terça-feira, julho 17, 2012

Galvão em Londres - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 17/07

Agora é oficial. Galvão Bueno estará no Sportv como convidado na abertura dos Jogos de Londres. A cerimônia terá narração de Milton Leite e Luiz Carlos Jr.
Galvão também apresentará o “Conexão Sportv”, às quartas e aos sábados.

Aliás...
A TV Record, que detém a exclusividade dos Jogos na TV aberta brasileira, terá, no horário nobre, outra adversária difícil.
A novela “Avenida Brasil”, que bate recordes de audiência.

Lupa do Gois
É como se diz em Frei Paulo: cachorro mordido de cobra tem medo até de linguiça. O caso dos cartões corporativos, em 2008, parece ter surtido efeito no Ministério dos Esportes. Em 2007, lembra?, o ministro Orlando Silva gerou polêmica ao usar o car-tãozão para comprar tapioca.
Pois bem. Neste primeiro semestre, a pasta foi a que menos usou o benefício, hoje proibido a ministros. Só gastou R$ 843,39.

Já..
No Ministério da Justiça, estes gastos foram de R$ 3.225.178,87.

Virou praga
Merval Pereira, coleguinha e acadêmico, estava ontem no hall de um hotel em Kassel, Alemanha, onde se realiza a Documenta, o evento de arte moderna e contemporânea, quando foi atingindo por um conjunto local que tocava... “Ai, se eu te pego”, sucesso de Michel Teló.

Dindi
Sylvinha Telles (1934-1966), uma das grandes cantoras da moderna música brasileira, ganhará uma homenagem.
A EMI lançará uma caixa com dez discos seus gravados pelos selos Elenco, Odeon e Philips, dois deles inéditos no Brasil.

MESTRE ZIRALDO, ao olhar domingo esta bela foto da coleguinha Ana Branco no caderno "Morar Bem", do GLOBO, lembrou que o Pão de Açúcar, fotografado em determinadas horas, lembra a figura de um íbis, que, no Egito, era associado ao deus Thoth. Nosso craque do traço recorda que este Íbis esculpido pela natureza chamou atenção do cineasta Roberto Farias, quando fez o filme "Roberto Carlos e o diamante cor de rosa", em 1968, para provar que os fenícios estiveram mesmo por aqui. "O que ninguém descobriu ainda", diz Ziraldo, "é que, dependendo do ângulo, a forma do Pão de Açúcar com o Morro da Urca parece uma estátua monumental de um leão sentadão em frente à baía de Botafogo, olhando para Niterói, com umquipá na cabeça, no lugar da coroa. Será o Leão deJudá?" (veja o desenho do mestre acima)

A maçã no escuro
A cantora argentina Mimi Kozlowski organiza um show em Buenos Aires com textos de Clarice Lispector.
Aliás, os livros da brasileira estão entre os mais vendidos lá. Um deles, “A maçã no escuro”, deve virar filme na Argentina.

A vida não é justa

Andrea Pachá, a juíza do Rio, fechou com a Nova Fronteira a publicação do livro “A vida não é justa”, com crônicas sobre o fim do amor e os conflitos mais comuns nas separações.

Zilda Arns
Será inaugurado amanhã em Porto Príncipe, no Haiti, o Espaço de Saúde Zilda Arns.
Homenagem à grande brasileira que se dedicou a melhorar o acesso das crianças à saúde e que morreu no Haiti, no terremoto de 2010, quando criava lá uma filial da Pastoral da Criança.

Só negros
Será remontado no Rio o espetáculo “Arena conta Zumbi”, musical de Gianfrancesco Guarnieri eAugusto Boal, de 1965, que teve canção de Edu Lobo, e Dina Sfat e Lima Duarte no elenco.
Estreia em agosto, no CCBB do Rio, dirigida por João das Neves, só com atores negros.

Por falar em Edu...

Domingo, num voo Belo Hori-zonte-Rio, a Webjet extraviou a mala de Edu Lobo que estava com as partituras de seu show.

Templo é dinheiro
A11a Câmara Cível do Rio condenou a Convenção de Ministros e Igrejas Evangélicas a indenizar em R$ 15 mil três fiéis que deram R$ 2 mil, cada, à campanha Muito Mais Que um Projeto, Uma Expressão de Amor em troca de vantagens não cumpridas.
A Justiça entendeu se tratar de “propaganda enganosa”.

País dos gordinhos
No primeiro semestre, comparado ao de 2011, a Santa Casa do Rio registrou aumento de 50% na procura de meninos e meninas entre 11 e 16 anos por tratamento de distúrbios da alimentação.

Zorra total
As vans de Copacabana adotaram a novidade de um alto-falantes que divulga seu itinerário.
Às 7h, o locutor já anuncia: “Avenida Brasil, Caju, Vila do João... tem vaga sentada! Ai, como tô bandida!” A repetição, em horários impróprios, incomoda. Alô, Paes, isso pode?

Patrimonialistas e republicanos - SILVIO RIBAS


CORREIO BRAZILIENSE - 17/07

Em uma das últimas entrevistas exclusivas concedidas pelo senador Jefferson Péres (PDT-AM), morto em 2008, tive a honra de ouvir dele que a luta ideológica entre esquerda e direita havia desaparecido no Brasil a partir da chegada de Luís Inácio Lula da Silva à Presidência. Ele explicava que, muito mais do que a queda do Muro de Berlim (1989) e o fim da União Soviética (1991), foi o pragmatismo da luta pelo poder o responsável pela divisão clássica de correntes políticas. Os arranjos cada vez mais confusos de siglas e de personagens, que antes antagônicos e depois viravam aliados e vice-versa, estavam evidenciando dois novos blocos de pensamento.

Na visão daquele desencantado líder, os esquerdistas e os direitistas brasileiros estavam sendo rapidamente acomodados nos figurinos de republicanos e patrimonialistas (a maioria). Péres reconhecia que o termo republicano estava sendo desgastado pelas próprias autoridades, que se elogiavam por repartir o bolo orçamentário sem olhar a cor partidária de quem recebia os recursos. Para Péres, respeitar as instituições democráticas e a pluralidade de legendas é obrigação de quem recebe mandato do povo. A diferença é impedir desvios e empregar com justiça e zelo o dinheiro (do) público.

Os patrimonialistas, contudo, avançaram nos últimos anos, até mesmo brandindo boas intenções. Querem e conseguem repasses de verbas, empregos comissionados, indicações para estatais e ministérios, missões oficiais ao exterior, passaporte diplomático para o filho, carro oficial e outras boquinhas. A faxina empreendida pela presidente Dilma Rousseff no primeiro ano de sua gestão receberia aplausos do pequeno grande representante da bancada ética do Senado. Ele chamaria o gesto de republicano, mas logo depois a consideraria limitada demais.

“Sonho com um Brasil em que a coisa pública seja administrada com austeridade, em favor de todos, e não tratada como cosa nostra, em benefício de amigos, parentes, correligionários e apaniguados”, disse ele certa vez na tribuna, inspirado no discurso histórico Eu tenho um sonho — I have a dream —, do líder norte-americano Martin Luther King. Esse sonho de Péres ainda está longe de virar realidade, apesar dos avanços que ele não pode ver, como a mobilização pela Lei da Ficha Limpa, da cassação do senador Demóstenes Torres e das passeatas organizadas em redes sociais contra a corrupção.

Ele ficaria muito mais decepcionado e convicto de sua avaliação sobre a evaporação de quaisquer matizes programáticos se tivesse acompanhado a eleição recorde do deputado federal Tiririca (PR-SP) e, sobretudo, testemunhasse o surgimento há pouco mais de um ano do Partido Social Democrático (PSD), que “não é de esquerda, nem de direita ou centro”, na claríssima definição de seu presidente nacional, Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo. Não por acaso, a “novidade” no cenário eleitoral negocia e celebra acordos simultâneos com o Planalto e os rivais deste.

Lógica reversa

Na política cada vez mais fulanizada e menos doutrinária do Brasil, sem partidos consistentes e votos inclinados ao personalismo sem conteúdo, os políticos acabam dando mais importância às questões pessoais que as locais. Da mesma forma, privilegiam mais os temais locais que os nacionais, sem importar se esses terão depois reflexo na sua base de eleitores.

O cidadão comum, por seu turno, parece comungar desta visão de mundo, colaborando para deixar ainda mais variada a salada ideológica. Os patrimonialistas adoram essa confusão para poder transitar para onde houver melhores chances de tirar proveito. O bom-senso perdeu há muito tempo para a Lei de Gérson, segundo a qual “tem de se levar vantagem em tudo, certo?”. Errado.

A esperança de uma mudança mais profunda, com desdobramentos institucionais e culturais, pode estar no horizonte de escassez do Estado brasileiro. Endividada na casa do trilhão de reais e sendo obrigado a cobrir crescentes rombos previdenciários e a sustentar uma máquina gigantesca e ineficiente, a República terá de limitar ou até tirar terreno dos patrimonialistas para não deixar na mão os 200 milhões de cidadãos.

Esfola! Mata! - CARLOS HEITOR CONY

FOLHA DE SP - 17/07

RIO DE JANEIRO - Aprendi, não sei com quem, que não se deve dar dois tipos de chute: em despacho de macumba e em cachorro atropelado. Na realidade, nunca tive vontade nem oportunidade para chutar despachos com farofa e velas acesas, e muito menos chutar cachorros. Daí a maneira como fiquei sabendo de mais uma coisa inútil, entre outras tantas.
No momento, temos o caso do ex-senador Demóstenes Torres, que depois de atropelado, está sendo chutado como o demônio da vez, na base do mata, esfola! Mereceu o atropelamento. Foi com alívio que a opinião pública recebeu a sua cassação. Mas a mesma opinião pública ficou pasmada ao saber que ele voltará a ser o que era, ocupando um cargo público com a respectiva remuneração.
A causa que provocou a sua expulsão do Senado continua de pé.
Seria um caso para ser decidido no âmbito de seu Estado. Ele pode responder a um processo administrativo em Goiás, com amplo direito de defesa. E se for condenado, aí sim, perderá o emprego a bem do serviço público. Fora disso, seria uma violência e uma vingança mesquinha que nenhum homem (ou cachorro) atropelado merece.
Em tempo: gostei da crônica do Sérgio Dávila do último domingo, na qual aparece um cidadão recebendo e agradecendo, no seu iPhone 4, o carinho da mulher, de parentes e de amigos na mesma hora em que estava sendo votada a sua cassação.
O repúdio público provocado por suas relações com um esquema criminoso não afetou o carinho de sua família e de seus amigos. Politicamente isolado, com evidente e já punida culpa no cartório, cabe-lhe resgatar a sua imagem pública -e, para isso, deverá contar com o apoio não apenas de sua família e de amigos, mas de todos aqueles que sentem repugnância em chutar um homem (ou um cachorro) atropelado.

O amigo do bicheiro - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 17/07

A cassação do mandato do hoje ex-Senador Demóstenes Torres veio com a rapidez que o caso lamentavelmente merecia. Como punição, foi exemplar; o tempo vai dizer se o exemplo terá efeitos duradouros sobre a qualidade dos quadros legislativos.
O eleitor vota em promessas que ouviu e o passado que conhece dos candidatos - e isso quando tem acesso, por assim dizer, às suas folhas corridas. Só no caso de quem disputa uma reeleição a decisão pode se basear na qualidade do desempenho. Ainda assim, em grande número de casos, as informações sobre essa qualidade são fornecidas pelos próprios candidatos. Acusações e denúncias de outros concorrentes têm efeito relativo: o eleitor sempre pode desconfiar que não passem de lorotas de campanha.
Os cidadãos goianos talvez não tenham muita facilidade para escolher nas próximas eleições um substituto para Demóstenes que tenha, digamos assim, um diferente perfil político e moral.
Entre outros motivos, porque, no dia seguinte à perda do mandato, ele reassumiu o cargo de procurador de Justiça no Ministério Público de Goiás. O que, pelo menos para um leigo, é espantoso, mesmo que seja inteiramente legal. Então, ele não pode ser Senador mas pode manter alta função no Judiciário? É bem capaz que o eleitor goiano conclua que Demóstenes foi vítima de uma cassação com motivos políticos e não morais. O que será um equívoco lamentável.
É verdade que Demóstenes ainda tem problemas sérios pela frente. O Ministério Público iniciou na semana passada uma reclamação disciplinar - nome ameno, digamos assim, para uma investigação a propósito de graves acusações. No caso a de que o ex-Senador seria o principal operador político do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Por "operador político" entenda-se cúmplice.
Lamentavelmente, essa "reclamação" pode se estender por 240 dias. A memória do eleitor não costuma ir tão longe. Não é difícil imaginar um cenário em que o procurador Demóstenes tenha influência considerável na escolha de um substituto para o Senador Demóstenes.
E continue a fazer política em Goiás. Talvez, apenas com o cuidado de manter com mais discrição suas relações - politicamente incestuosas - com o bicheiro Cachoeira.
Políticos e juristas preocupados com tudo isso poderiam, pelo menos, iniciar estudos e debates que produzam uma novidade no sistema jurídico: algo que impeça a cidadãos oficialmente investigados e/ou processados por delitos sérios continuarem a exercer funções de alta importância no Ministério Público. Ou em qualquer outra área do Estado. Para fechar a brecha que hoje beneficia o amigo do bicheiro.

Em Londres - SONIA RACY


O ESTADÃO - 17/07


Se Dilma estará na abertura das Olimpíadas, dia 27, Michel Temer representará o País no encerramento. Além de afago no vice, principal lí-der do PMDB, a presidente quer demonstrar o empenho do Brasil nos Jogos Olímpicos–já que o Rio recebe a próxima edição do evento.

Aldo Rebelo e Marco Aurélio Garcia reforçarão o time de autoridades brasileiras.

Londres 2
Aldemir Bendine também vai. Convidado pela Visa. Já tem em mãos autorização para seu afastamento do BB, entre 20 de julho e 1º de agosto.

Clima olímpico
O histórico confronto do vôlei entre Brasil e Cuba nas Olimpíadas de Atlanta, em 96, virou documentário. Dirigido por Fábio Meira, Pátria traz entrevistas com Ana Moser, Fernanda Venturini, Virna e Márcia Fu, entre outras.

Do lado cubano, destaque para depoimento de Mireya Luis, considerada a melhorjogadora de todos os tempos.

Clima2
O longa - – que também revela os telefonemas de Fidel Castro ao técnico cubano, cobrando a vitória - – faz parte do projeto Memória do Esporte Olímpico Brasileiro, editalpara dez filmes que registram a história do País nos Jogos.

Será exibido neste sábado, na Cinemateca.

A toque de caixa
Em meio às investigações sobre a Delta, o conselho de administração da empresa convocou reunião relâmpago, dia 29 de junho, no Rio.

Pauta única: analisar pedido de renúncia de Geraldo EmídioAlves, diretoradministrativo e financeiro da construtora. Aceito por unanimidade.

À baiana
Dilma fez questão de que Fátima Mendonça, primeira-dama daBahia,batizasse aplataforma P-59, da Petrobrás – sexta-feira, em Maragojipe.

Fatinha, como a mulher de Jaques Wagner é chamada pela presidente, trabalhou duro na campanha eleitoral de 2010.

Na paz
A avenida Sumaré transformou-se, sexta, em sala de es-tar a céu aberto. Grupo de jovens levou sofá, mesa, cadeiras e até um narguilé –- para aliviar a tensão.

O trânsito sempre caótico na via? Nem te ligo...

Na frente
Celso Frateschi e Dagoberto Feliz fazem leitura da peça O Mendigo ou o Cachorro Morto. Hoje, na Saraiva do Pátio Paulista.

Luiz Tatit recebe Zélia Duncan para o showA Canção Sem Fim. Hoje, no CCBB.

O Instituto Moreira Salles abre a mostra Luz, Cedro e Pedra. Hoje.

Frei Betto lança livro e con-versa com Marcelo Gleiser na Livraria da Vila do Pátio Higienópolis. Hoje.

O bar Menys abre suas portas, hoje, em Pinheiros.

O filme Hoje, com Denise Fraga, tem pré-estreia na Fundação Memorial da América Latina. Hoje.

Ponto alto da entrevista de Rosane Collor ao Fantástico? O termo “jesuscidência”, que está bombando nas redes sociais.

Interinos: Daniel Japiassu, Marilia Neustein, Mirella D’Elia e Paula Bonelli.

Greve remunerada nas universidades federais - ALBERTO CARLOS ALMEIDA

FOLHA DE S. PAULO - 17/07

Sem corte de ponto, os doutores pedem mais impostos para que ganhem melhor. Deveriam, em vez disso, usar sua qualificação para obter recursos privados

Nada é mais caro nos dias de hoje para todos nós contribuintes do que nossos professores universitários funcionários públicos.

Oficialmente, eles entraram em greve no dia 17 de maio. Desde então, eles recebem integralmente, e sem atraso, seus salários.

Trata-se de algo absurdo: uma greve na qual os grevistas são pagos para não trabalhar. Seria cômico se não fosse trágico.

Trata-se da mais longa e abrangente greve remunerada do mundo. Eles querem mais recursos para as universidades. Obviamente, querem aumento salarial, querem que o governo gaste mais com eles. A reivindicação deles poderia também ser colocada do ponto de vista da receita: eles querem que o governo aumente os impostos.

Aumentar impostos com a finalidade de investir na educação básica, de melhorar o sistema de saúde, de ampliar a abrangência do Bolsa Família para diminuir a desigualdade de renda é muito mais legítimo e defensável do que aumentar impostos e ampliar os gastos com professores universitários que em sua grande maioria concluíram o doutorado, algo que os qualifica para obter recursos para a universidade de fontes que não o governo.

Eles são o elo forte da sociedade porque são as pessoas mais qualificadas do ponto de vista da educação formal. Fizeram graduação, mestrado e doutorado e ainda assim querem mais recursos públicos.

O elevado nível educacional de nossos professores é um ativo que poderia facilmente ser convertido em mais recursos para as universidades. É isso que fazem vários departamentos de engenharia, por exemplo, na Universidade Federal Fluminense e na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Além de não fazerem greves, eles se utilizam de sua elevada qualificação técnica e educacional para fecharem contratos com empresas que financiam pesquisas.

Com esses recursos, eles equipam suas universidades, constroem prédios novos, complementam seus salários -enfim, realizam investimentos importantes em seu próprio trabalho sem onerar ainda mais o contribuinte. Eles cultivam, de fato, a identidade de professores universitários, pesquisadores e cientistas.

Por outro lado, os professores grevistas cultivam a identidade de funcionários públicos. É muito conveniente fazer greve sem nenhum tipo de custo, sem ter o ponto cortado ou sem sofrer ameaça de demissão.

Aliás, nada mais maléfico para o ensino e a pesquisa no Brasil do que professores universitários que são funcionários públicos. Aqueles professores que se consideram mais professores universitários do que funcionários públicos tendem a não entrar em greve. Por outro lado, aqueles que se consideram mais funcionários públicos do que professores, pesquisadores ou cientistas tendem a não titubear quando se trata de entrar em greve.

A greve remunerada caminha para o fracasso, pois provavelmente a presidente Dilma e o Ministro Mercadante não irão ceder. Não há novidade nisso. Não se trata da primeira greve remunerada de professores funcionários púbicos que fracassará. Infelizmente, não será a última, posto que o governo não decide pelo corte de ponto dos dias não trabalhados.

O fato é que a prioridade do governo é o atendimento das demandas dos pobres que nunca entraram em uma universidade e que, portanto, não fazem ideia do que é um doutorado.

O governo federal não irá ceder para um grupo de privilegiados que, apesar de chorar miséria, pertence à classe A brasileira, compõe o andar de cima de nossa pirâmide social. É preciso direcionar os recursos públicos para quem realmente precisa. Dilma e Mercadante sabem disso.

O dono da bola - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 17/07

Depois de emplacar o vice e o chefe do comitê financeiro de José Serra e arrancar na marra o "chapão" de candidatos a vereador, Gilberto Kassab acaba de instalar três aliados no núcleo de mobilização do tucano -sob a batuta de Guilherme Afif, também do PSD. Os secretários Antonio Carlos Malufe e Bebbeto Haddad deixarão os cargos para migrar para a campanha. O tucano kassabista Ricardo Montoro, que herdaria vaga na prefeitura, também passa a integrar o QG serrista.

Origens O reforço na mobilização de Serra tem o objetivo de aproximar os tucanos históricos da campanha. Ricardo é filho de Franco Montoro, e Malufinho foi secretário particular de Mario Covas.

Senha O PMDB paulistano só esperava o ingresso de Bebbeto Haddad na campanha de Serra para expulsá-lo. Foi o agora candidato Gabriel Chalita quem destronou o ex-titular de Esportes da cúpula peemedebista na capital.

Infiltrado Marqueteiro de confiança de Michel Temer, Elsinho Mouco assumirá hoje a coordenação-geral da campanha de Chalita.

Apetite Após escapar da cassação por doações contestadas pela Justiça e ter seu nome envolvido no escândalo da Feira da Madrugada, o vereador Adilson Amadeu (PTB) faz propaganda em embalagens de pizzaria. O slogan é: "Quando tudo acaba em pizza fica uma delícia".

Casal 20 Ana Estela, mulher de Fernando Haddad, se licenciou da USP para mergulhar na campanha do marido à prefeitura. Hoje ela já acompanhará o petista em caminhada pela Capela do Socorro, na zona sul da cidade.

Manejo Eduardo Jorge (PV), citado em investigação do Ministério Público sobre liberação irregular de corte de árvores em shopping, retornou à Secretaria do Verde e Meio Ambiente. Ele havia saído em junho para postular a vice na chapa de Serra.

Desagravo 1 Às vésperas do julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal, o PT do Distrito Federal promoverá ato de apoio ao ex-tesoureiro Delúbio Soares, réu no caso, no dia 24.

Desagravo 2 Intitulado "As verdades do processo 470: mensalão e reforma política", o evento é organizado pela Secretaria de Juventude petista do Guará. O partido convoca a militância para um debate "isento de manipulação midiática".

Contra a maré A defesa de Roberto Jefferson (PTB) desistiu de enviar ao STF memorial com as alegações finais de seu cliente, réu no caso. O advogado Luiz Barbosa diz que a papelada é uma "chatice" para os ministros. E garante não ter procurado nenhum membro da corte para despachos em particular.

Tô dentro Integrantes do Supremo dão como certa a participação de José Antonio Dias Toffoli no julgamento, apesar da aventada hipótese de suspeição. Toffoli trabalhou com José Dirceu na Casa Civil e namora advogada que defendeu Professor Luizinho (PT), também réu.

Veja bem Em ofício à CPI do Cachoeira, Geraldo Brindeiro explica R$ 161,2 mil pagos por empresa laranja a seu escritório. Segundo o ex-procurador-geral da República, a Ocean Development, dos EUA, pagou honorários por consultoria jurídica relativa a negócios com loteria em Santa Catarina e Mato Grosso.

Visita à Folha Fernando Haddad, candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço. Estava com José Américo Dias, vereador, e Emanuel Neri, Leila Suwwan e Luís Fernando Massonetto, assessores de comunicação.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio

"Além de manter os pedágios mais caros do país, Alckmin vai multiplicá-los nas cidades. É a antítese de sua promessa de campanha."

DO LÍDER DO PT NA ASSEMBLEIA PAULISTA, ALENCAR SANTANA, sobre a proposta de cobrança nos trechos urbanos de rodovias na Grande São Paulo.

contraponto

Internacional socialista

Durante caminhada anteontem no Rio, o candidato do PSOL à prefeitura, Marcelo Freixo, abordava eleitores na orla. O dia chuvoso afastou os banhistas cariocas, mas turistas argentinos, americanos, ingleses, franceses e alemães reconheciam o candidato por causa da repercussão do filme "Tropa de Elite 2" e o cumprimentavam.

Ao encerrar a maratona, o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) abordou Freixo, entusiasmado:

-Olha, pelo que vimos hoje aqui do Leme a Copacabana, não tem pra ninguém. Você é favorito. Mas só que para a eleição de secretário-geral da ONU.

As greves - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 17/07

A grande preocupação do governo Dilma é com as greves no setor público. Sobretudo na Educação. O governo concluiu que não tem como dar aumento salarial ao funcionalismo. A prioridade é proteger os trabalhadores que podem perder emprego. Este não é o caso dos servidores, que têm estabilidade. Por isso, o orçamento público será usado para promover investimentos e preservar empregos na iniciativa privada. A ordem do Planalto é jogar duro com os funcionários públicos.

Aviso aos navegantes
Autoridades europeias que lidaram recentemente com a Fifa e o COI, para realizar Copas do Mundo e Olimpíadas, aconselharam às autoridades brasileiras não cederem aos apetites dos dirigentes destas entidades. Relataram que eles costumam usar a pressão como método de negociação com os países-sedes. Por isso, eles sempre fazem críticas ao andamento de obras. Segundo estas autoridades, essas críticas têm como objetivo obter vantagens e concessões, como, por exemplo, a contratação de fornecedores ligados a dirigentes destas duas entidades. Por isso, recomendaram: é preciso ser duro e ter força para enfrentá-los.

“O Brasil está melhorando. Ninguém mais pode se considerar impune. A liberdade de imprensa e a transparência dos atos oficiais melhoraram o país” — Miro Teixeira, deputado federal (PDT-RJ)

DOAÇÃO DE ÓRGÃOS. O ministro Alexandre Padilha (Saúde) assina no dia 30 convênio com o presidente do Facebook para a América Latina. O portal passará a ter entre as funcionalidades que identificam os usuários no Brasil se ele deseja doar órgãos após sua morte. Há quatro meses essa informação está disponível nos Estados Unidos e o incremento da manifestação de desejo de doação pelos americanos cresceu em 40%.

As vilãs
O presidente da CPI do Cachoeira, senador Vital do Rego (PMDB-PB), e o relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), estão criticando a má vontade das operadoras de telefonia para atender aos pedidos de quebra de sigilo telefônico.

Alma lavada
Depois das recentes revelações sobre a relação do contraventor Carlos Cachoeira com o governador Marconi Perillo, tucanos começam a dar razão ao líder no Senado, Álvaro Dias (PR), que queria seu afastamento do partido.

O drama da CPI do Caso Cachoeira
Os integrantes da CPI do Caso Cachoeira estão se debatendo sobre qual a melhor ação diante das novas revelações sobre o governador Marconi Perillo (PSDB). Eles estão preocupados em não adotar uma providência que venha a atrapalhar a velocidade da investigação já em andamento. Ocorre que todos esses fatos novos já estão sendo remetidos pela 11 Vara Federal de Goiânia (GO) para o Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Céu de brigadeiro
Antes mesmo de a presidente Dilma pedir para o PT anunciar que vai apoiar o PMDB à presidência da Câmara, no biênio 2013/14, o governador Eduardo Campos (PE) comunicou à cúpula do PMDB que o PSB não entraria na disputa.

Corneta
Ainda sem jingle para a campanha de Humberto Costa em Recife, o PT improvisou para cutucar o governador Eduardo Campos. Um carro de som circula com o refrão: "Você pagou com traição, a quem sempre lhe deu a mão".

O EX-MINISTRO 
Patrus Ananias, candidato do PT à prefeitura de Belo Horizonte (MG), virou o melhor amigo do ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento). Eles se falam várias vezes ao dia.

COMUNICADO do Comando Nacional de Greve da Andes, em seu item cinco, diz "radicalizar as ações da greve, ampliando a paralização...". A palavra "paralisação" é com "s".

A ABRALATAS quer ampliar a colaboração entre prefeituras e catadores. No dia 24, debate com os candidatos a prefeito do Rio um compromisso com a Política Nacional dos Resíduos Sólidos.

Uhu! Rosane Collor é a Carminha! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 17/07


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Maldição do Collor: fui tomar banho de sal grosso e escorreguei no box! Rarará! E o grande babado: a pensão da Rosane Collor! Socuerro! Me mate um bode! Rosane Collor, a Paquita do Agreste, no Cansástico! A Volta dos Vodu de Mello! E quando ex-mulher dá entrevista é porque a pensão tá ruim! Ela só não revelou o que o Brasil todo queria saber: se o Collor tem o saco roxo mesmo, como ele dizia!
Se eu fosse a Renata Ceribelli, ia direto ao assunto: "O seu marido tinha aquilo roxo?". Rarará! E a grande e única revelação bombástica: o valor da pensão dela e das amigas! "Acho pouco R$ 18 mil, minhas amigas ganham R$ 40 mil!" Tadinha! Ela deve sofrer bullying das amigas. E como disse um cara no Twitter: "Se a sra. Collor queria reclamar da pensão, ela devia ter ido no 'Programa do Ratinho', não no 'Fantástico'"! Rarará! E um amigo meu: "Pensão ruim? Então troca comigo, que eu sou professor em Minas Gerais". Rarará! Merece pensão quem votou no Collor! Aí, sim! Eu acho que ela quer metade de Alagoas! E sabe aquele Chanel falso rosa que ela usava? Foi pago com a poupança do meu pai que o marido dela confiscou! E não é Casa da Dinda, é Casa da Doida! E o Collor era macumbeiro? Então ele caçava marajá, galinha preta e boi no pasto. Rarará! E o Collor já tinha a cara e a respiração do Darth Vader! E tão dizendo que a Rosane Collor é a Carminha! A Carminha do Collor! Carminha de carma?! Rarará! Depois da entrevista fui tomar um banho de sal grosso! E me sequei com toalha branca. E quase escorreguei no box. Maldição do Collor: fui tomar banho de sal grosso e escorreguei no box! Rarará! É mole? É mole, mas sobe! E isto é um clássico: amor começa em motel e termina em pensão. E uma amiga minha tem um ex-marido tão feio, mas tão feio, que ela não recebe pensão, ela recebe indenização. É isso! A Rosane Collor quer indenização! Por ter ficado tão pouco tempo como primeira-dama. Rarará!
E diz que ela é que fez magia negra pra casar com o Collor! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Esperando o fiasco da China... - JOSÉ PASTORE

O ESTADÃO - 17/07

Com as notícias de desaceleração da economia da China, inúmeros analistas começam a duvidar do vigor daquele país. Uma reportagem especial da revista The Economist (26/5) destacou vários fatores perversos ao crescimento chinês: o desequilíbrio entre investimento e consumo; a exagerada dependência de petróleo importado; a poluição excessiva; a falta de água e a escassez de mão de obra devido à regra de um filho por família. Vários autores especulam que o aumento acelerado dos salários retardará o ritmo do crescimento da China (Shaum Rein, The end of cheap China, New Jersey: John Wiley & Sons, 2012).

Em contraste com esse cenário, o Brasil teria claras vantagens comparativas em relação à China: água em abundância, matriz energética limpa, petróleo para dar e vender, etc. Os salários estão abaixo do que se paga no mundo desenvolvido. Ou seja, teríamos aí uma boa chance para entrar no vácuo decorrente de uma eventual retração do crescimento chinês.

É verdade que o crescimento da China desacelerou. Será menos de 8% neste ano. Mas o país não está parado. Para resolver a escassez de recursos naturais, a China vem investindo pesadamente na África e na América Latina. A escassez de mão de obra nas cidades vem sendo enfrentada com a facilitação da migração rural-urbana. A explosão dos salários é contrabalançada por um forte aumento da produtividade decorrente da modernização tecnológica e, sobretudo, da crescente qualificação dos trabalhadores.

No caso do Brasil, o custo do trabalho vem disparando, sem contrapartida de um aumento de produtividade. Os gargalos de infraestrutura não se resolvem em tempo hábil. As reformas tributária, trabalhista e previdenciária estão engavetadas. As medidas pontuais são insuficientes para reaquecer o mercado.

Para complicar o problema da baixa produtividade do trabalho, o País decidiu desestimular os investimentos em capital humano que vinham sendo feitos pelas empresas. Refiro-me à Lei 12.513/2011 que passou a tributar aqueles investimentos - até então isentos. Um verdadeiro absurdo no momento em que o Brasil precisa melhorar a educação e alavancar a produtividade.

A China, ao contrário, continua fazendo investimentos maciços nesse campo. Em recente publicação, fiquei sabendo que as matrículas no ensino superior foram multiplicadas por seis nos últimos dez anos, tendo chegado a quase 20% dos jovens na idade respectiva (no Brasil é de 10%).

O Programa Ciência sem Fronteiras é louvável, sem dúvida. O Brasil pretende enviar 110 mil estudantes para o exterior ao longo dos próximos anos. Mas, para mostrar que a corrida é em relação a um ponto móvel, basta lembrar que só em 2008 a China enviou 180 mil estudantes às melhores universidades do mundo e vem fazendo isso todos os anos (James J. Heckman e Junjian Yi, Human Capital, Economic Growth, and Inequality in China, Bonn: Institute for the Study of Labor, maio de 2012).

O resultado é conhecido: 45% do crescimento chinês é atribuído aos ganhos de produtividade decorrentes de melhorias do capital humano. Enquanto isso, a produtividade do trabalho no Brasil cai a cada ano ao mesmo temp que salários e benefícios sobem acima da inflação. O descasamento entre custo do trabalho e produtividade está afetando em cheio a competitividade das indústrias brasileiras.

Os que acreditam no crescimento brasileiro à custa de um fiasco chinês terão de aguardar muito tempo. A busca de maior eficiência é a mais prioritária medida a ser implementada se queremos ganhar a corrida com a China, de quem tanto dependemos. Dentre as várias providências a serem operadas tem destaque a melhoria da qualidade da educação - a começar pela revogação da referida lei que desestimula as iniciativas privadas nesse campo.

Mestre e aprendiz - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE S. PAULO - 17/07


BRASÍLIA - Tanto a cúpula nacional do PMDB quanto a do PSD correram afoitamente para quebrar um galho para Dilma: encorpar a candidatura do petista Patrus Ananias em Belo Horizonte. Mas a forma e os resultados foram muito diferentes. Enquanto o vice-presidente Michel Temer foi cirúrgico, o prefeito Gilberto Kassab foi barbeiro.

Temer recebeu a incumbência numa segunda-feira, e em 24 horas o serviço estava feito, sem dor, sem sangue, sem barulho: o PMDB retirou a candidatura própria, entregou a cabeça do ex-candidato de bandeja para Dilma e, unido, apoiou Patrus.

Já Kassab, além de ter ido dormir apoiando o petista Fernando Haddad e ter acordado aliado ao tucano José Serra em São Paulo, desarticulou o PSD de Minas ao lhe impor o candidato do PT em Belo Horizonte.

Em entrevista à Folha, no domingo, Temer falou como vitorioso. Enalteceu o apoio do PMDB ao PT em BH, desdenhou dos arroubos nacionais do governador Eduardo Campos (PSB) e contou, à sua maneira, que saiu do imbróglio com um troféu: se Dilma resistia ao nome de Henrique Eduardo Alves para a presidência da Câmara, não resiste mais. Em troca do apoio ao PT em BH, o PMDB vai levar Câmara e Senado em 2013. "Desprendimento" custa caro.

Também em entrevista à Folha, ontem, a senadora e líder ruralista Kátia Abreu (PSD) reclamou do "centralismo e autoritarismo" de Kassab, criticou o personalismo dele em São Paulo e em Belo Horizonte e lamentou a saída de Roberto Brant do partido. Ela está brava e ameaça claramente sair do novo partido.

A diferença: o PMDB é um partido com história, enraizado em todo o país e comandado por uma profusão de líderes, e Temer é hoje sua maior estrela, enquanto o PSD e Kassab estão apenas engatinhando.

PS - O líder na Câmara, Arlindo Chinaglia, pode ser o último dos moicanos do PT-SP no mapa político de Dilma e seu governo. Está para cair.

Sem rumo - JOÃO AUGUSTO DE CASTRO NEVES

O GLOBO - 17/07


Instituições regionais são uma característica saliente do cenário político da América do Sul. Em um continente com doze países, existem mais de dois parlamentos regionais, duas uniões aduaneiras e uma união intergovernamental mais abrangente. Apesar de todas essas iniciativas, boa parte dessas instituições é fraca ou inacabada, ou ambas. Parafraseando um observador, a habilidade de líderes locais de transformar miligramas de fatos em toneladas de palavras - ou, nesse caso, instituições regionais ineficazes - é impressionante.
A recente reunião de cúpula do Mercosul foi um reflexo da ineficácia em lidar com os problemas mais graves da região. Em meio à preocupação crescente com os rumos da economia global, os líderes reunidos na Argentina tiveram de administrar crises, a começar pela queda abrupta de Fernando Lugo da presidência do Paraguai. Sob a alegação não tão cristalina de ruptura institucional, o episódio acabou por motivar a suspensão de Assunção do bloco sul-americano. Não bastasse, os lideres regionais aproveitaram a suspensão do país guarani para aprovar, "por unanimidade", a admissão da Venezuela como membro pleno do Mercosul - o Paraguai, afinal, se opunha à entrada de Caracas no bloco.
O saldo foi negativo para o Mercosul. Além dos questionamentos sobre a legalidade da "troca" do Paraguai pela Venezuela e dos sinais confusos em relação ao comprometimento regional com normas democráticas, as decisões tomadas na última reunião de cúpula agravarão ainda mais a já frágil dinâmica econômico-comercial do Mercosul.
Quando o Paraguai voltar ao bloco depois das eleições presidenciais do ano que vem, como é esperado, o fará provavelmente sem ter ratificado o documento de adesão da Venezuela. Isso significa que o Paraguai não terá internalizado as normas necessárias para reconhecer Caracas como integrante pleno do bloco, o que na prática permitiria ao Paraguai ignorar a decisão e provavelmente criar restrições a produtos venezuelanos.
Para uma instituição já eivada de exceções e improvisos, a entrada de uma economia díspar como a da Venezuela, sujeita aos rompantes de Hugo Chávez e dependente de apenas um produto - petróleo -, reduzirá ainda mais a capacidade de coordenação de dentro do Mercosul. É notório o fato que as disputas entre Brasil e Argentina têm enfraquecido a capacidade negociadora do Mercosul, como foi o caso das negociações com a União Europeia. Nos últimos anos, enquanto outros países latino-americanos assinaram acordos de livre comércio com as principais economias do mundo (EUA, UE e China), o Mercosul assinou apenas três: Israel, Egito e Autoridade Palestina.
Para se ter uma ideia do impacto do emaranhado de exceções e do improviso no comércio, o ritmo das exportações brasileiras para a Argentina tem desacelerado consistentemente, devido principalmente a salvaguardas impostas por Buenos Aires. Nos primeiros cinco meses de 2012, a Argentina recebeu menos de 8% do total das exportações brasileiras, bem menos do que os 13% alcançados em 1998. Ademais, o Brasil sinalizou recentemente que pode reduzir voluntariamente em 30% (para US$ 2 bilhões) o superávit com a Argentina para ajudar o pais vizinho a cumprir com suas obrigações financeiras.
Ao revelar as fragilidades do Mercosul, a cúpula do mês passado apontou não apenas para menos livre comércio na região, mas também para a ausência de uma agenda factível de negociação com terceiros países. Já em relação ao Paraguai, é provável que os problemas políticos se dissipem antes de terem algum impacto substantivo na região, exceto se o país decidir abandonar o Mercosul em definitivo para negociar acordos de livre comércio por conta própria - ou criar mais uma instituição regional.

Depois do mensalão - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 17/07

No segundo semestre, deve entrar na pauta do STF (Supremo Tribunal Federal) o julgamento da constitucionalidade de um dos artigos mais polêmicos da Lei Antidrogas. É um recurso extraordinário que questiona a criminalização do porte de drogas para consumo pessoal. A expectativa é a de que vá a plenário após o caso mensalão.

CARONA

A importância do julgamento levou entidades como o Instituto Brasileiro de Ciência Criminais a entrar no processo como "amicus curiae" (amigos da corte). Poderão fazer sustentação oral e tentar influir na decisão. "Da mesma forma que uma pessoa que tenta cometer suicídio não é punida legalmente, alguém que usa droga para consumo pessoal não pode ser penalizado", defende o advogado Cristiano Maronna, diretor do instituto.

DUPLA PUNIÇÃO

O relator do processo, ministro Gilmar Mendes, deve liberar o voto até o final de agosto. O caso levado ao STF é de um presidiário que foi condenado por uso de maconha. A pena por porte de droga para consumo é questionada pela Defensoria Pública de Diadema sob o argumento de que o artigo 28 da lei 11.343 é inconstitucional.

A VIDA DO BISPO

O bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, fechou com a editora Planeta para lançar o primeiro dos três volumes de sua autobiografia. A obra, feita em parceria com o vice-presidente de jornalismo da Record, Douglas Tavolaro, está prevista para sair na Bienal do Livro, em agosto.

SAMBA DE DEUS

O senador Magno Malta (PR-ES) levou à Marcha para Jesus, no sábado, alguns CDs de sua banda gospel, Tempero do Mundo. Ele, que cantou samba no palco do evento evangélico, em SP, é autor de músicas como "Papai do Céu", dueto com o pagodeiro convertido Waguinho.

É MENINO

A top Fernanda Tavares e o ator Murilo Rosa serão pais de outro menino. Grávida de cinco meses, ela acaba de gravar o primeiro reality de maquiadores do Brasil, "Desafio da Beleza" (GNT).

JOGA O BUQUÊ!
Otávio Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez e do conselho da Oi, acompanhou a filha Gabriela Azevedo ao altar no sábado. A coordenadora de marketing se casou com o administrador Pedro Muzzi na igreja Nossa Nossa Senhora do Brasil, nos Jardins, e comemorou na Sala São Paulo, com show de Preta Gil. Entre os convidados, Ana Carolina Azevedo, irmã da noiva, o ex-ministro Hélio Costa e sua mulher, Ana Catarina, o humorista Claudio Manoel, o casal João Pedro Flecha de Lima e Paola Mansur, Giovanna Modolin e Carolina Piva.

TIM MAGRO

Tiago Abravanel, que fez Tim Maia no teatro, está perdendo peso. O ator diz que não é regime nem malhação, mas o ritmo corrido de trabalho da próxima novela global das nove, "Salve Jorge". Ele anda pelas gravações, na Turquia, mostrando como os shorts estão folgados.

"Nunca vi, a gente tenta a vida inteira e de repente emagrece sem querer", diz o neto de Silvio Santos.

ALÔ, INFRAERO

David Carr, repórter e colunista de mídia do "New York Times", postou no Twitter, no domingo à noite: "O aeroporto de São Paulo é o primeiro e o último círculo do inferno". Depois, apagou a mensagem. Ele esteve em SP para dar palestra no Congresso de Jornalismo Investigativo da Abraji.

CURTO-CIRCUITO

O músico Humberto Gessinger lança hoje o livro "Nas Entrelinhas do Horizonte", na Livraria da Vila de Pinheiros, às 18h30.

As bandas Cambriana e Subburbia se apresentam hoje no Studio SP Vila Madalena, a partir das 21h. Classificação: 18 anos.

Consumidor confuso, lucro fácil - PEDRO RUBIM BORGES FORTES


O Globo - 17/07


Diante do clichê de que vivemos em uma era da informação, parece inusitada a ideia de que as novas tecnologias possam ser utilizadas mais para confundir, do que para explicar. Não raro, as promotorias do consumidor enfrentam o risco da incompreensão ao se insurgir contra o emprego de inovações científicas.

É importante reproduzir o alerta de pensadores como Jurgen Habermas e Boaventura Souza Santos, que nos lembram que o cientificismo e o elogio à tecnologia não podem esvaziar a ideia de justiça e a necessidade de preservação dos valores humanos. Afinal de contas, também vivemos numa era de direitos.

No caso dos medidores digitais de energia, por exemplo, a Aneel editou um regulamento em que concede liberdade ampla e irrestrita para as concessionárias definirem seus investimentos em tecnologia digital e o tipo de medidores. Ao invés de estabelecer um marco regulatório detalhado, assegurando a observância do Código do Consumidor, a Aneel delegou a prerrogativa indelegável de controlar a tecnologia às distribuidoras.

Esta omissão permitiu que os relógios domiciliares fossem substituídos por medidores digitais em postes, alienando o consumidor do controle do consumo. A elevação do preço das contas e a exigência de pagamento sob pena de corte de luz aumentaram a vulnerabilidade dos usuários. O marco regulatório é fundamental para proteger os direitos dos consumidores.

Na área de telecomunicações, é comum que o consumidor receba ofertas de novos pacotes por telefone. Nas conversas telefônicas, vantagens são realçadas e limitações são omitidas. O consumidor não é alertado sobre cláusula de fidelização, eleição de foro ou restrição de performance a 10% do contratado. A Anatel exige que os contratos específicos sejam enviados ao consumidor, no prazo de cinco dias.

Por se tratar de uma contratação feita à distância, é dado ao consumidor o direito de desistência a partir do recebimento do contrato. Na prática, as empresas descumprem a regra e apenas avisam que há uma cópia do contrato no seu site. Ora, se precisar ingressar na Justiça, o consumidor não tem como demonstrar os termos de seu contrato de serviços, nem se proteger de uma alteração unilateral lesiva.

No caso das instituições financeiras, a tradicional remessa do extrato bancário pelo correio agora é cobrada. A alternativa de extrair o documento nos caixas eletrônicos é insuficiente porque o papel é sensível a luz e os dados serão perdidos. O uso de internet banking também é limitado em um país que ainda enfrenta a exclusão digital. Inúmeros consumidores pagam a malfadada "tarifa de extrato bancário" para assegurar seu acesso à informação.

Outros clientes bancários simplesmente abriram mão deste direito para evitar a cobrança. Os bancos justificam a medida por minimização de papel, mas é a maximização do papel-moeda que explica melhor a questão. Os lucros aumentam com a arrecadação da tarifa e a ignorância do cliente induz certo descontrole da conta pessoal.

O Banco Central lamentavelmente protege, neste caso, os interesses dos bancos em detrimento dos direitos dos consumidores, deixando de proibir a tarifa abusiva.

Enfim, a tecnologia é aspecto inevitável da vida contemporânea e tem sido um importante instrumento de empoderamento individual. Informação é certamente uma fonte de poder. As intervenções do Ministério Público não pretendem impedir o progresso, mas evidenciar o lado obscuro de certas inovações tecnológicas.

A vulnerabilidade do consumidor, exposto a relações assimétricas de poder e de informação com as empresas, justifica o combate à tecnologia da desinformação.

A sociedade deve estar atenta e cobrar das agências reguladoras uma postura mais firme na defesa do direito à informação dos consumidores.

Prova material - DORA KRAMER


O Estado de S.Paulo - 17/07


De modo geral, as análises sobre o destino da CPI do Cachoeira depois da cassação de Demóstenes Torres convergiram para a conclusão de que um mandato de senador saciaria os apetites punitivos e, com isso, a tendência seria o esvaziamento dos trabalhos da comissão.

É uma maneira de ver as coisas. Um tanto apressada por se basear na opinião anônima de uma maioria interessada em mudar de assunto o quanto antes, desconsiderar o papel do público e, por isso mesmo, talvez equivocada.

A lógica diz justamente o contrário: cassado Demóstenes, comprovado ficou que na interpretação do Senado há realmente infiltração do crime organizado no ambiente político, o que por si já é motivo suficiente não para enfraquecer, mas para fortalecer o objetivo da CPI de investigar as relações do chamado esquema Cachoeira com agentes públicos e privados.

Aliás, se não fosse a repercussão que a comissão de inquérito deu ao caso, o desfecho da votação da semana passada no Senado poderia ter sido outro.

A realidade também informa que será preciso mais que um sofisma - aquele segundo o qual a retirada de Demóstenes de cena levaria a CPI a perder o sentido - para dar o dito pelo não dito.

A dificuldade para se levar a termo a tese do esvaziamento é que a comissão não é senhora dos fatos. Há o inquérito da Polícia Federal cujo conteúdo todos os dias fornece uma revelação que renova a necessidade de o Congresso levar adiante o que começou.

A mais recente envolvendo o governador de Goiás, Marconi Perillo, pode ser verdadeira ou não, mas precisa ser esclarecida. Afinal, a Polícia Federal está dizendo que um chefe de executivo estadual vendeu um imóvel a um acusado de comandar organização criminosa que pagou a ele com dinheiro de uma empreiteira em troca da liberação de pagamentos referentes a contratos com o governo.

Em português claro, acusa-se Perillo de ter recebido propina da Construtora Delta. Empresa que depositava dinheiro em empresas fantasmas para, segundo as suspeitas, irrigar dutos de corrupção e caixa dois de campanhas eleitorais.

Não bastasse, um prefeito (de Palmas) foi filmado combinando troca de favores com Carlos Cachoeira, outro governador (do Distrito Federal) mantinha em seu gabinete gente de relações estreitas tanto com o bicheiro quanto com a empreiteira e resta ainda esclarecer até que ponto a amizade do governador do Rio de Janeiro com o dono da Delta respeitou ou não a fronteira entre o público e o privado.

Tudo isso ganhou destaque por causa da CPI. Arquitetada com objetivos baixos, acabou tomando o rumo do inesperado, prestando-se a propósitos mais altos.

No ponto em que se chegou fica impossível promover um recuo à estaca zero. Simplesmente porque essa decisão não está nas mãos de nenhum partido, não depende da vontade dos senadores e deputados, não é um brinquedo a ser posto de lado por decreto parlamentar.

Querendo ou não, a única opção de suas excelências é prosseguir. Até porque já está patente que as informações originadas na Polícia Federal não deixarão que seja diferente.

Empurra. O publicitário Duda Mendonça acusa o colega Marcos Valério, que chama atenção para a responsabilidade dos "protagonistas políticos", entre os quais José Dirceu, que, por sua vez, joga culpa no ex-tesoureiro petista Delúbio Soares.

Eis o que resumidamente se conhece até agora das alegações das defesas desses três réus do processo do mensalão, indicando que juridicamente faz-se insustentável a versão disseminada no campo político de negar os fatos para transformar um escândalo de corrupção em conspiração golpista contra Lula e o PT.

Do exposto até agora pelos advogados, portanto, há admissão de que crimes houve, restando apenas estabelecer quem os cometeu. A partir desse pressuposto é que a desunião entre os acusados pode fazer prevalecer a força dos relatos contidos nos autos.

Pedala, candidato! - VERA MAGALHÃES

FOLHA DE SP - 17/07


SÃO PAULO - A julgar pelas atléticas imagens dos candidatos no fim de semana, a partir de 2013 São Paulo será uma cidade sobre duas rodas. Uns mostrando mais familiaridade, outros botando fé no ditado segundo o qual nunca se esquece como andar de bicicleta, José Serra (PSDB), Fernando Haddad (PT) e Gabriel Chalita (PMDB) puseram capacetes, deram suas pedaladas e se comprometeram com propostas para a chamada ciclomobilidade.

Prova de que o tema entrou definitivamente na agenda do paulistano. Resta saber se as promessas de se multiplicar as vias para bicicletas na cidade são factíveis e merecerão do eleito o mesmo gás que os postulantes tiveram para sair bem nas fotos.

Serra largou na frente e propôs, no sábado, a meta de 400 km de ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas. Além disso, pôde elencar as obras que já fez quando ocupou a prefeitura.

No dia seguinte, o petista Haddad repetiu exatamente o mesmo número de extensão de faixas, mas avançou na pauta dos cicloativistas ao propor a integração das bikes ao Bilhete Único do transporte público.

Tudo isso, somado à ênfase na educação de motoristas, ciclistas e pedestres, compõe o arsenal básico da agenda de ONGs e usuários.

Numa cidade em que se gasta boa parte do dia no trânsito, o incentivo ao transporte em duas rodas é uma política pública necessária e urgente.

Ainda assim, é impossível não ver com ceticismo tanto entusiasmo em período eleitoral quando a prática dos governos municipal, estadual e federal é incentivar o uso de carro -seja com benefícios fiscais, seja pela precariedade do transporte público.

Também são comuns declarações de autoridades associando bicicleta a risco de morte, como fez edição recente do "Diário Oficial" do Estado.

Com tal descompasso entre prática e fotos, é de esperar que os "bikecandidatos" aprimorem as propostas e, eleitos, tirem-nas do armário, como fizeram com os capacetes reluzentes e suas magrelas envenenadas.

As ideias não correspondem mais aos fatos - ARNALDO JABOR


O ESTADÃO - 17/07



O tempo atual é Renascença ou Idade Média? Os acontecimentos estão inexplicáveis, pois a barbárie das coisas invadiu o mundo dos homens. Temos um acesso a informação infinita, mas nada se fecha em conclusões coerentes, nada acaba, nada se define.

O socialismo não deu certo, o capitalismo global não trouxe paz nem progresso, tudo que depende da vontade dos homens e de seus sonhos de controle, não chega a um final feliz. As coisas têm vida própria e seus criadores não controlam mais os produtos. O mundo é cada vez mais uma tumultuosa marcha de fatos sem causa, de acontecimentos sem origem. Cada vez temos mais ciência e menos entendimento. As teorias não deram certo e percebemos hoje que Kafka e escritores do início do século 20, como Mann, Musil, depois Beckett e Camus sacaram o lance. Esperando Godot é mais profundo e profético que 100 anos de ilusões políticas.

Hoje, viramos objetos de um "sujeito" imenso, sem nome, sem olho, misterioso, que talvez só entendamos depois do tempo esgotado, quando for tarde demais. Essa é a sensação dominante.

Por que estou com essas angústias filosóficas hoje? Bem... porque no Brasil também estamos diante do dilema: Renascença ou Idade Média, progresso ou regresso?

A rapidez do mundo atual, para o bem e mal, nos deixa para trás. Vivemos uma modernidade veloz e falamos discursos antigos. As ideias não correspondem mais aos fatos, como cantou Cazuza.

Hoje as palavras que eram muros de arrimo foram esvaziadas de sentido. Uma palavra que era pau para toda obra: "futuro". Que quer dizer? Antes, 'futuro' era um lugar onde chegaríamos um dia, que nos redimiria de nossos sofrimentos no presente. Agora o termo 'futuro' tem uma conotação incessante, como se já estivéssemos nele. Estamos com saudades do presente, que nos escapa como um passado. O presente se esvai e o futuro não para de 'não' chegar.

Outra palavra: "Felicidade." Ser feliz hoje é excluir o mundo em torno. Ser feliz é uma vivência pelo avesso, pelo "não". Ser feliz é não ver, não pensar, é não se deixar impressionar pelas desgraças do País ou dos outros.

Outra: "Miséria." A miséria sempre nos foi útil. Diante dela tínhamos a vantagem, a riqueza da "compaixão". Era doce sentir pena dos infelizes. Hoje, diante das soluções impossíveis, temos uma espécie de raiva, de irritação nobre, bem 'ancien regime' contra os desgraçados. Ficamos humilhados diante da impotência de soluções. O pobre virou um 'estraga-prazeres'. E os nomes?

Que nome daremos ao desejo de extermínio que brota nos cérebros reacionários? Exterminar bandidos - e excluídos também?

E que nome daremos à paralisia da política brasileira, ao imobilismo das reformas, o absurdo desinteresse pelos dramas do País? Que nome daremos ao ânimo do atraso, à alma de nossa estupidez? Que medula, que linfa ancestral energiza os donos do poder do atraso, que visgo brasileiro é esse que gruda no chão os empatadores do progresso e da modernização? Vivemos sob uma pasta feita de egoísmo, preguiça, escravismo colonial. Que nome dar a essa gosma que somos?

Que nome dar às taras de nossos intelectuais incompetentes? São dois tipos básicos que surgem: o gênio inútil e o neocretino. O gênio inútil sabe tudo e não faz nada. O neoidiota tem certezas sem saber nada.

E que nome daremos a esse bucho informe que a miséria está criando nas periferias?

Como chamar esta nova língua, este novo "bem" dentro do "mal"? Não é mais "proletariado" ou "excluídos" apenas. Surge uma razão dentro da loucura. Parece um país paralelo esfarrapado, com cultura própria, com uma ética produzida pela fome e ignorância.

E na política? Quem somos, o que somos? Neoliberais, velhos radicais, neoconservadores, progressistas reacionários, direita de esquerda ou, hoje no poder, 'esquerdismo de direita'?

E a palavra chave de hoje: 'democracia.' Que é isso? Que quer dizer? No Brasil, democracia é lida como tolerância, esculacho, zona geral. Democracia, que é o único sistema 'revolucionário' a que devemos aspirar, é a melhor maneira de espatifar o entulho arcaico, corrupto, patrimonialista que o Estado abriga. A única revolução que se faria no Brasil seria o enxugamento de um Estado que come a nação, com gastos crescentes, inchado de privilégios e clientelismo, um Estado que só tem para investir 1,5 do PIB. A única revolução seria administrativa, apontada na educação em massa, nas reformas institucionais, já que, graças a Deus, a macroeconomia foi herdada do FHC e o Lula teve a esperteza de mantê-la, graças ao Palocci, que salvou o País.

Só um choque de livre empreendimento pode mudar o Brasil. Mas esta evidencia é vista com pavor. Como aceitar o óbvio, que o Estado, nas últimas décadas, congestionado, moribundo, só tem impedido o crescimento? Isso vai contra os velhos dogmas dos intelectuais... A maioria dos críticos sociais e culturais prefere morrer a rever posições. O recente caso do Paraguai é vergonhoso. Protestam pelo 'golpe', como se o Lugo fosse um grande líder, quando todo mundo sabe que era uma espécie de Berlusconi tropical; ignoram o fato de que a Constituição deles previa um 'impeachment' como esse e abrem caminho para que o fascista Chávez comece a provocar o Mercosul junto com a espantosa Cristina Botox que está destruindo a Argentina. Como perguntou alguém outro dia: 'Quando nossos intelectuais de esquerda vão denunciar pelo menos a Coreia do Norte?'

A verdade é que para eles a democracia parece lenta e ineficaz. Como disse o Bobbio: O ódio à democracia une a esquerda e direita. Querem um autoritarismo rápido, que mude "tudo isso que está aí". Esse episódio do Paraguai, que a presidente Dilma visivelmente teve de aderir de má vontade, por imposição dos 'cucarachas' fascistas, aponta para uma restauração da velha febre anti-imperialista que justifica e absolve a incompetência da América Latina. E tudo isso apoiado por picaretas neomarxistas como o showman Slavoj Zizek e alguns babacas daqui.

A América Latina está com fome de autoritarismo, que é bem mais legível para os paranoicos.

Colônias que não existem - VLADIMIR SAFATLE

FOLHA DE SP - 17/07


No dia 10 de julho, um grupo de juristas nomeados pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, divulgou um parecer a respeito do estatuto da ocupação da Cisjordânia. Entre tais juristas havia um antigo juiz da Suprema Corte, Edmund Lévy, um juiz de Tel Aviv, Tehiya Shapira, e Alan Baker. O resultado de tal parecer é uma afronta a toda e qualquer tentativa de pacificar a região.
O relatório afirma que simplesmente não há ocupação militar da Cisjordânia por Israel, já que a soberania da Jordânia sobre a Cisjordânia antes de 1967 era contestável. Além de que a Declaração de Balfour (feita à época em que a Palestina era protetorado britânico) mencionaria implicitamente os direitos dos judeus à Palestina, sem fazer menção aos árabes.
Nesse sentido, os israelenses teriam o direito de se instalar em toda a região. Ou seja, o parecer simplesmente joga no lixo a Declaração da ONU de 1948, que criava um Estado israelense e um Estado palestino, dividindo o território palestino ao meio.
Com um disparate desse tamanho, era de esperar que o governo israelense não se solidarizasse com o documento. Mas vários ministros, como Gilad Erdan e Eli Yshai, logo se apressaram em saudá-lo por mostrar que as colônias na Cisjordânia não seriam ilegais.
Não se ouviu nenhuma declaração clara de Netanyahu contra o documento. Mesmo os que se contrapuseram a tais conclusões, como o presidente Shimon Perez, usaram um argumento da ordem do inacreditável.
Segundo ele, o problema com a anexação da Cisjordânia estaria simplesmente no desequilíbrio demográfico que tal atitude poderia provocar, já que o futuro Estado de Israel, alargado, não poderia garantir mais uma maioria judia. Nada sobre o direito internacionalmente assegurado aos palestinos de terem um Estado próprio.
Não deixa de ser tragicamente cômico que o parecer afirme que governos israelenses sucessivos agiram "com uma total má-fé ao afirmar que as colônias tinham sido construídas ilegalmente ao mesmo tempo em que as encorajava".
No entanto ele o diz apenas para afirmar que, por terem sido erigidas com seu acordo, as colônias não precisam de nenhuma nova decisão do governo para serem legais.
Tudo leva a crer que há setores políticos na sociedade israelense que acreditam poder levar a ocupação da Palestina a um ponto onde qualquer retorno será impossível.
O tempo não é usado a favor da construção da paz, mas da criação de uma situação de fato consumado. Pela reação tímida que tal documento despertou na imprensa mundial, há de temer pelo futuro dos palestinos.

Investimentos privados em rodovias - MOACYR SERVILHA DUARTE


O ESTADÃO - 17/07


Já no final dos anos 1970 o economista Ignácio Rangel, criador da Eletrobrás e insuspeito de ser neoliberal, defendia a ideia de que a continuidade do progresso do País passava pela concessão de serviços públicos a empresas privadas. Para ele, estas tinham maiores possibilidades de levantar os recursos necessários que o poder público. E a utilização do contrato de concessão era uma forma de alavancar os financiamentos com dupla garantia, da concessionária e do poder público. Além disso, segundo Rangel, a concessão permitiria a cobrança da qualidade de serviços pelo concedente e pelos usuários, o que é difícil no caso dos governos, particularmente quando esses serviços são prestados por órgãos sediados a milhares de quilômetros.

A essas vantagens se soma a agilidade maior das empresas privadas em tomar decisões, adotar novas tecnologias, fazer investimentos de forma regular, regida pelos contratos, e, em especial, agir rapidamente nas situações emergenciais. Basta ver, no primeiro caso, que os avanços em sistemas inteligentes de transporte, como centros de controle operacional, só existem nas rodovias brasileiras sob gestão privada, e comparar a velocidade com que são reparados viadutos, pontes e outras obras prejudicadas por acidentes, intempéries ou pelo desgaste com o tempo.

As lições de Ignácio Rangel parecem finalmente ter sido absorvidas. O governo federal anunciou a preparação de um amplo plano de novas concessões nos setores de energia e transportes. As declarações da ministra do Planejamento ao apresentar a proposta consideraram as rodovias como coadjuvantes no processo, influenciada, talvez, pelo chamado "mito do rodoviarismo brasileiro". Mercadorias e pessoas são transportadas basicamente por estradas e o Brasil tem, proporcionalmente ao território, a menor rede rodoviária entre as 20 maiores economias do mundo, da qual boa parte está em mau estado. Assim, é preciso iniciar logo a ampliação e a melhoria do que existe, o que certamente não será feito em curto prazo pelo Dnit, apesar de seus esforços, como reconhecem seus dirigentes.

O estudo Projetos Prioritários de Duplicação de Rodovias, preparado pela Confederação Nacional do Transporte, relaciona 27 trechos (9.926 km) que podem ser repassados à iniciativa privada para serem duplicados, melhorados e mantidos com cobrança de tarifas. O investimento previsto é de R$ 48 bilhões, acrescidos de R$ 17 bilhões necessários à manutenção, para o que se usariam as várias modalidades de Parcerias Público-Privadas. Boa parte desses trechos certamente está incluída no trabalho feito pelo Ministério dos Transportes de estruturação da quarta etapa do Programa de Concessão de Rodovias Federais, cuja efetiva implementação depende de estudos de viabilidade de boa qualidade e de regras licitatórias compatíveis com a natureza e a complexidade dos empreendimentos. Registre-se que, das três concessões da terceira etapa, duas ainda dependem da revisão dos estudos de viabilidade.

Além desses, há investimentos de interesse público que já poderiam ter sido iniciados pelas atuais concessionárias, eliminando gargalos que aumentam o custo Brasil, reduzem a competitividade regional, trazem insegurança e desconforto aos usuários, mas têm sido brecados por preconceitos ideológicos ou razões eleitorais. É o caso, por exemplo, da nova ponte sobre a Lagoa do Guaíba (RS), da duplicação da Serra das Araras, da nova subida da serra em Petrópolis e da ligação da Ponte Rio-Niterói com a Linha Vermelha (RJ), que as concessionárias se propuseram a realizar, sendo compensadas pela aplicação da metodologia denominada "fluxo de caixa marginal", definida em resolução da ANTT aprovada pelo TCU.

No caso da nova ponte do Guaíba, estudos indicam que o prejuízo atual para o Rio Grande do Sul é superior a R$ 1,7 bilhão/ano, pelas perdas decorrentes da demora na travessia da atual, construída nos anos 1950, cujo vão móvel precisa ser levantado para a passagem de embarcações. Com esse impacto, que cresce ano a ano, a construção da nova ponte, que já poderia estar com as fundações avançadas se tivesse sido aceita a proposta da concessionária, teria retorno econômico para o Estado, e para o País, em menos de 12 meses. Recentemente foi noticiada a escolha da empresa que deverá desenvolver o projeto dessa ponte, cujo prazo para elaboração é de 540 dias. Após sua elaboração e aprovação, deverá ser realizada a licitação para executar a obra. Com isso seu início poderia ocorrer em 2014, com término apenas em 2017, se não houver surpresas. Pelos estudos econômicos mencionados, o atraso em relação à realização pela concessionária vai representar um prejuízo superior a R$ 5 bilhões para a economia gaúcha.

Os governos dos Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo já se utilizaram da metodologia do "fluxo de caixa marginal" para possibilitar investimentos não previstos nos contratos de concessão, respectivamente, na Rodovia dos Lagos e na ligação São Paulo-Baixada Santista. Enquanto isso, o governo federal mantém a indefinição quanto aos investimentos adicionais necessários nas rodovias concedidas, que alguns de seus componentes e apoiadores sonham ver ser feitos pelo Dnit em algum tempo indeterminado do futuro.

A competitividade do País e o aumento de sua produtividade exigem, além dos investimentos em outros modais, melhores rodovias e a expansão da atual malha, para acompanhar o extraordinário aumento da frota e o crescimento econômico dos últimos anos, o que a iniciativa privada está apta e pronta a fazer, desde que se propiciem condições adequadas. Hoje mais de 60 países utilizam a concessão e o pedágio para tornar viável o crescimento de seu sistema rodoviário, que não mais pode ser feito com recursos tributários, escassos diante das demandas sociais.

Talvez essa atitude de deixar para depois obras que poderiam ser feitas agora e atrairiam novos investimentos privados resulte da falta de sensibilização quanto às dificuldades e à insegurança dos usuários, que estão longe do centro do poder. Mas o retardamento pode tornar-se um verdadeiro tiro no pé, com prejuízo para toda a sociedade brasileira.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 17/07

Conexão política eleva diversificação de grupos
Além de fatores como a capacidade de investimento, a expansão dos maiores grupos empresariais brasileiros para diversos setores também depende da força de suas conexões políticas, segundo estudo da FGV.

O trabalho, do professor Rodrigo Bandeira-de-Mello e do pesquisador Maick Costa, da Eaesp FGV, mensurou a conexão política de acordo com a diferença entre as empresas que dão maior apoio a campanhas de candidatos que saem vitoriosos e aquelas em que os candidatos que recebem ajuda e são derrotados.

"Se a companhia consegue apostar melhor nos candidatos que apoiará, ela eleva a força de sua conexão, podendo participar mais ativamente da implementação de políticas públicas", diz Mello.

Quando, entre os períodos eleitorais, cresce a conexão política, sobe também a diversificação dos grupos por setores não relacionados. A conclusão foi apontada pelos modelos estatísticos desenvolvidos pelo estudo.

"O grupo ganha acesso aos recursos do país, seja em apoio institucional do governo ou em recursos materiais, como financiamentos", diz.

Os mais diversificados chegam a atuar em 18 setores como financeiro, agroindústria, transporte e têxtil.

"A relação é histórica. É mais barato para o governo ter apoio de alguns empreendedores para organizar políticas públicas de emprego e desenvolvimento econômico. E empresas sinalizam sua disposição por meio de conexões."

A amostra estudada só abrange grupos cujas empresas principais são listadas em Bolsa. Os resultados representam a média dos grupos.

SOB CONTROLE

Um projeto para controlar investimentos públicos na ordem de R$ 5 bilhões e tentar aquecer a economia de Santa Catarina será lançado hoje em Florianópolis pelo governador Raimundo Colombo (PSD).

Quatro programas, em parte já anunciados, irão compor o projeto, batizado de Pacto por Santa Catarina. A primeira etapa do Pacto envolve R$ 1 bilhão em obras financiadas por governo estadual, BNDES e BID.

Os editais dessa primeira etapa serão anunciados hoje e incluem construção e recuperação de 1.500 quilômetros de estradas, obras de prevenção às cheias do Vale do Itajaí e a construção de um complexo prisional.

"O objetivo é fazer a gestão do volume de investimento e injetar dinheiro na economia para dinamizá-la", disse o governador.

Segundo Colombo, no segundo trimestre deste ano, a expectativa era aumentar a arrecadação em 12%, ante igual período de 2011. O crescimento foi de 7%.

Os R$ 3 bilhões que foram anunciados para compensar o prejuízo do Estado com a unificação do ICMS (Santa Catarina cobrava uma alíquota menor para empresas que importavam por seus portos) estão contabilizados no projeto.

R$ 5 bilhões em investimentos serão coordenados com o programa "Pacto por Santa Catarina"

R$ 3 bilhões do total são para compensar o prejuízo que o Estado teve com a unificação do ICMS

R$ 1 bilhão aproximadamente será injetado na primeira parte do programa, que inclui recuperação de rodovias

Quatro programas de investimento público compõem o projeto, que será lançado hoje em Santa Catarina

VAREJO AUTOMATIZADO

O número de estabelecimentos comerciais automatizados no Brasil, com software de gestão e máquina emissora de cupom fiscal, chegou a 39,7% no ano passado, segundo estudo da Bematech, de soluções de tecnologia.

O índice é cerca de oito pontos percentuais maior que o registrado em 2010 (31,6%).

Os postos de combustível apresentaram o valor de automatização mais alto, de 88%. Em seguida aparecem farmácias e drogarias, com 77% do total desses estabelecimentos varejistas.

Entre os 30 setores que foram avaliados no estudo, onze registraram queda no índice de 2011, em comparação com o ano anterior.

Um deles foi o de bares e restaurantes, que passou de 38% para 23%. "A queda deve estar relacionada com um grande número de inaugurações no setor", diz Geisa Bonfiette, da Bematech.

A companhia entrevistou 3.239 pessoas.

MULHERES NO ATAQUE

Mulheres de 31 a 40 anos. Esse é o perfil mais frequente das pessoas que apresentaram queixas neste ano no Procon-SP, de acordo com dados do Sindec (Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor).

Em todas as faixas etárias, o número de reclamações realizadas por mulheres é superior ao dos homens.

Os dados incluem as 95,6 mil queixas feitas contra empresas no Estado de São Paulo até o último sábado.

Balanço... A Anefac, a Fipecafi e a Serasa Experian vão anunciar hoje os nomes das companhias consideradas mais transparentes na economia brasileira, com base nos números de 2011. Os balanços financeiros de empresas foram analisados por três meses.

...empresarial Na categoria de empresas de capital aberto com faturamento acima de R$ 5 bilhões, as primeiras da lista são Braskem, Sabesp, CSN, Cemig, Embraer, entre outras. Na categoria de capital fechado, aparecem Refap e Eletrobras Eletrosul.

Operação... O risco operacional é apontado por mais de 25% dos executivos como o mais relevante para a empresa, de acordo com levantamento da Amcham.

...arriscada Outros riscos citados pelos executivos foram os de reputação e os de adequação às leis, segundo 18,6%. Também foram mencionados os riscos de mercado, como mudanças das condições setoriais que afetam todas as empresas, e os estratégicos.

Em falta As ações contra inadimplência em condomínios cresceram 13% no primeiro semestre deste ano, ante mesmo período de 2011, no Fórum de São Paulo, segundo pesquisa do Grupo Hubert.

O crime ensinado - JANIO DE FREITAS

FOLHA DE S.PAULO - 17/07


A instrução dada até na rua a soldados do 1º Batalhão de Polícia do Exército, no Rio, é criminosa

ALÉM DAS providências urgentes que lhe competem, o ministro da Defesa, Celso Amorim, está devendo à população, como mantenedora única das Forças Armadas, a informação de que o seu Exército não é, ou não continuará a ser, também escola de crimes. Ainda que em partes determinadas de sua estrutura. Tanto mais se da mesma criminalidade facinorosa que inclui o Brasil nos acusados de crimes contra a humanidade e com autorias protegidas pela instituição militar -como ficou definido na Corte Internacional da OEA e na ONU.
A instrução dada até na rua a soldados do 1º Batalhão de Polícia do Exército, no Rio, é criminosa. Incompatível com o direito brasileiro. Como criminosos são os instrutores. O que fazem esse oficiais e sargentos é indução de crime de morte. Com requintes de crueldade.
"Bate, espanca, quebra os ossos. Bate até morrer." Como fizeram oficiais da mesma PE, então reduzida a câmara de tortura e morte sob o nome de DOI-Codi, quando se juntavam a outros para executar aquele propósito. E, curvados pela democracia, há 27 anos não fazem mais do que fugir das suas responsabilidades.
No exercício em meio aos transeuntes da histórica rua Barão de Mesquita, a comprovação de que o ensinado está bem aprendido faz-se pelo diálogo entre instrutor e alunos: "E a cabeça?" / "Arranca a cabeça e joga no mar".
Segue-se a confissão como assinatura: "E quem faz isso?" / "É o esquadrão Caveira". (O testemunho da instrução foi publicado pela coluna "Panorama Político", de Ilimar Franco no "Globo", da qual transcrevo as frases entre aspas). Não foi, vim a saber, instrução boçalmente ocasional. Continua sistemática, vinda de longe. E outros testemunhos publicados, há algum tempo, comprovam que não se limita à PE.
A Polícia Militar, nela adotadas instruções típicas do Exército desde a ditadura, já exigiu de ex-comandantes a redução das exposições públicas de instrução criminosa, feitas em plena zona sul carioca.
Com sua aplicação frustrada na democracia, a persistência da instrução para o crime hediondo vale como informação de que o futuro visto por setores do Exército não coincide com o futuro democrático determinado pelas instituições superiores, pela Constituição e pela vontade nacional. Mas nem por isso é reprimido.
E, como persiste, algum resultado há de ter. Sabe você onde a bandidagem aprendeu a manipular as armas maiores que transtornam a vida em cidades brasileiras? No serviço militar e nas PMs. E, com esse trato íntimo das armas, para muitos vem a instrução que dá intimidade psicológica com o crime, a tortura, o assassinato.
O ministro Celso Amorim considera "inaceitável" a instrução noticiada. Todos os milhões de vítimas visadas pela instrução também consideram. Mas quem pode mostrar na prática a sua rejeição é só o ministro. Aguarda-se.

Na crise, uns choram, outros vendem lenços - ROBERTO LUIS TROSTER


VALOR ECONÔMICO - 17/07

A preocupação com os rumos da economia brasileira aflige cada vez mais. O desempenho do país está piorando, é o lanterna da América Latina, bem atrás dos demais, quando, em razão de seu potencial produtivo e vantagens que tem, deveria ser o carro-chefe. Mais que a deterioração, surpreende a reação.
Abundam lamentos culpando a crise na Europa, a guerra cambial, o pessimismo da indústria e a má vontade dos banqueiros. É arriscado acreditar em relatos que colocam a responsabilidade do freio da economia brasileira no exterior e em empresários em vez de analisar a adequação da condução econômica à realidade. Deve-se evitar um diagnóstico equivocado.

Um exame dos indicadores conjunturais mostra que o quadro interno está se deteriorando mais que o externo. O preço das exportações brasileiras tem apresentado pouca variação, o custo de recursos externos continua num patamar histórico de baixa e os fluxos externos continuam volumosos. Não justificam a desaceleração interna da economia. Há outra explicação possível.

A causa é a política reacionária do governo, refém de um paradigma ultrapassado. Seu receituário teve sua razão de ser nas décadas de 1930 a 1950; atualmente é inconsistente e é a razão das dificuldades. Querendo ficar bem na foto defendendo um crescimento do PIB o mais alto possível em 2012, adotam medidas no tripé finanças públicas, crédito e incentivos ao setor produtivo no curto prazo, sem medir o impacto futuro. Esquecem que a realidade é um filme que começou no passado e que continua no ano que vem e nos próximos.

Nas finanças públicas, no lado da receita, são dezenas de impostos, taxas e contribuições com centenas de alíquotas diferentes que dão emprego a milhares de contadores, advogados e despachantes, mas encarecem o custo da produção nacional. Do lado dos gastos do governo, sua serventia para o desenvolvimento é discutível; o pacote anunciado há duas semanas ilustra o ponto: compras no valor de R$ 8 bilhões, o que no lado da demanda, aumenta o Produto Interno Bruto (PIB) nesse montante para este ano, mas deixa dúvidas de quem são seus beneficiários, suas vantagens para a economia e seus impactos nos anos vindouros.

No crédito, apesar dos anúncios, a demanda continua fraca e a inadimplência aumentando. Os números mostram de forma contundente que a contribuição da intermediação financeira ao crescimento está bem aquém de seu potencial. O atual modelo é inconsistente intertemporalmente; uma análise dos custos e retornos mostra isso. Todavia, insiste-se numa alquimia que não funciona, não vai dar certo e terá consequências adversas no futuro.

O sistema bancário brasileiro é sofisticado, mas, por um lado, está focado nos resultados de curto prazo e por outro preso a um sistema vultoso de regulamentações, depósitos compulsórios absurdamente elevados, uma tributação bizantina, direcionamentos anacrônicos e mecanismos de transmissão emperrados. Tem a capacidade de ser um propulsor da economia na próxima década, mas sem ajustes certamente não será.

A política de autarquia produtiva, com protecionismo e subsídios, não tem como dar certo num mundo que se globaliza cada vez mais. Está se vivenciando a terceira revolução industrial e aplicam-se aqui as políticas de substituição de importações do pós segunda guerra mundial, uma insensatez. Os incentivos concedidos recentemente beneficiam mais os industriais do que as indústrias, e comprometem o futuro do setor, que fica menos competitivo no resto do mundo.

É fato que o investimento é influenciado pelo estado de espírito dos empresários, mas mais importante que isso é sua análise custo e benefício, onde pesam os tributos, as contingências e a burocracia. Nos rankings de competitividade que avaliam a facilidade de empreender, o Brasil está mal colocado e, o que é pior, perdendo posições. Com isso, investimentos que poderiam ancorar aqui são destinados a outros países onde é mais simples e barato investir.

Uma justificativa dada para insistir na atual política econômica é anunciar uma recuperação no segundo semestre e um crescimento maior em 2013, é o mais provável, mas não é certo. Há sinais claros do esgotamento dos incentivos à demanda agregada com gastos públicos e consumo sem a contrapartida de estímulos adequados à produção nacional. Além disso, o cenário apresenta alguns riscos no horizonte como um possível agravamento da economia argentina, queda no crescimento chinês e demoras na retomada europeia.

A bem da verdade, o quadro internacional, se bem aproveitado, também oferece oportunidades ao Brasil, como um crescimento mundial da demanda de alimentos e de energia superior à expansão da oferta e a existência de recursos e empresários do mundo inteiro atrás de um porto seguro para investimentos. A chave para aproveitar esse cenário está na gestão do tripé finanças públicas, crédito e setor produtivo, mas de forma sustentável.

Para capitalizar essa oportunidade torna-se necessário mudar paradigmas: de mercado interno para estrutura produtiva interna; de crédito de consumo para crédito responsável; da geração de empregos para a criação e sobrevivência de empresas; de desvalorização para internacionalização do real; de redução da Selic para melhora do mecanismo de transmissão; de gastos públicos para eficiência do setor público; de proteção às cadeias produtivas locais para inserção conveniente nas cadeias produtivas globais; e de crescimento do PIB em 2012 para crescimento até 2022. Urge.

Apelos emocionais e culpas a terceiros têm um uso político, mas não resolvem problemas; lamentar e não mudar quando tudo indica que é o que deve ser feito é perigoso. A atual equipe econômica tem méritos, mas é necessário que troque seus paradigmas para fazer acontecer. Está na hora de começar a vender lenços.