco para os padrões de países europeus, por mais que o governo federal esteja disposto a liberar o caixa dos investimentos públicos, por mais, por mais… Temos as nossas fragilidades e estamos longe de diminuir a desigualdade no país.

Temos uma presidente disposta a não seguir a cartilha das bancas econômicas. Dilma Rousseff critica duramente a austeridade das regras impostas à população pelas autoridades europeias: corte de salários e pensões, aumento de impostos e reformas para facilitar demissões. No discurso, por ora, estamos bem.

Mas, da mesma forma que devemos ser céticos em relação ao rei, devemos ser céticos sobre nossa força, pois.