sábado, setembro 29, 2012

Sobrou para o Villa - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 29/09

A gravadora Capitol Records, na aba do sucesso da trilogia "Tons de cinza” de E. L. James, lançou um disco com as peças que teriam inspirado a autora a escrever os livros safadinhos. O CD ocupa o primeiro lugar entre os clássicos da Billboard americana.
Entre os compositores, o religioso Bach com "Jesus, alegria dos homens” e o nosso Villa-Lobos com uma das "Bachianas Brasileiras”

Mas...
Como diria o nosso querido crítico de música Luiz Paulo Horta, o velho Villa, com todo o respeito, não teria nada contra isso.

Aliás...
A tiragem inicial do último livro da trilogia, "Cinquenta tons de liberdade’^ a ser lançado no dia 8 de novembro pela Intrínseca, vai ser de 600 mil exemplares.

A revanche

Marta Suplicy veio ao Rio quinta e se reuniu no Fasano com um grupo de músicos que andou fazendo oposição a Ana de Hollanda.
O encontro foi costurado pela deputada Jandira Feghali.

Dilma no frio
Em pleno inverno europeu, Dilma vai à Rússia em dezembro.

Meio ambiente

A embaixadora Mariangela Rebuá será a próxima subsecretária-geral de Meio Ambiente, Energia, Ciência e Tecnologia do Itamaraty.
Substitui o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, que vai para a ONU.

Viva Tom
Tom Jobim será o homenageado do Prêmio da Música Brasileira, que tem a Vale como parceira.

DUAS VERSÕES DA MESMA OBRAUma polêmica promete esquentar o circuito brasileiro de artes. Veja as fotos ao lado da mesma obra de Bispo do Rosário, um dos maiores artistas contemporâneos do país. A primeira foi tirada em 2006, na reserva técnica do Museu Bispo do Rosário. A segunda foto, com muitas intervenções, como a inclusão do rosto de uma criança na moldura, está exposta na Bienal de São Paulo. Frederico Morais, crítico de arte e responsável pela primeira catalogação e exposição internacional do sergipano, afirma que quem cuida atualmente da obra do Bispo (no caso, o curador Wilson Lázaro) está misturando a matéria bruta que era usada pelo artista com o que é a obra de arte dele: “O Bispo dava uma organização ao material que recolhia.

Hoje, não há mais critério. Tudo pode ser obra do Bispo.” A psicanalista e estudiosa da obra do Bispo do Rosário, Flávia Corpas,dizque “nãoé possível haver duas versões distintas da mesma obra”: “O artista não deixou qualquer tipo de instrução quanto à montagem de seus objetos que autorize uma modificação dos mesmos. Cada obra de Bispo deve ser exibida respeitando a montagem que tinha quando o artista faleceu, em 1989. As fotos revelam que a obra está sofrendo manipulações. A exposta na bienal é organizada, conferindo um outro sentido” •

O fim do mundo
Começam segunda agora as gravações da próxima temporada de "Casseta e Planeta Vai Fundo’,’ que reestreia dia 2 de novembro.
O tema do último episódio, que vai ao ar dia 21 de dezembro, será... o fim do mundo.

Jorge ‘fake’
É falso o perfil no Twitter em nome do ator e diretor Jorge Fernando, que já conta com mais de 78 mil seguidores.
A farsa foi descoberta pela irmã e empresária do diretor, Maria Rabelo, que faz campanha pelas redes sociais desmascarando o impostor.

Segue...
Ontem, o perfil falso apareceu dizendo que era um "fã-clube de Jorge’, apesar de falar como o próprio.
Aproveita-se do fato de Jorge Fernando não dar a mínima para as mídias sociais.

Cegonha
A atriz Amandha Lee está grávida de seu segundo filho.
Ela é casada com Nalbert, o ex-capitão da nossa seleção de vôlei.

Não são quadrilhas - MARCELO COELHO

FOLHA DE SP - 29/09


Decidido no STF o principal das condenações, no que se refere aos políticos do PP, do PTB, do PL e do PMDB, alguns casos isolados --e questões teóricas-- ficaram ainda para decidir nesse item da acusação.

Tudo começou quando Joaquim Barbosa tomou a palavra no começo da tarde de quinta-feira, contrapondo-se a algumas absolvições concedidas por Ricardo Lewandowski no dia anterior.

Teve sucesso. A ideia de que Pedro Henry, deputado do PP, e Emerson Palmieri, secretário do PTB, tiveram pouca participação pessoal no escândalo tinha sido defendida por Lewandowski, mas Barbosa tratou de relembrar alguns pontos.

Junto com outros membros do PP, Pedro Henry solicitou ajuda financeira a Delúbio Soares, conforme depoimentos de outras testemunhas.

Já Emerson Palmieri participou, como representante do PTB, da viagem de Marcos Valério e seu sócio Rogério Tolentino (apresentados como "representantes do PT") a Portugal. Lá procuraram apoio de empresários para financiamento político. Difícil acreditar que fossem apenas turísticos os seus interesses nessa companhia.

Tanto Pedro Henry como Emerson Palmieri estão a um voto da condenação, dependendo do que for decidido na segunda-feira.

*

De todos os ministros do STF, o que menos dá impressão de firmeza é Luiz Fux.

Não são apenas as trocas de nomes, que ocorrem com todos os ministros, conforme as horas avançam.

Fux vai além. Parece acreditar que Emerson Palmieri era deputado; cita documentos que desiste logo em seguida de encontrar, no meio dos papéis. Resolveu, "para não partidarizar o julgamento", omitir o nome de siglas como PP, PTB ou PT. O resultado é atordoante.

Do ponto de vista teórico, as coisas também são confusas com Fux. Condenou o peemedebista José Borba, que recebeu recursos diretamente de Simone Vasconcelos, a corruptora, por lavagem de dinheiro.

Segundo sua teoria, quando o corrupto está reintegrando dinheiro ilícito no sistema financeiro legal, faz lavagem. Nesse raciocínio, todo ladrão de banco, quando gasta o que roubou, deveria ser condenado por lavagem também.

Em alguns casos (Palmieri, Jef-ferson, Pedro Henry), são cinco as condenações por lavagem, e o desempate (ou não) será na segunda-feira.

*

Há outro ponto doutrinário em discussão, desta vez favorável à defesa. Rosa Weber e Cármen Lúcia, contrariando até mesmo Lewandowski, absolveram vários réus do crime de formação de quadrilha.

Uma coisa, disseram, é um grupo se reunir para daí por diante se dedicar a atos criminosos. Mesmo que não cometam crime nenhum, podem ser condenados por formação de quadrilha.

Outra coisa é pessoas se associarem apenas em função do crime que, eventualmente, quiseram cometer. São coautores, mas não se estabeleceram no mundo como grupo autônomo, destinado a cometer quaisquer delitos que lhes pareçam interessantes.

Até segunda ordem, este não seria o caso de siglas como PP, PTB ou PL.

O BUNKER DO RÉU JOSÉ DIRCEU - JORGE BASTOS MORENO - Nhenhenhém

O GLOBO - 29/09


Daqui para frente, entra em cena a verdadeira razão de ser do mensalão: José Dirceu de Oliveira e Silva. Fui conhecer a sua casa de campo, em Vinhedo (SP). É, como diria o colunista Ancelmo Gois, um condomínio de bacanas, de moradores ilustres, entre eles o presidente do PT, Rui Falcão, que, graças a Deus, não estava por lá: Rui detesta jornalista e a possante churrasqueira da casa, presente do empresário Bassi, o das carnes bem cortadas, poderia sugerir e des pertar os instintos mais selvagens do dirigente petista. Ao contrário do que descrevem coleguinhas maldosos, não é tão de mau gosto assim. Tudo bem que chame a atenção, logo na entrada, um enorme símbolo do Corinthians, dando a impressão que estamos entrando na sede campestre do belo Country Club, o de Nova Iguaçu. Lote normal para o tipo de moradia. Jardins exuberantes e sustentáveis — a horta abastece a dispensa da Joana, a cozinheira que acompanha o Zé há quase 20 anos, coitada!

Cardápio
Na outra parte da residência, um modesto galinheiro. Chama a atenção, também, a predominância das galinhas-d’angola, a ave de origem africana que tem o maior número de codinomes, que variam de acordo com as regiões: capote, faraona, cocar e guiná, entre outros. Os frangos e galos são mais conhecidos pelos sons onomatopeicos que produzem: “estou-fraco!”, “estou-fraco!”, “estou-fraco!”. Esse é o coral que deve dar bom dia ao Zé Dirceu, todas as manhãs. E que faz a alegria dos visitantes ávidos para saborear uma carne de ave diferente: todo capote que grita essa palavra de ordem cai, inevitavelmente na panela da dona Joana e vai para a mesa de jantar.

Amigo
Como Zé deixou com a Dilma o labrador “Nego”, agora, embaixo da sua rede, na varanda, mora o vira-lata “Neguinho”.

Obra-prima dos Zés 
O périplo pela casa continua, até chegarmos à sala de jantar Na parede central, um quadro assinado em seis grandes letras: S-A-R-N-E-Y.
Para um leigo como eu, e amigo do artista, de todas as suas criações culturais e políticas, esse quadro é a obra- prima de Sarney, até pela liberdade de interpretação visual que ela permite ao espectador: de perto, você não tem dúvida de que se trata de um belo peixe do Amazonas, um tambaqui, talvez; de longe, a imagem é emocionante: parece um exuberante tuiú do meu amado pantanal, em posição de voo.
Depois dessa tempestade visual, viria certamente a bonança. E o colírio veio com o nome de Joana, a bela filha de José Dirceu com a portuguesa Ângela Saragossa. Não há como ignorá-la. A altura, beleza e postura de modelo ofuscam qualquer interesse jornalístico pela figura do pai.

Apagão
Está aceso o alerta vermelho no Palácio do Planalto! A MP da energia mais barata, um dos programas sociais de maior alcance da Dilma corre o risco de se inviabilizar. Trabalha contra o benefício no Congresso o poderoso deputado Eduardo Cunha. A serviço das empresas de energia.

Câmera na mão e...
Por falar na figura, foi o deputado Eduardo Cunha que dirigiu as filmagens no palácio do Jaburu para o programa de tv do candidato Chalita.

Leleco
Lula está se empenhando pela eleição de Haddad mais do que fez para a de Dilma. O ex-presidente está conclamando políticos, intelectuais e artistas da sua convivência. Só não chamou o Tufão, por causa do mau momento pelo qual está passando.

Na pressão
Quem conhece a Dilma sabe que ela está subindo contrariada no palanque de Haddad. Não porque não torça pela vitória do candidato. Muito pelo contrário. Ela seria até mais favorecida do que o Lula, se o PT vencer as eleições na principal capital brasileira. É simplesmente porque a Dilma sofre de uma doença rara na política brasileira recente, que a faz inclusive diferente dos partidos. Constrangimento.

O beijo no asfalto
Realmente, Serra é um ser único na política brasileira. O eleitor só o esta rejeitando por medo de ele ficar pouco tempo no cargo de prefeito. E, como candidato mais rejeitado do país, é o único beijado na boca por eleitora.

Faltou alguém mais sensato - LEONARDO CAVALCANTI


CORREIO BRAZILIENSE - 29/09


Se algum cidadão mais sensato tivesse acesso à reunião da Mesa do Senado ocorrida na tarde da última terça-feira teria avisado aos políticos para desistirem daquela ideia estúpida. Qualquer um iria tentar convencer os representantes do povo brasileiro que a estratégia de jogar na nossa conta uma dívida deles era um absurdo sem tamanho. Mas como tais reuniões são feitas na surdina, a sandice prosperou. E agora o imposto referente aos 14º e 15º salários — cerca de R$ 10,8 milhões — é da União.

Sobrou para você — e para mim — a sonegação dos nobres parlamentares. Pagamos em dobro uma regalia sem precedentes. Primeiro, entregamos aos camaradas mais dois salários que eles não deveriam receber em hipótese alguma. Depois, fomos obrigados a entregar mais dinheiro para cobrir a dívida deles com o Leão. Na prática, é isso que vai ocorrer se os políticos conseguirem encontrar uma forma de empurrar goela abaixo a conta para o Senado. Afinal, quem paga os custos daquela Casa é você.

No início do último mês de março, este Correio revelou que, ao longo dos últimos cinco anos, os senadores aplicaram um calote na Receita ao deixarem de pagar o imposto devido pelos recebimentos extras. A partir dali, ganhou força na Casa a aprovação do projeto para acabar com os rendimentos extras. Uma proposta idêntica havia sido confirmada na Câmara Legislativa um mês antes, depois de uma campanha do jornal. Assim, esperava-se que o absurdo chegasse ao fim também no Congresso.

Qual o quê! O texto que previa a extinção dos benefícios extras, de autoria da atual ministra Gleisi Hoffmann (PT-PR) até passou pelo Senado com relativa facilidade, em maio último. Desde então está pendurado na Comissão de Finanças e Tributação. A desculpa para o freio na tramitação do texto é a falta de quórum por causa das eleições. É de lascar, não é não? Além de embolsarem nosso dinheiro, congressistas simplesmente não aparecem no trabalho. Preferem cabular votos. Ou descansar.

Os salários extras foram instituídos para pagar a mudança dos deputados recém-eleitos para Brasília. Pela ideia da regalia, os congressistas deveriam receber uma cota no início do mandato e outra — caso o camarada não fosse reeleito — no fim da legislatura. Assim, teríamos no máximo dois salários extras em quatro anos no caso dos deputados e oito no dos senadores. Mas a bestialidade pinga a cada ano no contracheque dos congressistas, como se fosse salário por produtividade. Logo para quem? Para quem falta ao trabalho para ficar em casa.

Na reunião de terça, integrantes da Mesa tiveram um porta-voz para relatar o acordo do pagamento da dívida. O senador Aníbal Diniz (PT-AC), vice-presidente da Casa, saiu com esta pérola: “Na medida que a ajuda de custo foi abolida, o Senado se acusou e a Receita começou a exigir o pagamento. Então os senadores pressionaram a Mesa para não serem punidos”. Então, tá. A pressão dos camaradas — que se acham os donos do mundo — foi passada para você, que agora vai ter de arcar com o prejuízo.

Ao longo da semana, alguns congressistas garantiram que iriam pagar do próprio bolso a dívida com o Leão. São poucos e fazem quase nenhuma diferença na lógica de que continuamos a pagar salários extras e as dívidas da maioria. O melhor seria que os nossos bravos senadores e deputados — os que tiveram a decência de recusar o privilégio — conseguissem convencer os colegas a abrir mão da mamata. A cada sessão da Comissão de Finanças e Tributação, volta a esperança. Um dia o privilégio cai.

Outra coisa
A imagem do primeiro parágrafo, a do cidadão capaz de avisar aos políticos sobre a estupidez a ser tomada no próximo instante — foi descrita por um tributarista ao repórter João Valadares. O homem preferiu não se identificar e, assim, aproprio-me. O país seria outro se fosse possível homens de bem irromperem reuniões de congressistas e de burocratas para tentar demovê-los de ideias absurdas. Na hora que a picaretagem estivesse sendo tratada, lá estaria o nosso herói. Nada seria mais oportuno.

ANTIPÁTICA NÃO, INTROVERTIDA - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 29/09

Fernanda Lima é capa da revista "Glamour" de outubro. Quem traçou o perfil da apresentadora de 35 anos foi seu pai, o advogado Cleomar Antônio Lima.

Ele escreve: "Entendo que algumas pessoas pensem que ela é antipática, porque minha guria é bem introvertida. Mas só até ser instigada. Porque aí ela fala, e fala bem".

MEDUSA EM BRASÍLIA
Dilma Rousseff inaugura no dia 5 exposição do italiano Michelangelo Caravaggio, um dos pintores preferidos da presidente, no Palácio do Planalto. As seis telas do artista, exibidas até amanhã no Masp, em SP, serão instaladas num salão que será aberto ao público.

MEDUSA NA TV
O pintor italiano também é tema do documentário "Caravaggio, o Mestre dos Pincéis e da Espada". Dirigido por Hélio Goldsztein, ele será exibido às 23h30 da segunda, na TV Cultura.

NAÇÃO CORINTIANA
Andres Sanchez, ex-presidente do Corinthians e diretor de seleções da CBF, vai tirar licença do cargo. Amigo pessoal de Lula, vai participar de caminhadas e carreatas da campanha do petista Fernando Haddad em SP.

PRIMEIRO TURNO
E o PT calcula que a temperatura do mensalão no STF (Supremo Tribunal Federal) chegará ao máximo na próxima quarta-feira, às vésperas do primeiro turno eleitoral. É quando o ministro Joaquim Barbosa, relator do processo, deverá dar sua sentença para o núcleo político do escândalo. Ou seja, deve condenar os petistas José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares.

SEGUNDO TURNO
Na semana seguinte, a primeira do segundo turno, o STF julgará os deputados do PT. Diferentemente de outros partidos, eles não são acusados de receber dinheiro para apoiar o governo -e sim de lavagem, ao se apropriarem de recursos de origem criminosa (desvio público ou empréstimos fraudulentos).

PELO CONTRÁRIO
Celso Russomanno (PRB-SP) foi praticamente monossilábico ao responder a um questionário sobre cultura enviado a candidatos por um grupo de pesquisadores da USP e da PUC.

Enquanto Soninha (PPS-SP), Gabriel Chalita (PMDB-SP) e Haddad se alongaram em considerações de até 20 linhas, Russomanno respondeu apenas "sim", "não" e "em termos".

TEXTO
Já o tucano José Serra tinha prometido aos pesquisadores enviar respostas até a noite de ontem.

TELÓ EM CHOQUE
A produtora de Michel Teló entrou em choque com o Ministério da Cultura após ter um projeto de documentário sobre o cantor impedido de usar os benefícios fiscais da Lei Rouanet. Em carta, diz que recorreu do veto, feito "erroneamente", e informa que está readequando o valor para o teto de R$ 600 mil. A proposta inicial era de R$ 1,3 milhão.

TELÓ DE GRAÇA
A produtora afirma ainda que pretende distribuir 3.000 DVDs do documentário gratuitamente.

ENTRE AMIGOS
O publicitário Washington Olivetto não quer muito alvoroço para seus 61 anos, completados hoje. Marcou um almoço de "pós-aniversário" com o amigo Boni para a próxima terça-feira. Hoje, ele janta com a família.

TAMANHO G
O restaurante do Theatro Municipal de SP ficou maior: o salão principal passou de 40 a 60 lugares.

E ganhou seis novas bancadas, assinadas pelos irmãos Campana.

Domingos de Oliveira

"Vi 'Cilada'. É uma m..."

Domingos de Oliveira se diz "animado como uma criança" quando abre a porta de seu apartamento no Leblon, no Rio. "Tenho três motivos de alegria", afirma o diretor de cinema e teatro com mais de 400 obras.

O primeiro foi o aniversário de 76 anos, que não festejou ontem. Deixou para juntar os amigos num outro evento, com um convite por e-mail que os conclamava a "uma missão quase impossível: lotar o [cinema] Odeon" amanhã, na estreia de seu filme, "Primeiro Dia de um Ano Qualquer", no Festival do Rio. "Eu pedi que cada um levasse dez convidados." O longa narra o dia após o Ano-Novo na vida de um grupo.

Faz quatro anos que Oliveira, conhecido por falar sobre relacionamentos, como em "Todas as Mulheres do Mundo" (1966), não lançava filme. Agora, quer emendar um projeto no outro, como conta na entrevista abaixo.

Folha - Como decidiu filmar esse longa?
Domingos de Oliveira - Amigos foram se reunindo, gostando do roteiro. Eu tenho uns cinco, seis roteiros prontos, falta tempo para agilizar a produção. Filmamos na casa da Maitê [Proença, a protagonista]. Foi coisa rápida, uns dez dias, mas não como antes. Não consigo mais trabalhar 18 horas por dia. Ainda assim, foi barato: gastamos uns R$ 80 mil.

O que, para seus orçamentos, é até bastante.
Você faz um filme com o dinheiro que tiver. Eu nunca esperei ter dinheiro para filmar. Talvez hoje me arrependa de ter feito as coisas, assim, precipitadas. Mas eu sempre precisei filmar, escrever, dirigir. Como se o mundo fosse acabar. Mas, se o final desse filme mostra uma coisa, é que o mundo não vai acabar.

Você vê as comédias nacionais que estão nos cinemas?
Fui ver essa "Cilada", do Bruno Mazzeo. É uma merda. Não é o filme que é o problema, é o governo apoiar esse tipo de cinema que não é arte. Não é o que o público quer. O público quer arte.

Ainda quer filmar mais?
Vou filmar "Do Fundo do Lago Escuro" [peça de teatro em que narra sua infância] com uns R$ 2,5 milhões. Ainda não conseguimos captar quase nada, mas a Fernanda Montenegro topou. Ela será a minha avó, que eu fiz no teatro [o diretor interpretou o papel usando uma peruca]. Vamos filmar de qualquer jeito em março. Estou escrevendo uma peça diferente de tudo o que já fiz. É um detetive paraplégico que corre atrás de uns assassinatos misteriosos, uma coisa bem Woody Allen, sobre o sentido de viver. Como tudo o que faço.

SP LÊ
O Prêmio SP de Literatura reuniu no museu da Língua Portuguesa escritores como Susana Fuentes e Marcelo Ferroni. Tatiana Salem Levy, que ganhou a categoria autor estreante em 2008, também foi à premiação, no começo da semana.

CURTO-CIRCUITO

O artista plástico e grafiteiro Speto assina seu primeiro livro infantil, "O Menino da Gota Serena", na Livraria da Vila do shopping JK, às 10h30.

Paula Fernandes canta hoje no Brazilian Day Portugal, no hotel Corinthia Lisboa. Ana Maria Braga organiza o evento.

Mallu Magalhães lança amanhã coleção de camisetas na Ellus da Oscar Freire. Amanhã.

O crítico de arte Paulo Sergio Duarte media hoje visita do público à mostra "Perimetrais", de Ana Holck, na Zipper Galeria.

Código Florestal e a busca da perfeição - KÁTIA ABREU

FOLHA DE SP - 29/09


As duas casas do Congresso Nacional, em votações praticamente unânimes, aprovaram a versão final da medida provisória editada pela presidente da República para eliminar as lacunas que decorreram do veto presidencial a alguns dispositivos do Código Florestal.

Chega-se ao fim de um longo processo de discussão e votação democrática, que durou mais de uma década e que, sem dúvida, faz da nossa lei florestal a mais debatida de nossos estatutos legais.Os temas foram objeto de amplo e transparente contraditório, refletido em larga escala pelos meios de comunicação.É hora de darmos por findo esse debate e nos prepararmos para por em prática a nova lei. A busca interminável pela perfeição em matéria de questões humanas é a maior inimiga dos bons resultados.

Há, no entanto, quem ainda sugira novos vetos e novas rodadas de discussões e conflitos parlamentares, como se quase 15 anos não fossem ainda o bastante. Como se as indiscutíveis maiorias manifestadas nas casas legislativas representassem menos a vontade da sociedade do que a de algumas minorias organizadas de ativistas.

A democracia somente funciona quando a vontade da maioria é devidamente respeitada. Em caso contrário, não há estabilidade nem segurança jurídica. É disso que se trata agora. Tenta-se, insistentemente, propagar a versão que o texto final da medida provisória e até mesmo o próprio Código, sancionado pelo Poder Executivo, é uma vitória dos produtores rurais. Nada pode estar mais longe da verdade.

A lei que temos agora é a mais rigorosa e restritiva legislação existente no mundo, sob o ponto de vista da utilização da terra para a produção agrícola, sem falar nas restrições severíssimas ao aproveitamento dos recursos naturais em geral. Em nenhum país do mundo, os proprietários rurais têm a obrigação de deixar sem uso de 20% a 80% de suas terras. Em nenhum país relevante, como os Estados Unidos, a China e mesmo a União Europeia, os produtores têm de manter preservada a vegetação nativa ao longo das margens dos seus rios.

O Mississipi, o Colorado, o Reno, o Danúbio, o rio Amarelo, ou qualquer grande corrente fluvial no mundo têm suas margens ocupadas economicamente sem restrição e servem, também, irrestritamente como vias navegáveis e fontes de energia. Tenta-se no momento criar um falso impasse: se além dos 15 metros que serão obrigatoriamente reflorestados, às margens dos rios com até dez metros de largura, devemos recompor cinco metros adicionais.

Cálculos que realizamos na CNA indicam que esses cinco metros a mais representam, em números médios, em torno de 1,8 milhão de hectares, o que elevará a cobertura vegetal do Brasil dos atuais 517 milhões de hectares para 518,8 milhões de hectares. Esse aumento de apenas 0,3% da área preservada poderá custar cerca de R$ 10 bilhões, a serem pagos em mudas e insumos por mais de 200 mil médios produtores. E outros R$ 6 bilhões serão perdidos em produção agrícola, a cada ano.

No mundo da realidade e da razão, toda privação de liberdade produtiva e interferência regulamentar têm de ser vistas sob a perspectiva de seus custos e benefícios, ao contrário do que proclamam os que colocam a natureza acima do homem. Cada limitação legal à liberdade de produzir sacrifica um setor que tem sido, há décadas, o mais dinâmico e resistente da economia brasileira. Não podemos legislar sem fazer as contas na ponta do lápis.

A legislação que está pronta para ser posta em prática já vai custar muito caro aos produtores brasileiros. Muitas áreas terão que ser abandonadas. Outras terão que ser recompostas exclusivamente por conta dos produtores. Será que o benefício para a natureza e a vida das pessoas vai compensar esse custo?

O melhor que temos de fazer é encerrar de vez essa discussão. O Brasil merece que essa novela chegue ao fim. O nosso sonho, agora, é que a presidente ouça essa última voz do Congresso brasileiro e deixe-nos, pessoas e instituições, aprender a executar a nova lei. Sem mais capítulos.

'Day After' ao 11 de Setembro do setor elétrico - ADRIANO PIRES e ABEL HOLTZ


O Estado de S.Paulo - 29/09


Depois de conhecermos a posição do governo quanto à renovação das concessões do setor elétrico por meio de uma medida provisória, foi emitido com exagerada pressa o Decreto n.º 7.805, definindo, unilateralmente, o prazo de 30 dias para que os concessionários possam decidir e fazer o pedido de renovação de sua concessão.

Não dá para imaginar que alguém responsável e em sã consciência vá tomar decisão tão importante, que afetará empresas cinquentenárias, em prazo tão exíguo, sem que haja uma lei aprovada pelo Congresso e sem conhecer os detalhes dos cálculos que serão feitos para definir valores não amortizados e consequente indenização. E sem saber se as tarifas que lhe serão impostas permitirão a continuidade do seu negócio, agora como mero prestador de serviços. Não será viável nem mesmo as empresas atenderem, nesse prazo, aos ritos previstos na Lei das S. A. - e as empresas têm de se subordinar ao que está estabelecido nessa lei antes de tomar a decisão de renovar ou não as suas concessões.

É notório que a conta de Reserva Global de Reversão (RGR) não tem valores suficientes para as indenizações, pois em 2011 havia um montante a receber de R$ 8,6 bilhões e aplicações no mercado financeiro de R$ 10,5 bilhões, perfazendo um total de R$ 19,1 bilhões. E, por força do Contrato n.º 425, de 1998, entre a Secretaria do Tesouro Nacional e a Eletrobrás, foi estabelecido um encontro de contas pelo qual a Eletrobrás deixa de devolver R$ 8,2 bilhões à RGR, passando à União equivalente montante de recebíveis de Itaipu.

Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) na conta da RGR constatou que os riscos dos empréstimos concedidos às empresas do grupo Eletrobrás e as sucessivas renegociações de dívidas pela empresa, administradora da conta, não estão expostos nas demonstrações contábeis. E também os bens da União sob administração da Eletrobrás, que foram objeto de encampação com recursos da RGR, não estão registrados contabilmente.

Quanto a destinar a energia nas novas condições ao mercado cativo das distribuidoras, há uma exclusão que deverá acabar na Justiça. Isso porque as empresas que migraram para o mercado livre dentro de regras definidas no modelo vigente também pagaram pelas usinas amortizadas. Convém não esquecer que algumas das usinas objeto das medidas foram erguidas até com empréstimos compulsórios feitos pelo setor industrial - hoje muitos no mercado livre - à Eletrobrás.

E os contribuintes? A redução nas tarifas de energia elétrica poderá incentivar o aumento do consumo de tal forma que a base de incidência dos demais tributos e encargos pode crescer, fazendo com que a arrecadação final até apresente crescimento e a fonte seja tanto o grande quanto o pequeno consumidor de energia. O aumento do consumo pode-se dar tanto no segmento residencial, com maior uso e compra de eletrodomésticos, quanto no setor industrial, com a migração de fontes mais caras para a energia elétrica. Algo parecido com o que vem ocorrendo no mercado de combustíveis, em que o congelamento do preço da gasolina incentiva o uso exagerado do carro e a sua compra.

Quanto ao retrocesso regulatório, ele está muito claro, basta considerar que não haverá leilões para definir o concessionário - e este não será o vencedor de um leilão pelo menor preço da energia. O preço da energia a ser contratado não será fruto de disputa entre diversos interessados no mesmo aproveitamento.

No rastro do pacote, o governo começa a anunciar a intenção de desindexar os contratos. A ideia parece ser criar um índice setorial. O problema é como esse índice será construído. Mais uma vez de forma truculenta e unilateral? Sem audiências públicas? A conferir. De todo modo, é mais uma notícia a gerar enorme preocupação no mercado, que claramente está enxergando em todas essas medidas uma intervenção exagerada do governo e mesmo uma intenção no sentido de federalizar grande parte das empresas de energia elétrica.

Afasta de nós essa crise - ZUENIR VENTURA


O GLOBO - 29/9

A crise está na moda, pelo menos na Europa ou em alguns de seus países. Contra ela, têm saído às ruas portugueses, gregos e espanhóis em manifestações como as de Madri e Atenas, com direito a violenta repressão policial. Dá vontade de dizer: vocês são nós ontem. Também já gritamos "abaixo o FMI" e "o povo unido jamais será vencido".

Quem nos anos 70 acompanhou a transição da ditadura para a democracia de Portugal e Espanha, contemporânea à nossa, dando-nos lições de competência política, ensinando-nos como atingir equilíbrio econômico sem hiperinflação, sem traumas, enfim, quem sentiu inveja do renascimento português, da movida madrilhenha e de todos os sinais da outrora pujante península ibérica, não se conforma com o que está acontecendo hoje.

Se os efeitos perversos do empobrecimento já são visíveis no campo social - presença de mendigos nas ruas, delinquência - imagine no terreno da cultura. Portugal cortou até o seu ministério, sem falar nas 40 fundações fechadas ou à míngua.

É estranho ler num jornal de Lisboa a previsão de que "2013 será o pior ano de nossas vidas", como se 2012 tivesse sido muito melhor. Ou então no "El País": "A cultura enfrenta o ano mais difícil da história da democracia", tendo ao lado a informação de que os museus do Prado, da Reina Sofía e o teatro Real - três ícones culturais - já sofreram cortes de até 65%.

Várias vezes voltei de Portugal entusiasmado com a opulência e a fartura de lá. Os portugueses gastavam de dar gosto. Pois é, foram além das chinelas. O euro da União Europeia era farto, mas um dia tinha que ser devolvido - com juros. Como sabia disso, o governo é o principal responsável, não só o de agora como o do socialista José Sócrates, que em 2011 assinou o "memorando da Troika" (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI), declarando ser um acordo "muito bom", porque permitia controlar o déficit público sem mexer com o 13º salário, nem com o 14º, muito menos com os empregos, nem cortes, ou seja, uma maravilha: o contrário de tudo que está ocorrendo hoje.

Enquanto isso, leio que aqui 41% dos consumidores são ou já foram inadimplentes. Conheço pessoas de baixa renda ou sem recursos suficientes, comprando carro do ano, usando dois celulares, computador de último tipo, tudo pago com cartões de crédito em prestações intermináveis.

A exemplo dos portugueses de ontem, os brasileiros estão gostando de gastar. Não entendo de economia, mas, apesar das diferenças, não sei se será essa a maneira mais sensata de manter a crise afastada de nós.

GOSTOSA


A loucura do rigor europeu - PAUL KRUGMAN


O Estado de S.Paulo - 29/09


Chega de complacência. Alguns dias atrás, a sabedoria convencional era que a Europa finalmente tinha as coisas sob controle. O Banco Central Europeu, com a promessa de comprar se fosse preciso os títulos de governos em dificuldade, havia acalmado os mercados. Tudo que os países devedores precisavam fazer, a história prosseguia, era aceitar uma austeridade maior e mais profunda - a condição para empréstimos do BCE - e tudo ficaria bem.

Mas os seguidores da sabedoria convencional se esqueceram de que havia pessoas envolvidas. De repente, Espanha e Grécia estão presenciando greves e enormes manifestações. O que o público desses países está dizendo, é que chegou ao seu limite: com desemprego em níveis da Grande Depressão e com ex-trabalhadores de classe média reduzidos a vasculhar o lixo atrás de comida, a austeridade já foi longe demais. E isso significa que poderá não haver um acordo afinal.

Muitos comentários sugerem que os cidadãos da Grécia e da Espanha estão apenas retardando o inevitável, protestando contra sacrifícios que precisam, de fato, ser feitos. Mas a verdade é que os manifestantes estão certos. Mais austeridade não serve a nenhum propósito útil.

Considerem as mazelas da Espanha. Qual é o verdadeiro problema econômico? Basicamente, a Espanha está sofrendo a ressaca de uma imensa bolha imobiliária que causou tanto um boom econômico como um período de inflação que deixou a indústria espanhola não competitiva com o resto da Europa. A menos que a Espanha abandone o euro - um passo que ninguém quer dar - , ela está condenada a anos de alto desemprego. Mas esse sofrimento possivelmente inevitável está sendo ampliado ao extremo por duros cortes de gastos.

Primeiro, a Espanha não se complicou porque seu governo era perdulário. Ao contrário, na véspera da crise, a Espanha tinha superávit orçamentário e baixo endividamento. Os grandes déficits surgiram quando a economia desabou, arrastando a arrecadação, mas, mesmo assim, a Espanha não parece ter uma dívida tão grande assim.

É fato que a Espanha está encontrando dificuldade para captar empréstimos e financiar seus déficits. Esse problema ocorre, sobretudo, por causa dos medos de dificuldades mais amplas do país - não menos o medo de agitações políticas provocadas pelo enorme desemprego. E aparar alguns pontos do déficit orçamentário não resolverá esses temores. Aliás, uma pesquisa do FMI sugere que cortes de gastos em economias profundamente deprimidas, na verdade, podem reduzir a confiança do investidor porque aceleram o ritmo do declínio econômico.

Cortes selvagens em serviços públicos essenciais, na ajuda aos necessitados, etc., prejudicam as perspectivas de um ajuste bem-sucedido do país.

Por que, então, há quem peça um aumento da austeridade? Parte da explicação é que na Europa, como nos Estados Unidos, um número excessivo de pessoas muito sérias foi conquistado pelo culto da austeridade, pela crença de que os déficits orçamentários, e não o desemprego em massa, são o perigo claro e presente, e que a redução do déficit resolverá, de algum modo, um problema causado por excessos do setor privado.

Além disso, uma parte significativa da opinião pública no núcleo da Europa - sobretudo, na Alemanha - está profundamente comprometida com uma visão falsa da situação. Falem com autoridades alemãs e elas retratarão a crise do euro como uma narrativa com moral, uma história de países que viveram à larga e agora enfrentam o inevitável ajuste de contas. Pouco importa o fato de que não foi isso que ocorreu - e o fato igualmente inconveniente de que os bancos alemães jogaram um grande papel na inflação da bolha imobiliária espanhola. Pecado e suas consequências é a sua história, e eles se aferram a ela.

Pior, é também nisso que muitos eleitores alemães acreditam, em grande parte porque foi o que alguns políticos lhes disseram. E o medo de uma rejeição de eleitores que acreditam erradamente, que estão sendo surrupiados por conta da irresponsabilidade dos europeus meridionais deixa os políticos alemães sem vontade de aprovar empréstimos de emergência fundamentais para a Espanha e outros países encrencados a menos que os emprestadores sejam previamente punidos.

Não é assim que essas demandas são retratadas, é claro. Mas é o que elas realmente são. E já passou da hora de pôr fim a esse nonsense cruel.

Se a Alemanha realmente deseja salvar o euro, ela deve permitir que o BCE faça o que é necessário para salvar os países devedores - e deve fazê-lo sem pedir mais sofrimentos inúteis. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

A pulverização - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 29/09

Nas eleições para as capitais este ano, não haverá qualquer grande vencedor. O PT não repetirá as seis capitais de 2008. Haverá uma maior distribuição de poder, porque 16 partidos podem eleger prefeitos. Os que devem ter o maior número, o PSB, o PT e o PMDB, farão de quatro a cinco capitais. Os eleitores apostam na renovação para enfrentar os problemas e dilemas locais.

A fadiga de material é dominante
O fator que está levando à pulverização do resultado eleitoral é a saturação do confronto PT x PSDB. A renovação também decorre da fadiga de material e do cansaço dos eleitores com os políticos de plantão. "O Ratinho (Curitiba), o Bernal (Campo Grande), o Amastha (Palmas), o Russomanno (São Paulo) e o Edmilson (Belém) são instrumentos de repúdio à política tradicional e ao caciquismo", explica o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro. Sobre a indefinição na disputa, voto a voto, pelo segundo lugar em São Paulo, entre Serra e Haddad, ele avalia que pode dar qualquer coisa. E, conclui: "O eleitor está de saco cheio da polarização PT x PSDB".

“O Eduardo Campos deve ser candidato em 2014, inclusive para perder. O Senado é um sepulcro de vocações. O Aécio Neves ficou pequenininho”
Geddel Vieira Lima
Vice-presidente da Caixa Econômica Federal

Ânimos exaltados e bom humor
"Calma, Aécio! Hoje é sexta, vamos tomar um chope no Cervantes", tuitou o ex-presidente do PT e diretor da Petrobras José Eduardo Dutra. O tucano chamou Fernando Haddad de "idiota", pois este o havia aconselhado a estudar mais.

A primeira-mãe
A ex-primeira-dama Marisa Letícia anda matando as saudades das campanhas eleitorais, mas longe do marido, o ex-presidente Lula. Ela é a maior cabo eleitoral do filho, Marcos, que é candidato a vereador em São Bernardo do Campo (SP). A agenda da ex-primeira-dama está ocupada todos os dias com eventos da campanha do filho.

O dilema da presidente Dilma
Ela resistiu o quanto pode à participação na campanha de Fernando Haddad (PT) em São Paulo. Mas pesou em sua decisão o argumento de que os petistas ficariam ressentidos no caso dela não ir e de Haddad ficar fora do segundo turno.

Estátuas de barro
Os políticos hegemônicos na berlinda. Em Duque de Caxias, o prefeito Zito pode não chegar ao segundo turno. Noel de Carvalho, em Resende, enfrenta dificuldades, depois de ter sido duas vezes prefeito. Em São Gonçalo, Graça Matos disputa cada eleitor com Adolfo Konder e Neilton Mulim. Ex-prefeita de Barra Mansa, a deputada Inês Pandeló está perdendo para Jonas Marins.

A política como ela é
Petistas embarcaram na reeleição de José Fortunati (PDT) em Porto Alegre. Dizem que a aliança PDT-PMDB é da base do governo Dilma. Na divisão de tarefas sobrou para Adão Villaverde (PT) bater em Manuela D´Àvila (PCdoB).

Olho vivo
Nem só doces que foram distribuídos na festa de Cosme e Damião, quinta-feira, na comunidade da Serrinha, em Madureira. Os traficantes também deram de presente para as crianças notas de R$ 100. Tudo aconteceu em plena luz do dia.

ALERTA GERAL! Cartões de crédito são clonados no Aeroporto de Brasília após o passageiro de voo internacional comprar no loja "Duty Free" local.

Segunda instância - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 29/09


José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoino terão que enfrentar, se condenados no STF (Supremo Tribunal Federal), como já foi João Paulo Cunha, um novo julgamento. Aprovado em fevereiro pelo Diretório Nacional, o estatuto do PT determina que sejam expulsos filiados condenados por crime infamante ou prática administrativa ilícita, com sentença transitada em julgado. No caso de Delúbio, seria a segunda expulsão. Ele se refiliou em 2011, após deixar a legenda em 2005.

Letra morta 
O trio de ex-dirigentes da sigla será julgado por formação de quadrilha e corrupção ativa a partir da semana que vem. Petistas descartam mudar o estatuto. Avaliam que o mais provável é que a legenda deixe de aplicar a cláusula de expulsão.

Súmula 
Assessores e ministros identificaram na nota em que Joaquim Barbosa critica Marco Aurélio Mello um recado direto aos demais colegas. Ao dizer que não fará "devassas administrativas'' ao chegar à presidência, Barbosa tranquiliza os presidentes anteriores, que não terão as gestões questionadas. 

Falta... 
Passadas as eleições, o ministro Mendes Ribeiro (Agricultura) planeja fazer uma reestruturação dos quadros da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Hoje, o órgão é comandado por Rubens Rodrigues, indicado pelo PTB.

...combinar 
Com a nomeação de Rodrigues, em fevereiro, o PTB na Câmara fechou apoio à candidatura de Henrique Eduardo Alves (RN) à presidência da Casa no ano que vem. O diretor financeiro da Conab, Bona Garcia (PMDB), é um dos cotados para assumir a presidência. 

Sem serão 
Depois de aventar, na semana passada, a possibilidade de realizar sessões extras para julgar processos acumulados no Tribunal Superior Eleitoral, a presidente Cármen Lúcia não as convocou, nem mesmo na reta final da campanha.

Sem braços 
A ministra Luciana Lóssio, que assumiu a titularidade no TSE em agosto e já recebeu o gabinete com vários processos, diz que só conta com quatro servidores para auxiliá-la, o que ajuda a explicar o acúmulo de casos sob sua tutela que não foram julgados. 

Vou ali... 
Segundo colocado nas prévias do PSDB paulistano e ausente da campanha de José Serra, o secretário José Aníbal (Energia) licenciou-se do governo para mergulhar na ofensiva de candidatos tucanos em pelo menos 20 cidades do interior.

...e já volto 
Aníbal, que recusou convites para ir a eventos pró-Serra, iniciou a maratona por Taubaté, onde o tucano Bernardo Ortiz Júnior foi denunciado pelo Ministério Público sob acusação de favorecimento em licitação de mochilas escolares.

Escrituras 
De um petista, ironizando a declaração de Edir Macedo, que diz não conhecer Celso Russomanno, candidato apoiado pela Igreja Universal: "O bispo segue a Bíblia. Afinal, devemos fazer o bem sem olhar a quem".

Bico Sem atribuição na reta final, a equipe que concebeu o plano de governo de Serra, que teve a divulgação adiada, sairá às ruas hoje para panfletar no centro.

Forcinha 
Marina Silva participa de debate amanhã do Movimento da Nova Política. Para ajudar Ricardo Young (PPS) na corrida pela Câmara, a ex-senadora tratará do papel dos vereadores na fiscalização do governo.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio

"A CUT cria programa de alfabetização com dinheiro público, não dá conta do recado e, ao devolver, ainda escorrega na aritmética."

DO LÍDER DA MINORIA NA CÂMARA, MENDES THAME (PSDB-SP), sobre a denúncia de que a central teria desviado verba de projeto educacional.

contraponto


Sabe aquela do economista?

Uma mesa redonda no Instituto FHC reuniu o ex-presidente e o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto para debater o livro "Keynes: Crise e Política Fiscal", do economista José Roberto Affonso. FHC falou sobre a crise econômica em Portugal, que acabara de visitar.

-Propuseram baixar a contribuição das empresas e aumentar a dos empregados. Mas quando pousei no Brasil já tinham desistido, não entendi nada.

Delfim Netto então emendou, para gargalhada geral:

-O que você não entendeu? Aí o problema é mais de piada de português que de economia...

Psiquiatria da conciliação - ELIZABETH CARNEIRO


O GLOBO - 29/09

Acaba de chegar às livrarias brasileiras o interessante livro "Ciência x espiritualidade" (Editora Sextante, 2012). De forma articulada e inteligente, o físico Leonard Mlodinow e o espiritualista Deepak Chopra debatem e se contrapõem sobre a origem do Universo, a existência de Deus e os caminhos da mente humana. Mlodinow defende a superioridade da razão, da ciência, da comprovação material e inquestionável dos fatos. Chopra, por sua vez, acredita que o ser humano ainda está muito distante de ter a compreensão absoluta do mundo, pois, como prenunciou Shakespeare, "há mais coisas entre o Céu e a Terra do que supõe nossa vã filosofia".

A medicina, aos poucos, vai aceitando - e assimilando - conceitos até então praticados apenas no Oriente, como uma maior consciência mental sobre a importância do momento presente e os benefícios da ioga e da respiração. A psiquiatria e a psicologia, particularmente, já começam a conciliar a objetividade do Ocidente e a subjetividade do Oriente.

Um nome fundamental neste processo é Marsha Linehan, psicóloga americana e pesquisadora da Universidade de Washington. Ela desenvolveu a Terapia Dialética Comportamental, psicoterapia que combina ciência comportamental com conceitos de aceitação e atenção plena, ambos derivados de práticas contemplativas, com um viés filosófico. Em outras palavras: o paciente precisa aceitar-se como é para, em paralelo, trabalhar para superar-se. Vale ressaltar que, em nenhum momento, Marsha adota um ponto de vista religioso, alinhado com qualquer prática de fé, tal qual Chopra no livro.

Uma sequência de estudos em pacientes com transtorno borderline (quadro que envolve automutilação, tentativas de suicídio, oscilações de humor) provou que o método de Marsha funcionava. Em seguida, ela expandiu a terapia aos pacientes que agem por impulsividade, como dependentes químicos e comportamentais. Obteve êxito novamente.

A partir daí, a psicóloga americana deu sua grande cartada: foi entrevistada pelo "The New York Times" e confessou tratar-se ela mesma de uma paciente com transtorno borderline , com internações desde a juventude, instintos suicidas e de automutilação. Mediante o sucesso anterior de suas pesquisas, Marsha não poderia ser desqualificada por sua condição de paciente. Touché. "Fiz a pesquisa porque nunca consegui ser ajudada a contento por nenhum médico", confessou ao jornal americano.

Para nós, a boa notícia é que já existem profissionais pioneiros no Brasil na adoção do método de tratamento terapêutico proposto por Marsha. A psiquiatria contemporânea busca um equilíbrio entre a mente racional e a mente emocional. A combinação de ambos seria a mente sábia e, em última análise, saudável. Quem ganha são os pacientes.

Voto útil: passado e presente - CARLOS MELO


O Estado de S.Paulo - 29/09


Como o passaporte de Celso Russomanno parece carimbado para a próxima fase da eleição municipal, a disputa entra em sua semana decisiva antecipando a questão dos apoios de segundo turno. Parte da sociedade, inquieta com a perspectiva de vitória do candidato do PRB, reaviva a memória do "voto útil"; especula-se quem apoiaria quem ou a quem seria melhor abandonar. Mas é justo suspeitar que o voto útil, como o conhecemos, esteja relegado ao passado. Os tempos e atores são outros.

Voto útil foi uma prática que, durante a redemocratização, buscou aglutinar setores autodenominados progressistas; visava a impedir a vitória eleitoral de candidatos conservadores. Seu alvo contumaz foi Paulo Maluf. Mas também se voltou contra Celso Pitta, Fernando Collor e Francisco Rossi. Quando ainda não havia dois turnos, mirou também Reynaldo de Barros (1982), Jânio Quadros (1985) e, mais uma vez, Maluf (1988).

Seus beneficiários foram Franco Montoro (1982), Luiza Erundina (1988), Mário Covas (1994 e 1998), Marta Suplicy (2000) e até Luiz Antônio Fleury (1990). FHC, Lula e Eduardo Suplicy, em que pesem os esforços, foram derrotados em 1985, 1989 e 1992, respectivamente.

Ninguém foi mais emblemático para a tese do voto útil do que Mário Covas. Por esse mecanismo, foi eleito duas vezes e foi fundamental no apoio a Lula, em 1989, e a Marta, em 2000. Sua liderança tanto soube atrair apoios para si quanto conduzir seus eleitores na direção de candidatos de sua escolha, em segundo turno.

No PSDB, o passamento de Covas marcou o protagonismo de José Serra e Geraldo Alckmin. Até porque foram adversários frequentes do PT, Serra e Alckmin estão distantes do perfil, da legitimidade e credibilidade do ex-governador morto. Excederam na forma e no conteúdo das críticas, passaram do ponto. Nem Aécio Neves, com sua ascendência tancrediana, parece acrescentar à distensão de momentos como este - aliás, seria um bom teste. Pontes foram incendiadas, enfim, e não há volta.

Também no PT a liderança se fragilizou. A proverbial verve provocativa de Lula nunca contribuiu para somar; além disso, os quadros mais experientes do partido foram carbonizados pelo mensalão e a proliferação de dossiês e aloprados aguçou conflitos. Em que pese a eleição de Dilma Rousseff, não houve consolidação de novas lideranças capazes de reconstruir as pontes. Pelo menos em São Paulo, os tucanos passaram a ser o inimigo, por definição.

Nesses vazios, a guerra se instalou sem perspectiva de trégua; o ressentimento é mútuo e infindo. Conjunturalmente, a dramaticidade do julgamento do mensalão coloca mais lenha na fornalha e José Serra o explora para estigmatizar Fernando Haddad. Hoje, o desconforto de petistas é tão natural quanto a intenção de dar o troco no futuro.

Não admira, então, que Marcos Pereira, presidente do PRB, afirme contar com o apoio de Dilma e Lula, caso o adversário de Russomanno seja José Serra. Mas, na eventual passagem de Fernando Haddad, o que esperar do PSDB? Ao longo da eleição, o alvo preferencial de Serra foi Haddad e, especialmente, o PT. Falou-se muito menos de Russomanno. Não será fácil esquecer o que se disse. Mais difícil que engolir um sapo é engolir um sapo curtido no ódio.

Para quem nutre esperanças com a tese do voto útil envolvendo PSDB e PT, melhor será esquecer as lideranças partidárias; elas perderam capacidade de diálogo e representação. Se algo nesse sentido houver, virá da sociedade, de bases sociais mais responsáveis que os dirigentes. E, em grande medida, se confundirá com outras dinâmicas políticas, envolvendo também os conflitos de interesse entre as religiões e na mídia. Um voto útil de tipo e natureza distintos do passado: menos cívico, menos laico, menos transparente. Mas condizente com o caos de referências políticas e partidárias do presente.

Prazeres na "nuvem" - RUY CASTRO


FOLHA DE SP - 29/09

RIO DE JANEIRO - CDs, DVDs, câmeras digitais, telefones fixos, controle remoto e até PCs de mesa com teclado, mouse e disco rígido -pelo que li há dias no "Globo", tudo isso tende a ser história nos próximos anos. Por história, entenda-se o grande lixão a que se destinam os cadáveres da eletrônica. Parece que, na próxima década, só os maiores de 30 anos ainda terão uma vaga lembrança de para que serviam esses equipamentos, aos quais ficamos hoje atracados o dia inteiro.

A ideia é a de que as mídias físicas, palpáveis, irão literalmente para o espaço. Tudo estará na chamada "nuvem" -que, até agora, ninguém conseguiu me explicar onde fica, como funciona e se fecha quando chove. O acesso aos conteúdos se dará por smartphones, downloads ou com o usuário plantando bananeira contra a parede e se concentrando.

A "nuvem" é infinita e conterá tudo que puder ser exibido, alugado, vendido, emprestado ou copiado, e isso dispensará as cidades de manter museus, galerias, cinemas, bibliotecas, livrarias, sebos, arquivos públicos etc. Quer dizer, os acervos destes continuarão existindo, mas "na nuvem", sem despesas com funcionários, material de limpeza ou energia elétrica.

Cá entre nós, não estou com a menor pressa de aderir à "nuvem". Ainda gosto de manusear, apalpar, acariciar. Hoje, por exemplo, minha coleção de LPs, em edições raras, originais, lindíssimas, é a melhor que já tive (vitrolas e agulhas não faltam -estou estocado). O mesmo quanto às coleções de CDs e DVDs que acumulei -só espero que não interrompam logo a fabricação dos aparelhos para tocá-los. E continuo a frequentar sebos, bibliotecas e arquivos -gosto até do cheiro de mofo.

Meu consolo é que, um dia, quando tudo isso tiver acabado e só estiver disponível na "nuvem", eu também estarei nas proximidades -em alguma nuvem.

Ficção e realidade - SÉRGIO TELLES


O Estado de S.Paulo - 29/09


Coleman Silk, um professor universitário norte-americano, constatando que dois alunos faltam sistematicamente a suas aulas a ponto de jamais tê-los visto, pergunta à classe quem são aqueles spooks (fantasmas) que nunca apareciam. Como os dois alunos eram negros, a irônica e descompromissada pergunta do professor foi entendida pelos ativistas do campus como uma manifestação de racismo por parte do professor, pois a palavra spook tem um outro significado fortemente ofensivo para os afrodescendentes. O simples incidente letivo é transformado num evento político, destruindo a vida pessoal e profissional do professor.

A história prossegue, adquirindo tinturas de tragédia grega. O professor tinha um segredo desconhecido por todos que termina por ser revelado. Filho de negros, ele se fizera passar por judeu e branco, pois assim o permitia a cor de sua pele. Então, o que parecia ser uma acusação injusta e despropositada, fruto de radicalismos políticos, transforma-se na punição do destino a um filho que renegou os pais e sua origem e assumiu uma identidade falsa. Em linhas gerais, essa é a trama de A Marca Humana (The Human Stain), de Philip Roth (Companhia das Letras).

Importantes críticos e resenhadores norte-americanos pensaram que Coleman Silk, o personagem de Roth, teria sido inspirado na vida de Anatole Broyard, respeitado jornalista literário e figura de relevo no mundo intelectual nova-iorquino nos anos 60 e 70, que tinha uma história semelhante, era um negro que se fazia passar por branco.

Tais dados foram publicados pela Wikipedia no verbete sobre o livro. Roth solicitou a correção da informação, declarando que construíra seu personagem baseado em episódios da vida de um amigo, Melvin Tumin, que fora professor de direito em Princeton por 30 anos. A Wikipedia não aceitou a explicação de Roth, alegando que o fato de ser o autor não lhe dava a última palavra sobre o assunto e que ele deveria procurar depoimentos de terceiros que o apoiassem. Inconformado, Roth escreveu no último dia 7 uma carta aberta ao New York Times, falando sobre o assunto.

À primeira vista, poderia parecer que não importa se a crítica atribui tal ou qual origem para os personagens fictícios de uma obra, e não se entende por que Roth se preocupa tanto com o assunto. De fato, para o leitor comum, não interessa saber se o personagem Coleman Silk foi baseado na vida de Tumin ou Broyard. Sua apreciação do romance não depende disso e sim do talento com o qual Roth construiu seu personagem. Mas ao se especular sobre as fontes de um romance, entram em cena importantes questões literárias sobre o ato da escrita, o poder do autor sobre sua obra, os processos da criação e a relação entre realidade e ficção.

Em sua longa carta, Roth diz que não poderia ter-se inspirado em Broyard, pois só o conhecia superficialmente, o que não acontecia com Tumin, de quem era íntimo. Esse é um argumento pouco convincente, que só se sustentaria se estivesse escrevendo uma biografia, na qual é imprescindível a pesquisa dos dados históricos reais, objetivos. Na ficção, o que vale é a verossimilhança, não a verdade fática. Frequentemente os personagens nascem de uma colagem de características de vários modelos reais, a que o escritor acrescenta elementos a partir de sua imaginação, dando-lhe a feição final.

Parece-me que a Wikipedia está correta em contestar a soberana autoridade que Roth arroga para si como autor ao falar de seu livro. O autor não pode controlar a leitura de sua obra, estabelecer o que dela pode se depreender, o que deve ser entendido. O texto jamais será fiel aos limites por ele fixados, dirá sempre mais ou menos do que seu criador pretendia, pois para produzi-lo lançou mão de recursos conscientes e inconscientes. Isso significa que o próprio autor não tem domínio absoluto sobre o que escreve, pode expressar inadvertidamente elementos que só serão detectados por um terceiro (criptomnésias, apropriações involuntárias de histórias, trechos, estilos de outros escritores, etc.), como costuma ocorrer com os conteúdos inconscientes no discurso - os atos falhos e lapsos são percebidos pelo outro, não por quem os comete.

É evidente que o autor sabe das fontes conscientes que o inspiraram. O problema é que ele vai reconhecê-las ou não publicamente em função de um complicado contexto, pois está em jogo o que talvez seja o elemento mais delicado da criação literária - a complexa mistura de elementos da realidade com a imaginação criativa do escritor, fusão da qual resulta algo único e novo, um texto original.

O escritor é um saqueador de histórias. Mas, ao contrário do paparazzo ou do colunista de fofocas de celebridades, não tem como objetivo precípuo a exposição da privacidade alheia, não faz da indiscrição maldosa sua meta. Na banalidade ou estranheza das histórias que recolhe, ele consegue divisar um filão secreto - o veio sagrado da vida, do sinuoso movimento do tempo, das forças maiores que se abatem sobre a fragilidade do homem, e a partir daí cria uma peça que dá testemunho do inefável acontecimento da existência.

Sobre o fato aparentemente estranho, de que Melvin Tumin e Anatole Broyard compartilhassem uma história tão inusitada, é fácil de entender. Naquela ocasião, não eram os únicos a se encontrarem nessa difícil posição. Durante a 2.ª Guerra Mundial, as forças armadas norte-americanas mantinham uma rígida divisão racial e muitos negros de pele clara alistaram-se como brancos, usufruindo regalias negadas a soldados negros. No final da guerra, não quiseram retomar a condição social inferior à qual a segregação os relegava e mantiveram a falsa identidade. Calcula-se que cerca de 150 mil homens fizeram tal escolha, rompendo de forma completa com o passado e a família, iniciando vida nova numa condição que seguramente lhes cobrava um insuportável custo emocional. Esse fato bem revela a amplitude do problema e a rigidez do racismo norte-americano no período anterior à luta pelos direitos civis.

Quanto à carta de Roth, a Wikipedia incorporou no verbete sua argumentação, juntamente com os comentários da filha de Broyard sobre a mesma, contestando a afirmação que Roth faz de nunca ter ido à casa de seu pai, pois se lembra de tê-lo visto ali, quando criança. Mesmo assim, reconhece-lhe o direito, enquanto autor, de ocultar suas fontes, se, por razões particulares, assim o preferir.

Clichês paulistanos - EVANDRO SPINELLI


FOLHA DE SP - 29/09


Certos clichês dão ar de conhecimento e erudição ao interlocutor. Porém, muitas vezes são simples bobagens.

É comum ouvir, por exemplo, que a cidade de São Paulo tem o terceiro maior Orçamento do país. É o típico clichê dito e repetido em época de eleição. Mas não é o terceiro, é o sexto. A União e os Estados de São Paulo, Rio, Minas Gerais e Rio Grande do Sul têm Orçamentos maiores. São Paulo tem problemas suficientes que dispensam o espalhamento de mentiras que deem medidas de sua grandeza.

Outro clichê mentiroso típico de épocas de eleição é "São Paulo é uma cidade que cresceu sem planejamento". Distorções e desigualdades paulistanas não são causadas por falta de planejamento. Ao contrário, são por causa dele.

Bernardo José Maria de Lorena, administrador colonial português que governou a Província de São Paulo em fins do século 18, fez o que ele chamou de "um plano para guiar a cidade em seu crescimento". Isso em 1792, 220 anos atrás.

No fim do século 19, a cidade ganhou marcos urbanísticos importantes, como a avenida Paulista (1891) e o viaduto do Chá (1892). E, no começo do século 20, surgiu o Código Arthur Saboya, que impôs limites de altura aos prédios do chamado "centro novo", atual praça da República.

E, assim, a cidade vai se dispersando em vez de se adensar. Na década de 1930, chegou o plano de avenidas do prefeito Francisco Prestes Maia. Em 1927, a Câmara Municipal havia rejeitado um projeto da Light, concessionária dos serviços de bonde e de energia elétrica, de criar a primeira linha paulistana de metrô, mais ou menos no traçado da linha 4-amarela.

Como se vê, a cidade tinha, sim, um plano: crescer para a periferia, construir avenidas e desprezar o transporte de massa. A primeira linha de metrô só chegou na década de 1970. Cidade Tiradentes, um enorme conjunto residencial que amontoou pobres na longínqua periferia da zona leste, é da década de 1980.

Agora, São Paulo corre atrás do prejuízo. Um clichê (este verdadeiro) diz que o maior movimento de massa da história da humanidade ocorre todos os dias na zona leste de São Paulo: 3 milhões de pessoas (um Uruguai inteiro) vão para o centro de metrô pela manhã e voltam à noite, esmagados nos vagões da linha 3-vermelha do metrô.

Também virou clichê dizer que precisa ter mais moradia no centro e mais emprego na periferia. Pode ser. Mas basta? A pesquisa DNA Paulistano, do Datafolha, mostra que 67% dos moradores da zona leste trabalham na própria zona leste. Proporcionalmente, é mais do que no centro, onde 62% não precisam sair da região para trabalhar.

Parece tarde para São Paulo. Mas, para não fugir de clichês, antes tarde do que nunca.

'Lulismo', um conceito equívoco - ALDO FORNAZIERI


O Estado de S.Paulo - 29/09


Nos últimos tempos surgiu uma profusão de estudos, menções e referências ao conceito de "lulismo". Autores das mais variadas tendências referem-se ao conceito. Basta citar Francisco de Oliveira, Ricardo Vélez Rodríguez e André Singer. Com Os Sentidos do Lulismo André Singer empreendeu o mais abrange esforço para entender o suposto fenômeno. Dentre os vários artigos, reflexões e o livro, há poucas referências inquiridoras sobre a pertinência ou o significado do conceito.

De modo geral, a referência ao "lulismo" é como se ele fosse um dado evidente da realidade. Parece ser predominante a ligação entre o conceito e os processos eleitorais de que Lula foi candidato ou protagonista importante. Para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o "lulismo" expressa uma apelo aos pobres e uma prática de conciliação geral das classes; para Francisco de Oliveira, trata-se de uma "funcionalização da pobreza" para manter a exploração; para Vélez Rodríguez, é uma variante do populismo e uma prática patrimonialista de uso do Estado para fins políticos; e para André Singer, é um realinhamento eleitoral que implica a articulação dos segmentos mais pobres da população como a nova base social de apoio a Lula e, em parte, ao PT.

Os bons dicionários dizem que a função de um conceito é descrever os objetos da experiência para reconhecê-los, classificá-los e organizá-los. De acordo com o Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, a partir dos séculos 19 e 20 o uso do sufixo "ismo" disseminou-se "para designar movimentos sociais, ideológicos, políticos, opinativos, religiosos e personativos, através de nomes próprios representativos, ou de nomes locativos de origem...". No campo da política, portanto, o sufixo "ismo" associa-se a um corpo doutrinário ideológico, filosófico ou religioso de caráter sistêmico e coerente.

Na medida em que, no caso em questão, o sufixo "ismo" vem associado ao nome Lula, sugere-se a existência de um movimento político ou ideológico personativo configurando numa doutrina ético-política que veicula e enfatiza o valor da pessoa do ex-presidente e seus laços de solidariedade com um corpo coletivo que pode ser o "povo brasileiro" ou, particularmente, os "pobres", para a maior parte das análises.

Na realidade, tal movimento não existe. Nem mesmo dentro do PT existe uma corrente doutrinária ou seguidista lulista. O suposto caciquismo ou personalismo de Lula também não é efetivo. As recentes definições de candidatos passaram por intrincados processos de negociações e concessões mútuas e construções de consensos entre as partes.

Restaria ver se há um movimento lulista personativo na esfera social ou eleitoral. Nem mesmo nesse plano há evidências capazes de legitimar o suposto lulismo. Lula não deixou nem teve a intenção de legar um corpo doutrinário dessa natureza e, menos ainda, um movimento em torno de seu nome. O que houve foi um processo eleitoral, bem analisado do ponto de vista empírico por André Singer. Tanto as eleições de Lula quanto os seus dois mandatos devem ser analisados a partir de suas determinações específicas, sem transcendências ideológicas.

O fenômeno que aconteceu e vem acontecendo no Brasil tem similaridades, com formas nuançadas, em outros países da América Latina. O Peru conseguiu resultados espetaculares na redução da pobreza. Na Colômbia, depois de dois mandatos de Álvaro Uribe, elegeu-se Juan Manuel Santos, do mesmo partido político. Na Argentina, depois de um mandato de Néstor Kirchner, está em curso o segundo mandato de Cristina. O eleitorado reelege ou elege sucessores de governantes que conseguem bons resultados nas políticas sociais e econômicas.

Mas existem exceções a essa regra. No Chile, depois de 20 anos de governos bem-sucedidos da Concertación e mesmo com a ex-presidente Michelle Bachelet terminando seu governo com mais de 80% de aprovação, o candidato opositor de centro-direita, Sebastián Piñera, venceu as eleições. No mundo de hoje as hegemonias partidárias são menos estáveis e menos duráveis em relação ao passado. A perdurabilidade de projetos de poder depende ora de êxitos e resultados, ora dos líderes que os representam.

O eleitorado é pragmático, vota interessado e, na sua maior parte, não segue ideologias. Se um governo apresenta bons resultados, promove o crescimento, gera empregos, favorece o consumo, distribui renda, de modo geral o eleitorado quer a sua continuidade. Uma tabela do livro de Singer mostra que em 2006, no segundo turno, 44% dos eleitores que ganhavam entre cinco e dez salários mínimos e 36% dos que ganhavam acima de dez salários mínimos preferiam Lula. Isso desconstitui qualquer tese de que há uma polarização de classe nas eleições. Não faz muito sentido perguntar a um eleitor médio brasileiro se ele é de esquerda ou de direita, pois esses conceitos têm pouca referência prática.

Dilma mantém uma relação de continuidade e de diferença em relação a Lula e aos seus governos. Ela constituiu personalidade política própria e uma especificidade de seu governo, evitando o que muitos temiam: ficar à sombra de Lula. E o próprio Lula contribuiu para isso, evitando uma presença mais ostensiva no governo dela. O melhor método para analisar os dois governos é fazer um estudo comparativo entre ambos.

As eleições municipais deste ano parecem mostrar que não existe um eleitorado lulista cativo, configurado em qualquer fração de classe. Embora existam certas preferências partidárias em determinados setores sociais, o fato é que, em seu modo pragmático de ser, o eleitorado não é um ativo estocável por ninguém. Cada eleição é uma nova batalha, com novas circunstâncias e novos atores. Quem acredita na existência de um eleitorado cativo tende a ver o trem da História passar sem embarcar nele.

Visão petista na reta final - FERNANDO RODRIGUES


FOLHA DE S. PAULO - 29/09



BRASÍLIA - Não são as melhores as informações da campanha de Fernando Haddad a prefeito de São Paulo pelo PT. O petista corre o risco de ser o primeiro do partido a não ir ao segundo turno na cidade.

Já o marqueteiro João Santana, responsável pela propaganda de Haddad, tem uma visão mais edulcorada para o candidato: "Haddad está no segundo turno. Resta saber com quem. Alguns analistas deveriam parar de construir teses apressadas".

Santana já perdeu uma vez na cidade de São Paulo, em 2008, com Marta Suplicy. Mas ganhou as eleições presidenciais de 2006 e 2010, com Lula e Dilma Rousseff.

Nas avaliações petistas, Celso Russomanno iniciou uma "queda constante e consistente". No Datafolha, só agora ficou detectado esse solavanco para o candidato do PRB.

O otimismo de Santana se dá porque Haddad começou a incorporar votos entre simpatizantes do PT. Segundo o Datafolha, ele já encaçapou cerca de metade desses votos.

Pela lupa de Santana, a reta final da disputa paulistana tende a ser semelhante ao cenário descrito na Folha ontem por Mauro Paulino e Alessandro Janoni, diretores do Datafolha: podem ficar embolados Russomanno, Haddad e José Serra (PSDB).

No caso do petista, a ideia é tirar proveito da fama de "partido de chegada" que o PT incorpora em algumas disputas, inflamando a militância de rua. Mas se é assim, por que Haddad continua tão mal se comparado a outros petistas que disputaram esse cargo? Para Santana, o petista era mais desconhecido que os demais. Também é raro haver um candidato de extração e acumulação populista como Russomanno.

Fala Santana: "Erra quem disser que há fadiga de material com Lula e mensalão. Não há fenômeno de despetização. Quem apostar nisso errará feio". O melhor, diz, é "aguardar o resultado final destas eleições e, em especial, a presidencial e as estaduais de 2014". Aguardar e noticiar.

HOMENAGEM AOS MENSALEIROS!


Risco conhecido - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 29/09
Esta semana o Banco Central divulgou o panorama de como está o crédito no Brasil e ressaltou, claro, a boa notícia da menor taxa de juros para o crédito das pessoas físicas desde o Plano Real. Mas o que preocupa é o tamanho da inadimplência. O percentual ficou estável, em 7,9%, mas como o volume do crédito cresceu, o total da dívida sem pagamento tem subido de forma assustadora.
O estoque de crédito inadimplente na economia brasileira, ou seja, com atraso de pelo menos três meses, cresceu 26,5% em um ano até agosto. Saiu de R$ 66 bilhões para R$ 83 bilhões.

O crédito podre, que não é pago há seis meses, cresceu 20,2% nesse período.

A redução da Selic em cinco pontos percentuais desde setembro do ano passado e a pressão do governo para que os bancos reduzam juros na ponta estão surtindo efeito. Os juros médios da economia, cobrados de pessoas físicas e jurídicas, caíram para 30,1%. Nos últimos 12 meses, a redução foi de 9,6%. O spread, nesse mesmo período, caiu 5,3%.

Ainda há espaço para cair mais e isso é bom.

Outra boa notícia é que o prazo para o pagamento das dívidas está maior. Os bancos estão alongando o tempo que os tomadores de recursos têm para pagar os empréstimos e isso ajuda a prestação caber no bolso. Em agosto, o prazo médio subiu para 507 dias, aumento de 14% nos últimos 12 meses.

Há, porém, problemas. Mesmo com juros menores, prazos maiores que facilitam pagamentos, a inadimplência continua alta. Esse indicador pode ser analisado de duas formas e nas duas há razão para ficar atento.

A primeira mostra uma estabilidade da inadimplência em patamar elevado. No caso das famílias, são 7,9% de todos os recursos que foram tomados emprestados. Para efeito de comparação, em janeiro deste ano, a taxa estava em 7,1%. Em janeiro do ano passado estava em 5,1%. Por mais que o governo e alguns economistas digam que a inadimplência vai cair, o fato é que o ciclo de alta ainda não começou a ser revertido. Para as empresas, a inadimplência subiu para 4,1%.

Em janeiro do ano passado, estava em 3,5%.

Também subiu e não voltou a cair.

A segunda maneira de olhar a inadimplência preocupa mais. Ela mostra o estoque de crédito em atraso na economia. Compara o volume de dinheiro que deveria ter sido pago aos bancos e não foi. Nessa forma de olhar o problema é que a inadimplência subiu 26,5% em 12 meses. As provisões que os bancos precisam fazer para se proteger dos calotes subiu 19%. É dinheiro que precisa ficar parado nos balanços das instituições financeiras.

O crédito podre - com atraso de seis meses - subiu 3,1% apenas em agosto. Dos R$ 83 bilhões de crédito inadimplente na economia brasileira, R$ 71 bi estão atrasados há seis meses. Esse montante, na verdade, é maior, porque o BC só contabiliza dívidas financeiras. Atrasos em contas de luz, água, por exemplo, e crediário de lojas não são medidos.

O PIB crescerá apenas 1,6% este ano, como projetou esta semana o Banco Central. Mas os empréstimos estão sendo concedidos numa velocidade de 17%. O BC classifica esse ritmo de "moderado".

Tudo fica mais arriscado porque o governo está genuinamente convencido de que é preciso estimular mais o endividamento, mesmo que à custa de subsídio público, como vai acontecer na transferência de R$ 21 bilhões para o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, via medida provisória, para que eles aumentem a oferta de crédito.

As crises americana e europeia começaram exatamente pelo excesso de endividamento das empresas e das famílias durante um longo período.

Melhor evitar o risco de repetir erro alheio.