sexta-feira, setembro 28, 2012

Nossas crianças - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 28/09

O MP do Rio divulga hoje que o uso abusivo de álcool e drogas já é o quinto principal motivo de acolhimento de menores no estado.
Os dados fazem parte do 9° Censo do Módulo Criança e Adolescente.
Nos censos anteriores, o consumo figurava por volta da 20? posição.

Aliás...
O Censo revela também que dos 222 menores aptos à adoção hoje no Rio, apenas sete têm entre zero e 6 anos.
A maioria deles, cerca de 65%, tem 16 e 17 anos.

Dois pesos
Desde 15 de julho que a CVM não tem presidente.
O processo de nomeação do economista Leonardo Pereira, cujo ritual no Senado guarda semelhança ao da escolha de um ministro do STF, ainda depende da sanção de Dilma. Já o caso do processo de nomeação de Teori Zavascki para o Supremo parece andar mais célere.

O amigo do Moreno
Os 20 anos da morte de Ulysses Guimarães serão lembrados pelo Senado dia 11 agora.
A sessão lembrará também o aniversário do Senhor Diretas, que faria 96 anos no dia 6 de outubro.

Tons de cinza
Sabe como meninas de um colégio de freiras da Zona Sul do Rio têm lido a trilogia erótica de E. L. James?
Colocam sobre a obra a capa de um livro de Thalita Rebouças.

Acabou em samba
Carlinhos Cachoeira, o bicheiro, virou tema no carnaval do Rio.
O bloco Spanta Neném vai desfilar pela Lagoa com o enredo: “A coisa tá feia, a coisa tá braba! Tem Cachoeira no Planalto molhando geral, mas ninguém sai limpo" Faz sentido.

Hoje, 28 de setembro, quando se celebram os 141 anos da chamada Lei do Ventre Livre, a coluna abre espaço, por sugestão do leitor Sergio Mendes Ferreira, para a avenida que ganhou este nome em Vila Isabel, terra de Noel Rosa. Veja só: há uns meses a prefeitura começou a tapar com cimento os espaços no canteiro central onde antes havia árvores (repare nos círculos mais claros). A Diretoria de Arborização da Fundação Parques e Jardins esclarece que as frondosas morreram e que as golas foram tapadas provisoriamente para “evitar inconvenientes aos pedestres”. A prefeitura promete plantar ali, já na primeira quinzena de outubro, mudas crescidas de pau-ferro, espécie já tradicional no Boulevard. Vamos torcer, vamos cobrar.

Keynes, FH e Delfim
As ideias do economista britânico John Maynard Keynes (1883-1946) foram tema de debate que reuniu quarta, em São Paulo, FH, de 81 anos, e Delfim Netto, de 84. Os dois quase sempre estiveram em campos intelectuais e políticos divergentes.
O gancho foi o recém-lançado livro “Keynes, crise e política fiscal’,’ de José Roberto Afonso.

Segue...
Houve vários momentos de descontração. Num deles, o ex-ministro brincou que os economistas eram uma praga,
“sempre distantes da realidade’!
O ex-presidente, rindo, lembrou que era sociólogo e não economista.

Zé Paulinho
O advogado pernambucano José Paulo Cavalcanti Filho, membro da Comissão da Verdade, vai receber o Prêmio José Ermírio de Moraes de 2012, da ABL, pelo livro “Fernando Pessoa — uma quase autobiografia’,’ publicado pela Record.

O espinafre de Eike

Popeye, o personagem dos quadrinhos, fica mais forte quando come uma lata de espinafre.
Já Eike Sempre Ele Batista substitui vez por outra, principalmente em viagens, uma refeição pelo suplemento alimentar “Glucerna’, fabricado no Canadá. Este na foto foi seu almoço de ontem e tinha sabor baunilha.

Em tempo...
O fabricante alerta que ele só pode ser usado sob orientação de nutricionista e de médico.

Dia de fúria

Ajuíza Flávia Fernandes de Melo, da 1? Vara Criminal de Volta Redonda, RJ, decretou a prisão de Tiago Floriano Caetano, o “Pimentel” um dos acusados da morte do publicitário Vinícius Sigmaringa, então com 27 anos.
O assassinato aconteceu em 2008, após a vítima reclamar do volume do som do carro de Tiago. Meu Deus!

Guitarra afanada
Ladrões invadiram, na madrugada de ontem, o bar Rio Rock & Blues Club, na Rua do Riachuelo, na Lapa, de onde levaram uma guitarra Gibson Les Paul, que ficava exposta num espaço dedicado à história do instrumento.
A guitarra é cor de madeira com ferragens douradas, avaliada em uns R$ 10 mil.

Sem saída
O Banco Bradesco foi condenado a pagar R$ 2 mil a um cliente por “falha na prestação de serviço’!
É que o homem foi a uma agência à noite, mas não conseguiu sair do caixa eletrônico. A porta travou e o cliente, que ficou duas horas preso, teve de ser resgatado pelos Bombeiros. A decisão é da 18? Câmara Cível do TJ do Rio.

São Paulo não aguenta mais - BARBARA GANCIA

FOLHA DE SP - 28/09


Em todo percurso, do Morumbi até minha casa, zumbis com sangue nos olhos cruzaram meu para-brisa



VOCÊ CONHECE minha treslouca­da amiga Bucicleide, não? Sempre acaba sobrando na minha direção quando ela está por perto. Deu-se que eu não queria ter me internado no cinema para ver o último Batman, mas, infelizmente, Buci, digo, Cleide, submeteu-me ao calvário em 4D -a quarta dimensão deve ser por conta da luz dos smart­phones que o pessoal insiste em manter ligados.

O Batman da minha geração tinha sabor tutti frutti e sacudia ao som de um teclado sapeca e uma guitar­rinha despretensiosa. O de hoje é um baixo-astral retumbante, uma antecipação não se sabe bem se do Jihad ou do Juízo Final, um paralelepípedo na orelha de quem queria apenas obter prazer de um block­buster com efeitos especiais.

E as respectivas Gotham Cities também não podem ser compara­das. Falo agora da vida real. É certo que as leis eleitorais e os usos e cos­tumes de hoje deixam muito pouco respiro. Se isso é justo, se faz bem à democracia, se faz amadurecer po­liticamente, eu não sei.

O que consigo fazer aqui de forma a não pôr os pés pelas mãos (depois do advento das redes sociais, ser hostilizada pelos perdigueiros da militância passou a fazer parte do meu dia a dia) é relatar ao leitor o que eu vi no último sábado, ao sair da festa de 50 anos de um amigo ar­quiteto, por volta das 4 horas da manhã, prosseguindo das imedia­ções da avenida São Valério, no Morumbi, até a rua Piauí, em Hi­gienópolis, para depositar no local uma amiga que estava visitando a cidade, e seguindo dali diretamen­te para casa, na região do Jardim Paulista.

Ninguém terá a cara de pau de di­zer que estou falando sobre o per­curso de cerca 40 minutos e 20 km por artimanha política, não é mes­mo? Pois na gestação de um trajeto entre o Morumbi e a minha casa vi os seguintes episódios (de levantar o Heath Ledger do túmulo) ocorrerem do lado de lá do para-brisa:
1) Na Nove de Julho, logo após a praça 14 Bis, no final do elevado (a pista local para o Bexiga estava interditada por obras) um sujeito esbofeteava uma moça.

2) Na rua Caio Prado, esquina com a rua da Consolação, uma guria abriu a porta do carro ao meu lado e vomitou (aparentemente) tudo o que havia ingerido desde 2010.

3) Já na volta de Higienópolis, na rua Santo Antônio, no Bexiga, um gru­po de rapazes, todos de boné (de­viam ser quatro) segurava um su­jeito da mesma idade -o camarada estava sem camisa e também de bo­né, o que indica que eram todos da mesma tribo. Mas a turma da maio­ria barulhenta enfiava as mãos no bolso do sem camisa que cambalea­va. A julgar pela estética dos movi­mentos, ritmo e compasso estava configurada ali uma dança do assal­to. Paulistano conhece seu bumba meu boi, né não?

4) Finalmente, descendo a Nove de Julho, passado o túnel Daher Cutait, avistei um car­ro da polícia atravessado na pista e tirei o pé do acelerador. Dei com um caminhão-guincho. Em cima dele havia o que parecia ser uma obra da Bienal. Ao cruzar o cami­nhão, percebi duas rodas no ferro retorcido e reconheci um carro. Na segunda-feira, soube que o moto­rista daquele veículo tinha atraves­sado o canteiro e batido no muro do outro lado morrendo no local.

Em todo o percurso, do Morumbi até a minha casa, zumbis com san­gue nos olhos cruzaram meu para-­brisa, vagando de não sei onde para lugar nenhum. Um espetáculo de­primente, muita hostilidade no ar, clima pré-incendiário. Isso na re­gião mais rica da cidade. Algo preci­sa mudar. A mentalidade malufista, o medo do novo, esse conservado­rismo do mal já deu. Este desastre precisa ter um fim.

Os gêmeos - IGOR GIELOW


FOLHA DE SP - 28/09


BRASÍLIA - Roberto Jefferson e José Dirceu são personagens de uma narrativa clássica, irmãos enlaçados num mesmo destino trágico. Pena que todo esse enredo rico de traições, confissões e gestos de incrível teatralidade nada tenha de sofisticação. Trata-se da mais pura "realpolitik" tropical. Não se tem tudo.

Ao longo de sete anos, ambos os "capos" partidários trocaram incontáveis farpas públicas e privadas.
Na primeira modalidade, o petebista foi imbatível. O seu "Sai daí rápido, Zé", antevendo a queda de Dirceu da Casa Civil de Lula, é um clássico da crônica política. Os melhores momentos dessa narrativa moralmente falida sempre foram seus.

Até por ser o homem que trouxe o mensalão à luz, na bombástica entrevista à Folha, Jefferson tendia a ser visto com alguma condescendência pelo público. Não ficou marcado no imaginário do caso como um vilão.
Mesmo cassado na Câmara, seguiu como mandachuva do seu PTB. Caíra, mas ficou longe do ostracismo total -de resto, também como Dirceu, que perdeu cargo e mandato, mas montou uma bem-sucedida carreira de "consultor" e manteve grande poder na máquina do PT.

Agora, Jefferson é um homem condenado pela maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Foi corrompido com milhões de reais. O corolário, apesar de todo o debate e das voltas que o mundo jurídico pode dar, é óbvio: e quem corrompeu?

Na próxima etapa, será a vez de Dirceu. Ele e outros membros da antiga cúpula do PT são acusados pela corrupção. Parece provável que eles também sejam condenados, enterrando de vez a retórica do chefe deles, Lula, de que o mensalão é uma farsa e o julgamento, uma forma de manchar seu legado.

O ato final da tragédia traz os dois protagonistas novamente ao centro do palco. Acabarão a história, enfim, Jefferson e Dirceu como gêmeos siameses, cobertos pelo mesmo manto pesado da condenação?

Censura em rede - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 28/09


Juízes atuam para limitar a liberdade de expressão, numa série de decisões intolerantes que merece repúdio, mas não pode deixar de ser cumprida



A maior ameaça à liberdade de expressão no Brasil, hoje, parte do Judiciário. Se alguém alimentava dúvida sobre essa situação espantosa, a detenção do diretor de um serviço de publicação de vídeos na rede mundial de computadores, por determinação da Justiça Eleitoral de Mato Grosso do Sul, se encarregou de desfazê-la.

O juiz eleitoral Flávio Saad Peron determinara a prisão porque não havia sido retirada do ar uma peça com ataques a um candidato a prefeito, exigência que se repete em dezenas de ações similares em 21 Estados. Como toda decisão judicial, era obrigatório cumpri-la, ainda que fosse imediatamente seguida de recurso à própria Justiça contra seu caráter abusivo.

No Amapá, a Justiça Eleitoral obrigou a empresa que edita o jornal "O Estado de S. Paulo" a suprimir comentário de blogueiro sobre um candidato local. Detalhe: sua nota informava que o postulante responde a várias ações penais.

E não é só na esfera eleitoral que o vezo censório se manifesta. Um juiz de São Paulo determinou que a mesma organização retire da rede em todo o Brasil o filmete que satiriza Maomé e provocou reações violentas em países muçulmanos.

Há outros episódios semelhantes, além de vetos quase sistemáticos à divulgação de pesquisas eleitorais que contrariem os interesses de algum candidato. E, já que se fala de Judiciário e censura, é oportuno lembrar que, devido a recorrentes proibições, biografias se tornaram um gênero literário ameaçado de extinção no país.

Admita-se: nem sempre é simples sopesar princípios constitucionais em choque e chegar a conclusões sobre casos concretos, missão mesma do Poder Judiciário. A julgar por uma série de decisões recentes, porém, muitos juízes parecem esquecidos de que a regra geral é a liberdade, e não o contrário.

É verdade que o problema não está só na Justiça, que adere a um movimento maior de intolerância e moralismo. Num lance quase humorístico, o deputado Protógenes Queiroz (PC do B-SP) queria elevar para 18 anos a classificação de um filme porque um urso de pelúcia aparece nele fumando maconha.

Até a Academia Brasileira de Letras, que deveria ser um bastião da liberdade de opinião, censurou há pouco a transmissão de uma palestra sobre história da arte e sexo.

É claro que a ABL, instituição privada, é livre para escolher o que vai exibir e parlamentares, para fazer de tudo a fim de aparecer -mas seria mais útil se usassem sua liberdade e seu poder para aprovar o Marco Civil da Internet, de maneira a clarificar de vez a questão da responsabilidade de veiculadores e autores nesse meio de difusão.

Quanto à Justiça, não pode haver dúvida: é imprescindível que magistrados, como guardiões da Constituição, adotem uma interpretação consistente das garantias da Carta para as liberdades de pensamento, expressão e imprensa e se abstenham definitivamente de qualquer forma de censura.

A quebra de sigilos pela Receita - EDITORIAL O GLOBO


O GLOBO - 28/09


Diante de reclamações sobre a carga tributária, Everardo Maciel, ex-secretário da Receita, costuma dizer que ela é razão direta das despesas públicas. Se governos decidem abrir os cofres, cabe à Receita tratar de financiar o máximo dos gastos pela coleta de impostos. Foi assim que, para financiar um volume de gastos crescentes, diversos governos, incluindo os da ditadura militar, montaram uma eficiente e insaciável máquina arrecadadora.

A capacidade de se criar e cobrar gravame no Brasil é extraordinária. Usam-se inclusive artifícios juridicamente polêmicos. Relatório da própria Receita obtido pelo GLOBO revela que, nos últimos 11 anos, o Erário rompeu mais de 80 mil sigilos bancários, para rastrear 16.142 contribuintes, em busca de evasões. E assim o Tesouro amealhou R$ 56 bilhões, alegadamente desviados por sonegadores. A cifra equivale a quase três programas Bolsa Família.

Mas há contestações a esta invasão de sigilos sem autorização judicial. No fim do ano passado, uma empresa (GVA Indústria e Comércio) recorreu, com êxito, ao Supremo Tribunal Federal, para reclamar do acesso a seus extratos bancários sem a autorização de um juiz. Há outras ações. Porém, o STF abordará de maneira abrangente a questão quando julgar a ação de declaração de inconstitucionalidade (Adin) impetrada contra esta prática da Receita pelo Partido Social Liberal (PSL), confederações Nacional da Indústria (CNI) e do Comércio (CNC), e PTB. O governo, por meio da Advocacia-Geral da União (AGU), se baseia em leis e na Constituição na defesa da tese de que o acesso a informações bancárias pelo Estado, necessárias para efeito de fiscalização, não configura quebra de sigilo, preservado pela Receita.

O assunto é mesmo complexo, porque o Estado não pode ser impedido de vigiar o fluxo de dinheiro na economia, única maneira eficaz de detectar evasões, a atuação do crime organizado e indícios de corrupção, por exemplo. Mas é verdade, também, que, historicamente, o Estado brasileiro tende a tutelar a sociedade e a desrespeitar direitos civis fundamentais. Sintomático que haja tanta resistência, em certas áreas da burocracia pública, a aceitar a Lei de Acesso à Informação.

Além disso, vive-se num mundo digitalizado em que há enorme e crescente capacidade de armazenamento de informações sobre o cidadão por parte do Estado. A integração desses bancos de dados, aos quais poucos servidores públicos têm acesso, é algo preocupante do ponto de vista dos riscos à privacidade.

Parece possível conciliar com os direitos civis a acertada preocupação de agentes públicos em preservar o poder de fiscalização do Estado. Um bom exemplo é o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), informado sempre que há movimentações financeiras volumosas. O julgamento da Adin servirá para a delimitação de espaços entre interesses do Estado e as prerrogativas da sociedade.

Pontos divergentes - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 28/09


Lavagem de dinheiro e formação de quadrilha são os dois pontos que dominaram a atenção dos juízes do Supremo Tribunal Federal neste 29º dia de julgamento do processo do mensalão, pontos que podem ser decisivos na definição final sobre o núcleo político petista, acusado de comandar o esquema criminoso, especialmente o ex-ministro José Dirceu, definido como o "chefe da quadrilha" pelo Ministério Público.

As ministras Cármen Lúcia e Rosa Weber, por enquanto em minoria nesse item, abriram divergência com o relator e o revisor afirmando que não houve formação de quadrilha no esquema do mensalão. Ambas alegaram em seus votos que a formação de quadrilha ou bando se define pela associação permanente para a prática de crimes. Para Rosa Weber , o que caracteriza esse tipo de crime "não é a perturbação da paz pública em si", mas a decisão "de sobreviver à base dos produtos auferidos em ações criminosas indistintas".

Acompanhando a divergência, a ministra Cármen Lúcia disse que o que caracteriza o crime de quadrilha é a prática de "crimes em geral, o que não vislumbrei". Para ela, a acusação do Ministério Público de que o esquema previa "pequenas quadrilhas com outras quadrilhas" não convence, e o que houve foi "reunião de pessoas para práticas criminosas, mas para atender a vantagens especificas de alguns réus, e não para atingir a paz social".

Por essa definição do que seja "formação de quadrilha", é de se supor que as duas ministras verão da mesma forma a acusação contra o núcleo político do PT nesse ponto específico. Esse crime, porém, tem penas pequenas, de 1 a 3 anos, e sua inexistência eventual não deve influenciar muito na condenação final dos réus considerados culpados.

Mas, se for vencedora, essa tese fará perder força a acusação inicial da Procuradoria-Geral da República, que define José Dirceu como o "chefe da quadrilha", embora nada impeça que os membros do núcleo político sejam considerados responsáveis pela corrupção ativa dos parlamentares, em regime de coautoria, e não de quadrilha.

Haverá também a redução da carga política pejorativa que a expressão "chefe da quadrilha" faz o ex-ministro José Dirceu carregar.

A outra causa de controvérsias no Supremo tem sido a lavagem de dinheiro, embora o único caso em que houve placar apertado tenha sido o do deputado federal João Paulo Cunha, condenado por 6 a 5.

Nos demais resultados, não houve um mínimo de quatro votos absolutórios até o momento para abrir caminho a embargos infringentes que, em tese, podem provocar um novo julgamento pelo próprio STF.

A discussão entre os ministros é sobre se a condenação por corrupção passiva já engloba o ato de esconder o dinheiro, perfazendo um crime só, ou se a tentativa de ocultar a propina caracteriza uma lavagem de dinheiro.

Alguns casos foram fáceis de definir, quando o réu enviou alguém em seu lugar para receber o montante ou se utilizou mecanismos financeiros para escamotear esse dinheiro, como nos casos do uso das corretoras Bonus Banval ou Garanhuns, em que houve concordância sobre a caracterização de lavagem de dinheiro. Mas houve questionamentos também sobre se determinado réu tinha noção de que a origem daquele dinheiro era ilegal, fato básico para haver a intenção de lavar o dinheiro.

Embora pareça improvável que qualquer um dos envolvidos num esquema dessa dimensão não soubesse que estava envolvido em uma tramoia, houve ministros que, em dúvida, votaram a favor da absolvição do réu.

Mesmo que atitudes como essas irritem o relator Joaquim Barbosa, são elas que definem a independência do Supremo. Mesmo as discussões mais evitáveis estão servindo para demonstrar que ali naquele colegiado cada cabeça é uma sentença, e todos têm a liberdade de discordar. Essas divergências de entendimento sobre a caracterização de crimes fazem com que os resultados de 10 a 0 ou 8 a 2 na condenação dos réus, como tem acontecido com frequência durante este julgamento, sejam fruto de um consenso nascido da jurisprudência da Corte, o que faz com que as críticas eventuais percam a força diante de maioria tão acachapante.

Esses placares tão definitivos servem também para evitar embargos infringentes, que poderiam retardar a execução das eventuais penas aos réus.

Liberdade ameaçada - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 28/09


Será "o fim das calúnias", anunciou a presidente argentina, Cristina Kirchner, referindo-se à última investida contra o grupo que edita o jornal "Clarín", notabilizado por uma linha crítica a seu governo.

A presidente marcou a data de 7 de dezembro para "desinvestir" o grupo de parte das concessões de rádio e TV sob seu controle. Trata-se, em tese, de aplicar uma lei, aprovada em 2009, destinada a coibir a excessiva concentração no setor de telecomunicações.

Sem dúvida, admitem-se mecanismos contra a monopolização de meios de comunicação nos países democráticos. Nos EUA, onde a liberdade de expressão é tradição bem mais sólida do que nos países latino-americanos, procura-se diversificar a oferta de informação e entretenimento aos cidadãos.

Sob pretexto antimonopolista, todavia, é bem diferente o que ocorre na Argentina. A própria frase da presidente sobre as "calúnias" de que estaria sendo vítima já desmascara seu intento. O "Clarín" tem tido papel decisivo em revelar escândalos no governo.

Não por outra razão o jornal se viu invadido por fiscais da receita argentina (a exemplo do que se fez contra a Folha nos primeiros dias do governo Fernando Collor). A proprietária do "Clarín" foi acusada, enquanto isso, de adotar ilicitamente duas crianças, supostamente filhas de vítimas da ditadura militar; exames de DNA provaram que a denúncia era improcedente.

Não é nesse clima que o recurso a uma lei de telecomunicações contra um grupo de mídia surge como mecanismo democrático, isento e insuspeito. Ao contrário, procura-se com a lei atingir retroativamente concessões renovadas pelo governo anterior -a saber, o de Néstor Kirchner, falecido cônjuge da atual presidente.

Corre ainda processo na corte constitucional argentina, no qual se contesta o prazo dado para a venda das emissoras do grupo. Cristina Kirchner não esperou a decisão do tribunal, entretanto, para anunciar em rede oficial a data de seu ultimato.

Seguindo o que, com igual ou maior desplante, vem sendo feito por Hugo Chávez na Venezuela, o governo argentino utiliza-se de meios econômicos e legislativos para um objetivo que, na essência, é o mesmo: sufocar todo tipo de crítica.

O remédio como doença - NELSON MOTTA


O Estado de S.Paulo - 28/09


Nos velhos romances de ficção científica uma das grandes fantasias era a criação de drogas sintéticas para tudo, não só para hibernar durante meses em viagens espaciais, mas para aprender, esquecer, lembrar, garantindo a satisfação instantânea das necessidades e vontades do freguês. Como os ficcionistas ainda não conheciam as teorias e patologias das dependências químicas, não imaginavam que esse futurismo farmacológico levaria a uma sociedade de drogados.

O futuro chegou com o relatório da Junta Internacional de Fiscalização a Entorpecentes da ONU: o uso abusivo de remédios tarja preta cresce rapidamente no mundo todo, e o número de viciados em medicamentos já supera o de usuários de cocaína, heroína e ecstasy juntos. Só nos Estados Unidos são mais de 6 milhões de dependentes de analgésicos, tranquilizantes, anfetaminas e antidepressivos. Michael Jackson é a sua mais famosa vítima.

Não sentir dor, olvidar memórias sofridas, controlar a ansiedade, a depressão, o medo, buscar por todos os meios o bem estar, a alegria, o prazer, ou simplesmente dormir, são anseios ancestrais da humanidade que a química moderna tornou acessíveis, ou quase, a todos. Hoje as farmácias virtuais vendem remédios roubados ou falsificados para qualquer um, como se fossem vitaminas. Em muitos países, receitas médicas são moeda corrente, fora de qualquer controle.

Os remédios viraram uma doença da sociedade moderna. A mesma droga que cura, em excesso, mata. No Brasil, os dados são nebulosos, mas pela quantidade assombrosa de farmácias espalhadas pelo País desconfia-se que por aqui a coisa esteja preta como uma tarja. Mais do que a repressão quase impossível, faltam educação e informação pública e privada sobre o uso e abuso de remédios, que está fazendo mais vítimas do que as drogas ilegais.

Mas nem tudo está perdido para os velhos leitores de ficção científica. Para eles, a melhor surpresa, que nem os autores mais visionários profetizaram, é a pílula da potência sexual. Alguns até imaginavam futuras drogas eróticas e afrodisíacas, mas ninguém pensava nesse pequeno, ou grande, detalhe básico.

Casa própria - SONIA RACY


O ESTADÃO - 28/09

A CET transferiu sua folha de pagamento, com mais de 4 mil funcionários, do Itaú para a CEF – o que rendeu à companhia R$ 15,4 milhões.

A empresa vai usar o dinheiro para comprar o prédio que abriga sua sede administrativa. E deixará de pagar aluguel de R$ 70 mil mensais.

O edifício, no centro de SP, tem 14 andares e 5,8 mil m².

À vista
André Esteves conversa com a Universidade de Harvard para fazer grande contribuição.

Pink
Está na PNAD. As mulheres continuam sendo maioria na internet. Mas, pela primeira vez, viraram o jogo na faixa etária em que perdiam para os homens: 50 anos ou mais. Agora, 51% dos usuários dessa idade são do sexo feminino.

Para a ministra Eleonora Menicucci, da Secretaria de Políticas para as Mulheres, os números derrubam dois mitos: a dificuldade que elas teriam para lidar com tecnologia e a resistência em relação à web.

Tapa na casa
O MinC liberou captação, via leis de incentivo, de mais de R$ 2 milhões para manutenção do Teatro Shopping Frei Caneca.

A verba será utilizada para incrementar a infraestrutura – o que inclui equipamentos, camarins, palco e plateia.
De olho

Aeronave elétrica criada por estudantes do ITA é testada pela PM em Pernambuco. Munida de câmeras, tem como missão monitorar o público de grandes eventos – como a Copa.

O aparelho deve ser enviado às demais cidades-sede do Mundial de 2014 até o fim do ano.

Jogo jogado
Depois de receber Chalita e Russomanno, a diretoria do Palmeiras marcou encontro com…Soninha. Na quarta-feira, a candidata visitará as obras da Arena Palestra.

Milagreiros
O São Paulo deu de ombros para a declaração de Luis Alvaro sobre uma possível “contusão incurável” de Ganso.

Os médicos do Tricolor confiam que seu departamento recupera qualquer jogador.
Galã aos 66
José de Abreu, o Nilo de Avenida Brasil, virou rockstar. É cercado por funcionários da Globo ao final das gravações.

“Querem tirar foto, pedir autógrafo, um barato!”, comentou o ator à coluna.

Cada cabeça…

Joaquim Barbosa tem dito a amigos que, independentemente do resultado da discussão sobre lavagem de dinheiro no mensalão, o crime é uma “praga” que contamina o mundo. E que deve ser combatida ferrenhamente.

…uma sentença
Já Marco Aurélio Mello declara que o STF precisa “marchar com segurança” ao discutir a questão.

Por tratar-se da última instância da Justiça brasileira, opina, não cabe implementar algo parecido a uma “fúria punitiva”.

Vip
O Masp se prepara para receber, em dezembro, Mulher de Azul Lendo uma Carta, quadro pintado por Johannes Vermeerem 1664.

O museu separou uma sala especial só para a obra do holandês, também célebre por seu Moça com Brinco de Pérola.

Te cuida, Michelle
Conhecida pelo estilo mais conservador, Ann Romney deixou de lado seus blazers e cardigãs de botão baixo e apareceu, terça-feira, no Tonight Show, de Jay Leno, com minissaia de couro e coletinho rendado.

Aos 63 anos e avó de 18 netos, mostrou-se em ótima forma.

Sobre diferenças
Faltam 40 dias para a eleição norte-americana e Obama deve ganhar “pela margem”, apostou Al Gore, anteontem, durante almoço fechado para cerca de 20 usineiros e empresários do agribusiness, no Grand Hyatt, em São Paulo.

No Brasil para participar do Global Agribusiness Forum, montado pela empresa XYZ e pelo consultor Plínio Nastari, o ex-vice-presidente dos Estados Unidos destacou a vantagem de Obama em estados como Ohio: “Ele está oito pontos à frente de Mitt Romney por lá e ninguém, na história dos EUA, venceu a eleição sem liderar no estado”, justificou o democrata.

O que muda nas relações entre Brasil e Estados Unidos caso Romney seja eleito? “Não sei. E se você perguntar a ele, não vai te responder, porque também não sabe”, sentenciou o vice de Bill Clinton.

Obama sinalizou com mudanças em relação à América Latina? “Esse assunto não chegou à campanha. Mas, pessoalmente, não acredito em grandes mudanças na política externa se ele for reeleito.” Nem para o Oriente Médio? “Olha, estou no Brasil e não vou falar sobre esse assunto.”

No cenário global, Al Gore mostrou preocupação com o desaquecimento da economia na China e com as dificuldades da Índia em relação à infraestrutura e à corrupção.

E o Brasil, como o senhor vê?

“Vocês são a nova aposta do mundo.” Mas qual a diferença entre a situação indiana e a brasileira? Afinal, aqui também temos corrupção e falta infraestrutura… Visivelmente incomodado, o defensor da sustentabilidade no mundo, que cobrou US$ 250 mil para passar pelo fórum de Sampa, saiu-se com… “um bilhão de habitantes”. Provocou risos entre os presentes.

Na frente
Raquel Arnaud e Luciana Brito estão agitadas. Suas galerias representarão o Brasil na Fiac, Feira Internacional de Arte Contemporânea de Paris. Em outubro, no Grand Palais.

O Instituto Olga Kos de Inclusão Cultural lança, dia 4, o livro Yutaka Toyota– a Leveza da Matéria, de Jacob Klintowitz. Na Cinemateca.

Phyllis Lei Furumoto, grã-mestre de reiki americana está no Brasil para uma série de encontros, no fim de semana, com lideranças e praticantes da técnica de cura japonesa.

Pouco antes de embarcar em Congonhas, leitor da coluna passou na Laselva. E ficou estarrecido com o número de livros sobre… desastres aéreos nas prateleiras.

Orgia - FERNANDA TORRES

FOLHA DE SP - 28/09



A travessia africana de Carl G. Jung, narrada no livro "Memórias, Sonhos, Reflexões", termina com um exótico embate diplomático no Sudão profundo. Partindo de Mombaça, no Quênia, em direção à nascente do Nilo, a expedição cruza as terras altas dos Massais até atingir o território "dos pretos mais pretos que já conheci", segundo as palavras do psicanalista.

Cansados, os viajantes se preparam para dormir, quando são surpreendidos por uma dezena de guerreiros armados de lanças. Com medo de um ataque, Jung e os outros trocam oferendas e veem o grupo se retirar. Já na vigília, o suíço escuta uma violenta algazarra do lado de fora da barraca.

São os guerreiros que retornam acompanhados do restante da tribo. Animados, erguem uma imensa fogueira e se dividem em dois círculos, o das mulheres por dentro e o dos homens por fora, e se põem a dançar freneticamente em torno do fogo.

Aliviados com a recepção amigável, os europeus assistem pasmos à cerimônia imemorial que se estende pela madrugada. Jung comunga do transe nativo, grita, rebola, bebe e roda o chicote, até que, vencido pelo cansaço, sugere, com tato, uma retirada ao chefe. Mas o cacique responde que não, que eles querem dançar mais, e manda acelerar o batuque. Outra hora de catarse e nada do suado festejo ter fim.

Desesperado de sono, Jung, entre o sério e o jocoso, ordena com voz de lobo mau que a balbúrdia termine. E arrisca estalar o chicote, em uma exibição de força digna de um babuíno enraivecido. Surpresos com a atitude do estranho, os africanos estancam. Jung receia tê-los ofendido, mas uma gargalhada geral reverbera na selva e os faz retomar o incontrolável rito. Já sem humor, o branco repete enfático a sua pantomima de insatisfação. O líder, finalmente, entende o recado e comanda a debandada.

O som longínquo da orgia ressoa até a tarde do dia seguinte.

Lembrei-me do causo ao adentrar a Art Rio, feira de arte contemporânea que aconteceu no Rio de Janeiro em meados de setembro.

Sempre gostei de passar as tardes em museus, de ir aos ateliês dos amigos, às galerias e bienais, mas jamais havia estado em uma feira de arte. Ao contrário dos exemplos anteriores, todos filtrados por um olhar, seja o do curador, do galerista ou do próprio artista, na feira, cabe a você separar o que é arte do que é excesso.

O domingão de sol com as crianças, somado ao calor abafado e à extensão da mostra, proporcionaram uma visão distorcida do evento. Os estandes, com divisórias repletas de desenhos, esculturas, pinturas, instalações e vídeos, todos à venda, pareciam uma feira de adoção de animais em surto coletivo semelhante ao dos sudaneses de Jung.

As sessões privadas para colecionadores, razão primeira da iniciativa, devem ter causado outra impressão. O real forte e a falta de dinheiro no Primeiro Mundo merecem ser capitalizados, temos que compensar o exílio do "Abaporu", mas em meio a tanto de tudo: tanta gente, tanta obra, tanta expressão por metro quadrado, Di Cavalcanti, Mourão, Koons e Barrão se equivaliam pelos cantos.

A instalação do Ernesto Neto na Estação da Leopoldina, onde passei com a família antes de me dirigir ao mercado --um intestino rugoso que digere visitantes a dez metros de altura-- essa sim, me trouxe contemplação. A feira, não, a feira me deu angústia.

Dentre todas as manifestações artísticas, as artes plásticas são as que melhor se adaptaram aos valores atuais, tão ligados à economia e às massas. O teatro, a literatura, o cinema e a música ainda permanecem órfãos do século 20.

Com vantajosa liquidez, as artes plásticas se transformaram em um fenômeno popular comparável à culinária, à moda e à decoração. O luxo para todos. E fez isso sem perder o caráter íntimo de seus artistas. Mesmo amontoados, Moore, Hirst, Tarsila e Varejão resistiam sendo Moore, Hirst, Tarsila e Varejão.

Apesar da voracidade e do cheiro de bolha inflacionária da quermesse dominical, comemorei a boa fase da arte no Brasil. Mas tive vontade de rodar o chicote e gritar: "Comprem tudo de uma vez e, pelo amor de Deus, levem essas pobres obras para casa!".

GOSTOSA


O humor negro do BC - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 28/09



A economia vai mal, a recuperação será lenta e os juros poderão continuar sem aumento até o fim do próximo ano, segundo as novas previsões e indicações do Banco Central (BC) em seu relatório trimestral de inflação. O crescimento econômico estimado para este ano caiu de 2,5% para 1,6%. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, classificou como piada a previsão de 1,5% divulgada em julho pelo banco Crédit Suisse. Se ele estiver certo, os economistas do BC parecem ter ingressado com grande entusiasmo na carreira de humoristas. Em junho do próximo ano a expansão acumulada em 12 meses ainda estará em 3,3%, segundo as projeções divulgadas nesta quinta-feira. Se forem confirmados cenários tão ruins para o Brasil e também para o exterior, dificilmente haverá novo aumento de juros até o fim de 2o13. Embora implícita, essa promessa parece bastante clara no documento e essa foi, também, a interpretação de economistas consultados pela imprensa. Se não surgir nenhuma surpresa, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, responsável pela política de juros, atenderá ao desejo manifestado pela presidente Dilma Rousseff e pelo ministro Mantega.

Mas o tom do relatório tende para o humor negro, talvez involuntariamente. A inflação, segundo o pessoal do BC, continuará convergindo para o centro da meta - 4,5% -, mas com desvios. A taxa anual, no cenário de referência, estará em 4,6% no terceiro trimestre de 2013 e voltará a 5,1% no segundo trimestre do ano seguinte. De toda forma, continuará dentro da margem de tolerância (o teto é 6,5%).

Essa previsão está condicionada ao recuo dos preços internacionais das commodities e a um crescimento econômico moderado no Brasil. Se o Brasil e alguns outros países colherem o suficiente para compensar a quebra da safra americana, as cotações agrícolas poderão recuar, mas isso também dependerá, provavelmente, do esfriamento da economia chinesa. Preços agrícolas menores podem ser bons para conter a inflação, mas são sempre ruins para as contas externas. Quanto ao crescimento brasileiro, a ideia é óbvia: um resultado muito melhor que o esperado pressionará a inflação, admitiu o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo.

A previsão de inflação abaixo do teto é o único detalhe mais ou menos róseo. A projeção de crescimento industrial é menor que a divulgada na quinta-feira pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Segundo a Confederação, a produção geral da indústria deve ficar estagnada em 2012. A indústria de transformação deve produzir 1,9% menos que em 2011. Nas contas do BC, o produto da indústria geral encolherá 0,1% e o do setor de transformação diminuirá 2,2%.

Pelas projeções do BC, o consumo continuará crescendo, neste ano e no próximo, mais rapidamente que a produção das fábricas. O investimento industrial tem sido insuficiente, segundo o relatório. A diferença entre o consumo, turbinado pela renda e pelo crédito, e a capacidade de resposta do setor produtivo resultará, naturalmente, em erosão da conta de comércio. Essa tendência tem sido clara há mais de um ano e deve continuar, segundo as projeções do BC. As novas estimativas indicam para 2012 uma receita de exportações 3,1% menor que a do ano passado e uma despesa com importações 1,7% maior. O complemento perfeito para esses números está no Informe Conjuntural da CNI: há limites para o modelo de crescimento pela expansão do consumo e por medidas anticíclicas. É preciso reforçar o investimento e aumentar a produtividade. Medidas na direção certa apenas começaram e seus primeiros resultados só deverão aparecer a partir do próximo ano.

Pelas estimativas do BC, o investimento em máquinas, equipamentos e construções continuará baixo em 2013. Para este ano, a estimativa é de uma redução de 2,2%. Para os 12 meses até o segundo trimestre do próximo ano, a expectativa é de um aumento de apenas 1,4%, insuficiente para compensar a queda.

Quanto às finanças públicas, são expansionistas, segundo o relatório, mas o BC ainda aposta no cumprimento da meta fiscal, embora sem mencionar o valor do superávit primário. Se os gastos desandarem, como ficará a política de redução de juros?

Notícias boas, mas nem tanto - RODOLFO LANDIM


FOLHA DE SP - 28/09

A sustentação de taxas de crescimento em níveis razoáveis somente virá com pesados investimentos

Os principais indicadores econômicos brasileiros divulgados nas últimas semanas nos dão a expectativa de que deveremos ter tempos melhores nos próximos meses.

Porém, a sustentação de taxas de crescimento em níveis razoáveis para um país como o Brasil ao longo dos próximos anos somente virá com pesados investimentos, desafio que enfrenta alguns obstáculos que parecem muito difíceis de serem vencidos.

Há algumas semanas assistimos ao anúncio de medidas de estímulo à economia envolvendo a implantação e a modernização da malha logística brasileira.

A iniciativa tem como objetivo promover investimento, reduzir custos, ampliar a capacidade de transporte e aumentar a competitividade através de um pacote de concessões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. A notícia chegou em boa hora e com foco em um ponto nevrálgico, mas parece que não será tão fácil transformar a intenção em realidade.

licenciamento ambiental é hoje uma ameaça constante aos projetos de infraestrutura, já que não só retarda a sua implantação, devido aos atrasos na concessão das licenças, como gera incertezas jurídicas que perduram por toda a vida do projeto.

Por exemplo, tivemos recentemente a notícia de que a Justiça Federal determinou que fosse suspensa a instalação de novos empreendimentos hidrelétricos na bacia do Alto Paraguai, que abrange Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, mesmo tendo sido esses analisados e aprovados pelo órgão competente.

E mais, disse que as usinas já em operação poderão não ter suas licenças renovadas no futuro. Vivemos um tempo em que em nome do ambiente tudo é permitido travar.

Também parece não estarem totalmente definidos os modelos de participação do setor privado nos processos de promoção do desenvolvimento de infraestrutura.

A percepção é a de que, sempre que possível, a escolha recairá sobre a forte presença do Estado não só como indutor de desenvolvimento, mas também através de participação significativa de empresas estatais no controle, gestão e operação dos projetos.

Mas à medida que o tempo vai passando, fica evidente a dificuldade de implantação desse modelo, seja por necessidade de maior agilidade, algo muito pouco provável de se conseguir com todas as amarras e limitações de estrutura a que está submetido o setor público, ou pela escassez de recursos. Abre-se assim espaço para o aumento da participação privada, mas não sem eventuais recaídas, como no caso dos aeroportos do Galeão e Confins.

Outra notícia aparentemente positiva foi dada na última semana pelo ministro de Minas e Energia. Em meio à realização do Congresso Brasileiro de Petróleo, foi anunciada para maio do próximo ano a 11ª rodada de licitações. Só não dá para comemorar muito porque desde abril do ano passado, quando o CNPE aprovou as áreas que poderão participar da 11ª rodada, o que a rigor permitiria a imediata convocação do leilão e sua realização em quatro meses, ela já foi "anunciada" e adiada por diversas vezes.

Na realidade, tudo ainda parece estar politicamente condicionado à aprovação do novo marco regulatório do setor para o pré-sal no Congresso Nacional. No entanto, é importante ressaltar que existe um marco regulatório vigente para contratos de concessão, aplicável para toda a 11ª rodada, a qual não possui blocos na área do pré-sal, e que poderia ser utilizado independentemente das discussões que já levam anos no Congresso.

A verdade é que apesar de terem ocorrido avanços incontestáveis na gestão da máquina pública nos últimos tempos, os quais são reconhecidos pela sociedade, aos poucos vai se criando a sensação de que o país será estrangulado pela sua incapacidade de vencer os desafios para investir em áreas críticas para o seu desenvolvimento.

Mais do que perder tempo na busca de soluções perfeitas que atendam os modelos concebidos nos seus mínimos detalhes, é necessário avançar com a grandeza e o sentimento de urgência que a situação requer. O Brasil precisa mostrar que ainda é o país do futuro.

O PT na hora do lobo - FERNANDO GABEIRA


O ESTADÃO - 28/09

A Hora do Lobo é um filme de Ingmar Bergman. Os antigos a chamavam assim porque é a hora em que a maioria das pessoas morre... e a maioria nasce. Nessa hora os pesadelos nos invadem, como o fizeram com o personagem Johan Borg, interpretado por Max von Sydow.

Como projeto destinado a mudar a cultura política do País,o PT fracassou no início de 2003. Para mim, que desejava uma trajetória renovadora, o PT sobrevive como um fósforo frio. Entretanto, na realidade, é uma força indiscutível. Detém o poder central, ocupou a máquina do Estado, criou um razoável aparato de propaganda e parece que o dinheiro chove em sua horta com a regularidade das chuvas vespertinas na floresta amazônica. Mas o PT está diante de um novo momento que poderia levá-lo a uma crise existencial, como o personagem de Bergman, atormentado pelos pesadelos. Pode também empurrá-lo mais ainda para o pragmatismo que cavou o abismo entre as propostas do passado e a realidade do presente.

O PT sempre usou duas táticas combinadas para enfrentar as denúncias de corrupção. A primeira é enfatizar seu objetivo: uma política social que distribui renda e reduz as grandes desigualdades nacionais. Diante dessa equação que enfatiza os fins e relativiza os meios, alguns quadros chegam a desprezar as críticas, atribuindo-as às obsessões da classe média, etiquetando- as como um comportamento da velha UDN, partido marcado pela oposição a Getúlio Vargas e pela proximidade com o golpe que derrubou João Goulart. A segunda é criar uma versão corrigida para os fatos negativos, certo de que a opinião pública ficará perdida na guerra de versões. Esta tática é a que enfatiza o desprezo da política moderna pelas evidências, como se o confronto fosse uma guerra em que a verdade é vitimada por ambos os lados.

Acontece que essa fuga das evidências encontra seu teste máximo no julgamento do mensalão. O ministro Joaquim Barbosa apresenta as acusações com grande riqueza de detalhes. As teses corrigidas foram sendo atropeladas pelos fatos. Não era dinheiro público? Ficou claro que sim, era dinheiro público circulando no mensalão. Ninguém comprou ninguém, eram apenas empréstimos entre aliados. Teses que se tornam risíveis diante da origem e do volume do dinheiro. O PT salvando o PP de José Janene, Pedro Correa e Pedro Henry da fúria dos credores?

O relatório de Joaquim Barbosa apresenta o mensalão como uma evidência reconhecida pela maioria do Supremo, dos órgãos de comunicação e dos brasileiros. Como ficará a tática do PT diante dessa realidade? Negar a evidência? É um tipo de reação que, mesmo em tempo de prosperidade econômica, não funciona quando os fatos são inequívocos.

Ao longo de minhas viagens observei que o mensalão não havia afetado as eleições municipais. Mas o processo está em curso. Algumas cidades já estão afetadas, como São Paulo e Curitiba. Nesta ocorre algo bastante irônico: o candidato Gustavo Fruet (PDT) é acusado de ter o apoio do PT e por isso perde votos. Fruet foi um dos deputados que investigaram o mensalão na CPI dos Correios.

A reação do PT diante da possível condenação de seus líderes vai ser decisiva. Encontrará forças para reconhecer seu erro, aceitar o julgamento do STF e iniciar um processo de autocrítica? Tudo indica que não. A teoria conspiratória domina suas declarações. O mensalão foi uma invenção da mídia golpista, dizem alguns. Na nota dos partidos aliados, que deviam ser chamados de partidos submissos, acusa-se uma manobra da oposição, como se tudo isso tivesse sido construído por ela, que descansa em berço esplêndido.

Numa entrevista raivosa, um dos réus, Paulo Rocha (PT-PA), alega que as denúncias do mensalão ocorrem porque Lula abriu o mercado brasileiro aos países árabes. A tese conspiratória é tão clássica que os judeus não poderiam ser esquecidos

O ex-presidente Lula parece viver realmente a hora do lobo.Percorre o Brasil atacando adversários e diz que, tal como venceu o câncer, vai derrotar os candidatos de oposição. Se o ressentimento e o rancor brotam com tanta facilidade dos lábios do líder máximo, o que esperar do exército virtual de combatentes pagos para atirar pedras?

Este é um momento crítico na história do PT. Deve contestar estas evidências com a mesma eloquência com que contestou outras. Mas as de agora são transmitidas ao vivo, foram submetidas ao exame de ministros do Supremo, estão coalhadas de fatos, depoimentos, provas.

Ao contestar as evidências o PT não inventa um caminho. Paulo Maluf foi acusado durante anos de desviar dinheiro para o exterior e sempre negou. A condenação e a eventual prisão de líderes não afastam o PT do poder, mas transformam o encontro nos jardins da casa de Maluf em algo mais que uma simples oportunidade fotográfica. O PT não só verteu milhões para os caixas do partido Maluf, como aceitará a tática malufista de negar as evidências, mesmo quando são esmagadoras.

Em defesa de Maluf pode-se dizer que ele nunca prometeu a renovação ética da política brasileira.Usa apenas um mesmo e fiel assessor de imprensa para rebater críticas nos espaços de cartas de leitores. Descendente de árabes, Maluf jamais, ao que me consta, culpou uma conspiração sionista por sua desgraça. Sempre foi o Maluf apenas,sem maiores mistificações.

Montado numa máquina publicitária, apoiado por uma miríade de intelectuais, orientado por competentes marqueteiros, o PT viverá em escala partidária a aventura individual de Maluf: negar as evidências. Até o momento nada indica que assumirá a realidade. Seu caminho deve ser negar, negar,como o marido infiel nas peças de Nelson Rodrigues - por sinal, o inventor da expressão "óbvio ululante".

O mensalão não é um cadáver no armário, invenção de opositores ou da imprensa. Nasceu, cresceu e implodiu nas entranhas do governo. É difícil sentar se em cima dos fatos. Ele são como uma baioneta: espetam.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 28/09


Com crise e controle cambial, Argentina envia menos turistas ao Brasil neste ano
Com controle de divisas e inflação oficial na casa dos 10%, apesar de economistas independentes dizerem que chega aos 20%, a Argentina não deve enviar tantos turistas para o Brasil neste verão.

Para segurar dólares no país e equilibrar as contas, o governo argentino proibiu a compra de moeda estrangeira com a finalidade de poupar. Quem quer ir ao exterior precisa comprovar a viagem com passagem e só pode adquirir a moeda do país de destino.

Em Florianópolis, cidade brasileira que mais recebe argentinos, estima-se que haverá uma queda de 50% no número de visitantes do país vizinho, segundo a Abih-SC (associação da indústria de hotéis de Santa Catarina).

"Neste mês, a taxa de reservas já caiu pela metade", diz o presidente da entidade, João Eduardo Moritz.

A Acif (associação comercial da cidade) planeja ações publicitárias reforçadas em Buenos Aires para tentar amenizar a situação.

Segundo destino mais procurado pelos argentinos, Foz do Iguaçu registra queda desde julho. "Foi uma redução brusca. Cerca de 40%", diz o presidente do Sindihotéis (sindicato hoteleiro da cidade), Carlos Antônio da Silva.

O Rio de Janeiro é a única cidade que não deve ser afetada, pois turistas de outros países substituem os argentinos. "Com o real mais fraco, os europeus estão retornando", diz o presidente do grupo BHG, Peter Vader.

De acordo com a Abih-RJ, Búzios deverá ser afetada.

TEMPORÁRIO
Os valores recolhidos para o pagamento de INSS no setor de trabalho temporário ficaram em aproximadamente R$ 1,99 bilhão em 2011, segundo pesquisa que será divulgada hoje pelo Sindeprestem e pela Asserttem (entidades do setor).

Na terceirização, o recolhimento foi de R$ 1,94 bilhão.

A prestação de serviços especializados e o trabalho temporário empregam no Brasil, juntos, mais de 2 milhões de trabalhadores formais, de acordo com o levantamento da entidade.

SOM NA CAIXA
Os valores movimentados em sonorização no comércio cresceram no Brasil nos últimos anos, segundo o Ecad (escritório de arrecadação e distribuição de direitos autorais).

A música reproduzida é cobrada por metro quadrado.

O grupo geral, que envolve de hotéis a lojas, arrecadou mais de R$ 150 milhões em 2011. O número sobe 11,5% neste ano.

No segmento que abrange as redes, como os grandes supermercados ou marcas como Boticário ou Ellus, o avanço é mais acentuado (18,7%).

"Músicas agitadas funcionam onde se quer circulação rápida dos clientes, como em fast-foods", diz Márcio Fernandes, do Ecad.

A trilha sonora é adequada ao perfil da marca. Na Ellus, "gira em torno do rock", diz Adriana Bozon, diretora da empresa.

O uso de um sistema integrado ajuda na padronização de franquias, segundo Lindolfo Leopoldo Martin, da rede Multicoisas. A empresa centralizou há dois anos.

Algumas redes optam por não pagar tais taxas pela execução de músicas. Isso é possível pelo pagamento a determinados artistas, fora da lista do Ecad. A europeia Jamendo, empresa de conteúdo musical livre na internet, fez parceria com a brasileira Instore, produtora de rádio e TV.

"O repertório é outro, mas o valor pode cair por meio desse licenciamento", diz Vladimir Batalha, da Instore.

Dois anos de PIB magro - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 28/09

Quem acompanha o cotidiano da economia já sabia que o Banco Central iria reduzir novamente a previsão de crescimento. A queda foi para 1,6%. Em março, a previsão era 3,5%, em junho, foi a 2,5%. Meses atrás, quando os economistas do Credit Suisse divulgaram que seria 1,5%, o ministro Guido Mantega rebateu dizendo que aquela projeção era uma piada. Antes fosse.

O quadro que sai do Relatório de Inflação é o de um crescimento murchando e uma inflação subindo. O BC calcula que o IPCA será de 5,2%. E isso apesar do fato de que o indicador deste ano foi favorecido pela mudança na estrutura de ponderação do IBGE, que tirou quase meio ponto percentual do índice.

A economia recebeu um volume espantoso de estímulos. Foram cinco pontos percentuais de queda da taxa Selic, desde setembro, e uma dezena de pacotes de estímulos fiscais. Mesmo assim, o nível de atividade foi perdendo gás.

A situação internacional explica uma parte desse resultado, mas não tudo. A Europa está em recessão; os Estados Unidos, rodando em torno de 2% de crescimento; a Índia e a China estão crescendo menos. Mas a economia brasileira é, principalmente, baseada no mercado interno. Por isso deveria ter tido um resultado melhor.

O governo escolheu incentivar o consumo através da expansão do crédito e ajudar setores com benefícios fiscais setoriais. Isso não funcionou para manter o ritmo da economia. Depois de 2,7% de crescimento em 2011, o país vai se contentar com 1,6% em 2012. A presidente Dilma Rousseff chegará ao meio do seu mandato com um desempenho pífio para uma economia que sustenta ser "desenvolvimentista".

Na previsão do próprio Relatório de Inflação, a crise econômica internacional será longa. Portanto, o Brasil precisa se sustentar com suas próprias políticas. A guinada recente para reformas mais estruturais, como a proposta de investimento em logística e a mudança da cobrança da contribuição patronal, está elevando a confiança do empresariado, provando que essa é a forma mais eficiente de incentivo.

O relatório prevê para o ano que vem uma inflação em torno de 4,9%. Isso é bom, mas é preciso considerar três pontos: nessa projeção está o efeito da diminuição de 16% nos preços da conta de luz; o BC não incluiu a possibilidade de um reajuste da gasolina; está considerando como "neutras" as pressões inflacionárias externas. No último relatório, ele considerava que eram "desinflacionárias", mas não foram. O petróleo subiu e algumas commodities tiveram alta pela pressão da seca americana. O temor é que no ano que vem, num cenário de maior crescimento, a inflação volte a subir.

Também é preciso levar em consideração a alta do dólar. Até agora, o repasse da moeda americana para os preços tem sido menor justamente porque o PIB está fraco. Há economistas prevendo que na medida em que o nível de atividade fique mais forte, esse repasse também será intensificado. O Banco Central parece trabalhar com uma piso no câmbio, na casa de R$ 2. Pelo menos tem feito intervenções no mercado, com compra de moeda americana, toda vez que o real volta a se valorizar. Todas as indicações do Ministério da Fazenda também vão nessa direção.

Há cada vez mais dúvidas sobre se ainda estão de pé os três pilares da política econômica que vinham sendo mantidos até aqui: câmbio flutuante, meta de inflação, superávit primário. A ideia de uma faixa de flutuação para o dólar está ficando mais evidente, e o BC parece perseguir uma meta de crescimento do PIB, sem se importar que a inflação fique um pouco acima do centro.

BISPO MACEDO DIZ QUE NEM CONHECE CELSO RUSSOMANNO - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 28/09


O bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus e dono da Rede Record, usou seu culto anteontem em SP para rebater a informação de que o candidato a prefeito Celso Russomanno (PRB-SP) é ligado a ele. Disse que "nem conhece o cidadão". E culpou "a mídia, que bate, bate, bate", por espalhar essa "estupidez". Macedo pregou para cerca de 6.000 fiéis (segundo a igreja) no templo da avenida João Dias, em Santo Amaro.

A repórter Anna Virginia Balloussier gravou a fala. "Este mundo todo me odeia. Não é verdade? É ou não é? Nos jornais, metem o cacete no bispo Macedo. Eles dizem: esse país só vai mudar quando o bispo Macedo morrer."

Os fiéis respondiam "sim, sim, sim!" às falas do líder evangélico. "[A mídia] diz que tem um candidato aí... 'Ah, é o bispo Macedo que está por trás'. Olha a estupidez. Nem conheço o cidadão, nem conheço", disse, sem citar nominalmente o candidato.

"Eu tenho a Record. Vou na Record uma, duas vezes no ano. É ignorância, é muita estupidez. Você acha que vou abrir mão daquilo que gosto, que faço com prazer... [ininteligível] para ficar cuidando de outras coisas?", disse.

O tema ocupou cerca de três minutos nas duas horas em que Macedo discursou, cantou e pregou ajoelhado.

O carro-chefe do culto foi o avanço de outras igrejas evangélicas, como a Mundial do Poder de Deus (de Valdemiro Santiago) e Internacional da Graça de Deus (R.R. Soares, casado com uma irmã de Macedo), lideradas por dissidentes da Universal. "Não ouça nenhum pastor. Fixe-se aqui", instruiu bispo Macedo. Ele usou a metáfora de "misturar vinhos" para afirmar que o fiel deve escolher apenas uma denominação para seguir.

"E eu pergunto: quem fica curado assim? [...] Andando feito piolho na cabeça dos outros. Você quer ser livre, defina sua vida, sua fé. Você se encaixou bem na igreja 'A', então fique nessa igreja. Não liguem a televisão tentando buscar outros canais que falem de Jesus. Todo mundo fala de Jesus, até o diabo fala de Jesus."

Em meio à pregação, Macedo pediu ajuda para pagar contas de luz e água no total de R$ 65 mil do templo de Salomão, réplica do monumento de Jerusalém, em fase de construção no Brás. "Se não tem ninguém para pagar, vamos fazer uma vaquinha."

"Este mundo me odeia. Nos jornais, metem o cacete no bispo Macedo"

"Diz que tem um candidato aí... 'Ah, é o bispo Macedo que está por trás'. Olha a estupidez"

"Nem conheço o cidadão"

"Religião é um saco cheio de gatos, todas, sem exceção"

"Não ouça nenhum pastor. Fixe-se aqui"

"Se não tem ninguém para pagar, vamos fazer uma vaquinha"

MONTANHA-RUSSA

Com faturamento anual de R$ 1 bilhão, o setor de parques temáticos e de diversões deve crescer 5% em 2013. Neste ano, o número de visitantes já supera os 77 milhões nos 298 estabelecimentos do país. "A ascensão da classe C levou uma multidão de novos consumidores aos parques", diz Marcelo Beraldo, representante no Brasil da Iaapa (entidade internacional do setor).

São previstos investimentos de R$ 2 bilhões em cinco anos e 56 mil empregos.

MONTANHA-RUSSA 2
Em dezembro, a associação internacional realiza no Hopi Hari curso de formação gerencial para 50 gestores. Entre as disciplinas, marketing e segurança. Em fevereiro, a adolescente Gabriela Michimura morreu ao cair de um brinquedo no parque, em Vinhedo (79 km de SP).

REFORMA
O governador Geraldo Alckmin autorizou a liberação de R$ 453 milhões extras para investir na modernização dos hospitais universitários de São Paulo. Serão oito estabelecimentos beneficiados. O Hospital das Clínicas, por exemplo, vai receber R$ 137,7 milhões para obras de reforma e ampliações.

ENQUANTO ISSO, NO PALÁCIO...
O arcebispo de SP, dom Odilo Pedro Scherer, reuniu-se com o governador Geraldo Alckmin no Palácio dos Bandeirantes, anteontem. O jantar, a que foram dom Tarcisio Scaramussa, o empresário João Guilherme Ometto, o padre José Teixeira e o jurista Ives Gandra Martins, custou R$ 500 por pessoa e teve renda revertida para a Jornada Mundial da Juventude 2013, no Rio.

PODEROSA DO ESPELHO
A presidente Dilma Rousseff fez a própria maquiagem para o retrato que saiu na capa da revista "Forbes". Na reportagem, ela foi classificada como a terceira mulher mais influente do planeta.

BIBI MINNELLI
Bibi Ferreira, 90, atrasou em 40 minutos seu espetáculo de anteontem, no teatro do shopping Frei Caneca. Esperava por Liza Minnelli. A atriz norte-americana tinha dito a amigos brasileiros, como o joalheiro Guerreiro, que queria ver o show de Bibi. No caminho, começou a tossir e voltou ao hotel.

'AL MARE'
Desde que assumiu a missão de perder peso diante da audiência do "Fantástico", Ronaldo adotou nova técnica de relaxamento. Para descansar da malhação (musculação, basquete e natação), ele tem à disposição um tanque de flutuação que imita o ambiente do mar Morto, na academia Bodytech do shopping Eldorado, em SP. Já começa a ver resultados. Passou a dormir melhor.

CAZUZA INÉDITO
Uma música inédita de Cazuza, escrita com Roberto Frejat, foi descoberta. Chama-se "Sorte e Azar", é cantada por Cazuza e estava entre o material descartado do primeiro álbum do Barão Vermelho. A faixa estará no disco que a Som Livre lança em novembro para celebrar 30 anos da data.

MIL MILHAZES
A coreógrafa Márcia Milhazes está bolando um espetáculo de dança baseado nas telas "Quatro Estações" de sua irmã, Beatriz Milhazes. A artista fará ainda o cenário de "Camélia", número criado por Márcia que ganha montagem em outubro na Plataforma Internacional Estado da Dança, em SP.

É ARTE OU ARTE?
O designer José Marton recebeu colecionadores de arte que estão no Brasil para a Bienal, no fim de semana. O francês Marc Pottier foi um dos convidados a seu apartamento, no Paraíso.

CURTO-CIRCUITO
Luísa Guanabara lança hoje a produtora A Cerejinha, no Café Journal de Moema, às 16h.

BNegão se apresenta hoje na Funarte. Livre. Ladyhawke e I'm From Barcelona tocam hoje no Cine Metrópole. 18 anos.

A Anhembi Morumbi promove hoje desfile do hospital Pérola Byington.

A psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva fala hoje no Club Homs, às 9h.

A faculdade Zumbi dos Palmares recebe o cônsul dos EUA Dennis Hankins.

A hora H - DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 28/09


Semana que vem o julgamento do mensalão vai pegar fogo. Dentro e fora do Supremo Tribunal Federal, onde começará a ser examinada a parte da denúncia relativa aos personagens que põem o PT direta e nominalmente no banco dos réus: José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares.

Até agora só desfilaram coadjuvantes naquela passarela. Operadores financeiros, facilitadores de negócios, espertalhões, aprendizes e professores de feiticeiros.

Gente permanentemente conectada na oportunidade de levar alguma vantagem, para a qual importa pouco quem esteja no comando. Basta que os comandantes liberem a livre navegação pelas águas do poder.

Esse pessoal já está condenado, sem despertar grandes suscetibilidades. A reação às condenações diz respeito ao indicativo de que podem também alcançar os réus que de fato interessam - os representantes mais graduados, entre os citados na denúncia, do projeto beneficiário do esquema de financiamento.

Pois é a partir daí é que os ânimos realmente se acirram.

Quem se espanta com divergências entre ministros do Supremo ou se apavora com o tom mais incisivo de um ou de outro não leva em conta as implicações de uma decisão colegiada envolvendo legislação, doutrina, agilidade de raciocínio, capacidade de encadeamento lógico e muito conhecimento acumulado em trajetórias jurídicas distintas entre si.

De outra parte, quem vê despropósito na acusação de que o STF funciona como tribunal de exceção a serviço de uma urdidura conspiratória, não sabe o que é o furor de uma fera ferida.

Muito mais além do que já houve ainda está para acontecer.

Os ministros do Supremo vão discutir dura, detalhada e por vezes até asperamente todos os aspectos do processo, dos crimes imputados aos réus e das circunstâncias em que foram ou não cometidos, para mostrar as razões pelas quais condenam ou absolvem.

Nada há de estranho, inusitado ou inapropriado nisso. Não é nos autos que os juízes falam? Pois estão falando neles e deles. É o foro adequado para a discussão. Se a interpretação da lei não fosse inerente à função do magistrado, um bom programa de computador que cruzasse a legislação com as acusações daria conta do recado.

Descontados excessos de rispidez de um lado (do relator) e exageros na afetada afabilidade de outro (do revisor), os debates são apropriados e indispensáveis em caso de alta complexidade e grande repercussão como esse.

A peculiaridade aqui é o conflito de temperamentos e da interpretação dada pelo revisor ao seu papel. Ele deveria revisar o trabalho de Barbosa, mas na prática faz uma espécie de voto em separado. O relator que passou cinco anos examinando os autos, conduzindo interrogatórios e acompanhando todas as fases do processo, irrita-se.

Já do lado de fora há a reação, claro. E por parte dos que se veem desde já como perdedores se traduz de uma forma aflita, cuja tendência é ficar cada vez mais aflitiva. Mas, por mais desrespeitosa, ilógica e raivosa que se apresente, precisa também ser vista com uma boa dose de naturalidade. Até na crítica.

Simpatizantes da causa, petistas se sentem ameaçados, injustiçados e usam a dinâmica que conhecem para reagir: a desqualificação, os desaforos à deriva, a argumentação sem pé nem cabeça.

A questão central é: isso vai influir no resultado do julgamento? Evidentemente a resposta é não.

Por isso o melhor é enxergar o cenário pela ótica da ponderação e da normalidade sem procurar em qualquer turbulência motivos para crises que ponham em risco isso ou aquilo.

Se 20 anos atrás o Brasil interrompeu o mandato de um presidente logo na primeira eleição direta depois de duas décadas de ditadura e o mundo não se acabou, convenhamos, não é nessa altura da democracia que haverá de acabar.

Nem fazer do País uma piada de salão.

Ueba! Viva o Ursinho Maconheiro! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 28/09



Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Votem em mim! Meu vice é o Ursinho Ted! Levo no primeiro turno! Rarará!

E a Piada Pronta: "São Paulo joga no estádio Reina del Cisne". Foram até o Equador pra jogar no Rainha do Cisne? Se sentiram em casa! Rarará! O Ganso se sentiu em casa.

Aliás, tão dizendo que, depois que o Ganso virou cisne, não vai mais fazer comercial de barbeador, mas de depilador. Rarará!

E adorei esta: "Catarinense leiloa virgindade por casa popular para os pobres". Minha Perereca, Minha Vida! Achei fofa!

O cara põe na casinha dela, e ela constrói um monte de casinhas! Minha Perereca, Minha Vida! Como disse um amigo; "Ainda bem que a Dilma não foi por esse caminho". Rarará!

E o telecatch Protógenes X Ursinho Ted?! O ursinho maconheiro! O Ted levou o filho dele de 11 anos, o Tedinho, ao Congresso e ficou indignado. Quer censurar o Protógenes!

E a charge do Diogo: o ursinho de pelúcia no camburão tremendo de medo, e o Protógenes: "Lugar de vagabundo é na caçapa!". Fuma maconha, não trabalha, não estuda, é feliz. E é de pelúcia? CAÇAPA!

O Protógenes é contra a pelúcia! E a resposta oficial do Ursinho Ted: "Alô, Protógenes, por que você não leva seu filho pra assistir a um filme mais a sua cara, Palhaço?". Rarará! Ursinhomaligno! E diz que o Protógenes entrou com ação pro técnico Cuca mudar de nome, pra não assustar seu filho Juan! Rarará!

E eu já disse que o medo do Protogenes é que, no "Ted 2", o ursinho vire deputado federal! Rarará! E por último ele comprou "Cinquenta Tons de Cinza" pro filho colorir! Rarará! E o castigo pro Ted é passar 12 anos no "TV Xuxa". Rarará! É mole? É mole, mas sobe!

E os nomes do mascote da Fifa? Um cara escreveu no Twitter: "Amujabi, Zuzeco e Fuleco, o caraca. Meu nome é Zé Pequeno!". Bom nome pro tatu-bola: Zé Pequeno! E outros preferem um nome bem brasileiro, como a Fifa exige: Sarneco! Rarará!

Eu prefiro Tatuete! Agora não é tudo periguete, empreguete? Então temos três nomes pro tatu: Zé Pequeno, Sarneco e Tatuete! Rarará!

Tadinho! O tatu bola vai entrar em autoextinção! Se enfiar num buraco e só sair em 2015! Rarará!

A situação tá ficando psicodélica! Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Por que Madri não pede socorro à Europa - GILLES LAPOUGE


O Estado de S.Paulo - 28/09


Os mecanismos europeus de socorro às economias europeias existem.

Basta fazer um pedido.

Tais mecanismos foram até reforçados, de um lado com o Mecanismo de Estabilidade Europeu (MEE) e de outro a resolução do Banco Central Europeu (BCE) para socorro a países endividados. Apesar disso, enquanto ventos e maremotos se abatem sobre a Espanha, os "caixas" vazios e o povo espanhol não suportando mais, como mostraram os tumultos da quarta-feira, Rajoy continua refletindo.

Como explicar essa fleuma? É reflexo de um orgulho espanhol que prefere perecer em vez de pedir? Com certeza não. Rajoy parece achar que o país ainda pode aguentar mais alguns meses. A Espanha necessita de 130 bilhões para financiar seus déficits, resgatar sua dívida no prazo e pagar os juros dos empréstimos. É viável: enquanto os mercados responderem positivamente, tudo bem. A Espanha não deve declarar moratória. Não se compara à Grécia por exemplo, já que Atenas enfrenta problemas de liquidez. A Espanha ainda consegue pagar seus funcionários.

Entretanto, nada garante que os mercados conservarão a calma. A Espanha passou dois anos em recessão e a estimativa é de que o Produto Interno Bruto (PIB) caia 1,8% em 2012 e 1,4% em 2013. Nestas condições, como Madri conseguirá reembolsar sua dívida? Diante desta perspectiva, os mercados podem se inflamar e os juros aumentarão. O que se verificou ontem: os juros de empréstimos com vencimento para 10 anos já ultrapassaram o teto dos 6%.

Serviço da dívida. Mariano Rajoy reconhece o problema. Sabe bem que com o aumento dos juros a Espanha vai acabar não conseguindo pagar sua dívida (um ponto porcentual de juro suplementar aumenta o serviço da dívida em 1,3 bilhão).

Como explicar a impassibilidade do premiê espanhol e sua recusa em recorrer à Europa? Na verdade o que ele teme é a lentidão dos mecanismos de ajuda europeus. Seu temor é de que seja muito longo o prazo entre o momento em que pedir ajuda e quando essa ajuda chegará. Foi o que ocorreu quando da ajuda europeia aos bancos espanhóis. Rajoy quer que a resposta do MEE ou do BCE seja rápida de maneira a tranquilizar os mercados e desestimular a especulação.

Mas há uma objeção: o premiê teme que a Europa imponha aos espanhóis condições draconianas, obrigando Madri a estabelecer novas medidas de austeridade, uma vez que aquelas em vigor já são insuportáveis para o povo espanhol. No orçamento apresentado por ele estão previstas uma redução do salário desemprego, aumento do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) em dois pontos porcentuais, e pelo terceiro ano um congelamento dos salários dos funcionários públicos. Mas os países do norte da Europa, Alemanha à frente, continuam a exigir que "se aperte ainda um pouco mais o cinto", com o perigo de o país perecer.

Estas são as razões da teimosia de Mariano Rajoy. Mas com o aumento das taxas de juro, parece inevitável que Madri recorrerá à ajuda comunitária. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO