quinta-feira, junho 28, 2012

O mito e os fatos - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 28/06

A mais recente pesquisa do Datafolha mostra que 62% dos eleitores paulistanos e 64% dos simpatizantes do PT acham que o partido agiu mal procurando acordo com Maluf para a prefeitura de São Paulo.

O candidato do bolso do colete de Lula, o ex-Ministro Fernando Haddad, continua sendo apenas isso, mais uma invenção do ex-presidente.

Caiu dois pontos percentuais em relação à pesquisa anterior, o que não tem significado estatístico, pois está na margem de erro, mas tem peso político porque a pesquisa foi feita logo depois da famosa foto em que Lula aparece nos jardins da mansão de Maluf comemorando o acordo político.

Cair dois pontos percentuais quando se tem 30% de intenções de voto, como tem o candidato tucano José Serra, seria irrelevante - e ele cresceu -, mas os mesmos 2 pontos num total de 8% significam uma queda de 25%, o que por si só explicita a difícil situação em que se encontra o candidato de Lula.

Haddad, que parecia ter iniciado a ascensão após aparecer com Lula no programa do Ratinho e ter quase triplicado as intenções de voto, fato muito comemorado entre os simpatizantes do PT, não conseguiu manter a curva ascendente.

Esperavam os petistas que, depois do episódio Maluf, o candidato de Lula atingisse os dois dígitos nas pesquisas, evidenciando a correção da manobra política de seu mentor.

Lula reagiu aos críticos ao afirmar que não tinha arrependimento nenhum pela foto. E Maluf fez sua análise particular: Erundina deixara a chapa por ciúmes de seu protagonismo, e, diante de Lula no governo, ele, Maluf, considera-se "de esquerda".

O que parece divertir Maluf, e não é para menos, configura-se um problema político de envergadura para o PT paulistano.

A pesquisa Datafolha mostra que os eleitores estão ao lado de Erundina, pelo menos nesse primeiro momento. Nada menos que 67% dos eleitores consideram que Erundina fez muito bem em deixar a chapa de Haddad depois da divulgação da famosa foto.

Havia até em circulação uma curiosa interpretação na base do "falem mal, mas falem de mim". Lula seria tão genial articulador que colocara a imagem de Haddad nas primeiras páginas e nas televisões do país, fazendo com que viesse a ser conhecido pelo eleitorado.

O que para o comum dos mortais parecia erro estratégico, para o infalível líder tinha o dom de alcançar o objetivo de difundir a figura de seu escolhido.Vem a nova pesquisa Datafolha e joga por água abaixo a teoria montada a posteriori, que tentava transformar um erro político em grande lance estratégico.

O diretor do Datafolha, Mauro Paulino, considera que a rejeição ao apoio de Maluf ao PT pode ser determinante na eleição, o que indicaria que não se trata de um efeito passageiro.

Nesse caso, Erundina estaria certa quando comentou que 1min e 30s de propaganda eleitoral não justificam fazer uma aliança que renega uma vida inteira. Aparentemente, esse tempo extra que o PT obteve aderindo a Maluf não será suficiente para reduzir o desgaste provocado pelo acordo, considerado espúrio pela larga maioria do eleitorado paulistano e petista.

O tucano José Serra continua liderando a pesquisa, mas está parado desde o início com 31% das intenções, o que representa o eleitorado cativo do PSDB na capital. Na análise dos petistas, mostra que ele não tem condições de ampliá-lo.

O outro terço deve ficar, como tradicionalmente ocorre, com o candidato do PT, mas, se Haddad não demonstra ser competitivo para buscar no partido o apoio que seria automático, como ir além do eleitorado petista para buscar votos que podem lhe dar vitória?

A estratégia petista tinha um objetivo pragmático, traçado por Lula. Abriu-se mão de uma candidata forte como é a ex-prefeita Marta Suplicy na suposição de que ela não trazia novidade para a campanha que ampliasse seu eleitorado.

O "novo", que Haddad representaria, teria mais facilidade para avançar no eleitorado que, não sendo petista, pode votar no candidato do partido.

Mas, ao mesmo tempo, a candidatura ficou limitada no viés ideológico quando se juntou a Haddad, um comunista saudosista, a ex-prefeita Erundina, que assumiu anunciando que continuava defendendo o socialismo. Para ela, estar no Partido Socialista Brasileiro (PSB) não é retórica, é uma profissão de fé. Com sua saída, o PT foi buscar no PCdoB a companheira de chapa de Haddad, fechando novamente o foco ideológico da candidatura.

Os petistas alardeiam que o candidato tucano José Serra tem mais rejeição do que apoio (35% contra 31%), o que é uma situação realmente incômoda para o candidato. Mas, por essa conta, o candidato petista tem o dobro de rejeição do que de apoio (12% contra 6%).

Lula promete "morder o calcanhar" dos adversários, mas precisará fazer com que Haddad aprenda a morder também, sob o risco de seu candidato ficar exposto ao público como figurante sem expressão.

Além do mais, as pesquisas do Datafolha vêm registrando a queda da influência de Lula como cabo eleitoral na disputa paulistana, embora ele continue sendo o mais influente deles, mais ainda que a própria presidente Dilma, que tem 28% de influência na escolha do candidato, ou que o governador Geraldo Alckmin, que influencia 29% dos eleitores.

O índice de influência de Lula no eleitorado é de 38%, mas o problema para o PT é que em janeiro eram 49% os que diziam que o apoio de Lula os faria votar em determinado candidato.

Se juntarmos a redução da influência de Lula no eleitorado com a incapacidade demonstrada até agora por Fernando Haddad de ser um candidato minimamente competitivo, teremos uma eleição que sugere ser muito mais difícil para o PT do que parecia meses atrás.

Serra já disse que os fatos mostram que Lula não é infalível, pelo menos nas eleições paulistas. Mas Lula é Lula, advertem sempre os petistas, agarrando-se ao mito na esperança da vitória. Lula faz bem em querer trazer para si a disputa contra Serra, nacionalizando a eleição paulistana. Caberá a Serra escapar dessa armadilha, convencendo o eleitorado que está pensando apenas em São Paulo, e não no Brasil.

Moribunda, mas viva - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 28/06


BRASÍLIA - Carlinhos Cachoeira está preso desde fevereiro, a construtora Delta desmoronou, Demóstenes Torres deverá ser cassado no próximo dia 11 e o recesso parlamentar vem aí. Passado julho, começam para valer a eleição municipal e o julgamento do mensalão no STF. Quem é que vai querer saber de CPI?
A pergunta me foi feita anteontem por importante líder político que previa a morte da CPI sem choro nem vela. E foi respondida ontem na moribunda, mas não morta, CPI: o jornalista Luiz Carlos Bordoni fugiu da estratégia do silêncio autorizado pela Justiça e botou a língua nos dentes.
Contou como recebia pelo caixa dois durante a campanha em Goiás, acusou o tucano Marconi Perillo de mentiroso, disse que o governador sabia que sua assessora tinha contatos nada convencionais com o esquema do Cachoeira e jogou na fogueira a própria filha, em cuja conta parte do pagamento foi depositada.
Teatralmente, autorizou a quebra do seu sigilo fiscal, bancário e telefônico, assim como o da filha.
Suas Excelências, que estão cansadas de CPI e doidas para correr para a campanha nos seus municípios, perderam as estribeiras. O Fla-Flu, digo, o PT-PSDB país afora reproduziu-se mais uma vez no campo da CPI, gerando cenas ao vivo daquelas que justificam retirar as criancinhas da sala. Mas quem ganhou a partida ontem foram os petistas.
O tucano Carlos Sampaio trocou desaforos com o petista Paulo Teixeira, o também tucano Mário Couto ficou fora de si quando o jornalista acusou a CPI de não querer apurar nada e saiu berrando que tudo era uma "avacalhação". Bem, nisso nós não discordamos dele. Mas, afora os chiliques, o fato é que não havia como defender Perillo.
A CPI começou tortuosa, continuou tortuosa e tende a chegar a lugar nenhum, só servindo para que PT e PSDB troquem acusações mútuas. Pena que nenhum dos dois lados tenha realmente como se defender.

O governo vai às compras - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 28/06


O governo decidiu, afinal, dar um passo além das medidas de estímulo ao consumo para desemperrar a economia, mas as novas ações são de alcance muito limitado, como as anteriores. Com dotação prevista de R$ 8,4 bilhões, o PAC Equipamentos - Programa de Compras Governamentais deve beneficiar diretamente indústrias de máquinas agrícolas, veículos, equipamentos médicos, roupas, calçados e material para escolas. Os fabricantes brasileiros terão margem de preferência de até 25% nas concorrências promovidas pela União. O objetivo mais importante continua sendo a aceleração imediata do crescimento. A ação do governo é uma resposta aos sinais de estagnação, evidenciados nos pobres resultados da indústria, no indicador de atividade produzido pelo Banco Central (BC), e também às previsões cada vez mais pessimistas do mercado financeiro. Na pesquisa Focus do dia 15, a mediana das projeções, em queda durante sete semanas consecutivas, ficou em 2,3%. Esse levantamento é conduzido semanalmente pelo BC com cerca de 100 instituições financeiras e escritórios de consultoria. Embora o foco, desta vez, seja o investimento público, o alvo do governo continua sendo o resultado de curto prazo, como se os problemas da indústria fossem essencialmente conjunturais.

Os problemas, no entanto, são bem mais graves e será preciso criar muito mais que estímulos de ocasião para fortalecer o setor manufatureiro.

Para a indústria, a política de compras governamentais poderá, na melhor hipótese, produzir resultados temporários, sem contribuir, no entanto, para eliminar as desvantagens comparativas da produção nacional. Mas até para propiciar esses ganhos limitados o governo precisará atender a algumas condições práticas. Será necessário, por exemplo, elaborar projetos de investimento. É bem conhecida a incompetência da administração federal nessa área - um detalhe acentuado no último relatório do Tribunal de Contas da União sobre as contas do governo.

Se o governo conseguir atuar com eficiência maior que a costumeira, poderá produzir alguns benefícios duradouros em termos de infraestrutura - por exemplo, na construção de estradas, no reforço e na modernização do equipamento de hospitais e na melhora das condições de funcionamento de escolas. Todos esses resultados são bem mais importantes, a médio e a longo prazos, que os efeitos obtidos, até agora, com o estímulo ao consumo e com medidas de curto alcance para alguns setores.

Mas é preciso lembrar, mais uma vez, a ineficiência na execução de projetos da maior parte dos Ministérios. No ano passado, como foi acentuado no relatório do TCU, só houve execução satisfatória de 54% das ações classificadas como prioritárias no Orçamento-Geral da União. Para melhorar seu desempenho na realização de investimentos o governo tem defendido a adoção de um regime especial de licitações para as obras do PAC, o mesmo adotado para os projetos da Copa do Mundo. Mas essa é uma solução ilusória. Não contorna a Lei das Licitações, porque os maiores problemas são políticos e gerenciais.

Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a maior parte das ações deve ser realizada no segundo semestre deste ano. A pretensão é garantir um crescimento médio superior ao do ano passado - 2,7% - e criar impulso para um avanço bem maior em 2013. Representantes da indústria disseram ter condições de atender à demanda do PAC Equipamentos. Mas os maiores problemas estão do lado do governo.

Além dos limites impostos pela baixa capacidade gerencial do setor público, as autoridades terão de levar em conta - e contornar, se isso for possível - as restrições eleitorais. Suas iniciativas poderão ser contestadas, se forem vistas como interferências nas disputas municipais.

O ministro anunciou também a redução da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), usada nos financiamentos do BNDES, de 6% para 5,5%. Resta conferir se isso bastará para incentivar os investimentos privados. Também esse estímulo poderá ter efeito limitado, se as demais desvantagens comparativas, como os impostos e vários outros custos, forem mantidas.

A longa história da cárie - FERNANDO REINACH


O ESTADÃO - 28/06


Muita coisa melhorou na vida do Homo sapiens nos últimos 20 mil anos, mas uma piorou: a quantidade de cáries. É o que concluiu um grupo de dentistas, antropólogos e arqueólogos.

Saber se diabete ou hipertensão eram frequentes na Idade da Pedra Lascada é praticamente impossível. Esqueletos, ruínas e artefatos são tudo de que dispomos para entender como era a vida de nossos ancestrais.

Algumas vezes encontramos ossos quebrados e marcas de pancadas nos crânios, o que permite avaliar o nível de violência ou os acidentes do no dia a dia. Mas talvez nunca venhamos a saber a incidência de doenças metabólicas ou a prevalência da obesidade.

Mas, se essa ignorância incomoda os médicos, os dentistas têm mais sorte. A quantidade de fósseis de crânios humanos é enorme. Muitos se dedicam a verificar o estado dos dentes de nossos antepassados, correlacionando seus achados com a época em que viveram, seus hábitos alimentares e a idade de cada um.

Nossos parentes distantes, os macacos, dificilmente apresentam cáries durante a maior parte de sua vida. Elas e outras doenças dentárias só aparecem no final da vida e são sinal de envelhecimento.

O que sabemos dos dentes de nossos ancestrais mais antigos vem do exame de crânios de humanos que viveram antes do desenvolvimento da agricultura. Examinando mais de mil crânios dessa época, foi constatada pelo menos uma cárie em só 2% dos indivíduos. Eram coletores e caçadores, comiam raízes, frutos, sementes duras e um pouco de carne.

O estado dental começou a piorar há 13 mil anos, no Neolítico, quando surgiu a agricultura. Nessa amostra de crânios, 9% deles possuíam uma cárie. Nessa época o consumo de grãos moídos, ricos em carboidratos, começou a fazer parte da dieta humana. Muito depois, tanto no Egito (há 3,3 mil anos) quanto nos crânios de aborígenes australianos (há uns 70 anos), a quantidade de cáries era próxima a 2%, mas esses povos não haviam adotado completamente a dieta rica em grãos típica das civilizações que adotaram a agricultura.

Açúcar. Nas populações europeias, há até 4 mil anos, a quantidade de crânios com cáries era de 10%. Há cerca de 2,3 mil anos, Alexandre, o Grande, trouxe o açúcar à Grécia. A quantidade de cáries aumentou lá, em Roma e depois em toda a Europa durante a Idade Média. O mesmo ocorreu na Inglaterra, quando, após a conquista das Índias, os navios trouxeram grandes quantidades de açúcar. O imposto sobre o açúcar foi reduzido em 1874 e o consumo explodiu. A partir desse momento, mais de 90% dos crânios ingleses possuem múltiplas cáries em quase todos os dentes.

Nessa época a alta incidência de problemas dentários fez com que as pessoas passassem a limpar os dentes: surgiram escovas, pastas, dentistas. Essa nova tecnologia estancou a incidência de cáries, que estabilizou em nível alto (50% a 90% das pessoas com cáries) na a Europa até meados do século 20. Em 1970, foi introduzido o flúor na água, o que melhorou um pouco a situação. Agora, no início do século 21, pela primeira vez a incidência está aumentando novamente.

A introdução de carboidratos purificados (amido) e solúveis (açúcar) em nossa dieta é provavelmente o grande culpado pelas cáries. Esse estudo é um bom exemplo de como a evolução tecnológica da humanidade é muito mais rápida que a biológica.

Nossa espécie viveu por milhões de anos comendo raízes, frutas, grãos e carne. Sobreviveram os indivíduos com dentes que resistiam nesse ambiente, mesmo sem higiene bucal. Mas o homem descobriu a agricultura e, com ela, carboidratos fáceis e baratos. E começou a consumi-los, apesar de seus dentes não estarem adaptados. Os dentes passaram a apodrecer rapidamente, o que deveria ter pressionado a população a comer menos destes alimentos. Mas novas tecnologias, como a escova e a dentadura, livraram-nos da pressão seletiva, a força maior da evolução.

A lição é simples: qual a melhor dieta para o ser humano? Aquela para a qual fomos selecionados durante milhões de anos, a dos que viveram antes da descoberta da agricultura.

Sorria! - CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 28/06

Pesquisas mostram que valorizar a felicidade produz insatisfação e mesmo depressão


Na frente da câmara fotográfica, ninguém precisa nos dizer "Sorria!"; espontaneamente, simulamos grandes alegrias, sorrindo de boca aberta. Em regra, hoje, os retratos são propaganda de pasta de dentes -se você não acredita, passeie pelo Facebook, onde muitos compartilham seus álbuns, rivalizando para ver quem parece melhor aproveitar a vida.

O hábito de sorrir nos retratos é muito recente. Angus Trumble, autor de "A Brief History of the Smile" (uma breve história do sorriso, Basic Books), assinala que esse costume não poderia ter se formado antes que os dentistas tornassem nossos dentes apresentáveis.

Além disso, os retratos pintados pediam poses longas e repetidas, para as quais era mais fácil adotar uma expressão "natural". O mesmo vale para os daguerreótipos e as primeiras fotos: os tempos de exposição eram longos demais. Já pensou manter um sorriso por minutos?

Outra explicação é que o retrato, até a terceira década do século 20, era uma ocasião rara e, por isso, um pouco solene.

Mas resta que nossos antepassados recentes, na hora de serem imortalizados, queriam deixar à posteridade uma imagem de seriedade e compostura; enquanto nós, na mesma hora, sentimos a necessidade de sorrir -e nada do sorriso enigmático do Buda ou de Mona Lisa: sorrimos escancaradamente.

Certo, o hábito de sorrir na foto se estabeleceu quando as câmaras fotográficas portáteis banalizaram o retrato. Mas é duvidoso que nossos sorrisos tenham sido inventados para essas câmaras. É mais provável que as câmaras tenham surgido para satisfazer a dupla necessidade de registrar (e mostrar aos outros) nossa suposta "felicidade" em duas circunstâncias que eram novas ou quase: a vida da família nuclear e o tempo de férias.

De fato, o álbum de fotos das crianças e o das férias são os grandes repertórios do sorriso. No primeiro, ao risco de parecerem idiotas de tanto sorrir, as crianças devem mostrar a nós e ao mundo que elas preenchem sua missão: a de realizar (ou parecer realizar) nossos sonhos frustrados de felicidade. Nas fotos das férias, trata-se de provar que nós também (além das crianças) sabemos ser "felizes".

Em suma, estampado na cara das crianças ou na nossa, o sorriso é, hoje, o grande sinal exterior da capacidade de aproveitar a vida. É ele que deveria nos valer a admiração (e a inveja) dos outros.

De uma longa época em que nossa maneira e talvez nossa capacidade de enfrentar a vida eram resumidas por uma espécie de seriedade intensa, passamos a uma época em que saber viver coincidiria com saber sorrir e rir. Nessa passagem, não há só uma mudança de expressão: o passado parece valorizar uma atenção focada e reflexiva, enquanto nós parecemos valorizar a diversão. Ou seja, no passado, saber viver era focar na vida; hoje, saber viver é se distrair dela.

Ao longo do século 19, antes que o sorriso deturpasse os retratos, a "felicidade" e a alegria excessivas eram, aliás, sinais de que o retratado estava dilapidando seu tempo, incapaz de encarar a complexidade e a finitude da vida.

Alguém dirá que tudo isso seria uma nostalgia sem relevância, se, valorizando o sorriso e o riso, conseguíssemos tornar a dita felicidade prioritária em nossas vidas. Se o bom humor da diversão afastasse as dores do dia a dia, quem se queixaria disso?

Pois é, acabo de ler uma pesquisa de Iris Mauss e outros, "Can Seeking Happiness Make People Happy? Paradoxical Effects of Valuing Happiness", em Emotion on-line, em abril de 2011 (http://migre.me/9CT8e).

Em tese, a valorização ajuda a alcançar o que é valorizado -por exemplo, se valorizo as boas notas, estudo mais etc. Mas eis que duas experiências complementares mostram que, no caso da felicidade (mesmo que ninguém saiba o que ela é exatamente -ou talvez por isso), acontece o contrário: valorizar a felicidade produz insatisfação e mesmo depressão. De que se trata? Decepção? Sentimento de inadequação?
Um pouco disso tudo e, mais radicalmente, trata-se da sensação de que a gente não tem competência para viver -apenas para se divertir ou, pior ainda, para fazer de conta. Como chegamos a isso?

Pouco tempo atrás, na minha frente, uma mãe conversava pelo telefone com o filho (que a preocupa um pouco pelo excesso de atividade e pela dispersão). O menino estava passando um dia agitado, brincando com amigos; a mãe quis saber se estava tudo bem e perguntou: "Filho, está se divertindo bem?".

Panos quentes - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 28/06

Com o agravamento da tensão entre PT e PSB, sobretudo em Recife, dirigentes socialistas irão amanhã a Lula manifestar repúdio ao vídeo em que Rui Falcão, presidente petista, conclama militantes contra o governador Eduardo Campos (PE). O PSB quer tranquilizar o ex-presidente quanto aos rumos da sigla em 2014. "A política segue a lógica local. Apoiamos Lula desde 88, estamos apoiando Dilma, vamos apoiá-la se for candidata à reeleição", diz Roberto Amaral, vice socialista.

Esfinge Em conversas nos últimos dias com aliados, Lula não usou o mesmo tom beligerante para se referir a Campos, mas disse que ainda precisa entender qual é o jogo político do aliado.

Puxador Um dos nomes apresentados pelo PSDB para vice de José Serra caso haja chapa "puro-sangue", Andrea Matarazzo aparece na lista de pré-candidatos a vereador da sigla, com reivindicação de número na urna.

3 em 1 A reação de partidos aliados, em especial PR e PV, contra a escolha de um vice tucano, teve anuência de Gilberto Kassab. Em privado, o prefeito evoca acordo anterior às coligações que reservaria o posto ao seu PSD.

Marco zero Enquanto não decide seu companheiro de chapa, Serra já agendou seu primeiro evento oficial após deflagrada a campanha eleitoral: será uma caminhada, dia 6, partindo da Sé.

Em todas Não foi só o "Patrulha do Consumidor", exibido de manhã pela TV Record, que ajudou Celso Russomanno a saltar de 17% para 24% no Datafolha. O pré-candidato do PRB bate ponto nos principais programas da emissora no horário nobre desde maio como "consultor" para o tema.

Tira-teima Sem acordo, o PMDB escolhe no sábado seu candidato em Belo Horizonte: Sávio Souza Cruz, com apoio de Newton Cardoso e Hélio Costa, deve enfrentar Leonardo Quintão, presidente municipal, com mais inserção na base partidária.

Junto e misturado No mesmo dia, o PSB homologará Márcio Lacerda à reeleição, respaldado por PT e PSDB. Eros Biondini (PTB) e Délio Malheiros (PV) também lançaram suas candidaturas.

Acesso... Na esteira da CPI do Cachoeira, procuradores relatam o travamento de diversas investigações de corrupção, como lavagem e desvio de dinheiro, por conta da demora das instituições bancárias em prestar dados de quebra de sigilo autorizadas por ordem judicial.

... negado Procuradores dizem que os bancos levam até um ano para repassar as informações ao Sistema de Investigação de Movimentação Bancária, o Simba. O Ministério Público vai cobrar do Judiciário medidas para obrigar as instituições a cumprirem prazos para responder.

Devagar Na CPI, criada em abril, só estão disponíveis 21% das movimentações bancárias da construtora Delta. Dados da quebra de sigilo de várias contas da empresa ainda não foram mandados.

Respiro Réu no mensalão, o ex-ministro José Dirceu vai tirar 20 dias de férias no exterior antes do julgamento, marcado para 2 de agosto.

Carrinho cheio Integrantes do governo presentes ao evento no Planalto que lançou o PAC das compras de equipamentos e bens produzidos no país brincavam que o nome do programa deveria ser "Dilma vai às compras''.

Chão de fábrica Brizola Neto percorre amanhã, em São Paulo, as sedes das centrais sindicais e do Dieese. Será a primeira visita do ministro do Trabalho às entidades desde sua posse na pasta.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio

"Essa proposta arrebenta as contas públicas. Já fui governador e não teria dinheiro para investir se tivesse que pagar além do teto."

DO LÍDER DO GOVERNO NO SENADO, EDUARDO BRAGA (PMDB-AM), sobre o fim do limite de remuneração salarial para servidores, em discussão no Congresso.

contraponto

Bando de loucos

Na reunião do colégio de líderes da Câmara, anteontem, o presidente Marco Maia (PT-RS) ponderou pela necessidade de se promover um esforço concentrado para votações, pois a Casa está vazia nesta semana:

-É a tradição. Últimas convenções partidárias, festejos juninos... E também tem o jogo do Corinthians!

Chico Alencar (PSOL-RJ) retrucou:

-Mas Corinthians na final da Libertadores não é uma tradição, é um fato inédito!

Os deputados corintianos, em peso na sala, reagiram:

-Não é uma tradição ainda, deputado, mas vai virar!

Na gangorra - JANIO DE FREITAS

FOLHA DE SP - 28/06


Qualquer que seja a posição adotada por Dilma sobre o Paraguai, haverá ônus para a política externa brasileira


A SITUAÇÃO mais delicada em relação ao golpe parlamentar no Paraguai é a do Brasil. Qualquer que seja a posição a ser adotada pelo governo Dilma Rousseff, haverá ônus para a política externa brasileira e risco de problemas maiores com o vizinho ou na crescente projeção internacional do Brasil.
A chamada cláusula democrática, exigência de que os integrantes do Mercosul e da Unasul (União dos Países da América do Sul) sejam leais ao Estado de Direito Democrático ou sejam afastados, consta da política externa brasileira como princípio fundamental. É um legado, quanto à primeira entidade, ainda do governo Sarney e, quanto à segunda, do governo Lula, cofundador da Unasul.
Se a exigência prevalecer, seja por decisão conjunta de uma ou de ambas as entidades, ou por decisão unilateral do Brasil de esfriar as relações com o Paraguai, o problema dos brasiguaios ganha nova dimensão. Desde que Lula e Fernando Lugo conseguiram apaziguar o confronto violento que se iniciava entre os sem-terra paraguaios e os grandes fazendeiros brasileiros em terra paraguaia, os riscos arrefeceram. Na aparência e temporariamente, porém.
A grande ocupação brasileira, tanto legal quanto duvidosa, da imensa parte do território paraguaio dedicada à agricultura extensiva, é suscetível de explosão. Lá e cá admite-se que em alguma altura a área, ou boa parte dela, entrará em combustão, com o enfrentamento dos jagunços armados pelos fazendeiros e dos sem-terra que se armam cada vez mais.
É importante não esquecer, a propósito, que no Paraguai existe um núcleo de guerrilha em atividade e, provavelmente, beneficiário da indignação de jovens com a derrubada de Lugo. Ou, mais indignante para eles, com os que voltam a ser o poder nacional.
A maior distância entre os governos do Brasil e do Paraguai, mesmo sem corte de todos os canais, será um obstáculo para a prevenção de ataques aos brasiguaios e a diluição de novos confrontos abertos, como feito por Lula e Lugo. Deixar brasiguaios em dificuldades pode ser até uma forma de represália paraguaia à possível reprovação prática do Brasil ao golpe parlamentar.
Na ocorrência oposta, em que se preservariam as relações entre os dois países como se nada houvesse transfigurado o Paraguai, os brasiguaios e os sem-terra de lá estarão com as mesmas disposições. Mas o Brasil poderá tentar que os militantes paraguaios concedam ao seu novo governo a consideração que tiveram com Lugo e Lula. O êxito, no entanto, é muito improvável.
E, caso se dê, a política externa brasileira precisará descobrir onde colocar o seu princípio básico de cláusula democrática na América do Sul. Ele é o que é, e nenhuma fantasia lhe daria aparências de ser o que não for mais. Todo o prestígio conquistado pela política externa, nos últimos anos, se perderia depressa. E sem reserva de crédito moral para preservar alguma confiança sequer por parte dos seus demais vizinhos.

Lula e Sombra - LUIZ FERNANDO VERISSIMO


O Estado de S.Paulo - 28/06


Todo o mundo sabe que o Paulo Maluf é procurado pela Interpol. O que pouca gente sabe é que o codinome dele na Interpol é "Sombra", devido à dificuldade da organização em sequer localizá-lo. O escritório da Interpol no Brasil tem agentes dedicados exclusivamente a procurar o Maluf, cujos atos de corrupção internacional são notórios e comprovados. Ainda não conseguiram achá-lo, mas, recentemente, chegaram perto. Esta coluna teve acesso a memorandos internos na Interpol que descrevem o episódio.

Um relatório de um dos agentes encarregados de procurar o "Sombra" revela a existência de rumores nos meios políticos segundo os quais o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai se encontrar com o Maluf, em lugar não especificado, para tratar de assuntos também desconhecidos. Em resposta ao relatório o chefe da Interpol pede cautela, em memorando que publicamos na íntegra, só omitindo o nome do agente e do seu chefe para proteger nossas fontes.

"De XXX para X. Confidencial. Assunto: 'Encontro com Sombra.' Recomendo extrema cautela. Os rumores de um encontro de Lula com 'Sombra' são obviamente destinados a desmoralizar o ex-presidente e seu partido, o PT. Como já lembrei em outras ocasiões, não devemos nos envolver na política do País. Desconsidere os rumores."

O agente responde em outro memorando:

"De X para XXX. Confidencial. Assunto: Lula e Sombra. Os rumores parecem estar confirmados. Haverá sim um encontro do Sombra com o ex-presidente, que, sabe-se agora, vai pedir seu apoio para o candidato do PT nas próximas eleições municipais. Peço autorização para iniciar uma Operação."

A resposta do chefe:

"De XXX para X. Confidencial. Assunto: sua insistência. A possibilidade de um encontro de Lula e Sombra é tão inverossímil, levando-se em conta o histórico do PT e as opiniões do Lula sobre o Sombras, que não merece consideração, quanto mais uma operação. Desista, X."

Volta o agente:

"De X para XXX. Confidencial. Assunto: chance única. Chefe, desculpe a insistência. Mas descobrimos que o encontro Lula/Sombra será na casa do Sombra. Se seguirmos o Lula até o local, não só encontraremos o Sombra como descobriremos onde ele mora. Posso colocar agentes disfarçados de arbustos para flagrar o encontro. É uma chance que não se repetirá!"

Como resposta, XXX ordena que o agente X abandone seu plano, informe-se melhor sobre a história política do Brasil e da próxima vez use o bom senso, em vez de acreditar em boatos delirantes. E a Interpol continua procurando o Maluf.

Maluf tira foto com Madonna! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 28/06


Maluf com a Madonna. Aí, ele fazia um convênio com a Panini e lançava um álbum de figurinhas!

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Direto do País da Piada Pronta! Direto de Salvador: "Diego Maradona é preso com cem pedras de crack na Rótula do Abacaxi". Trafica chamado Maradona é muita predestinação! O Maladona! O Nelson Ned da Argentina!
E esta: "Brasileiro condenado a fuzilamento na Indonésia". Como é o nome do presidente da Indonésia? BAMBANG! Susilo Bambang! Sem chance!
E como escreveu uma menina no meu Twitter: "Agora falta a Globo dar um programa só pro Louro José, já deram um até pro Bial". Rarará!
Isso! Já deram um programa pra Fátima Bernardes, um pro Bial e agora um pro Louro José! "Encontro com Louro José"! Rarará!
E o álbum de fotos do Maluf? A Mônica Bergamo revelou o álbum de fotos do Maluf! Sensacional.
Tem foto do Maluf com Covas, Maluf com Fernando Henrique, Maluf com Collor, Maluf com Alckmin, Maluf com a Hebe, Maluf com o Papa. E agora Maluf com o Lula.
Só falta ele tirar uma foto com o Neymar. Maluf com o Neymar. E com a Jennifer Lopez. Maluf com a J.Lo! E com a Madonna. Aí, fazia um convênio com a Panini e lançava um álbum de figurinhas!
"Maluf com a Hebe não quero, é repetida". "Maluf com o Lula?". "OBA! Essa é nova. Quero!". O Lulaluf! Paf! Cola no álbum.
E todo mundo fala "mas o Lula não precisava ter tirado a foto". Precisava! Era uma exigência do Maluf. Pra completar o álbum! Pra completar As Quibesteiras do Maluf! O Lula fez uma quibesteira! Rarará!
E esta: "Assessora de imprensa do Romário é a Garota Furacão". Agora sim ele começou o mandato. Como disse um amigo no meu Twitter: ASSESEXY DE IMPRENSA! Rarará!
É mole? É mole, mas sobe! Ou como disse aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!
E essa placa num bar na Bahia: "É Proibido Falar Porra Nessa Porra". Que porra, hein! Pra tudo baiano grita "porra". Quando o baiano acorda de mau humor ou endiabrado, logo grita: "Acordei virado na porra!" Adoro!
E um dia encontrei com uma baiana em Arembepe e ela gritou: "O Zé Simão por aqui? Que porra é essa?".
Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

UM SÓ - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 28/06

Carolina Ferraz fez um editorial de fotos e uma crônica para a revista 'O Amarello'; a atriz escreve: 'Foi um só amor, um único amor que veio, cruzou minha vida, tocou minha alma e ficou marcado em minha pele'

CACIQUE JURUNA
O ministro Luiz Fux, do STF (Supremo Tribunal Federal), está gravando as conversas com advogados do mensalão. Ele os recebe com testemunhas e pede licença para registrar o encontro.

MEMÓRIA
A assessoria de Fux diz que o magistrado grava os encontros porque o processo é longo. E que já fez isso quando estava no STJ (Superior Tribunal de Justiça).

PILHA
Concentrado no mensalão, o ministro Joaquim Barbosa, relator do caso, viu se acumularem em seu gabinete no STF mais de 500 habeas corpus. São casos prioritários que, no entanto, não puderam ser ainda julgados.

FECHADURA
E Barbosa revelou a interlocutores que ficou "intrigado" com a afirmação do ministro Ricardo Lewandowski, revisor do mensalão, de que faria um "contraponto" a seu voto. É que ele não revelou a peça a ninguém.

OS OUTROS
Pegou mal no PV a possibilidade de José Serra escolher um vice tucano. Os verdes, que oferecem o nome de Eduardo Jorge, rebatem o argumento de que o PSDB já se sacrificou ao aceitar a coligação proporcional, já que a sigla aliada vai lançar lista própria de candidatos. Seria "inconveniente" ignorar "forças importantes", diz o presidente do PV, o deputado José Luiz Penna.

PRIMEIRAS NOTAS
O ator Marcelo Serrado se encontrou com o maestro João Carlos Martins nesta semana em almoço na casa do produtor Luiz Carlos Barreto, no Rio. O ator interpretará o pianista no cinema, em filme que será dirigido por Bruno Barreto.

MODA RIO
A estilista Andrea Marques, da grife carioca que leva seu nome, assinará uma coleção de roupas para a rede de lojas da C&A.

EM GUERRA
A presidente da Petrobras, Graça Foster, entrou em choque com os governos do Ceará e do Maranhão -leia-se José Sarney. Ela anunciou que as refinarias planejadas para os Estados estão adiadas indefinidamente.

PALAVRA
"Fazer isso sem conversar é intolerável", diz o ex-ministro Ciro Gomes (PSB-CE), irmão do governador do Ceará, Cid Gomes. "A refinaria não é promessa eleitoreira de politiqueiro de quinta categoria. Ela está no plano de negócios da Petrobras." Ele lembra que tanto Lula quanto Dilma Rousseff se comprometeram com a obra.

PALAVRA 2
Ciro diz que o adiamento é "explosivo" e não pode ser "nem remotamente" considerado. "O Ceará investiu num centro de treinamento para 12 mil pessoas, o currículo da universidade foi readaptado." Cid Gomes conversou ontem com Sarney e com o ministro Edison Lobão, das Minas e Energia. Ele disse que a Petrobras procurará parceiros internacionais para tocar as obras. "Confiamos na palavra de Lula e Dilma", diz o governador.

GANDHI NA ZL
Arun Gandhi, neto de Mahatma Gandhi, conversará no sábado com jovens e professores de São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo. O tema: "Educar para a não violência e sustentabilidade: é possível?". A organização é do Instituto Democracia e Sustentabilidade, do Cenpec e da Fundação Tide Setubal.

MEMÓRIAS
Saïd Farhat, ex-ministro do governo Figueiredo, autografou o livro "Tempo de Gangorra - Visão Panorâmica do Processo Político-Militar no Brasil de 1978 a 1980", anteontem, na Livraria da Vila dos Jardins. O ex-ministro Maílson da Nóbrega, o publicitário Roberto Duailibi e a psicanalista Lilia Cintra Leite estavam na fila de autógrafos.

À MESA
Os artistas Anna Maria Maiolino e Paulo Nazareth receberam o Prêmio Masp Mercedes-Benz de Artes Visuais em jantar, anteontem, no museu.

CURTO-CIRCUITO

Gaudêncio Torquato lança hoje "Era uma Vez... Mil Vezes" (Topbooks), na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. 19h.

Michel Temer recebe hoje o prêmio da Associação Brasileira da Industria Gráfica (Abigraf) pelos serviços prestados ao setor.

A Assembleia de SP realiza hoje seminário sobre proteção animal, às 19h.

Luiz Andreoli lança "As Histórias do Bonitão na TV", no Na Mata Café. 20h.

Ciclo de baixa - MÍRIAM LEITÃO


O GLOBO - 28/06


A Ambev teme a tsunami tributária que se abaterá sobre a indústria de bebidas nos próximos anos. A Cielo acha que o país está vivendo seu segundo ano de crescimento em torno de 2%, apesar de acreditar em melhora no fim do ano. A alta do dólar ajuda alguns setores, mas a volatilidade provoca postergação de investimento. A desaceleração afeta as empresas de forma diferente.

O ciclo de desaceleração continua. Nos últimos meses, a previsão de crescimento dos bancos consultados pelo Boletim Focus do Banco Central caiu de 3,3% em média para 2,18% e não se sabe se a descida chegou ao fim. Cada setor sente de forma diferente o aperto da economia.

Na Ambev, o que preocupa é o cronograma de aumento de impostos previsto para o setor nos próximos anos. Serão altas sucessivas, até 2015, com a primeira carga em outubro deste ano, quando a incidência de IPI e PIS/Cofins ficará 19% maior sobre cervejas e 10% maior sobre refrigerantes. O vice-presidente de Relações Corporativas da empresa, Milton Seligman, acredita que o setor é punido pela sua eficiência, enquanto outros estão ganhando facilidades porque estavam com problemas.

- Temos uma tsunami tributária programada para o setor de bebidas nos próximos anos. Isso vai anular todo o ganho de produtividade dos últimos sete anos e travar investimentos. Nosso problema não é o câmbio nem a crise na Europa, mas o aumento de impostos. Em nome de bons resultados em outros setores, penaliza-se aqueles que estavam bem - disse.

Seligman acha que o governo deveria usar os benefícios que concede a alguns setores para exigir contrapartidas das empresas, sejam elas econômicas, sociais ou ambientais. E é preciso perícia para que o empresário não fique acomodado com as medidas e as restrições à competição:

- Os incentivos setoriais são importantes e devem acontecer para quem está com mais dificuldade. Mas o governo deve exigir alguma contrapartida, em termos de inovação, por exemplo. O benefício não pode levar à acomodação do empresário.

José Paulo Aleixo Coli, vice-presidente e diretor financeiro da Latina, fabricante de linha branca, contou que mensalmente participa de uma reunião com empresários de oito setores da economia:

- Na última, apenas um setor, o farmacêutico, estava otimista, todos os outros tinham visões negativas.

Para combater esse ambiente é que o governo faz tanto pacote. Em cada um deles, os empresários são chamados ao Planalto, há discursos e algumas medidas. Todas elas juntas mostram que o governo não tem visão estratégica. É uma política econômica hiperativa e sem resultados. O pacote de ontem é estranho, para dizer o mínimo. O governo anunciou com fanfarras que vai comprar carteiras escolares, blindados, ambulâncias e coisas assim.

A crise na Europa ficou mais intensa; as famílias brasileiras tomaram muito crédito nos últimos ano, e está aumentando a inadimplência. O crescimento do PIB vem perdendo ritmo. As empresas têm investido menos.

O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI), medido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostra que os empresários estão insatisfeitos com o momento presente, mas que apostam num futuro melhor. O índice das condições atuais mede 47 pontos e o das expectativas está mais alto, em 62 pontos. A conversa com os executivos revela que eles estão preocupados, mas acreditam em um quadro melhor no fim do ano.

O presidente da Cielo, Rômulo Dias, diz que a desaceleração só não foi pior até agora porque o Banco Central começou a cortar juros em agosto do ano passado. Ele explica que as máquinas da Cielo, ao registrar as compras e vendas do cotidiano, servem também como termômetro do nível de atividade. As transações desaceleraram por duas vias: entrada menor de novos consumidores usando cartão e vigor menor no consumo.

- Temos um pulso do que acontece com o nível de atividade, e há uma desaceleração. Mas ainda prevemos crescimento de dois dígitos este ano para o nosso setor. O PIB deve aumentar o ritmo no final do ano, mas fechará 2012 no mesmo patamar de 2011. Teremos dois anos mornos, com o PIB na casa de 2% - disse. O vice-presidente da Relações com Investidores e Sustentabilidade da Whirlpool, Armando Valle, explicou que a redução de IPI para a linha branca manteve as vendas e isso garantiu um primeiro trimestre muito forte. Mas em abril houve uma queda brusca, que causou apreensão. Em maio, os números melhoraram:

- Nosso segmento teve um primeiro trimestre muito bom, com alta entre 10% e 15%; uma queda muito forte em abril; e recuperação em maio. Em abril teve início a discussão sobre os spreads e isso criou uma confusão na cabeça das pessoas. Houve parada para ver o que iria acontecer. Mas estamos entre os empresários otimistas.

José Paulo Aleixo Coli acha que a alta do dólar não ajudou por enquanto porque a volatilidade no mercado de câmbio está provocando postergação dos investimentos. - Até o momento, o ano está muito pior do que o esperado. A capacidade do governo de investir é pequena, o consumidor está endividado, o discurso oficial é confuso, a Europa está em crise. O que percebemos é que há uma piora muito grande no clima.

A política econômica hiperativa, mas sem rumo, não está conseguindo reverter o quadro.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 28/06

Operadoras de contêineres aumentam uso de ferrovia

As principais companhias de operação de contêineres no porto de Santos começam nos próximos dias a implementar acordos para aumentar o transporte de cargas por via ferroviária.

Além de tentar driblar o trânsito de caminhões no acesso aos terminais, as medidas visam garantir maior segurança e velocidade na movimentação dos contêineres.

"Com novos terminais e a modernização de navios e equipamentos, os contêineres vão do mar para a terra rapidamente, mas as vias de acesso congestionaram de vez", diz José Luis Demeterco, presidente da Brado Logística, braço da ALL no setor.

Nos próximos cinco anos, a Brado, que mantém parcerias com a Libra e a Santos Brasil, investirá R$ 1 bilhão em infraestrutura e equipamentos ferroviários, sendo cerca de 50% nas rotas que passam por Santos.

"Teremos uma nova linha em janeiro, com a inauguração do terminal em Rondonópolis (MT)", diz Demeterco.

Para a Santos Brasil, a linha até Rondonópolis permitirá o transporte de mais cargas. "Além do investimento de R$ 6 milhões neste ano, pretendemos redesenhar nosso pátio ferroviário em 2013", diz Mauro Salgada, diretor da companhia.

A Libra, por sua vez, começa amanhã a realizar o transporte ferroviário de contêineres entre Santos e Campinas.

A companhia prevê a movimentação de 24 mil contêineres até o final do ano.

Santos recebe recursos para novo parque tecnológico

A Prefeitura de Santos assina convênio com o Estado de São Paulo até o final desta semana para a transferência de R$ 10 milhões.

O valor será utilizado para a construção da sede da fundação gerenciadora do novo parque tecnológico da cidade, que será credenciado no segundo semestre.

O edifício, que terá laboratórios, centro de convenções e funcionará como incubadora de empresas, está orçado em R$ 23 milhões.

O Ministério da Ciência e Tecnologia também analisa acordo semelhante para financiar a iniciativa.

"O setor de petróleo e gás deve criar 50 mil empregos em Santos. São trabalhos que exigem alta tecnologia e mão de obra muito qualificada, por isso a criação desse parque", afirma o prefeito João Paulo Papa.

Os primeiros profissionais devem se formar em três anos. O projeto tem o apoio de Petrobras, Codesp e Usiminas, além de diversas universidades da cidade.

BENEFICIADOS PELO IPI

A redução temporária do IPI para móveis, anunciada no dia 26 de março e com vigência até o próximo sábado, impulsionou a indústria moveleira de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul.

Os dados parciais de abril e maio mostram crescimento de 8% no faturamento, comparados com o mesmo período de 2011, de acordo com o Sindmóveis.

Apenas no mês de maio, o faturamento foi de R$ 213,1 milhões, o que significa alta de 10,7% ante mesmo mês do ano anterior.

Com a redução do imposto, o polo moveleiro da região registrou crescimento nominal de 11,1% nos cinco primeiros meses do ano, na comparação com 2011, ainda de acordo com o levantamento do sindicato.

VIZINHANÇA

Em mais um reflexo da inadimplência, o número de ações de cobrança por falta de pagamento de condomínios cresceu cerca de 92% em maio, segundo levantamento do Secovi-SP (Sindicato da Habitação) realizado nos fóruns da cidade de São Paulo.

Entre janeiro e maio deste ano, foram 4.537 ações, que superaram em aproximadamente 16% o total registrado no mesmo período do ano passado.

"O total protocolado nos cinco primeiros meses do ano ficou muito próximo do registrado no mesmo intervalo em 2009 (4.501 ações)", informa a entidade.

"Como a multa pelo atraso do condomínio é de apenas 2%, alguns moradores dão preferência a outras dívidas que têm multas mais elevadas. Isso ilustra o clima geral de inadimplência", afirma Hubert Gebara, vice-presidente de administração imobiliária e condomínios do Secovi-SP.

Em média, o volume de atrasos de condomínio na cidade de São Paulo em contas com mais de 30 dias sem pagamento está entre 6% e 8% das carteiras das administradoras, segundo Gebara.

Construção... A Cassol Centerlar investirá R$ 50 milhões para a construção de duas novas unidades em Santa Catarina e para a ampliação de sua loja em São José, no mesmo Estado.

...no varejo Em 2013, a companhia também pretende investir em outra loja e em um centro de distribuição em Porto Alegre, mas o valor do aporte ainda não foi definido.

Humor alemão A expectativa econômica na Alemanha passou de 19,6 pontos em maio para três em junho, segundo indicador da EIU (Economist Intelligence Unit) que varia de -100 a 100. É o valor mais baixo desde dezembro do ano passado.

Educação... A ESPM acaba de criar a diretoria de expansão para fortalecer suas ações comerciais e buscar oportunidades de negócio, como parcerias com empresas.

...em negócio José Francisco Queiróz, que já foi conselheiro da instituição durante 12 anos, assumirá o cargo de diretor e se reportará ao presidente, José Roberto Whitaker Penteado.

OPINIÃO FINANCEIRA

Os diretores financeiros do Brasil estão entre os mais otimistas, segundo pesquisa global da empresa de recrutamento Michael Page realizada no primeiro trimestre.

Para 69% dos executivos brasileiros, a situação econômica do país é boa. Cerca de 18% consideram apenas satisfatório e 2%, ruim.

A crise internacional influenciou a opinião dos executivos na Europa e nos EUA.

Para 50% dos diretores europeus, o desempenho macroeconômico da região é fraco. Entre os americanos, 34% têm a mesma impressão sobre seu país.

NÚMEROS

69% é a parcela de diretores de finanças no Brasil que acham que a situação do país vai bem

18% são os brasileiros que dizem que está apenas satisfatório

2% consideram que o desempenho da economia brasileira está ruim

50% são os europeus que dizem que a situação local está fraca

ADUANA

A operação-padrão dos auditores da Receita Federal, iniciada no dia 18, começa a atrapalhar importadores.

O desembaraço aduaneiro de máquinas industriais, que costuma levar até cinco dias, está demorando uma semana a mais, segundo a Abimei (associação do setor).

A média diária de importação do país nesta semana está em US$ 838 milhões.

Nas três semanas anteriores, foi de US$ 946 milhões.

"Ainda não podemos afirmar que a operação-padrão é a responsável pela queda. Pode ter sido ela, mas também pode ter sido a crise", diz José de Castro, da Associação de Comércio Exterior do Brasil.

Meta... A CNI assina amanhã um acordo com os ministérios do Ambiente e do Desenvolvimento em que se compromete a negociar como será aplicada a meta de reduzir em 5%, até 2020, as emissões de gases de estufa pela indústria.

...cumprida A meta foi estabelecida para os segmentos de alumínio, cimento, papel e celulose, químico, cal, vidro e aço, mas não está definido como será implementada, segundo a CNI.

Ao trabalho Com a contratação de 1.631 trabalhadores, o emprego na construção pesada subiu 1,47% em maio, ante abril, segundo o Sindicato da Indústria da Construção Pesada de São Paulo.

Mais um refresco - CELSO MING

O ESTADÃO - 28/06

O novo pacote anunciado ontem pelo governo, denominado PAC Equipamentos, pretende reativar o sistema produtivo com despesas de governo. É mais uma tentativa de estimular o crescimento do PIB, cada vez mais decepcionante, com uma política anticíclica, ou seja, na contra mão da atual paradeira. Infelizmente, é uma dessas iniciativas das quais não se pode esperar grande resultado.

O governo Dilma passou meses e meses avisando que, apesar de gravíssima, a crise global não teria grande impacto sobre a economia brasileira, dada a solidez dos seus fundamentos.

No entanto, de algumas semanas para cá, a mesma crise internacional, especialmente a encalacrada do euro, passou a ser usada para justificar a incapacidade do governo Dilma de entregar o avanço do PIB, de pelo menos 4,5%, prometido ainda em 2011 e nos primeiros meses deste ano.

Essa busca agora insistente de um culpado externo para o atual pibinho nacional é um fator negativo porque tende a minar a credibilidade do governo na condução da política econômica.

A crise mundial está sim atrapalhando o desempenho da economia brasileira, porém não dá para exagerar esse efeito.

Não há, por exemplo, forte queda das exportações brasileiras. Apesar da desaceleração, as encomendas externas estão 1,3% mais baixas nestes seis primeiros meses do ano em relação ao mesmo período do ano anterior. É inegável que o ambiente de incertezas produziu redução dos investimentos por parte do setor privado.

Mas esse ambiente de insegurança não se deve apenas à crise externa; deve-se, também, ao intervencionismo excessivo e errático do governo.

Quando nada, o empresário mantém engavetados seus projetos de expansão aparentemente também porque fica à espera de mais benefícios fiscais e creditícios que a todo momento o governo parece disposto a dar.

Nas encomendas governamentais ontem anunciadas figuram caminhões, tratores, retroescavadeiras, ambulâncias, motocicletas para a polícia rodoviária, ônibus escolares e carteiras escolares.

Compras ajudam, sim, a estimular certos segmentos do setor produtivo, desde que haja aumento significativo do dispêndio público. No entanto, este pacote não passa de uma "antecipação de compras", correspondente a R$ 8,4 bilhões, com baixo volume de verbas adicionais, quase uma insignificância quando o objetivo é garantir o crescimento do PIB de pelo menos 2,5% neste ano. E uma antecipação de compras significa, também, que não haverá as mesmas compras no agendamento anteriormente previsto. Este é mais um sinal de que o governo Dilma não dispõe de muita munição para promover a desejada arrancada.

Se houvesse uma disparada do dispêndio público, teríamos outro problema grave, o da redução do superávit primário, a parcela da arrecadação destinada ao pagamento da dívida, prevista para ser de 3,1% do PIB (cerca de R$ 130 bilhões).

Ontem, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, reconheceu que o PAC Equipamentos terá um impacto no crescimento da indústria não superior a 0,12%. Levando- se em conta que a indústria não crescerá muito mais do que 2,0% neste ano, fica aí mais bem quantificado seu baixo potencial de retorno. Não passa de refresco.

Nessas condições, iniciativas desse tipo cumprem mais a função de mostrar que o governo está fazendo alguma coisa do que de garantir eficácia para sua política.

- TJLP

A Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), vigente nos empréstimos do BNDES, foi reduzida ontem de 6,0% para 5,5% ao ano. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou a redução da TJLP e dos juros básicos (Selic) mais "a ação permanente sobre o câmbio" como integrantes da política de aceleração do crescimento econômico.

- E tem mais

Na falta de elementos mais sólidos, o governo apontou o baixo índice de desemprego, a expansão da massa salarial e a inflação em desaceleração como fatores adicionais capazes de ajudar a recuperação. O problema é que até agora não funcionaram nessa direção.

- Eike X

O empresário Eike Batista pode estar correto quando garante que a produção de petróleo de sua empresa OGX saltará dos atuais 7,5 mil para 250 mil barris diários ao final de 2013. Só que o descumprimento de promessas anteriores provocou uma forte erosão na credibilidade do empresário. Apenas uma consistente apresentação de resultados parece capaz de reverter essa situação.

À espera do resultado da receita de junho - RIBAMAR OLIVEIRA


Valor Econômico - 28/06



Os números apresentados ontem pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN) mostram que o governo federal só conseguiu obter um superávit primário de R$ 1,8 bilhão em maio porque "produziu" uma receita adicional de dividendos das empresas públicas, que cresceu 3.465,4% em relação à obtida no mês anterior. Os dividendos foram, portanto, a variável de ajuste que permitiu ao governo apresentar um resultado positivo em suas contas no mês passado.

O fato relevante que não foi destacado, no entanto, é que houve uma frustração de R$ 4,1 bilhões na receita administrada projetada para maio no decreto de contingenciamento. O governo achava que a receita administrada pela Secretaria da Receita Federal (RFB) seria de R$ 53,4 bilhões em maio (não inclui a arrecadação da Previdência), mas só obteve R$ 49,3 bilhões. De janeiro a abril, a frustração da receita administrada já tinha sido de R$ 9,98 bilhões.

A programação orçamentária e financeira do ano é feita com base na receita estimada no decreto de contingenciamento. Se a projeção está maior do que a receita efetiva, o governo precisa reduzir suas despesas ou diminuir a meta de superávit primário. Ou, então, descobrir outras receitas, como é o caso dos dividendos.

A dúvida é se a meta fiscal combina com política anticíclica

Em maio, houve uma forte queda da receita do Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), que são os dois tributos cuja arrecadação está diretamente relacionada com a lucratividade das empresas. Com a economia desaquecida e as indústrias em dificuldades, a rentabilidade está baixa.

Essa situação de baixa rentabilidade está levando as empresas, segundo técnicos do governo, a refazer os seus balanços. Aquelas que pagaram o IRPJ com base no lucro presumido estão apurando as verdadeiras contas e constatando que pagaram imposto a mais. Agora, estão paralisando os pagamentos. O governo esperava arrecadar R$ 7,2 bilhões em IRPJ em maio, mas só conseguiu R$ 4,9 bilhões. No caso da CSLL, a receita projetada para o mês passado era de R$ 3,97 bilhões, mas só R$ 2,97 ingressaram nos cofres do Tesouro Nacional.

A frustração de receita poderá se agravar nos próximos meses, pois o governo abriu mão da CIDE-combustível, cujas alíquotas foram zeradas. Isto foi feito para que o aumento de preço dos combustíveis feito pela Petrobras não chegue ao consumidor, ou seja, não tenha efeito sobre a inflação. O governo projetava arrecadar R$ 5,3 bilhões com esse tributo este ano. Até maio, a arrecadação foi de R$ 2,1 bilhões. Como ela vigorou até o dia 25 de junho, é possível que tenha ocorrido uma receita de mais R$ 400 milhões. Assim, a renúncia com a CIDE será de R$ 2,8 bilhões (R$ 5,3 bilhões menos R$ 2,5 bilhões).

O governo não vai perder receita apenas com a redução das alíquotas da CIDE para zero. No relatório de avaliação de receitas e despesas do segundo bimestre, o governo elevou em R$ 3,8 bilhões sua previsão da receita com concessões e permissões de serviços públicos este ano, em função da estimativa de arrecadação com o leilão da nova internet 4G e da expansão de serviços de banda larga para as áreas rurais. Mas a receita efetivamente obtida foi de apenas R$ 2,9 bilhões, sendo que somente 10% desse montante serão pagos no ato da outorga e o restante em seis parcelas anuais iguais.

Mesmo com esse quadro adverso do lado das receitas, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou ontem um gasto adicional de R$ 6,6 bilhões este ano em compras governamentais de equipamentos, com o objetivo de ampliar os investimentos, estimular a demanda, aumentar a confiança e acelerar o crescimento. É importante registrar que, em seu pronunciamento no Palácio do Planalto, o ministro não fez qualquer referência ao compromisso do governo com a meta fiscal deste ano.

Mantega chegou a informar que, por conta desse aumento de R$ 6,6 bilhões, os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) este ano passariam de R$ 42,6 bilhões para R$ 51 bilhões. Vale observar que o governo não consegue realizar os investimentos previstos no Orçamento. No ano passado, por exemplo, de um total de R$ 32 bilhões do PAC, o governo só gastou R$ 28 bilhões, considerando neste total os restos a pagar de exercícios anteriores.

Na mesma solenidade, a presidente Dilma Rousseff deu sinais ambíguos a respeito da política fiscal do governo. Como o investimento privado se contraiu, ou seja, ficou procíclico, a presidente afirmou que é necessário que o investimento do setor público avance. Ou seja, o governo precisa adotar uma política fiscal anticíclica. Em seu discurso, a presidente não falou em meta fiscal, da mesma forma que Mantega. Ao defender a adoção da política fiscal anticíclica, ela disse apenas que isso pode ser feito "sem comprometer a estabilidade fiscal".

A política fiscal anticíclica anunciada pelo governo prevê, portanto, redução dos tributos (por causa das desonerações), aumento dos investimentos e manutenção da meta fiscal. Tudo isso em um quadro de redução drástica da previsão de receita. Depois dos discursos de Dilma e Mantega, alguns podem entender que a meta de superávit fiscal deste ano, equivalente a 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB), não será mais perseguida.

Tudo vai depender, no entanto, do que vai ocorrer daqui para frente no lado da receita. O secretário do Tesouro, Arno Augustin, por exemplo, acha que haverá uma recuperação forte da arrecadação no segundo semestre deste ano, com a retomada da atividade econômica. Outros técnicos acreditam que mesmo com a recuperação da arrecadação administrada pela RFB, ela ainda será inferior à projetada para o segundo semestre no decreto de contingenciamento.

Na área técnica, o mês de junho é considerado decisivo para a política fiscal. Este mês fecha o semestre e, em meados de julho, o governo terá que encaminhar ao Congresso o relatório de avaliação de receitas e despesas do terceiro bimestre. Terá que dizer se manterá as despesas no nível em que estão ou, em virtude da frustração da receita, pretende cortá-la para preservar o superávit primário.

CLAUDIO HUMBERTO

“Mais uma vez, [Dilma] demonstra sua postura republicana”
Teotonio Vilela (PSDB), governador de Alagoas, sobre o programa Brasil Mais Seguro

LULA VAI PARTICIPAR DA CAMPANHA DE COSTA

O ex-presidente Lula conversou com o senador Humberto Costa (PT-PE), ontem e terça, sinalizando a intenção de participar de sua campanha à Prefeitura do Recife. Nas conversas, Lula evitou críticas diretas ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, mas deixou claro que “não entende” sua decisão de lançar candidato do PSB, até porque ele e Dilma privilegiaram Pernambuco com recursos federais.

ÚNICO CANDIDATO

Lula disse a Humberto Costa que ele é seu único candidato a prefeito do Recife, com apoio integral do PT e da presidente Dilma.

PP COM O PT

O PP de Maluf apoia o PT em São Paulo e o PP de Eduardo da Fonte, o PT no Recife. E Humberto Costa ganhou tempo suficiente na tevê.

OPÇÃO PELA IGNORÂNCIA

Em Brasília, a esquerda arcaica não recebeu senadores progressistas do Paraguai que queriam explicar a destituição de Fernando Lugo.

DEMOCRATAS

Vários parlamentares paraguaios ignorados pela “esquerda” brasileira foram presos e torturados na luta contra a ditadura Stroessner.

PROBLEMA FOI CRIADO POR LULA, E NÃO DILMA

Dilma deveria se abster do incômodo Fernando Lugo, que tem apoio do MST brasileiro para fazer baderna no Paraguai e no Brasil, e ameaçou ir à Corte Internacional de Justiça de Haia pela “compensação” de energia de Itaipu, logo após a posse. Então ministra da Casa Civil, a própria Dilma rejeitou negociar um novo tratado com o vizinho, que Lula sacramentou com US$ 360 milhões do BNDES para o “nacionalista”.

VALENTÃO

O ex-presidente Lugo ameaçou “emparedar” o Brasil como o maluquete Evo Morales na Petrobras. Seus delírios costumam custar caro.

NEGÓCIOS À PARTE

Retaliações para tirar o foco da crise na Argentina e ajudar a eleger o tirano venezuelano Hugo Chávez só desmoralizam a tradição diplomática do Brasil.

ELE, DE NOVO

Se alguém quiser dar um chute no traseiro do secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, ele vai dar coletiva em Brasília, hoje, às 13h30.

NOTA ZERO

Réu no mensalão, o professor e ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares foi condenado pelo Houaiss. Escreveu no Twitter: “Cruzeiro assumi (sic) a liderança” e “os carreiros da cidade inicia (sic) a peregrinação”.

COMBATE AO CRIME

O Ministério da Justiça lançou, ontem, em Maceió o programa Brasil Mais Seguro, de combate à criminalidade. Mas seus R$ 25 milhões são uma ninharia diante da contrapartida de R$ 65 milhões da pobre Alagoas.

ENTRE FARPAS

Para desqualificar Luiz Bordoni na CPI, Alvaro Dias (PSDB-PR) citou entrevista em que o jornalista diz ter sido abduzido por ETs. “Encontrei lá as pessoas que te passaram essa informação”, provocou Bordoni.

ELE É OUTRO

Com 62% dos petistas rejeitando o apoio de Paulo Maluf, segundo o Datafolha, o marqueteiro do PT terá que abusar do photoshop para fazer “sumir” o aliado, como faziam os stalinistas na União Soviética.

MINISTRO DE PESO

O novo ministro da Comunicação do Paraguai é o jornalista Martin Sanemann, ex-deputado e governador de Assunção. Sua família morou em Foz do Iguaçu (PR) até 1989, quando o ditador Stroessner caiu.

FARÁ FALTA

Preterido por Dilma na promoção do Itamaraty, Ralf Peter Henderson morreu nesta terça após 34 anos de Itamaraty. Era conhecido como ouvido amigo das queixas da perseguição petista aos mais técnicos.

RODAPÉ ATÔMICO

O “mico” do lixo nuclear Mahmud Ahmadinejad na Rio+20 foi notícia na Inglaterra: nenhuma autoridade o recebeu no aeroporto, o prefeito do Rio de Janeiro o evitou e ele parece anão de jardim em foto com a escolta brasileira.

ALEGAÇÃO FALSA...

Subsidiária alagoana da Eletrobrás, a Ceal desclassificou a vencedora de pregão para call-center, Call Tecnologia, por “documentação falsa”, mas o TCU concluiu que falsa era a alegação e anulou a concorrência.

...TCU IGNORADO

A Ceal ignorou o TCU e eliminou mais duas licitantes, para dar o contrato, R$ 7 milhões mais alto, à quarta colocada, Provider. A Ceal é alagoana, mas quem manda na Eletrobrás é José Sarney.

PENSANDO BEM...

...a multa de 5 mil merrecas, aplicada pela Justiça em Lula e Haddad, prova que a propaganda eleitoral é mesmo gratuita.

PODER SEM PUDOR

A ÚLTIMA NOITADA DE JK


Cinco dias antes de morrer, Juscelino Kubitschek teve sua última noitada no Eron Palace Hotel, em Brasília. Queria porque queria dançar com a amiga Vera Brant ao som da música Peixe Vivo, sua favorita. Era uma segunda-feira e a boate estava fechada, mas pedidos de JK eram ordens para Eron Alves da Cruz, o dono, que mandou o sobrinho Eraldo ir buscar o dj. O ex-presidente JK dançou pela última vez, sob os olhares de Eron e Eraldo, na versão disponível de Peixe Vivo, em espanhol. Na manhã seguinte, foi de avião a São Paulo, para depois viajar de carro ao Rio. Morreria na estrada.

QUINTA NOS JORNAIS


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Estadão: Dilma lança novo pacote, mas reação é de ceticismo
Correio: Salário do servidor já está na internet
Valor: Ferrovias terão de renovar 5 mil km de linhas sem uso
Estado de Minas: Mais uma tentativa
Jornal do Commercio: Proposta para Código Penal gera polêmicas
Zero Hora: R$ 8,4 bi para reaquecer