quinta-feira, julho 05, 2012

O sorriso do brasileiro - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 05/07

O brasileiro está com mais dentes. O ministro Alexandre Padilha, da Saúde, anuncia hoje que foram produzidas no Brasil, em 2011,340 mil próteses dentárias, 85% a mais que em 2010.
De janeiro a abril deste ano, já foram feitas 102 mil. A meta é chegar a 400 mil até dezembro.

A morte de Dom Pedro
Estudo coordenado pela arqueóloga Valdirene do Carmo Ambiel nos restos de Dom Pedro I (1798-1834), guardados na cripta do Ipiranga, em São Paulo, podem mudar o registro histórico da morte do monarca.
Pela análise, o imperador não teria morrido de tuberculose e sífilis, mas de problemas renais.

Por falar em realeza...
Desembarca no Rio hoje, para um passeio, a princesa Dona Elena de Espanha, filha do rei Juan Carlos. Bem-vinda.

Caso médico
Antonia Frering, a filha da so-cialite Carmem Mayrink Veiga, festeja a cura de um câncer.
A bela, que vai pôr um mega-hair, aceitou convite para participar de “Salve, Jorge”, próxima novela de Glória Perez, na TV Globo.

No mais
A 707 dias da Copa de 14, a principal escada rolante do desembarque do Aeroporto Internacional JK, em Brasília, completa três meses de interdição.
Os caciques da Infraero dizem que falta uma peça.

Xuxa, só com roupaA 16+ Câmara Cível do Rio manteve liminar obtida por Xu-xa que proíbe a TV Record de exibir fotos dela sem roupa em seus programas ou sites.
Se descumprir, a emissora terá de pagar multa de R$ 1 milhão por exibição.

O BIOLOGO MARIO Moscatelli, defensor do verde do Rio, fez esta foto ontem, por volta de 10h, para provar que uma ilha de lama de uns 15km2 toma conta da Baía de Guanabara, pena, entre a foz dos rios São João de Meriti e Sarapuí. Veja a tragédia na imagem. A parte da baía que separa Duque de Caxias da Ilha do Governador, segundo Moscatelli, também assoreou. "Antes, tinha 3km de largura. Hoje, não tem mais de 400m, um canal raso", lamenta. "Infelizmente, para este trecho da baía, oapocalipsejá existe, ojuízo final já começou. Precisamos de menos factóides e mais ação." São Sebastião do Rio de Janeiro, valei

Gois na Flip I
O Sindicato Nacional dos Editores de Livros firmou convênio com o Coppead/UFRJ para uma pesquisa inédita, que vai durar dois anos, sobre o mercado editorial brasileiro.

Gois na Flip II
A Rocco lança em agosto nova edição, em volume único de capa dura, de “Os pilares da Terra”, do britânico Ken Follet.
O livro vendeu mais de 18 milhões de exemplares no mundo e ganha reimpressões há mais de 20 anos. Será um dos destaques da Rocco na Bienal de São Paulo.

Gois na Flip III
Houve quem sentisse falta, ontem, na mesa de abertura da 10+ Flip, de uma homenagem maior à editora inglesa Liz Calder, ide-alizadora da festa do livro.
Faltou uma referência maior até no breve discurso de Mauro Munhoz, diretor-geral da Flip.

Fla x Flu tombado
O vascaíno Eduardo Paes assina amanhã um decreto que torna o centenário clássico Fla x Flu patrimônio imaterial do Rio.

Aliás...
O tricolor Nelson Rodrigues (1912-1980) chamava o Fla x Flu de “os irmãos Karamazov do futebol brasileiro”.

Gois é cultura...
“Os irmãos Karamazov” é um romance do russo Fiódor Dos-toiévski, escrito em 1879, sobre o embate entre um pai e seu filho (daí também a referência de Nelson ao clássico, pois o futebol do Flamengo nasceu de uma costela do Fluminense).

Bença, vó
Cristiana Oliveira, 49 anos, a eterna Juma Marruá da novela “Pantanal”, vai ser avó.
Sua filha Rafaela, de 29, está grávida.

Responsabilidade fiscal
Sérgio Cabral empossa hoje 35 analistas de finanças publicas, carreira nova no Rio, inspirada na Secretaria do Tesouro Nacional.

Corinho de fogo
Depois de funk e kuduro, o sucesso musical no Camelódromo do Rio é o... “corinho de fogo”.
É música neopentecostal, que lembra o carimbó. Ontem, três barraquinhas tocavam nas alturas na Rua Uruguaiana. Em Morro Agudo, “corinho de fogo” é... deixa pra lá.

A dança das cadeiras - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE 05/07

Políticos são seres esquisitos por natureza. Vivem mais no futuro do que no minuto presente. Ao mesmo tempo em que destinam os dias a fechar as alianças para o pleito municipal, planejam os movimentos seguintes e 2014 como se entre uma eleição e outra houvesse apenas uma noite no meio. Nesse sentido, o pós-eleitoral desponta forte nos bastidores. Notícias sobre a formação de novos partidos percorrem o plenário da Câmara, do Senado e até mesmo a Esplanada na velocidade de uma bala, ricocheteando por todas as legendas, sem exceção. 
O burburinho começou na semana passada, quando o Supremo Tribunal Federal concedeu ao PSD o direito de desfrutar de tempo na tevê e recursos do fundo partidário. A comemoração da turma de Gilberto Kassab enebriou outros grupos, hoje atuando como frentes em defesa de variados interesses. A bancada evangélica, sempre atenta à preservação do direito à liberdade de culto religioso e contra a descriminalização do aborto, por exemplo, soma quase 50 deputados. Em conversas reservadas, muitos de seus líderes já trabalham a construção de uma bancada.
Os ruralistas formam outro grupo poderoso. Na votação do Código Florestal, tema que retorna à pauta nessa reta final pré-recesso, seus integrantes demonstraram capacidade de execução de coreografias ousadas, obrigando a presidente Dilma Rousseff a recorrer ao veto — recurso final usado pelo governo para não expor a chefe da Nação anfitriã da Rio+20 ao risco de deixar a conferência agraciada com o troféu motosserra de ouro. Agora, não são poucos os integrantes da bancada agrícola que, reservadamente, tratam da hipótese de formação de um novo partido. Até mesmo os sindicalistas, caso de Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, hoje candidato a prefeito de São Paulo pelo PDT, olha com ares de interesse para essa perspectiva. “Vamos ver ali na frente”, comenta ele. 

Por falar em motosserra...Esses projetos, entretanto, só serão colocados em prática depois das eleições municipais. Ninguém em sã consciência, a não ser os mentores do Partido Ecológico Nacional (PEN), pretende derrubar o cenário eleitoral formando novos partidos agora. A campanha começa daqui a algumas horas e reorganização partidária virá assim que os resultados das eleições municipais forem conhecidos. 
Os partidos médios e pequenos tendem a desaparecer ou partirem para uma fusão. O DEM, que ainda guarda a altivez dos tempos em que era o poderoso PFL, tentará se segurar, desde que receba sinais de boa vizinhança por parte do PSDB. Mas é arriscada essa sobrevivência em carreira solo, sem aglutinação com outros partidos médios ou mesmo com os tucanos. Não por acaso, seus líderes se debateram como puderam contra o tempo de tevê e fundo partidário ao PSD. Sabiam que, dessa forma, a sorte deles e de muitos outros estaria lançada. A partir de agora, cada deputado tem um preço: 2 segundos e 33 centésimos, além de uma fração do fundo partidário. E, naturalmente, grupamentos novos vão se formar e gravitar em torno de nomes que representem expectativa de poder. Esse movimento começa no dia 8 de outubro, dia seguinte à eleição municipal. É o novo MR-8. 

Por falar em poder...O PSDB calcula que pode ganhar algum terreno nessa história. Afinal, a tendência é a disputa eleitoral que entra em cena nesta sexta-feira produzir mais insatisfeitos do que vitoriosos na base governista. Não podemos esquecer que o mensalão surgiu em 2005, depois das eleições municipais de 2004, quando houve estremecimentos entre os partidos da base de Lula. Um dos propulsores daquelas denúncias foi a irritação de aliados por causa da má distribuição do peso do governo entre os candidatos de partidos que conviviam em aparente harmonia na galáxia lulista. E há quem diga que basta um passo de Dilma fora da linha para que seu governo tenha problemas a partir de outubro e Aécio, se apresentar algum perfume de poder, coletará alguns grupamentos que se dirão tão independentes quanto o PSD dispostos a se deixarem atrair para o seu lado. 
Não por acaso, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, adotou o papel de porta-voz colocando a presidente fora dos palanques. O governo teve o cuidado de definir o ato de hoje em São Bernardo, com Luiz Marinho, como algo que “tecnicamente” não é campanha. A presidente sabe que não é hora de acirrar mais os ânimos exaltados pela precipitação dos movimentos de independência do PSB surgidos em Recife, com reflexos em Belo Horizonte, e outras cidades importantes onde petistas e socialistas terminaram em palanques opostos e hoje ninguém sabe onde isso vai desaguar. Sabe-se apenas que há uma ópera nova em cartaz na política e o PT avisa que vai monitorá-la de perto para que o eleitorado não caia de amores por novos cenários, obrigando seus caciques a desocupar o Palácio do Planalto no futuro. 

Por falar em desaguar...A carta de Maurício Rands se desfiliando do PT e da vida pública lembrou a muitos o movimento do atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Em 2010, Cardozo era deputado, anunciou não ser candidato a nada e se preparava para voltar à advocacia. Terminou coordenador da campanha de Dilma Rousseff ao Planalto e, de lá, para o governo.

A revolução das lâmpadas! - TUTTY VASQUES


O Estado de S.Paulo - 05/07

A notícia de que a lâmpada incandescente está com os dias contados no Brasil anuncia o fim de uma era. Houve um tempo em que a iluminação de um ambiente suscitava uma única indagação do moço da loja de material elétrico: "Quantas velas?"

Experimenta só, hoje em dia, comprar uma lâmpada na esquina! O balconista vai te encher de perguntas: alógena ou LED? Dicróica ou minidicróica? PAR ou Halopin? Fluorescente compacta ou incandescente refletora? Neon ou filamento de fibra ótica? Eletrônica circular ou tubular? Branca ou amarelada? (Os ricos preferem as de cor mais quente, acham as "frias" meio cafonas.)

A nova classe média brasileira só começou a ter dúvidas a respeito recentemente, depois que o governo baixou o IPI para luminárias e lustres, barateando o preço final dos produtos com criação de designers - ô, raça! -, os grandes responsáveis pela insustentável diversidade das lâmpadas.

Agora que as incandescentes subiram no telhado no Brasil, não demora muito ninguém achará a menor graça naquela velha piada que contabiliza um total de três portugueses para trocar uma lâmpada: um para subir na escada e dois para girá-la! Muito em breve, presume-se, nenhum ponto de luz terá rosca! 


Vale-tudo

A indústria de celebridades aderiu às más notícias para ampliar o espaço na mídia da turma fabricada em reality shows. Exemplo da semana: "Casa do pai do ex-BBB Daniel Saullo pega fogo em Passa Quatro"! É o tipo da informação que, sem uma boa assessoria de imprensa, não sai nos jornais.

Deixa quieto

Tem coisas que a gente até faz, mas não sai por aí dizendo que foi o primeiro a ter a péssima ideia! A Rede Record devia ter vergonha de acusar o SBT de plágio do quadro "Jogo da Afinidade".

No páreo

O concurso que vai eleger a "Notícia Enguiçada do Século" confirmou nesta semana uma forte concorrente ao título: "Cientistas descobrem nova pista da partícula de Deus" - quantas vezes você leu algo a respeito nos últimos anos?

Defeito colateral

Não é só na tribuna do Senado, não! Demóstenes Torres já vinha falando sozinho em casa há um tempão.

1+1+1+1...

Tomara que os mexicanos não tenham aprendido a recontar votos com os vizinhos americanos!

Tá sentindo?

O clima voltou a ficar tenso no Estreito de Ormuz. Relaxa que passa, vai!

Acelera Mano

Ultrapassado na mesma volta do ranking da Fifa pelas seleções de Portugal, Itália, Argentina, Holanda, Croácia e Dinamarca, o time de Mano Menezes caiu para a 11ª colocação e já começa a ser ameaçado por Felipe Massa e Bruno Senna.

Ciúme bobo

Fátima Bernardes não está legal! Não sabe explicar por que, mas se sente insegura com Renata Vasconcelos substituindo Patrícia Poeta no Jornal Nacional. Bobagem, né não?

Custo Lula (2) - CARLOS ALBERTO SARDENBERG


O Globo - 05/07


Uma das broncas do então presidente Lula com a Vale estava no assunto siderúrgicas. A companhia brasileira deveria progredir da condição de mero fornecedor de minério de ferro para produtor de aço, tal era o desejo de Lula.

Quando lhe argumentavam que havia um problema de custo para investir no Brasil - e não apenas em siderúrgicas - o ex-presidente apelava para o patriotismo. As empresas privadas nacionais teriam a obrigação de fabricar no Brasil.

Por causa da bronca presidencial ou por erros próprios, o fato é que a Vale está envolvida em três grandes siderúrgicas - ou três imensos problemas - conforme mostra em detalhes uma reportagem de Ivo Ribeiro e Vera Saavedra Durão, no "Valor" de ontem. Em Marabá, no Pará, o projeto da planta Alpa está parado, à espera da construção de um porto e de uma via fluvial, obrigação dos governos federal e estadual, e que está longe de começar. No Espírito Santo, o projeto Ubu também fica no papel enquanto a Vale espera um cada vez mais improvável sócio estrangeiro. Finalmente, o projeto de Pecém, no Ceará, está quase saindo do papel, mas ao dobro do custo original.

E quer saber? Seria melhor mesmo que não saísse. Acontece que há um excesso de oferta de aço no mundo e, mais importante, os custos brasileiros de instalação das usinas e de produção são os mais altos do mundo. Não, a culpa não é só do dólar nem dos chineses. Estes fazem o aço mais barato do planeta, com seus métodos tradicionais. Mas o aço brasileiro sai mais caro do que nos EUA, Alemanha, Rússia e Turquia, conforme um estudo da consultoria Booz.

A culpa nossa é velha: carga e sistema tributário (paga-se imposto caro até durante a construção da usina, antes de faturar o primeiro centavo), burocracia infernal e custosa, inclusive na disputa judicial de questões tributárias e trabalhistas, e custo da mão de obra.

Dados do economista Alexandre Schwartsman mostram que os salários estão subindo no Brasil na faixa de 11 a 12% anuais. A produtividade, estimado 1,5%. Ou seja, aumenta o custo efetivo do trabalho, e mais ainda pela baixa qualificação da mão de obra. Jorge Gerdau Johanpeter, eterno batalhador dessas questões, mostra que a unidade de trabalho por tonelada de aço é mais cara no Brasil do que nos EUA.

Não há patriotismo que resolva. Mas uma boa ação governamental ajudaria. Reparem: todos os problemas dependem de ação política e, especialmente, da liderança do presidente da República. Trata-se de reformas tributária e trabalhista, medidas legais para arejar o ambiente de negócios, simplificar o sistema de licenças ambientais, reforma do Judiciário e por aí vai, sem contar com um impulso na educação.

Se isso não anda, é falha de governo, não do mercado. A crise global é a mesma para todo mundo, mas afeta os países diferentemente, conforme suas condições locais. O Brasil precisaria turbinar os investimentos, mas não há como fazer isso num ambiente tão desfavorável e tão custoso. O governo cai então no estímulo ao consumo e no protecionismo para barrar e/ou encarecer os produtos estrangeiros. De novo, não conseguindo reduzir o custo Brasil, aumenta o custo mundo.

A situação é ainda mais grave no lado dos investimentos públicos. Uma das obras de propaganda de Lula era a Ferrovia Norte-Sul, tocada pela estatal Valec. Pois o Tribunal de Contas da União verificou que o dormente ali saía por R$ 300, enquanto na Transnordestina, negócio privado, ficava por R$ 220.

O atual presidente da Valec, José Eduardo Castello Branco, nomeado há um ano, depois das demissões por denúncias de corrupção, conta ainda que vai comprar a tonelada de trilho por R$ 2 mil, contra o preço absurdo de R$ 3 mil da gestão anterior, que vinha lá do governo Lula.

Claro que um presidente da República não pode saber quanto custa uma tonelada de trilho, muito menos o preço de um dormente. Nem pode acompanhar as licitações. Mas o ritmo "vamo-que-vamo" imposto pelo ex-presidente, junto com o loteamento político das estatais, criou o ambiente para os malfeitos e, mais importante, porque mais caro, para os enormes equívocos na gestão dos projetos.

O diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, general Jorge Fraxe, também nomeado por Dilma para colocar ordem na casa, conta que encontrou contratos de obras no valor de R$ 15 bilhões - ou "15 bilhões de problemas".

Quando o mundo vai bem, todos crescendo, ninguém repara. Quando a coisa aperta, aí se vê o quanto não foi feito ou foi feito errado.

A herança maldita na Petrobras - SÉRGIO GUERRA


O Globo - 05/07


No primeiro plano de negócios (2012-2016) divulgado pela atual presidente da Petrobras, Graça Foster, não deixa margem para qualquer dúvida: o desempenho da estatal vem retrocedendo desde que o PT chegou ao poder, em 2003.

Depois de verificar que a empresa não vinha cumprindo as metas de produção estabelecidas, Graça Foster decidiu rever esses números para um patamar que definiu como mais "realista", deixando clara sua reprovação em relação à herança - por que não dizer maldita - recebida de seu antecessor, Sérgio Gabrielli.

Ao reconhecer o atraso em mais de um ano na operação de novas plataformas, a presidente da estatal baixou em 700 mil barris de petróleo por dia a estimativa de aumento da produção até 2020.

Essa parece ser a primeira de uma série de mudanças na gestão da estatal, que ao longo dos dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sofreu forte pressão política e acabou tendo parte de seus cargos técnicos e diretorias dividida entre aliados da base governista.

A interferência política na gestão da Petrobras ficou bastante clara em 2007, após a descoberta do campo de Tupy no pré-sal e da decisão do governo Lula de alterar o marco regulatório do petróleo - de comprovado sucesso formulado e implementado no governo do PSDB - em meio a uma intensa campanha publicitária vinculada ao projeto eleitoral do PT, em 2010, que acabou garantindo a eleição de Dilma Rousseff.

O resultado desta "reforma da reforma" foi um desastre para o setor e para a Petrobras.

Aos poucos os prejuízos estão sendo percebidos e contabilizados. Graça Foster tenta consertar a irracionalidade e o aparelhamento partidário dentro da empresa na medida do possível, mas o setor foi desorganizado e o modelo institucional perdeu bastante credibilidade.

Sob a batuta de Fernando Henrique, com a flexibilização do monopólio da Petrobras, uma atuação firme da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e a realização de leilões anualmente, o Brasil viu sua produção de petróleo crescer em 150%.

Com a suspensão dos leilões desde 2008, deixamos de arrecadar algo em torno de R$ 15 bilhões nos últimos quatro anos.

Além disso, a área exploratória sob concessão, que alcançou um máximo de 341 mil km² em 2009, será reduzida para 114 mil km² no final de 2012, em razão da falta de novos leilões, o que deverá comprometer ainda mais a produção futura de petróleo no país.

Os investimentos privados definham, as empresas estrangeiras vão embora e a Petrobras e a OGX se desvalorizam.

Só na semana passada, os acionistas da Petrobras amargaram uma perda de R$ 22,3 bilhões.

Esse processo de desvalorização começou em 2009, quando o governo iniciou uma operação de capitalização da Petrobras que se mostrou desastrosa para o acionista minoritário.

Além de demorar mais de um ano, devido a uma série de indefinições e de uma total politização de todo o processo, provocou uma desvalorização de 43% nas ações da empresa desde então.

Com isso, fica cada vez mais distante o sonho da autossuficiência na produção de petróleo.

Os números falam por si: a importação de gasolina, por parte do Brasil, passou de nove mil barris diários em 2010 para 80 mil, de acordo com as estimativas previstas para este ano.

Se não bastasse, estamos também importando diesel e etanol.

Números 10:16 - ALEXANDRE SCHWARTSMAN


Valor Econômico - 05/07



Números é, talvez, o livro mais chato do Pentateuco. Enquanto o Gênesis e o Êxodo concentram algumas das histórias mais famosas (e fascinantes) da Bíblia, Números relata censos, impostos e outros assuntos em nada semelhantes à maravilha da Criação, à força do dilúvio ou à grandeza épica da fuga do Egito.

O Relatório de Estabilidade Financeira (REF) do BC é também uma leitura aborrecida. Ao contrário do Relatório de Inflação que, longe de ser um thriller, ainda pode oferecer algumas emoções no que diz respeito à trajetória esperada da inflação e da taxa de juros, o REF lida com temas como testes de estresse, sistema de pagamentos e outros capazes de por para dormir os economistas mais disciplinados. Talvez por isso, da mesma forma que ocorre com o livro dos Números, quase ninguém lê o REF, o que é uma pena, pois há lá uma riqueza de informações, disponíveis no site do BC.

Dentre elas, o que mais me chamou a atenção é sua medida do spread bancário. Conhecia, como todos, as estimativas do spread bancário publicadas mensalmente na nota à imprensa referente à política monetária e operações de crédito, cuja edição mais recente indica que o spread teria caído a 24,7% em maio, enquanto em dezembro de 2011 estaria em 26,9%. São esses dados que alimentam a visão sobre os ganhos do sistema bancário.

Para entender o setor bancário temos que nos ater ao que os números dizem, mesmo que não digam o que queremos

O que raramente é dito, porém, é que tais estimativas são baseadas numa amostra relativamente reduzida tanto das operações de crédito como das fontes de financiamento dos bancos. Baseiam-se, ademais, nas novas concessões: se determinado banco concedeu um crédito de dois anos para uma empresa e um valor equivalente em empréstimos de um mês para consumidores, o spread, naquele momento, será a média dos dois tipos de operações; no mês seguinte, apenas as operações de um mês serão contabilizadas, apesar dos recursos emprestados para a empresa continuarem gerando o mesmo fluxo de receitas.

Os dados do REF contornam esses problemas. Por um lado, englobam todo o universo de crédito bancário, incluindo, entre outros, o imobiliário e os repasses de recursos do BNDES. Da mesma forma, capturam todas as formas de financiamento do setor, de depósitos a linhas do BNDES, tomando o cuidado de excluir os principais efeitos da variação cambial sobre ativos e passivos do sistema.

Adicionalmente, em vez de se limitar às concessões, o REF estima receitas sobre o estoque de créditos, assim como os custos de captação sobre o estoque de financiamento do setor.

Dessa forma, tais dados mostram uma estimativa do spread bancário mais compatível com a rentabilidade efetiva das operações de crédito, assim como o custo real de captação dos bancos (notando, por exemplo, que recursos do BNDES ou do SFH custam tipicamente menos do que um depósito a prazo). Os resultados são mostrados no gráfico ("spread total"), revelando uma realidade bastante distinta daquela sugerida pelas estimativas da nota à imprensa ("spread parcial").

Com efeito, segundo o REF, o spread total teria ficado ao redor de 10% em 2011 (o último dado disponível), enquanto o spread parcial (acumulado em 12 meses, para fins de comparação) no mesmo período atingiu pouco mais de 27%, uma diferença da ordem de 17%. Entre junho de 2002 e dezembro de 2011 a diferença média entre as duas medidas de spread bancário foi pouco inferior a 14% ao ano.

Além disso, se é difícil discernir uma tendência clara do spread parcial (há momentos de queda assim como de elevação), a tendência do spread total desde o fim de 2002 é inequívoca: redução persistente de pouco mais de 18% em 2002 para o supracitado 10% em 2011. Já o retorno dos bancos, segundo o REF, foi da ordem de 16,5% no ano passado, em linha com o observado nos anos anteriores e inferior os níveis que prevaleciam antes da crise. É bom, mas nada excepcional nos termos do setor corporativo brasileiro, principalmente se levarmos em conta que a alavancagem bancária costuma ser maior.

A imagem que emerge dos números é, pois, bem distinta (e mais entediante) do que a sugerida pela mitologia. Os spreads bancários não são tão gordos, nem crescentes, e o retorno dos bancos não é muito distinto do que se observa no restante da economia.

Moisés ordenou o recenseamento dos israelitas porque queria saber sua força militar (pouco mais 600 mil homens acima de 20 anos, exagero para aquela época e mesmo em períodos posteriores). Se queremos entender o setor bancário, também temos que nos ater ao que os números dizem, mesmo que eles não digam aquilo que gostaríamos de ouvir.

O Paraguai, a lei e a desordem - DEMÉTRIO MAGNOLI


O Globo - 05/07


A Constituição paraguaia diz que um presidente pode ser afastado de seu cargo por "mau exercício das funções", se uma maioria parlamentar qualificada decidir fazê-lo. O impeachment de Fernando Lugo, pronunciado em 36 horas, seguiu tal receita. O pretexto utilizado pela maioria parlamentar que o derrubou foi o sangrento confronto entre policiais e sem-terra ocorrido pouco antes, durante a desocupação de uma fazenda.

É nas crises que se avalia a qualidade dos líderes políticos. Lugo não passou pelo crivo da crise. O estadista paraguaio reagiu de modo ambíguo ao "impeachment expresso". Após o voto da Câmara, disse que respeitaria a deliberação final, do Senado, e enviou advogados para fazer a sua defesa. Depois de tudo, pronunciou um discurso de despedida no qual afirmou que a democracia paraguaia foi "golpeada" - e retirou-se sugerindo que apoiaria "protestos pacíficos" contra a decisão. A oscilação confundiu seus partidários - mas, de qualquer modo, apenas 5 mil pessoas protestavam em Assunção.

O legalismo da maioria parlamentar foi manchado pela celeridade do processo: como registrou Lugo, seu afastamento demorou menos que o tempo de análise de um recurso contra multa de trânsito, destruindo o direito à defesa. Em editorial, O GLOBO minimizou a importância do caráter sumário do impeachment, enquanto o colunista Merval Pereira qualificou o diagnóstico de que se violou o "devido processo legal" como "questão de interpretação". Há algo de errado quando os princípios gerais do direito são tratados como adornos dispensáveis, quase fúteis. A violação permanente de tais princípios é o método empregado pelos governos de Vladimir Putin e de Hugo Chávez para, "legalmente", asfixiar as liberdades políticas e fraudar a democracia. Nota oportuna: na Rússia e na Venezuela, a cúpula do Judiciário também avaliza, docilmente, a "legalidade" dos atos dos donos do poder.

O episódio paraguaio deve ser caracterizado como um golpe parlamentar vestido nos andrajos das leis de uma democracia oligárquica. A Constituição do país permite a deposição de um presidente com base em "acusações" de ordem exclusivamente política. O texto constitucional funciona como ferramenta crucial de controle do poder pela elite política tradicional, cuja representação é a maioria parlamentar. Há diferenças significativas entre a deposição de Lugo e a de Manuel Zelaya, em 2009. Contudo, no Paraguai, como em Honduras, o sistema de poder oligárquico faz do presidente eleito um mero despachante dos interesses da elite tradicional organizada no parlamento.

Lugo era um presidente de esquerda, mas a esquerda jamais chegou ao poder no Paraguai. O governo do "bispo dos pobres" inscreve-se, como elemento de uma certa desordem, na transição paraguaia deflagrada pelo encerramento da ditadura de Alfredo Stroessner, em 1989. O regime ditatorial, que se estendeu por 35 anos, exprimia a hegemonia do partido Colorado. Na longa transição ainda em curso, a elite política molda um sistema pluripartidário de revezamento no poder. O componente dissonante é a emergência de movimentos sociais, especialmente dos sem-terra, num país de grandes propriedades rurais em trajetórias desiguais de modernização.

Uma estranha aliança entre os movimentos sociais e o Partido Liberal, de centro-direita, propiciou o triunfo de Lugo, em 2008, e a ruptura de 61 anos de hegemonia colorada. O presidente de esquerda equilibrava-se entre os movimentos sociais e a coalizão de governo, carecendo quase totalmente de base parlamentar própria. No Congresso, dependia do apoio inconstante do Partido Liberal e dos humores mutáveis da União dos Cidadãos Éticos (Unace), nome improvável de uma dissidência colorada reunida em torno do ex-general golpista Lino Oviedo.

O golpe parlamentar do impeachment decorreu da cisão da aliança entre os liberais e o presidente, nas circunstâncias traumáticas criadas pelo tiroteio entre os sem-terra e policiais. As eleições presidenciais estão marcadas para abril de 2013. O Partido Liberal, do agora presidente Federico Franco, calcula que o exercício direto do poder lhe propiciará a vitória, possivelmente em coligação com Oviedo. Os colorados imaginam que o estilhaçamento definitivo da aliança entre a esquerda e os liberais assegurará o seu próprio triunfo.

As reações latino-americanas ao "impeachment expresso" traduzem a desunião da Unasul. Sob o influxo da Venezuela, o "bloco bolivariano" almeja promover o isolamento completo do governo de Franco - mas os países da Alba têm escassa influência sobre o Paraguai. A Argentina, esquecida de seus próprios interesses nacionais, opera quase como um peão de Chávez, o que complica o cenário do Mercosul, no qual deve agir o Brasil. As reticências brasileiras refletem um realismo geopolítico que escapa à compreensão de Cristina Kirchner.

No episódio da destituição de Zelaya, o governo Lula participou, com disfarçada relutância, da aventura tragicômica conduzida por Chávez. A irrelevância do Brasil no tabuleiro do istmo centro-americano propiciou o exercício da irresponsabilidade, que rendeu frutos junto às correntes petistas seduzidas pelo brilho falso do "socialismo bolivariano". O Paraguai, porém, não é Honduras: a história, a fronteira, Itaipu e os "brasiguaios" não permitem a transformação do país em campo de folguedos ideológicos. O governo Dilma transita na vereda estreita que passa entre os abismos das sanções econômicas, que provocariam perigosa instabilidade no vizinho estratégico, e da condescendência passiva, que desmoralizaria a cláusula democrática do Mercosul consagrada no Protocolo de Ushuaia.

O imperativo do realismo diplomático é um problema do governo. Por outro lado, a defesa das liberdades e da democracia exige que se chame as coisas pelo nome delas, sem duplicidade ou eufemismos. Hoje, é Assunção; amanhã, Caracas.

Nome aos bois - ELIANE CANTANHÊDE


FOLHA DE SP - 05/07


BRASÍLIA - Ninguém crê na permanência do chanceler Antonio Patriota até o fim do governo. É injusto, porém, culpar o Itamaraty pela crise do Mercosul com a saída temporária do Paraguai e a entrada permanente da Venezuela.

A primeira reação de Dilma à queda de Lugo -que, apesar de armada durante meses, pegou todo o mundo (literalmente) de surpresa- foi considerá-la, intramuros, como um golpe.

O Itamaraty argumentou que a deposição foi votada pela Câmara, pelo Senado e posteriormente pela Justiça, abençoada pela igreja e acatada pelos brasiguaios. Aliás, pelo próprio Lugo. Por isso, a nota brasileira condena a "ruptura", não o "golpe".

Depois, Dilma entrou na fila aberta por Venezuela e enfim liderada pela Argentina, e chegou a pensar em punições drásticas ao Paraguai, como revisão do financiamento do BNDES ao gasoduto até Assunção.
O Itamaraty sugeriu que a reação fosse política, sem atingir a população e sem tumultuar ainda mais a política interna, pois a possibilidade da volta de Lugo era próxima de zero.

Por fim, Dilma e Cristina Kirchner viram a chance de fazer o que está para ser feito há anos: jogar a Venezuela no Mercosul, ampliando o poder econômico do bloco e amarrando Chávez às normas da região.
Mais uma vez, o Itamaraty alertou que o momento poderia não ser adequado, pela tensão, e que havia questões jurídicas complicadas: o Paraguai estava só suspenso, não expulso, e a adesão venezuelana precisava ser por unanimidade.

A posição pró-adesão foi definida a três: Dilma, Kirchner e o uruguaio José Mujica, sem a presença de diplomatas e assessores. Decisão de cúpula, até porque política externa é decidida pelos presidentes e apenas operada pela diplomacia.

Durona como ela só, Dilma não gosta do estilo melífluo de diplomatas. Mas presidentes têm de ouvi-los e, aliás, precisam ser diplomáticos. Aliás, externa e internamente.

Lance ousado - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 05/07


Da mesma maneira que, durante o governo Fernando Henrique, o então deputado Aécio Neves montou sua candidatura costurando alianças nos bastidores para romper o acordo firmado com o então PFL, o hoje senador trabalha com o objetivo de criar condições políticas que permitam montar uma proposta de campanha ampla, que lhe dê respaldo para o combate ao governo que pretende desencadear no momento que considere mais adequado.

Como costuma fazer, Aécio trabalha nos bastidores para montar uma grande aliança partidária que lhe respalde a candidatura à Presidência em 2014, jogando na divisão da base aliada em decorrência não apenas da deterioração da situação econômica, mas também dos desencontros de diversos partidos com o PT.

A jogada de Belo Horizonte, porém, pode dar errado caso se confirme o desgaste com o PSB, que se ressente da separação do PT, sobretudo porque o PMDB, em jogada oportunista, mas correta pragma-ticamente, está se oferecendo para abrir mão de candidatura própria para apoiar o ex-ministro e ex-prefeito de Belo Horizonte Patrus Ananias, que será o candidato petista. O PMDB viu no episódio oportunidade para demonstrar lealdade ao governo, alegando a condição de parceiro preferencial no plano nacional.

Da mesma maneira que o PSB alegou que, em São Paulo, está apoiando o candidato de Lula pela relevância do principal objetivo do PT, tomar conta de uma prefeitura que há anos está dominada pelos tucanos e seus aliados, como trampolim para vencer o governo do estado de São Paulo em 2014.

Os dois partidos, PMDB e PSB, disputam no interior da aliança governista a vice-presidência na provável chapa de reeleição da presidente Dilma Rousseff.

A eleição em Belo Horizonte acaba assim tendo uma relevância própria, transformando-se em uma simboli-zação da força política de Aécio Neves tendo em vista as eleições de 2014, assim como a de São Paulo significa a maior jogada do ex-presidente Lula para consolidar a hegemonia petista no país.

Derrota de Aécio em Belo Horizonte, assim como de Lula em São Paulo, terá reflexos na formação das alianças partidárias mais adiante.

As eleições municipais têm um peso local muito acentuado, mas, em determinadas cidades e capitais, elas dão pistas sobre como evoluirão as tratativas a nível nacional. Além do mais, os partidos tentam se cacifar na disputa municipal para que suas ramificações políticas municipais ganhem valor no mercado nacional de alianças.

Por isso mesmo, o racha do PSB com o PT em Belo Horizonte, mais do que os de Fortaleza e Recife, está sendo visto pelo comando nacional petista como sinalização de que o governador Eduardo Campos está se movendo para uma distância segura do PT.

Como nem tudo é coerente quando se trata de aliança partidária, e menos ainda quando Ciro Gomes está envolvido, a disputa em Minas difere da de Fortaleza, por exemplo. O líder do PSB no Ceará é, em tese, favorável a que o PSB marque sua posição se distanciando do PT e, especificamente em Fortaleza, defendeu essa posição junto ao irmão, o governador Cid Gomes.

Mas, em Belo Horizonte, onde o prefeito, Marcio Lacerda, candidato à reeleição, mais que seu correligionário, é um seu protegido político, Ciro está crítico em relação à atuação de Aécio Neves, a quem atribui a criação de um ambiente que levou ao rompimento com o PT.

Ciro criticou também a direção nacional do PT por ter apoiado a indicação de Patrus Ananias, em vez de intervir na regional mineira para garantir a permanência do partido na aliança em Belo Horizonte.

Como se vê, joga-se neste pleito municipal um xadrez político que tem tudo a ver com a eleição de 2014. Por parte da oposição, vencer em São Paulo e Belo Horizonte é fundamental para manter as poucas cidadelas ainda não dominadas pelo PT, que se dedica, por sua vez, a tentar fragilizar esses redutos tucanos.

O governo terá tarefa difícil pela frente, manter unida a ampla base partidária que o apoia, enquanto o PSDB joga com a expectativa de que os atritos com o PT e a situação econômica deteriorada farão com que parte dessa base se una ao projeto político de Aé-cio. Caso o PMDB seja alijado do posto de parceiro preferencial do PT, a aposta é que venha a apoiar a candidatura tucana, formando grande bloco com DEM, PPS, e, se não o apoio integral, pelo menos o de partes de PR, PP e PDT. Há inclusive quem imagine a união de todas essas siglas sob o guarda-chuva de novo partido, que também poderia abrigar políticos individualmente.

Com a decisão do STF de dar tempo de propaganda gratuita e participação no fundo partidário a partidos formados com base na nova legislação, proporcional à votação de seus fundadores, ficaria mais fácil atrair na base aliada adeptos do projeto tucano com Aécio para presidente em 2014. Difícil é imaginar que PMDB e PSDB abram mão de suas respectivas siglas para a formação de novo partido.

Com ou sem partido novo, porém, o fato é que o candidato natural do PSDB à Presidência da República em 2014 está costurando nos bastidores diversas alianças políticas para viabilizar sua candidatura, confiante em que a aliança da base aliada não resistirá às dificuldades de convivência interna nem à crise econômica que tende a se agravar.

Os sindicatos fantasmas - SÉRGIO AMAD COSTA


O Estado de S. Paulo - 05/07

O Ministério do Trabalho, agora com novos dirigentes, quer acabar com a farra da criação de sindicatos no Brasil. Sabe-se que, nesses últimos três anos, surgiram mais de 700 novos sindicatos no País, e a maioria não tem representatividade sobre os trabalhadores. São os chamados sindicatos fantasmas que, desde a época do ditador Vargas, sempre existiram no sistema de representação profissional.

Mas a proliferação do reconhecimento oficial de sindicatos sem nenhuma representação se dá em dois momentos marcantes e bem distintos, embora ambos com intuitos semelhantes: dar apoio às teses governistas. O primeiro momento foi durante os governos populistas que antecederam os acontecimentos de 1964. Naquela época, a oficialização de muitos dos sindicatos fantasmas pelo Ministério do Trabalho ocorria por razões preponderantemente político-ideológicas.

Nossa estrutura sindical oficial é vertical, formada por sindicatos, federações, estas quase sempre estaduais, e confederações nacionais. A forma de eleição dos dirigentes das federações e das confederações era o meio utilizado pelo Estado para conseguir manter, na direção dessas entidades máximas do sindicalismo, lideranças favoráveis ao governo.

Para eleger uma diretoria de uma federação ou de uma confederação, por exemplo, um sindicato que representasse uma categoria profissional de 10 mil trabalhadores e possuísse 300 associados teria o mesmo peso nos votos para eleger diretores das federações e, consequentemente, por meio destas, das confederações que um sindicato de uma categoria profissional de 50 mil trabalhadores e 5 mil associados.

Dessa forma, como o reconhecimento dos sindicatos dependia exclusivamente do Ministério do Trabalho, os governantes não só facilitavam a criação de pequenos sindicatos situacionistas, como também controlavam com facilidade estes sindicatos, devido, principalmente, à sua pouca combatividade. Tal quadro facilitava a vitória dos dirigentes sindicais favoráveis ao governo nos pleitos para as entidades máximas dos órgãos de representação profissional.

Esse modelo com o qual o Estado dirigia o funcionamento da organização sindical nos seus três planos - sindicatos, federações e confederações sindicais - foi utilizado, com veemência, tanto pelos adeptos de ideologias de direita quanto pelos de esquerda.

O segundo momento marcante de proliferação do reconhecimento oficial de sindicatos sem nenhuma representação ocorreu nesses anos recentes. Parece que estamos revivendo, nesse aspecto, o contexto sindical dos anos pré 1964. Só que agora, o reconhecimento oficial dos sindicatos sem nenhuma representatividade acontece por interesses preponderantemente financeiros de pseudolíderes, em busca do seu quinhão do bolo dos famigerados tributos sindicais.

Mas cumpre assinalar que quem concede a oficialização dos sindicatos é ainda o Ministério do Trabalho. Portanto, o reconhecimento de sindicatos fantasmas não é uma via de mão única. Há, por um lado, o interesse financeiro desses dirigentes sem representatividade, mas, por outro, há o interesse de quem oficializa o sindicato. Ou seja, quem recebe a oficialização geralmente tenderá a ser um aliado do governo, tanto nos pleitos para eleger as diretorias das federações e das confederações sindicais quanto para fortalecer, em termos de número de sindicatos filiados, essa ou aquela central sindical.

Assim, a boa intenção de acabar com a criação de sindicatos fantasmas, mediante a definição de regras mais objetivas e comissões com representantes de empregados, empregadores e governo, seria válida se tivéssemos um outro tipo de estrutura sindical. Tentar pôr fim a isso, mantendo a unicidade sindical e as suas contribuições financeiras, é uma luta em vão. Os sindicatos fantasmas são inerentes ao arcaico modelo de representação profissional existente no País. Embora "fantasmas", existem nessa trama sindical e fazem parte dela de verdade.

Dilma 2014 - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 05/07

O empenho total de Dilma Rousseff em arregimentar apoios para Patrus Ananias (PT) pouco tem a ver com a eleição em Belo Horizonte. A presidente viu na cizânia entre PT e PSB em várias capitais o sinal de que Eduardo Campos é um adversário em potencial para sua reeleição. Da mesma forma, a vitória de Marcio Lacerda em BH consagrará outro potencial oponente, Aécio Neves (PSDB). Ao atuar pesado em sua terra natal, Dilma faz o primeiro lance explícito no tabuleiro de 2014.

A postos Dilma atua pessoalmente desde segunda-feira na novela mineira. No Planalto, recebeu o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento), o presidente nacional do PT, Rui Falcão, e o vice-presidente da República, Michel Temer, só para tratar do tema. Ontem, articulou o apoio do PSD de Gilberto Kassab a Patrus.

A prazo O PMDB pediu o Ministério dos Transportes na negociação para apoiar o PT em BH. Não deve levar agora, mas a expectativa é que, após o pleito, Dilma faça nova reforma ministerial para incluir a seção mineira do partido e o PSD de Kassab.

Dia D Também de olho em 2014, Aécio programa chegada triunfal a BH, hoje, com caravana de partidos para prestigiar Lacerda. "Será o desembarque da Normandia", exagera um tucano. O senador dará entrevista acusando o PT de trair o prefeito.

Mãozinha Senadores do PMDB agiram para adiar para agosto a votação da cassação de Demóstenes Torres (sem partido-GO), marcada para o dia 11. Lobão Filho (MA), que votou contra o fim do voto secreto, argumentou que poderia faltar quórum, graças à proximidade do recesso.

Tudo certo Diante da ameaça, um grupo de senadores procurou o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que garantiu a votação na data marcada.

Agora vai? O presidente da CPI do Cachoeira, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), garantiu a membros da comissão que hoje serão aprovadas as convocações do presidente licenciado da Delta Fernando Cavendish e do ex-diretor do Dnit Luiz Antonio Pagot. O temor geral é que se repita a fórmula do habeas corpus para que possam ficar calados.

Semântica... "Avança São Paulo" é o nome escolhido para a coligação de José Serra (PSDB) à prefeitura. Fernando Haddad (PT) optou pelo lema "Para mudar e renovar São Paulo", na mesma linha do slogan abraçado por Celso Russomanno (PRB) -"Por uma nova São Paulo".

...do voto Gabriel Chalita (PMDB) registrou o mote "São Paulo em primeiro lugar", e Soninha Francine (PPS) registrará "Um sinal verde para São Paulo".

Pedalada Depois de afirmar, em entrevista, que a construção de ciclovias na capital seria "incentivo à morte", Paulinho da Força, candidato do PDT, virou alvo de cicloativistas. Em protesto, eles lançaram boicote ao pedetista nas redes sociais.

Sem mágoas Mesmo com o PR aderindo à coalizão de Serra, a direção nacional do PT interveio em duas cidades da Grande São Paulo para favorecer Valdemar da Costa Neto. Réu no mensalão, ele deve ter o apoio dos petistas em Itaquaquecetuba e Guararema, seu reduto.

Eu vou Lula pediu ao PT em Campinas que adie ato político inaugural da campanha de Márcio Pochmann. O ex-presidente quer se recuperar da inflamação na garganta para discursar no evento.

Nada feito O PSDB intervirá em Presidente Prudente, única cidade paulista em que tucanos pretendiam apoiar chapa com petista como vice.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio

"O RH da prefeitura vai ter de fazer hora-extra para fazer a rescisão de mais de 900 petistas com cargos de confiança em Belo Horizonte."

DO SENADOR AÉCIO NEVES (PSDB) sobre o rompimento da aliança entre PSB e PT na capital mineira e o anúncio de que os petistas vão deixar os postos.

contraponto

Eu me amo

Durante o lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar, ontem, Dilma Rousseff fez questão de dizer que seu governo tem se esforçado para ouvir todas as sugestões dos pequenos produtores e dos movimentos sociais. Na primeira fila da plateia, no Palácio do Planalto, o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) abriu um largo sorriso e puxou palmas.

Diante da cena, a presidente não se conteve e interrompeu o discurso, levando os ministros às gargalhadas.

-Vocês podem notar que o Gilberto bateu palma porque ele é responsável por receber vocês e escutar tudo.

Democracia paraguaia - IVES GANDRA DA SILVA MARTINS

FOLHA DE SP - 05/07


O processo paraguaio foi digno de grandes democracias. Mas Dilma se curva aos aspirantes a ditadores vizinhos, como o líder da Venezuela e a da Argentina


Em 1991, fui convidado pelo Ministro da Justiça do Paraguai, com constitucionalistas de outros países latino-americanos, para proferir palestras sobre a Constituição brasileira. À época, o Paraguai se encontrava em processo constituinte, em vias de promulgar a Constituição que hoje rege os destinos da nação.

Entre os temas que abordei, expliquei que toda a Constituição brasileira fora formatada para um regime parlamentar de governo, só na undécima hora tendo se transformado numa Lei Maior presidencialista.

Talvez por essa razão, o equilíbrio de Poderes foi realçado ao ponto de, apesar de nossas crises políticas -impeachment presidencial, crise do Orçamento, dos anões, superinflação, alternância do poder, mensalão etc.-, jamais alguém ter falado em ruptura institucional.

O cientista político Arend Lijphart, em seu livro "Democracies", de 1984, detectou, em todo o mundo, apenas 20 países em que não houvera ruptura institucional depois da Segunda Guerra.

Desses, 19 eram parlamentaristas. Apenas um, os EUA, era presidencialista. Ulisses Guimarães me pediu o livro emprestado, mas preferi enviar um exemplar -lembrando da advertência de Aliomar Baleeiro, que dizia ter amigos que fizeram sua biblioteca com livros emprestados.

Sou parlamentarista desde os bancos acadêmicos, e sempre vi no parlamentarismo um sistema de "responsabilidade a prazo incerto": eleito um irresponsável para a chefia do governo, ele pode ser afastado, sem traumas, tirando-lhe o Parlamento o voto de confiança.

Já o presidencialismo é um regime de "irresponsabilidade a prazo certo", pois, eleito um irresponsável, ele só pode ser afastado pelo traumático processo de impeachment.

O Paraguai adotou o regime presidencial, mas, no artigo 225 de sua Constituição, escolheu instrumento existente no sistema parlamentar para afastar presidentes que:

a) Tenham mau desempenho;

b) Cometam crimes contra o Poder Público;

c) Cometam crimes comuns.

Tendo recebido um voto na Câmara dos Deputados e quatro no Senado, Lugo foi afastado do governo, no estritos termos da Constituição, por mau desempenho.

É de se lembrar que o Parlamento tem representantes da totalidade da nação (situação e oposição). O Executivo, só da maioria (situação).

Tanto foi tranquilo o processo de afastamento no Paraguai que não existiram manifestações de expressão em defesa do ex-presidente. As Forças Armadas nem precisaram enviar contingentes à rua, e Lugo continuou com toda a liberdade para expressar as suas opiniões e até para montar um governo na sombra.

Processo digno das grandes democracias parlamentares. Mas difícil de ser compreendido pelo histriônico presidente venezuelano, que usa todos os meios possíveis para calar a oposição e a imprensa, pela aprendiz de totalitarismo que é a presidente argentina, que tudo faz para eliminar a imprensa livre em seu país, ou pelos dois semiditadores da Bolívia e do Equador.

O curioso foi o apoio da presidente Dilma a essa "rebelião de aspirantes a ditadores", pisoteando a democracia e a Lei Suprema paraguaia a fim de facilitar a entrada no Mercosul de um país cuja monoeconomia só permitirá a seu conturbado presidente permanecer no poder enquanto o preço do petróleo for elevado.

Decididamente, a ignorância democrática na América Latina tem um passado fantástico e um futuro deslumbrante.

Nada a declarar - DEMÉTRIO MAGNOLI


O ESTADÃO - 05/07


No inverno de 1077, o imperador Henrique IV fez a peregrinação a Canossa, curvando-se perante o papa Gregório VII, que o excomungara. Quase um milênio depois, Lula conheceu a sua Canossa, peregrinando com Fernando Haddad a tiracolo até o jardim da mansão de Paulo Maluf, que expôs publicamente sua troca de afagos com a dupla petista. O cargo federal entregue por Dilma Rousseff a um protegido de Maluf não foi o preço, mas apenas a parcela de superfaturamento cobrada pelo minuto e meio de tempo de TV que o PP vendeu ao candidato lulista à Prefeitura de São Paulo. Conhecedor do valor das obsessões, Maluf impôs a Lula a quitação da dívida por um gesto de humilhação maior que o experimentado pelo soberano do Sacro Império: o papa, afinal, dispunha de poder incomparavelmente superior ao do fugitivo da Interpol.

Luiza Erundina suportaria a aliança com o PP, mas não tolerou a "forma" - a simbologia - que cercou o compromisso. Ela se retirou da chapa à Prefeitura e acusou Lula de uma traição "a princípios". É um recurso de autoilusão, tão patético quanto suas declarações anteriores, que invocavam a "luta pelo socialismo" para justificar sua parceria com Haddad. O "princípio" exclusivo de Lula são os interesses de seu sistema de poder. O lulismo já celebrou Jader Barbalho, José Sarney e Fernando Collor: o congraçamento com Maluf se inscreve numa linha de coerência e só pode surpreender observadores que se ausentaram do planeta durante a última década.

Antonio Donato, coordenador da campanha de Haddad, reagiu ao episódio criticando uma suposta incoerência de Erundina, não de Lula: "Quem quer mudar o Brasil se preocupa com o conteúdo, e não com a forma". O seu "realismo", difundido entre os dirigentes petistas, vai muito além do "realismo" de José Serra, que queria a aliança com o PP (e se aliou com Valdemar Costa Neto, o réu do mensalão que comanda o PR), mas não se sujeitou à exigência de avalizar publicamente a figura de Maluf. Donato está dizendo que a Canossa de Lula vale a pena, se contribui em algo para um projeto de poder já esvaziado de qualquer sentido substantivo de mudança.

Todo o incidente seria apenas tedioso, não fosse a circunstância de que Erundina ficou só no seu protesto quixotesco. Os intelectuais de esquerda que apoiam Haddad não ergueram a voz para questionar, analisar ou explicar o gesto de Lula. Nos dias seguintes à humilhação do jardim, descortinou-se um resultado de dez anos de poder lulista: a morte da crítica de esquerda.

Antonio Cândido, Gabriel Cohn e Eugênio Bucci preferiram nada declarar. Mario Sergio Cortella sugeriu "tocar em frente", após uma "fase de reflexão", mas não ofereceu nenhuma "reflexão". Paul Singer justificou o silêncio como um dever político: "Não tenho interesse em tornar pública qualquer opinião. Vai ficar entre mim e mim mesmo". Marilena Chauí optou por emular o antigo ministro da Justiça da ditadura, Armando Falcão, cujo célebre "nada a declarar" veiculava seu rancor contra a imprensa: "Não vou dar entrevista, meu bem. Não acho nada. Nadinha. Até logo".

Ouvi, informalmente, de uma das "intelectuais tucanas" que se converteram aos encantos da candidatura de Haddad, uma versão da justificativa medíocre posta em circulação por dirigentes petistas: "Maluf por Maluf, Serra também queria". Emir Sader, que dubla como intelectual, mas opera, efetivamente, como militante, expressou o sentido pragmático do denso silêncio geral: "O fundamental é derrotar a 'tucanalha' em São Paulo. Eu posso gostar ou não do Maluf, mas vou fazer campanha para o Haddad do mesmo jeito".

Não é verdade que os intelectuais de esquerda jamais criticaram Lula ou o PT. A crítica existia, pública e intensa, antes da chegada de Lula ao Planalto. Continuou depois, até o "mensalão", um pouco mais amena, dirigida contra a escolha de José Alencar para a vice-presidência e as "políticas mercadistas" de Henrique Meirelles no Banco Central. Os intelectuais de esquerda justificaram sua adesão ao governo Lula sob a premissa de que, aos poucos, o lulismo se moveria para a esquerda, rompendo a teia de "alianças pragmáticas" indispensáveis no início do "processo". A profecia não se cumpriu - e, ao contrário, o lulismo se identificou cada vez mais com os aliados conservadores. A crítica, contudo, experimentou progressiva rarefação, até desaparecer.

Quanto mais o lulismo se adapta à ordem tradicional, menos é criticado pelos intelectuais de esquerda. A equação, superficialmente paradoxal, solicita explicação. Uma sedutora hipótese de solução é imaginar que tais intelectuais estão imbuídos pelo nobre sentimento de "patriotismo partidário". Instado a se subordinar às decisões de um partido comunista que transitava para o controle de Stalin, o dissidente Trotsky invocou a marcha da História rumo ao Futuro: "Certo ou errado, é o meu Partido. Não se pode ter razão contra o Partido ou fora dele". Singer quase repetiu Trotsky - e deve ter pensado na frase do revolucionário russo ao pronunciar a sua, destituída de cores épicas.

A hipótese, porém, não tem sustentação lógica ou histórica. Trotsky não era um intelectual acadêmico, mas um dirigente bolchevique. Na Rússia, desenrolava-se uma revolução social na moldura da crise geral europeia aberta pela Grande Guerra, não uma eleição municipal no quadro da democracia. A explicação prosaica para a renúncia à crítica é que os intelectuais de esquerda brasileiros encontraram seus lugares à sombra da frondosa árvore do poder lulista. Eles se acostumaram com os benefícios profissionais e, sobretudo, com as "rendas de prestígio" auferidas pela proximidade do governo. No terceiro mandato lulista, e diante da perspectiva de um quarto, interiorizaram como hábitos as normas de elogiar os poderosos e sustar, na hora certa, a inclinação à crítica. A evidência disso é obra de Maluf.

A cura gay - CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 05/07


Mesmo se quisessem, psicólogos e psiquiatras não saberiam modificar a orientação sexual de alguém



Em 1980, a homossexualidade sumiu do "Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais". Em 1990, ela foi retirada da lista de doenças da Organização Mundial da Saúde.

Médicos, psiquiatras e psicólogos não podem oferecer uma cura para uma condição que, em suas disciplinas, não é uma doença, nem um distúrbio, nem um transtorno. Isso foi lembrado por Humberto Verona, presidente do Conselho Federal de Psicologia, numa entrevista à Folha de 29 de junho.

No entanto, o deputado João Campos (PSDB-GO), da bancada evangélica, pede que, por decreto legislativo, os psicólogos sejam autorizados a "curar" os homossexuais que desejem se livrar de sua homossexualidade.

Um pressuposto desse pedido é a ideia de que os psicólogos saberiam como mudar a orientação sexual de alguém (transformá-lo de hétero em homossexual e vice-versa), mas seriam impedidos de exercer essa arte -por razões ideológicas, morais, politicamente corretas etc.

Ora, no estado atual de suas disciplinas, mesmo se eles quisessem, psicólogos e psiquiatras não saberiam modificar a orientação sexual de alguém -tampouco, aliás, eles saberiam modificar a "fantasia sexual" de alguém (ou seja, o cenário, consciente ou inconsciente, com o qual ele alimenta seu desejo).

Claro, ao longo de uma terapia, alguém pode conseguir conviver melhor com seu próprio desejo, mas sem mudar fundamentalmente sua orientação e sua fantasia.

Por via química ou cirúrgica (administração de hormônios ou castração real -todos os horrores já foram tentados), consegue-se diminuir o interesse de alguém na vida sexual em geral, mas não afastá-lo de sua orientação ou de sua fantasia, que permanecem as mesmas, embora impedidas de serem atuadas. A terapia pela palavra (psicodinâmica ou comportamental que seja) tampouco permite mudar radicalmente a orientação ou a fantasia de alguém.

O que acontece, perguntará João Campos, nos casos de homossexualidade com a qual o próprio indivíduo não concorda? Posso ser homossexual e não querer isso para mim: será que ninguém me ajudará?

Sim, é possível curar o sofrimento de quem discorda de sua própria sexualidade (é a dita egodistonia), mas o alívio é no sentido de permitir que o indivíduo aceite sua sexualidade e pare de se condenar e de tentar se reprimir além da conta.

Por exemplo, se eu não concordo com minha homossexualidade (porque ela faz a infelicidade de meus pais, porque sou discriminado por causa dela, porque sou evangélico ou católico), não posso mudar minha orientação para aliviar meu sofrimento, mas posso, isso sim, mudar o ambiente no qual eu vivo e as ideias, conscientes ou inconscientes, que me levam a não admitir minha orientação sexual.

Campos preferiria outro caminho: o terapeuta deveria fortalecer as ideias que, de dentro do paciente, opõem-se à homossexualidade dele. Mas o desejo sexual humano é teimoso: uma psicoterapia que vise reforçar os argumentos (internos ou externos) pelos quais o indivíduo se opõe à sua própria fantasia ou orientação não consegue mudança alguma, mas apenas acirra a contradição da qual o indivíduo sofre. Conclusão, o paciente acaba vivendo na culpa de estar se traindo sempre -traindo quer seja seu desejo, quer seja os princípios em nome dos quais ele queria e não consegue reprimir seu desejo.

Isso vale também e especialmente em casos extremos, em que é absolutamente necessário que o indivíduo controle seu desejo. Se eu fosse terapeuta no Irã, para ajudar meus pacientes homossexuais a evitar a forca, eu não os encorajaria a reprimir seu desejo (que sempre explodiria na hora e do jeito mais perigosos), mas tentaria levá-los, ao contrário, a aceitar seu desejo, primeiro passo para eles conseguirem vivê-lo às escondidas.

O mesmo vale para os indivíduos que são animados por fantasias que a nossa lei reprova e pune. Prometer-lhes uma mudança de fantasia só significa expô-los (e expor a comunidade) a suas recidivas incontroláveis. Levá-los a reconhecer a fantasia da qual eles não têm como se desfazer é o jeito para que eles consigam, eventualmente, controlar seus atos.

Agora, não entendo por que João Campos precisa recorrer à psicologia ou à psiquiatria para prometer sua "cura" da homossexualidade. Ele poderia criar e nomear seus especialistas; que tal "psicopompos"? Ou, então, não é melhor mesmo "exorcistas"?

O mecanismo de resistência à quimioterapia - FERNANDO REINACH


O Estado de S.Paulo - 05/07


Drogas utilizadas no início do tratamento de tumores malignos são capazes de fazê-los regredir. Mas é comum observar que, meses depois, o tumor volta a crescer e então não responde mais às drogas usadas inicialmente. Isso força o médico a mudar o tratamento.

A maioria dos pesquisadores crê que esse fenômeno se deve ao aparecimento de novas alterações genéticas, que tornam as células cancerosas resistentes ao medicamento usado inicialmente. Mas restava uma dúvida. As células resistentes ao medicamento já existiam no tumor inicial ou as mutações teriam aparecido durante o tratamento?

Agora foi possível demonstrar que, ao menos em um tipo de tumor, essas células resistentes ao tratamento já estavam presentes antes do início do mesmo.

Foram estudados pacientes com câncer colorretal tratados com uma droga capaz de bloquear o receptor de um hormônio (epithelial growth factor receptor ou EGFR). Uma fração significativa dos pacientes com esse tipo de tumor responde muito bem ao tratamento com essa droga. Após 5 a 10 semanas, por meio de tomografias, é possível observar que a massa tumoral diminui. Sua regressão também pode ser observada medindo a quantidade da molécula antígeno carcinoembriogênico (CEA) produzida pelas células tumorais.

O problema é que em parte desses pacientes, após 20 a 25 semanas, as massas tumorais reaparecem e os níveis de CEA voltam a aumentar. Nesses casos, um novo tratamento com a mesma droga é incapaz de controlar o tumor. Quando os cientistas sequenciaram os genes dessas células tumorais, descobriram que elas possuíam uma nova mutação, em um gene chamado Kras. Essa mutação torna as células resistentes à droga utilizada inicialmente.

Mas será que essas células com a mutação em Kras já existiam em pequena quantidade no tumor inicial ou surgiram durante o tratamento? Até agora, essa pergunta não podia ser respondida. Mesmo quando não era possível detectar a mutação de Kras em amostras do tumor primário, os métodos disponíveis só permitiam afirmar que, se essas células com Kras alterado já existiam, estavam presentes em números tão pequenos que era impossível detectá-las.

Por outro lado, quando um dos novos tumores era detectado em uma tomografia, ele já possuía as células com a mutação em Kras. O momento exato do surgimento dessas células mutantes era impossível de estudar sem um método capaz de detectar uma quantidade minúscula dessas células.

Novo método. Agora foi desenvolvido um método, a biopsia líquida, capaz de medir a presença do Kras alterado no sangue. Isso é possível porque algumas células com o gene alterado se rompem, seu DNA é liberado e circula livremente. Com técnicas de sequenciamento de DNA é possível detectar uma única molécula desse fragmento de DNA em 1 mililitro de sangue. Os cientistas calculam que isso corresponde à existência de somente 44 milhões de células alteradas em todo o corpo.

Esse método é milhares de vezes mais sensível que uma tomografia. Em um exame de imagem, acredita-se que o menor tumor que pode ser detectado já possui aproximadamente 1 bilhão de células, e diversos desses microtumores surgem simultaneamente.

Os cientistas utilizaram esse método para estimar a quantidade de células com a alteração em Kras em pacientes durante toda a duração de seu tratamento. E observaram que é possível detectar essas células durante o período em que o tratamento com o inibidor de EGFR está surtindo efeito e as massas tumorais estão regredindo.

De posse desses dados quantitativos, obtidos em diversos pacientes ao longo do tratamento, é possível estimar não somente quantas células com a mutação em Kras existem em cada momento, mas, utilizando modelos matemáticos, extrapolar para o passado o momento em que as primeiras dessas células teriam surgido.

Com base nesses cálculos foi possível concluir que as células com a mutação em Kras já existem no tumor inicial e a aparente remissão é ilusória. À medida que as células sem Kras alterado são eliminadas pela primeira droga, as células com Kras alterado já estão se dividindo e se espalhando. Os cientistas acreditam que é por esse motivo que a remissão dura tão pouco tempo. O fracasso no longo prazo já estaria garantido no início do tratamento.

Essa conclusão pode parecer desanimadora, mas na verdade abre novas perspectivas de tratamento. Acredita-se que para prolongar a remissão desse tipo de tumor é necessário atacar, logo de início, tanto as células que não possuem a mutação em Kras quanto as poucas células que já possuem a mutação. Isso é possível combinando duas ou mais drogas desde o início do tratamento.

Linha direta - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 05/07

O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), e o líder do governo na Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP), que anteontem jantaram no Alvorada, gostariam de ter linha direta com a presidente Dilma. Segundo aliados, eles se queixam de falta de autonomia para negociar projetos e MPs, e da burocracia da interlocução. Os temas são levados à ministra Ideli Salvatti, que trata deles com a ministra Gleisi Hoffmann, e só então chegam à mesa da presidente para solução dos impasses.

Uma guinada para tentar salvar a CPI
Os deputados e senadores fazem esforço para que a CPI do Caso Cachoeira não volte do recesso morta e atropelada pelo julgamento do mensalão no STF. Hoje, o presidente, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), e o relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), querem aprovar os depoimentos de Fernando Cavendish (Del-
ta); Luiz Antônio Pagot (Dnit); e, também, do prefeito de Palmas, Raul Filho (PT); do vereador do PSOL de Goiânia Elias Vaz; e dos deputados goianos Carlos Leréia (PSDB), Rubens Ottoni (PT) e Sandes Júnior (PP). Raul Filho e Elias Vaz podem ser ouvidos na semana que vem. Mas tudo isso se houver quorum.

"Não há clima para conversar sobre o assunto. O quadro é de um constrangimento nunca visto” — Renan Calheiros (AL), líder do PMDB no Senado, sobre a votação da cassação do senador Demóstenes Torres (GO)

REVANCHE. Dois dos mais influentes senadores estão empenhados em aprovara cassação do mandato de Demóstenes Torres (GO). Um deles é o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), na foto, que, em dezembro de 2007, foi obrigado a renunciar à presidência do Senado por ter sido acusado por Demóstenes de espioná-lo. O outro é o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que no ano passado foi duramente agredido e desrespeitado por Demóstenes durante sessão de votação.

Na mira
Irritação no Planalto ontem com o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), por causa da votação da MP da Poupança. Reclamavam dele por negociar com a oposição. O governo avalia que a Câmara vive clima eleitoral.

Intervenção
O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, interveio nas eleições de Recife. Ele retirou a candidatura a prefeito do deputado Paulo Rubens Santiago. Lupi fez a opção por apoiar o candidato do PSB do governador Eduardo Campos (PE).

Ditadura: documentos inéditos
Serão apresentados hoje, em Seminário Internacional sobre a Operação Condor, dois documentos inéditos que darão ao Brasil o triste carimbo de precursor da operação na América do Sul, durante o governo do general Emílio Médici. Duas operações comandadas pelo governo brasileiro, uma em 1970 e a outra em 1971, resultaram na prisão de dois guerrilheiros na Argentina, com a ajuda do governo vizinho. Um, Jefferson Cardin de Alencar Osório, foi preso e torturado: enquanto o outro, Edmur Péricles Camargo, é desaparecido político.

Arrumando a mala 
Um automóvel Gol branco encostou ontem, no final da tarde, na porta do gabinete do senador Demóstenes Torres (GO). Ele foi carregado com várias caixas de papéis, livros e documentos. Ele resolveu se antecipar à cassação.

Mudança de guarda
O Planejamento foi afastado da negociação salarial com o Sindifisco. O assunto passou para o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Os auditores fiscais temem que, com a mudança, as conversas voltem à estaca zero.

POLÊMICO. Após aliar-se ao deputado Paulo Maluf (PP) na disputa pela prefeitura de São Paulo, o PT está agora de braços dados com o deputado Newton Cardoso (PMDB) na eleição de Belo Horizonte.

A VERBA da Petrobras para patrocínios culturais: “R$ 204 milhões (2008), R$ 141 milhões (2009), R$ 136 milhões (20 10) e R$ 171 milhões (2011).”

A PETROBRAS destinou para patrocínios esportivos: “R$ 44,6 milhões (2008), R$ 27,7 milhões (2009), R$ 53,9 milhões (2010) e R$ 56,5 milhões (2011).”

Timão x Boca! A grade final! - JOSÉ SIMÂO

FOLHA DE SP - 05/07


O Boca chegou ao Brasil dizendo que não tem medo de cara feia. Porque eles não viram a Gretchen!

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Hoje é a coluna do retardado. Tive que enviar a coluna antes do jogo. Antes da final Boca Murcha x Meia Boca! Antes da Final do Fim do Mundo!
E o Boca chegou ao Brasil dizendo que não tem medo de cara feia. Porque eles não viram a Gretchen ainda! Rarará!
E essa faixa direto de Foz do Iguaçu: "Assista Aqui A Grade Final Ao Vivo: Corinthians X Boca". Rarará! Adorei a Grade Final! Timão x Boca! A Grade Final.
E essa: "Prefeito de Paraíso do Norte reúne 23 partidos em coligação e não terá adversário". Esse é melhor que o Lula. Que se coliga com tudo que se move! Tem que dar aula pro Lula!
E o Demóstenes? O Debóchenes! Com esse babado Timão x Boca ninguém ficou interessado. Me falaram: "O Demóstenes vai aparecer na televisão". E quem é Demóstenes? Joga no Corinthians? É goleiro do Boca? Não? Então, não interessa.
E o chargista Aroeira revelou o discurso do Debóchenes no Congresso: "Eco! Cadê o eco?". Nem o eco foi. Nem o eco ouviu! Rarará!
E o site Kibe Loco revela quatro manchetes bombásticas de 2030.
1) "Ex-bilionário Eike Batista agora vende água de coco em Paquetá."
2) "De olho na ascensão da classe J, nova novela das 21h terá suruba de mendigos."
3) "Humilde, brasileiro diz que vai arrancar os olhos e estuprar a mãe de rival em UFC."
4) "Dani Bananinha completa 35 anos pelo 22º ano consecutivo e intriga cientistas." Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
E um amigo meu foi para um motel bem fuleiro com uma periguete bem fuleira e tinha o aviso: "Favor não utilizar o controle remoto do televisor como objeto sexual e/ou ejacular sobre o mesmo. Gratos. A gerência".
Que motel chato. Não pode fazer nada. E matar muriçoca na parede, pode? Rarará!
E mais uma predestinada. Funcionária da Secretaria do Meio Ambiente do Distrito Federal: Lauriene Grilo Formiga. Rarará!
E como diz um amigo meu: eu sou do tempo em que o Sarney era vereador. Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

SEM-VERGONHICE NA TELA - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 05/07

Amora Mautner, 37, filha do compositor Jorge Mautner, é capa da "TPM" de julho. Ela, que é codiretora da novela "Avenida Brasil" (Globo), fala do trabalho. "Ser sem-vergonha não tem a ver com ser vulgar, mas com ter coragem. Todo ator tem que ser sem-vergonha e afetado, no sentido de ser cheio de afeto. Quando vejo um ator técnico demais, que não leva seu coração para o personagem, eu começo a bocejar", afirma.

TODOS IGUAIS
O clube Athletico Paulistano, nos Jardins, foi condenado pelo governo de SP, em processo administrativo, por discriminação a homossexuais. A pena, de advertência, foi dada pela Secretaria da Justiça.

REFORMA
A entidade recusou pedido de um sócio de reconhecer o parceiro como seu dependente. Num primeiro momento, a comissão da secretaria que analisa casos de discriminação inocentou o Paulistano. Mas a secretária Eloisa de Sousa Arruda acaba de reformar a decisão. O clube não comenta.

MALA PRONTA
O vereador Carlos Apolinário deixa hoje o DEM para entrar no PMDB e se incorporar à campanha de Gabriel Chalita à prefeitura. "O DEM não existe mais em SP", diz ele. "O que tinha era tempo de TV e agora até perdeu um pouco disso para o PSD." Ele passa a ser o único vereador do PMDB na cidade.

SEM ORGULHO
Célebre por ser o autor de propostas polêmicas como o Dia do Orgulho Hétero e a criação de banheiros unissex para gays, lésbicas e travestis, Apolinário diz que não pedirá a Chalita que defenda as ideias. "Não são temas para um candidato a prefeito."

OUTDOOR DE DEUS
A 02 Church, grupo jovem ligado à igreja Renascer que diz trabalhar com "recuperação de drogas e restauração de valores familiares", está vendendo patrocínio para o trio elétrico que terá na Marcha para Jesus, no dia 14. Promete divulgar a marca do apoiador para "6 milhões", público estimado do evento.

OUTDOOR DE DEUS 2
Cada banner custa R$ 1.250. "Será o terceiro ou quarto trio da marcha, as posições mais desejadas pelas igrejas", diz a O2 Church. Já compraram espaço uma loja de móveis, uma agência de empregos e uma empresa agrícola. O grupo recusou ofertas de deputados.

FLA-FLU
Um documentário sobre o centenário do clássico Fla-Flu poderá usar leis de incentivo para captar R$ 400 mil. As filmagens começam no domingo, no jogo que marca os cem anos da primeira disputa entre os times. Renato Terra, que torce para o Flu, convidará um rubro-negro para codirigir o filme.

EFEITO
Apesar do barulho causado pela falha nas próteses mamárias francesas, o número de cirurgias registradas para a reparação de danos causados por elas ainda é pequeno. Até abril, a Anvisa, agência que regula o setor, não tinha registro de nenhuma operação realizada no sistema público. No mês seguinte, recebeu notícia de apenas quatro casos.

BALANÇO
A Anvisa, que recebeu 150 reclamações de próteses que se romperam desde o ano passado e calcula que 13 mil mulheres tenham usado o produto, pediu à ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) um levantamento das cirurgias realizadas pelos planos de saúde.

O Ministério da Saúde diz que aguarda informações de Estados e municípios para fazer um balanço do SUS.

OI, OI, OI
O maestro e violonista André Rieu fez uma exigência para voltar com sua orquestra ao país: ter aulas de zumba. O holandês, que começou anteontem nova leva de shows em SP, gosta de relaxar com a modalidade, que mistura ginástica e dança ao som de ritmos como o kuduro -como o do refrão "oi, oi, oi" da novela "Avenida Brasil".

EFEITOS ESPECIAIS
A exposição "Georges Méliès, o Mágico do Cinema" ganhou abertura no Museu da Imagem e do Som, anteontem. Serge Toubiana, diretor da Cinemateca Francesa, que produz a mostra, foi ao evento. Também circularam por lá as atrizes Tuna Dwek e Marisol Ribeiro, a cantora Patricia Coelho e a publicitária Alessandra Marder.

BRINCADEIRA DE CRIANÇA
A ONG "Love & Art Children's Foundation" apresenta 27 obras realizadas por crianças brasileiras na exposição "Pirlimpimpim", inaugurada no MuBE. A atriz Maria Paula e a modelo Carol Trentini conferiram a mostra.

CURTO-CIRCUITO

O Festival Alatur de Cinema promove hoje bate-papo com o chef Erick Jacquin, no Reserva Cultural.

Karina Buhr faz show hoje no Sesc Pompeia, às 21h30. 18 anos.

O filme "Evoé! Retrato de um Antropófago", sobre a vida do diretor Zé Celso, será exibido hoje na Flip.

com ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, LÍGIA MESQUITA e OLÍVIA FLORÊNCIA

O preço da salada - JANIO DE FREITAS

FOLHA DE S.PAULO - 05/07


O fortalecimento recente do PSB já o torna um problema para o petismo, para Lula e para Dilma Rousseff

A SALADA de partidos que o PT produziu com seus acordos eleitorais pelo país afora, sem critério algum, mais o enfraquece do que o fortalece. As estimativas preliminares indicam a tendência de que o PT dificilmente manterá seu atual comando em muitas prefeituras e Câmaras Municipais. Mas o maior efeito desse enfraquecimento deverá recair sobre as eleições de governos estaduais, com reflexos no quadro da disputa pela Presidência também em 2014.
Adotada como orientação petista desde o primeiro mandato de Lula, a tática das alianças a granel obrigou a concessões e à entrega de nacos do poder que fortaleceram os integrantes dos arranjos, em detrimento do próprio PT. E os estimularam a passar, em grande parte das disputas municipais e dos projetos para 2014, de aliados a possíveis concorrentes.
Nesse sentido, o PSB é o exemplo quase perfeito. Seu intenso fortalecimento nos últimos anos, ampliado pela habilidade do governador pernambucano Eduardo Campos para aproveitar a aliança com o PT, já o torna um problema eleitoral e político para o petismo, para Lula e para Dilma Rousseff.
No Recife, área de longo domínio petista, o governador e o seu PSB derrotaram a articulação tentada por Lula para preservar o quadro atual. Com mais passos individualistas do PSB em outros municípios, os petistas já têm a percepção de que Eduardo Campos e seus correligionários serão um problema na eleição presidencial. Seja por alimentar pretensões próprias ou pelo custo exigido para reproduzir as alianças com Lula e Dilma.
Outro caso exemplar consumou-se ontem. Este, em Minas, onde o PT enrolou-se até em si mesmo. Afinal, conseguiu apresentar o ex-prefeito Patrus Ananias como candidato à Prefeitura de Belo Horizonte. Mas a consolidação das perspectivas só veio na última hora, com a entrada firme do vice-presidente Michel Temer para acabar com a candidatura do PMDB e aliar o partido ao PT.
A conduta sóbria de Temer como vice-presidente encobre sua expressiva contribuição para o governo Dilma e para a própria presidente. Ação reconhecida e declarada por ela. A cada uma de suas participações, frequentes na solução de embaraços do governo na Câmara e no Senado, Temer cresce no PMDB que preside.
E no PMDB cresce a pouco citada e muito difundida pretensão de um candidato próprio à Presidência.
No mínimo, portanto, o fortalecimento peemedebista representará um custo altíssimo para seu possível apoio à candidatura presidencial do PT.
A hipótese hoje especulada, por exemplo, de descolar Michel Temer e negociar a vice com Eduardo Campos, para atrair o PSB, vai ficando cada vez mais difícil.
Em outra escala, partidos menores da "aliança" atual também têm ganhos em relação ao PT e seus candidatos.
Como se viu em São Paulo e se vê em Fortaleza, entre outros numerosos casos. Nos quais o vale-tudo ensina que seus efeitos não estão só no lucro imediato. Nem são apenas favoráveis. Sua cobrança pode ser lenta, mas, diferentemente da justiça, chega mesmo.

Prostituição e política - BERNARDO MELLO FRANCO

FOLHA DE SP - 05/07


SÃO PAULO - As razões que levaram Roberto Jefferson a denunciar o mensalão, em junho de 2005, são conhecidas. Ele estava no centro de um escândalo de corrupção, esperou por uma boia que o governo Lula não quis atirar e preferiu submergir atirando a se afogar em silêncio.

Prestes a perder o mandato, o então deputado revelou uma mágoa antiga -e talvez mais determinante para sua revolta com a nova elite dirigente. O PT, ele disse, tratava partidos aliados como "prostitutas". Pagava pelo serviço final, mas se recusava a fazer a corte, dar a mão no cinema, convidar para jantar.

Veterano na defesa de governos de todos os tipos, o chefe do PTB se queixava de defender o Planalto sem ser ouvido, fornecer votos no Congresso sem direito a opinar.

Sua rebelião ensinou que políticos, além de verbas e cargos, também precisam de carinho. Uma lição que os petistas pareceram ter aprendido quando Lula levou Fernando Haddad à casa de Paulo Maluf.

A cena lembrou um casamento à moda antiga: o pai conduzindo a noiva, o jardim de filme americano, os sorrisos de álbum de retratos. Quando os flashes pararam, poucos se lembravam da canetada que instalou um malufista em posto-chave do Ministério das Cidades. Então veio a saída de Luiza Erundina, e a relação tomou outro rumo.

O candidato deixou claro que Maluf não será bem-vindo na propaganda de TV e se recusa a citar seu nome em entrevistas. Um dirigente petista escreveu artigo em defesa da aliança sem mencionar o aliado, e a nova vice avisou que ele terá "papel reduzido" na campanha. A guinada chegou ao ápice no último sábado, quando militantes petistas vaiaram o ex-prefeito na convenção que lançou Haddad.

Maluf não é Jefferson, mas compartilha com ele o gosto pelo flerte político e a repulsa a se sentir desprezado por quem apoia. Resta saber como reagirá ao tratamento que o ex-deputado descreveu sete anos atrás.

A Petrobrás engasgada - ROBERTO MACEDO


O ESTADÃO - 05/07


No último dia 25, a presidente da Petrobrás, Graça Foster, empossada em fevereiro deste ano, apresentou publicamente um novo plano de investimentos da empresa no período 2012/2016, substituindo o anterior, de 2011/2015, que se revelou inadequado logo de início. As referências quanto ao que se passou no evento são das edições deste jornal e do Valor do dia seguinte.

Graça Foster marcou o anúncio com mais uma demonstração de sua conhecida franqueza e de disposição para resolver problemas. E os que apontou na ocasião foram vários, sem nenhuma graça. Pelo contrário, deu a entender que no passado a companhia divulgava metas que sistematicamente descumpria e convivia com certa indisciplina financeira e com falta de planejamento e de controle. E que costumava adquirir antecipadamente equipamentos de projetos ainda não aprovados em todas as fases.

Mencionou a refinaria Abreu e Lima, cuja construção está atrasada, afirmando tratar-se de "uma história para ser aprendida, a ser escrita e lida pela companhia de tal forma que não seja repetida". Recorde-se que nesse projeto há a participação de 40% da empresa venezuelana PDVSA, mas até agora essa presença não se concretizou financeiramente. Não sei se o projeto incluiu um fator de risco associado a essa parceria, dada a presença, no outro lado, do nada confiável Hugo Chávez.

Entre outros atrasos, também foi mencionado o do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), cuja primeira refinaria tinha setembro de 2014 como data de inauguração, depois de adiada algumas vezes. Graça Foster nem se arriscou a fixar uma nova. E afirmou que "nenhum diretor da companhia está autorizado a falar sobre novos prazos deste e de outros projetos", indicando que estão em fase de reexame.

Também se referiu a atrasos no recebimento de equipamentos nacionais e estrangeiros. Um caso não abordado no evento, mas que foi objeto de propaganda na campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2010, foi o do petroleiro João Cândido, lançado ao mar no Brasil em maio do mesmo ano, pelo então presidente Lula. Mas, como nunca antes neste país, foi um lançamento sem efetivo funcionamento, com o que o bebezão ficou no berçário para tratamento. Só em 2012 partiu para o seu trabalho.

Sintetizando o impacto desses e de outros problemas, pelo novo plano, a produção de petróleo do País deverá alcançar 2,5 milhões de barris diários em 2015, meio milhão ou 20% abaixo da previsão adotada até o ano passado. Entre outras implicações, a discussão no Congresso Nacional em torno dos royalties do pré-sal que caberão à União, Estados e municípios precisará levar em conta esse novo número.

Inegavelmente, o que disse Graça Foster foi uma crítica à administração da empresa no governo Lula. Analisando todo esse quadro, um editorial deste jornal encontrou traços "de alguns dos piores costumes consagrados no governo anterior, como o aparelhamento da administração, o voluntarismo, o favorecimento a grupos econômicos e a mistificação populista".

Na raiz dos problemas que a Petrobrás enfrenta, vejo também o novo modelo de exploração que o governo Lula adotou depois de identificado o grande potencial do conjunto de jazidas conhecido como pré-sal. O que houve foi a substituição do modelo de concessão em que as empresas participavam de leilões de áreas de exploração e vencia a que se dispunha a pagar à União o maior valor pela área licitada. A produção ficava com a concessionária, que também pagava royalties a entes governamentais, como uma compensação pelo que iria retirar dos poços, além de uma "participação especial" no caso dos mais rentáveis.

No modelo de partilha que Lula instituiu, o petróleo continuará da União, e as empresas operadoras serão compensadas pelos seus investimentos. Mas a Petrobrás poderá ser contratada sem licitação, e em qualquer nova área leiloada ela será necessariamente uma parceira.

Com isso tornou-se ainda mais poderosa, mas não foi levado em conta o risco de dificuldades de gestão em razão da enormidade do empreendimento que o governo lhe outorgou. Com esse estímulo adicional ao seu voraz apetite para atuar em questões energéticas, acabou se engasgando. Parece o que os economistas chamam de "deseconomias de escala". E no risco de gestão cabem não só questões essencialmente administrativas, mas também outras, como os piores costumes mencionados no referido editorial.

Os vários problemas da Petrobrás podem ser sintetizados na avaliação que dela faz o mercado acionário. Nele, o preço de uma ação tende a revelar sinteticamente todas as informações disponíveis quanto ao valor de uma empresa. Multiplicado pelo número de ações, mostra o seu valor total de mercado. Ora, tomando apenas dados de 2010 para cá - ou seja, depois da crise econômica mundial do final da década anterior, antes da qual esse seu valor era bem maior -, daquele ano até o dia 25 do mês passado ele caiu de R$ 380,2 bilhões para R$ 237,3 bilhões, e nessa última data era inferior ao valor do patrimônio líquido da empresa, conforme seu balanço. Em números, apenas 71% desse patrimônio.

Também é importante lembrar que a Agência Nacional de Petróleo (ANP) há anos não realiza novo leilão de áreas a ser exploradas. Temo que uma das razões seja a de que talvez ela esteja aguardando a Petrobrás se arrumar para que esta possa estender seus ampliados tentáculos a novas áreas.

Ora, dado um conjunto de áreas onde se entende ser provável encontrar petróleo, quanto maior o número de áreas entregues à exploração e de poços nelas perfurados, maior será a probabilidade de achá-lo em grande quantidade.

Será preciso esperar a Petrobrás se arrumar para a ANP leiloar? Se for, será mais uma razão para o Brasil continuar como hoje se encontra, também desarrumado para avançar no seu crescimento econômico.