quinta-feira, junho 07, 2012

Mama África - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 07/06

Lula, durante a Rio+20, vai oferecer um jantar no Palácio da Cidade aos presidentes africanos.

Aliás...

Dilma decidiu ceder avião para trazer à Rio+20 presidentes de países pobres de marré-deci.

Rota...

A pedido do Ministério da Defesa, dois Legacy da FAB partirão de Brasília para São Tomé e Príncipe, Malauí e Serra Leoa. Já um Legacy e um Embraer 190 seguirão para Barbados, Granada, Antígua e Barbuda, São Cristóvão e Neves, Dominica, Libéria e Cabo Verde.

À la Cachoeira

O Tribunal do Júri de Brasília condenou a oito anos de prisão um homem acusado de esfaquear a companheira após uma discussão em que ela o acusava de ter feito sexo com... outro rapaz. Diante do juiz, o réu repetiu Cachoeira e Demóstenes na CPI e apelou para o “direito constitucional de ficar calado” quando perguntaram se ele... é gay.

A fé plural

Ivanir dos Santos, que organiza a passeata do dia 17, em Ipanema, em plena Rio+20, contra a intolerância religiosa, diz que o movimento não mira em ninguém, individualmente, nem mesmo em Ahmadinejad: — A ideia é unir budistas, bahá’ís, judeus, muçulmanos, católicos, umbandistas, adeptos do candomblé e outros contra qualquer ódio religioso no mundo.

Hilda na Argentina

A Globo Livros vendeu para a editora argentina El Cuenco de Plata os direitos das obras da brasileira Hilda Hilst na Argentina, na Colômbia e no México. Os primeiros lançamentos lá serão “A obscena senhora D” e “Cartas de um sedutor”.

SEXTA PASSADA foi inaugurado em Silva Jardim, RJ, este belo teatro, batizado com o nome de Zezé Macedo em homenagem à querida comediante nascida na cidade. Está em cartaz até domingo a peça "A vingança do espelho: a história de Zezé Macedo”, dirigida por Amir Haddad e estrelada por Betty Gofman. Zezé (1916-1999), que ganhou do amigo Grande Otelo o apelido de “Carlitos de saia”, participou de 108 filmes. Saudade

Volta do sabor artificial
As indústrias de refrigerantes não estão mais obrigadas a acrescentar suco natural em produtos batizados com o nome da fruta. A medida constava da antiga Lei dos Sucos, de 1974, revogada por Dilma a pedido da Receita Federal. É que, em troca da adição de frutas, as empresas tinham abatimento de 50% no IPI.

Segue...

A mudança afeta os produtores de laranja, limão, uva etc.

TV Rio+20

A transmissão de TV da Rio+20 para todo o mundo, exigência da ONU, será feita por um pool das principais emissoras do país. A ministra Helena Chagas fechou acordo com Globo, TV Brasil, Record, SBT, Band e Rede TV.

Com que roupa?
A 2+ Câmara Cível do Rio negou recurso a Irami Medeiros Rosa de Melo e Maria Alice Joseph, sobrinhas de Noel Rosa (1910-1937), contra a Editora Mangione. As duas, herdeiras da obra do compositor, pediam rescisão e anulação de contratos de venda e cessão de direitos autorais firmados pelo Poeta da Vila e a mulher, Lindaura Medeiros Rosa.

Volta, Antônio!

A Corte da Califórnia deve decidir amanhã o destino do brasileirinho Antônio, 3 anos, levado aos EUA pelo pai, Márcio Sicoli. A advogada de Sicoli quis adiar a audiência, mas o juiz negou.

Menos mal

Embora tenha perdido seu festival, o mais badalado do país por sua premiação de até R$ 250 mil, a cidade de Paulínia, SP, sediará de 19 a 1, de julho mostra com 16 longas produzidos em seu Polo Cinematográfico.

Caixa de correio

A caixa postal da coluna ficou cheia de e-mails de médicos chateados com o comentário do querido frei David aqui sobre um concurso público para contratar 1.232 doutores em Nova Iguaçu que só teve 658 inscritos. Alegaram que o salário é indigno: R$ 1.630 por 24 horas semanais de trabalho. Têm razão.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 07/05

Importação de asfalto volta a crescer no país neste ano, estima a Petrobras

A importação de asfalto para obras de estradas no Brasil volta a subir neste ano, segundo previsão da Petrobras.

O volume de toneladas importadas do material, que foi de 98 mil no ano passado, pode chegar a 140 mil neste ano, de acordo com as estimativas da companhia.

O total de importação de 2011 representou cerca de 4% dos 2,5 milhões de toneladas produzidos no ano.

A relação pode subir em 2012. A Petrobras não informa estimativas de produção para este ano, mas, de janeiro a abril, as vendas do produto no país ficaram em 774,95 mil toneladas, segundo dados do Sinicesp (Sindicato da Indústria da Construção Pesada de São Paulo).

Em 2010, as compras externas atingiram patamares recordes, impulsionadas, principalmente, pela demanda nas regiões Norte e Nordeste e por projetos para a malha rodoviária do país.

Sem ter como atender a necessidade, a Petrobras teve de recorrer a um forte aumento das importações.

"Para o setor, o essencial é que o mercado possa atender a demanda, seja por meio de importação ou com a produção da Petrobras", afirma Helcio Farias, responsável pelo departamento técnico do Sinicesp.

Os dados do sindicato mostram, como termômetro da alta na demanda, que o nível de emprego cresceu, em abril, pelo quinto mês consecutivo no setor.

Nos últimos 12 meses, o aumento foi de 12,27%.

ALONGAMENTO NOS EUA

A rede de restaurantes brasileira Giraffas, que já tem duas unidades na Flórida (EUA), planeja expansão para outros Estados americanos.

Até o fim de 2012, serão abertas outras três casas em Miami, segundo João Barbosa, presidente da operação da empresa nos EUA.

Para o ano que vem, Orlando e outros destinos na costa leste estão previstos.

"Pretendemos abrir 34 restaurantes na Flórida até 2016, com investimentos de R$ 35 milhões realizados pela master franqueada, companhia em que a franqueadora tem participação."

A meta é chegar ao Texas e à Califórnia e elevar a parcela de americanos e latinos entre os clientes.

Quando a primeira unidade foi aberta no país, no ano passado, 80% dos consumidores eram brasileiros.

"Hoje já é o inverso. Com uma expansão dessas, não queremos depender só dos brasileiros", diz.

34 unidades devem ser abertas na Flórida até 2016

R$ 35 milhões serão investidos no projeto

IMPOSTO DA ESTAÇÃO

A carga tributária de produtos tradicionalmente consumidos durante o inverno varia de 27% a 87% sobre o valor de mercado, de acordo com levantamento da consultoria BDO Brazil.

O casaco de pele de vison lidera o ranking das mercadorias mais tributadas, com alíquota de 87,25%, segundo a pesquisa.

No segundo e no terceiro lugar, aparecem o vinho e a calça de couro, com 54,25% e 37,25%, respectivamente.

Inglaterra A confiança do consumidor inglês subiu dois pontos em abril e ficou em -29 (em escala de -100 a 100), segundo índice da empresa de pesquisas GfK.

Surfista A marca de roupas Cobra d' água abrirá 70 lojas no Brasil nos próximos três anos, sendo 15 até dezembro de 2012. As novas unidades terão no máximo 90 m2.

INDUSTRIAL DE LUXO

São Paulo registrou o maior volume de condomínios industriais de luxo entregues no primeiro trimestre deste ano, segundo estudo da Colliers International Brasil.

Nos três primeiros meses de 2012, 34% do novo estoque estava localizado no Estado de São Paulo.

Entre as cidades paulistas que receberam novas unidades no período estão Guarulhos, Indaiatuba e São Bernardo do Campo.

Mesmo com as inaugurações, São Paulo é o segundo Estado com metro quadrado mais caro do país, em relação a condomínios industriais de luxo. O valor médio cobrado foi de R$ 20,25.

O Rio de Janeiro apresentou o preço mais elevado, de R$ 24,55 por metro quadrado.

No Brasil, o valor médio de locação é de R$ 19,30 por mês, alta de 2,3% ante o último trimestre de 2011.

Até dezembro, 2,3 milhões de metros quadrados serão entregues, sendo 72% na região Sudeste. Sul e Nordeste receberão, cada uma das regiões, 12% das unidades.

O volume lançado em 2012 será 38% menor do que o previsto pela consultoria ao final do ano passado, devido à "postergação de diversos empreendimentos". O principal motivo foi o alto índice de chuvas no início do ano.

Os condomínios industriais de luxo têm pé direito superior a 11 metros, gerador de energia e piso nivelado a laser, entre outros itens.

JULGAMENTO DO MENSALÃO DEPENDE DA VAGABUNDA MARISA LETÍCIA


MINISTRO LEVANDO-UISQUE  AGUARDA AUTORIZAÇÃO DA MULHER DE LULA PARA LIBERAR O PROCESSO PARA VOTAÇÃO

GOSTOSA


O conto do voto - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 07/06

Em política, assim como na vida, vale o ditado: quando a esmola é demais, pobre desconfia. E, se observarmos o histórico de alguns temas polêmicas que parecem encantados na pauta do Poder Legislativo, essa sabedoria popular se encaixa perfeitamente na forma como a Casa pretende avaliar o fim do voto secreto. Esse tema volta e meia volta à baila, especialmente, quando há um processo de cassação pairando sobre a cabeça de algum senador. O difícil é o voto aberto virar lei. E, da mesma forma que se conhece o visitante pelo arriar da mala, o jeitão do desembarque da proposta no plenário merece uma lupa.

Vejamos o cenário. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), abriu a possibilidade a todas as propostas de emendas à Constituição que tratam desse assunto entrarem em debate. São três. Em comum, a referência ao fim do voto secreto para casos de quebra de decoro parlamentar. Há variações quando se trata de vetos presidenciais e aprovação de autoridades.

Por mais que os autores das propostas tenham a melhor das intenções ao apresentarem seus projetos, o fato de haver três propostas tratando do assunto em diferentes níveis abre trilhas para não haver uma decisão na semana que vem. E nem precisa ser um grande especialista em regimento para saber que vem por aí uma grande gincana regimental. A percepção nesse caso é a mesma de um leigo em metereologia que, de tanto observar o clima, é capaz de calcular a extensão de um temporal só de ver o tamanho das nuvens carregadas. Às vezes, esse cidadão se engana, mas invariavelmente acerta.

Por falar em enganos…
Não podemos esquecer que, embora o Senado tenha obtido uma renovação expressiva na última eleição, é preciso avaliar como funciona a cabeça das excelências. Em 2007, o líder do maior partido no Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), sobreviveu a um massacre perante a opinião pública graças ao voto secreto. Foram 40 votos pela absolvição, 35 contra e seis abstenções. Nenhum senador deixou de votar, fato raro na história.

Ali, há um número significativo de senadores que olham para Renan com aquela sensação de “eu posso ser você amanhã”. Em suma, precisar de um voto secreto para escapar de algum malfeito de grande repercussão, capaz de provocar uma carga pesada dos meios de comunicação ou de parte dos senadores — o próprio Demóstenes já foi um desses algozes no passado e hoje está numa situação difícil. Daí, a necessidade de verificar os meandros das sessões dedicadas à análise da PEC do voto aberto.

Por falar em meandros…
Não é de hoje que os senadores conseguem escapar dessa apreciação. Foi assim em 2000, quando da votação — e violação do sigilo dos votos — que selou a cassação de Luiz Estevão, acusado de envolvimento no caso da construção da sede do TRT de São Paulo. Houve outro movimento pró-voto aberto quando da absolvição de Renan. De lá para cá, muita coisa mudou. O Congresso se viu empurrado a aprovar a Lei da Ficha Limpa. Essa semana, para dar uma resposta à sociedade, fechou um pouco mais o cerco à lavagem de dinheiro. Há um portal capaz de proporcionar o fim do voto secreto.

O receio é essa proposta terminar na canaleta como ocorre com as tentativas de votar a reforma política e a tributária algo que todos dizem querer, mas não há consenso. O mesmo pode ocorrer com o fim do voto secreto. Na Câmara, o primeiro turno foi votado em 2006 e nunca mais. Agora, no Senado, certamente, virão muitas emoções.

Por falar em emoções…
Agosto, mês escolhido para o julgamento do mensalão, é o mesmo do início do horário gratuito de rádio e TV. Não dá para esquecer que esse mês sempre mexeu com os supersticiosos. A erupção do Vesúvio que destruiu Pompéia em 79 d.C.; o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954; a população de preto nas ruas pelo impeachment de Fernando Collor, em 1992. Vem aí mais um agosto para ficar na história.

Mão pesada - ELIANE CANTANHÊDE


FOLHA DE SP - 07/06

BRASÍLIA - Todos os prefeitos, governadores e presidentes em primeiro mandato têm, com raras exceções, o direito, ou o privilégio, de concorrer à reeleição. Menos o prefeito de Recife, João da Costa, do PT.

Parte do PT, parte da Frente Popular e a cúpula nacional petista alegam que sua gestão é mal avaliada e que ele, apesar do cargo, está praticamente empatado com o ex-governador Mendonça Filho, do DEM.
Esquecem-se de que João da Costa lidera, na prática, as pesquisas e que, nas últimas eleições, Mendonça sempre largou bem, mas não levou.

Criado o impasse, o PT usa sua mão pesada para intervir no diretório, na eleição e no destino de João da Costa, que ganhou a consulta interna petista, entrou na Justiça para tentar garantir o processo e esperneia o quanto pode para simplesmente manter o que chama de "direito natural" de disputar a reeleição.

Maurício Rands, derrotado na consulta, saiu do páreo e abriu a porta para que a Executiva Nacional fizesse o que queria fazer desde o início: lançar o senador e ex-ministro Humberto Costa, relator do caso Demóstenes Torres no Conselho de Ética.

Costa tem excelentes chances de vitória, como teria qualquer candidato do PT com apoio do governador Eduardo Campos (PSB), do ex-prefeito João Paulo (PT), de Dilma e, "last but not least", de Lula. Mas deixando um rastro de descontentes no PT.

João da Costa está sendo jogado da janela como já foram Marta Suplicy em São Paulo, Vladimir Palmeira no Rio, Raul Pont em Porto Alegre, Olívio Dutra no Rio Grande do Sul e Domingos Dutra no Maranhão -humilhado para que o PT jogasse fora as bandeiras vermelhas que brandiu por décadas contra os Sarney para cumprir um capricho de Lula e apoiar Roseana.

Se é que Costa não vá se guiar pela brava Luizianne Lins, que peitou o PT nacional, disputou e venceu as eleições em Fortaleza. Difícil. Não há muitas Luiziannes por aí.

Café para Haddad - ROGÉRIO GENTILE

FOLHA DE SP - 07/06

SÃO PAULO - Lula e o PT têm tratado Marta Suplicy como se a ex-prefeita de São Paulo fosse uma dona de casa dos anos 30. Marta, faça um café para o senhor Haddad. Marta, guarde o paletó do senhor Haddad. Marta, distribua uns panfletos para a campanha do senhor Haddad.

Marta tinha 29% das intenções de voto (Datafolha) quando Lula decidiu substituí-la por Haddad, com 2%. O ex-presidente avaliou que ela não teria chances no segundo turno em razão da rejeição que desperta em grande parte do eleitorado -30% diziam à época que não votariam em seu nome em hipótese alguma.

O problema não está no fato de Marta ter sido preterida, embora possa reclamar que a decisão deveria ter sido do partido, e não de uma única pessoa, ainda que esta pessoa seja Lula. Considerando as últimas eleições, quando ela foi sempre derrotada no final, o raciocínio do ex-presidente faz muito sentido.

O desrespeito à história da petista começa quando Lula e o partido tentam obrigá-la a participar de atos e a percorrer a cidade para apresentar Haddad aos eleitores. Não se obriga ninguém, muito menos uma mulher como Marta, a fazer o que não quer.

Educada para casar, ter filhos e tocar piano, ela estudou psicologia, apresentou, em plena ditadura militar, um programa na TV sobre sexo, foi deputada, prefeita, ministra e é senadora. Nunca teve papas na língua, tampouco se intimidou com o preconceito quando decidiu trocar de marido. Goste-se ou não dela, é uma mulher de brio.

No sábado passado, mesmo dia em que faltou ao lançamento da campanha de Haddad, e foi criticada pelos colegas, a ex-prefeita escreveu um artigo enigmático na Folha.

Fazendo uma citação, disse que "há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas (...) é o tempo da travessia". No texto, ela afirma que as travessias são sempre difíceis, mas que não se chega à outra margem do rio sem respingos. Estaria ela dando algum recado ao PT?

As coisas, os outros e os escombros - CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 07/06


Nos entulhos, as vítimas procuram sua identidade, que ficou nas coisas e nos outros perdidos

1) Os amigos que encontro, nesta volta de viagem, querem saber do terremoto na Itália. Como foi? O que pensei e senti? Pois é, o terremoto não me inspirou pensamentos sobre a fragilidade da existência e a força da natureza -ou outro lugar-comum que valha.

Na hora, só tive iniciativas práticas. Como já contei, logo no primeiro tremor, juntei numa pasta passaportes, bilhetes de avião e carteiras. Nos dias seguintes, me deslocava sempre com esses apetrechos e, de noite, deixava ao lado da cama uma bolsa que continha a tal pasta mais o necessário para que a gente, pulando da cama para a rua, aguentasse o frio e a chuva.

Será que eu me preocupava com nossa mobilidade, ou seja, com a possibilidade de irmos embora sem burocracia, em caso de catástrofe? Ou será que me preocupava em termos constantemente conosco uma prova de nossa identidade?

2) Na madrugada do primeiro tremor, no dia 20, fiquei acordado até a luz do dia, para não ser surpreendido por eventuais tremores de assentamento. Passei o tempo olhando para as coisas ao meu redor.

Nos 60 anos em que meus pais mantiveram um apartamento em Veneza, eles abarrotaram seu espaço: nada de grande valor (afinal, o lugar fica desocupado durante boa parte do ano), mas muitos objetos carregados de história familiar, marcados pelas mãos e pelos olhares dos meus pais, avós ou bisavós. De cada objeto que considerei, tentei me contar a história: de onde vinha? De quem fora? Como chegara até lá?
Talvez o livro mais bonito e tocante que li nos últimos meses tenha sido "A Lebre com Olhos de Âmbar", de Edmund de Waal (Intrínseca).

É a história de uma família, narrada, por assim dizer, por uma coleção de miniaturas japonesas que passa, ao longo de quase dois séculos (cheios de fúria e guerras), de mão em mão, de país em país e de um continente a outro.

Sem dúvida, há objetos que são melhores sedimentos da história do que outros. Uma miniatura japonesa, por exemplo, já nasce como vestígio da história de quem a entalhou -às vezes, meses ou anos a fio.
Mas, no fundo, qualquer objeto, até um artefato industrial, tenta contar sua história. Qualquer mercadoria pode nos falar do trabalho de quem a produziu e dos desejos dos que a compraram, perderam ou trocaram. O que acontece, em geral, é que a gente não se dá o tempo de escutar.

Logo na região devastada pelo terremoto, nos claustros de San Pietro, em Reggio Emilia, está aberta até outubro (tremores permitindo) a exposição "Gli Oggetti ci Parlano" (os objetos falam conosco). Uma busca on-line explica a iniciativa e permite ver, em vídeo, partes da mostra: os cidadãos de Reggio foram convidados a emprestar objetos pessoais que tivessem, para eles, uma história significativa -a qual eles contam em depoimentos filmados.

3) Parêntese: já na primeira noite, lembrei-me de uma recomendação de meu pai, com sua sabedoria de clandestino procurado por fascistas e nazistas: "Se você fugir, não volte atrás". E ele agregava exemplos de resistentes que fugiram a tempo, mas quiseram voltar, rapidamente, para pegar algo que tinham esquecido ou mesmo só para olhar sua casa pela última vez -e foram presos.

Confirmando o conselho de meu pai, no segundo terremoto, o do dia 29, morreu o padre Martini, em Rovereto; ele voltou para a igreja de Santa Caterina, já periclitante desde o dia 20 -só um instante, para recuperar uma imagem santa. Entrou exatamente na hora do tremor das nove da manhã.

4) Passei minha infância brincando e fuçando nos escombros (de bombardeios aéreos, não de terremotos, claro). Imagino que, se minha casa fosse demolida, mesmo se não houvesse vítimas, eu ficaria, mexendo no entulho -mas à procura do quê? De uma jarra de prata que não se amassou além da conta, de uma cerâmica que não quebrou, de um livro que sobreviveu?

É fácil dizer que tanto faz, "deixa para lá: o passado está na gente, na nossa lembrança". Fácil e um pouco falso: nossa identidade é sempre dispersa aos quatro ventos. Ela está nas pedras, nas coisas e nos outros.
A clínica constata que as vítimas das grandes catástrofes, quando erram pelos entulhos, entre corpos e restos, não sabem mais direito quem elas são. O que elas procuram é sua própria identidade, que estava nas coisas, nas pedras e nos outros que se perderam.

Fala o ministro Fux - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 07/06

Sereno diante da fala do ministro Gilmar Mendes (STF) sobre o julgamento do mensalão, o ministro Luiz Fux (STF) diz: “Eu nunca fui extorquido (sic) por ninguém do PT. Eu nunca fui procurado por ninguém do PT para tratar de mensalão”. Sobre o relatório dos petistas, que cita grampo em que o senador Demóstenes Torres faz comentário, para o contraventor Carlos Cachoeira, sobre a nomeação de Fux para o STF, o ministro afirma: “Ele é insignificante, o senador não tem credibilidade”.

A Petrobras e a crise internacional
O Conselho de Administração da Petrobras deve se reunir na quarta-feira no Rio. Em debate, a reformulação do Plano de Negócios 2011-2015 da empresa. Em julho do ano passado, a estatal anunciou investimentos de R$ 389 bilhões em 688 projetos. Mas com o agravamento da crise internacional, que leva à redução dos créditos disponíveis e dos mercados mundiais, a Petrobras estuda fazer um corte no seu plano de investimentos em torno de R$ 50 bilhões. Segundo autoridades petistas, essa mudança é natural na cultura da empresa, que costuma se planejar de acordo com a realidade, que aponta para um novo cenário.

Ninguém tem direito adquirido sobre processo de votação. Não se trata de pena, mas de rito” — Pedro Taques, senador (PDT-MT), dizendo que aprovada a PEC do Voto Aberto vale para o processo de Demóstenes Torres.

Resistência
O prefeito de Recife, João da Costa, não vai deixar o PT, a despeito da direção nacional ter cassado seu direito à reeleição. A expectativa de seus aliados é a de que ele dispute a convenção municipal, foro legal que decide candidaturas.

Bate pronto
Em debate sobre cotas ontem, o senador Lobão Filho (PMDB-MA) lembrou que estudou em escola pública e passou na UnB. A senadora Marta Suplicy (PT-SP) reagiu: “Não dá para comparar. O senhor era filho de governador”.

Marconi desautoriza senador tucano
O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) foi procurado ontem pelo senador Cyro Miranda (PSDB-GO). O tucano disse a Randolfe que o governador Marconi Perillo (GO) queria conversar com ele antes de seu depoimento na CPI. Randolfe concordou, mas desde que outros integrantes da comissão também fossem convidados. Miranda disse que assim não tinha conversa. Perillo desautorizou a gestão do tucano, dizendo: “Não pedi conversa reservada com ninguém.”

Na torcida

O ambiente no PMDB é de euforia com o julgamento do mensalão em agosto. Avaliam que isso pode impedir que a candidatura de Fernando Haddad (PT) decole em São Paulo. E que Gabriel Chalita (PMDB) está em posição estratégica.

Tenho a força
Os ruralistas consideram pueril o protesto do PV sobre quem é maioria dos integrantes na Comissão da MP do Código Florestal. Ironizam, dizendo que o PV tem apenas 14 deputados e que os ruralistas são dezenas no Congresso.

A PRESIDENTE Dilma avalia anunciar novos leilões de aeroportos no dia 12, quando assina contratos com os três aeroportos concedidos à iniciativa privada.

VIDA DURA
. Os petistas chegaram à conclusão de que não têm maioria na CPI do Cachoeira. Para aprovar qualquer requerimento precisam negociar o apoio com outros partidos da base governista.

O STF
 oficializou que o julgamento do mensalão terá início em primeiro de agosto. Esta coluna, após consulta aos ministros do STF, informou em 18 de maio que esse era o cronograma. Na época, o PT pressionava para antecipar.

O jeitinho brasileiro - CARLOS ALBERTO SARDENBERG


O GLOBO - 07/06


Jeito sempre tem, inclusive para o Euro, a Espanha e mesmo para a Grécia.
 

Querem uma prova? O Brasil. Isso mesmo, o governo FHC implementou várias políticas que hoje são sugeridas como solução na Europa.
A negociação da dívida dos Estados brasileiros é um exemplo citado na imprensa internacional. Resumindo: os governos estaduais brasileiros estavam tão quebrados quanto a Grécia, Irlanda e Portugal. Emitiam seus próprios títulos de dívida (as carioquinhas, as paulistinhas) que o mercado só aceitava cobrando juros altíssimos. Assim, os governos ou se endividavam ainda mais, pelo efeito dos juros, ou empurravam seus títulos para os bancos estaduais (Banerj, Banespa etc). Resultado, quebraram os governos e os bancos.
Solução: o governo federal "comprou" os títulos estaduais e refinanciou outras dívidas, pagando com títulos do Tesouro nacional, de credibilidade maior e, pois, juros menores.
Como seria na Zona do Euro? A criação dos tais "eurobônus", ou títulos da dívida européia, garantidos pela União Européia e negociados no Banco Central Europeu. Assim, em vez de vender títulos gregos, espanhóis, italianos, etc, pagando taxas proibitivas, os respectivos governos seriam financiados com os papéis "federais", que, sendo da UE, teriam, no fundo, a garantia alemã.
Mas a solução brasileira incluiu poderosas contrapartidas. Os governos estaduais, desde então, são obrigados a pagar uma prestação mensal a Brasília (se falharem, não recebem participação nos impostos federais), não podem mais emitir títulos, têm despesas limitadas e controladas e outros endividamentos são restritos a uma porcentagem das receitas. E o governo federal não pode mais financiar os Estados, tudo previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal.
Por isso, a solução dos eurobônus ainda não foi aceita pela Alemanha. Angela Merckel exige, antes, regras parecidas à brasileira, que restrinjam a capacidade dos Estados na administração de suas contas e suas dívidas. Mais difícil lá, pois não são governos regionais e sim Estados nacionais que deveriam abrir mão de parte da soberania. É o que François Hollande não aceita, por exemplo. Ele quer bônus com a garantia européia/alemã, mas sem as restrições de soberania fiscal.
Não esquecer: outra parte importante da solução brasileira foi a intervenção, fechamento e/ou oprivatização dos bancos estaduais. Tem banco estatal na Europa que pode ser fechado.
Mas a dificuldade maior está em bancos privados, atolados com créditos podres.
Sem problemas: estudem o Proer brasileiro, do final dos anos 90, quando vários bancos locais quebraram com o fim da inflação. Ainda na semana passada, em editorial sobre a Espanha, a revista Economist sugeriu: o governo intervém nos bancos quebrados, separa os ativos podres, colocando-os no "banco ruim", que é simplesmente liquidado. O que sobra, se sobra, o banco bom, é vendido. Ora, foi exatamente o que se fez aqui com Nacional, o Bamerindus e o Econômico - para citar apenas os maiores.
Calcula-se que o custo disso na Espanha chegue a 10% do Produto Interno Bruto (PIB). No Brasil, ficou mais barato. Na época, houve muita oposição, inclusive e especialmente do PT. Hoje, todos, inclusive Lula e Dilma são os primeiros a falar da solidez do sistema bancário brasileiro.
Outro ponto importante: Banco do Brasil e Caixa estavam literalmente quebrados, por causa de empréstimos fartamente concedidos com critérios políticos e má administração. O governo federal colocou uns R$ 15 bilhões para reaprumar esses dois bancos e estabeleceu novas regras de gestão, mas propriamente "bancárias".
Por isso, aliás, é preciso ficar de olho nessas manobras do governo Dilma para forçar os bancos a reduzirem juros e ampliarem o crédito. Existe, sim, o risco de que estejam abrindo novos buracos.
Mas, voltando à Europa, o problema para um Proer deles está, de novo, na falta de uma verdadeira federação européia, que submeta os Estados nacionais a uma disciplina comum.
Ou seja, jeito sempre tem, mas nunca é fácil. Precisa combinar com muita gente, a começar pelos eleitores. No Brasil, FHC tinha um sólido mandato nacional para tocar essas e outras reformas. Na Zona do Euro, é obviamente mais difícil obter esse mandato.
Os eleitores franceses, por exemplo, votaram contra a austeridade. Os irlandeses, a favor. Os gregos votam agora de novo. Os alemães, de seu lado, não manifestam entusiasmo pelos "eurobônus". Temem que os gastadores torrem ainda mais com a garantia alemã.
A única coisa que ajuda, digamos assim, é a emergência, a situação de vai ou racha. E o que pode rachar é simplesmente a mais bela construção política e econômica do século passado.
Não nos esqueçamos: a Europa unida gerou crescimento, ganho de renda elevado (especialmente para os que eram mais pobres, como Espanha, Portugal e Grécia) e regimes democráticos. Eles vão lutar para salvar isso.

Faca no pescoço - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 07/06

A decisão do Supremo Tribunal Federal de marcar o início do julgamento do mensalão para 1º de agosto foi acertada previamente entre o presidente da corte, Carlos Ayres Britto, e o relator do processo, Joaquim Barbosa, que conversaram com outros ministros antes.

Sem a presença do revisor Ricardo Lewandowski na sessão administrativa de ontem, o decano Celso de Mello foi incumbido de apresentar a proposta para lhe conferir peso -e ela foi aceita por unanimidade. A estratégia da trinca, avaliam integrantes do STF, emparedou o revisor, que ainda não entregou o seu relatório para análise. "Foi goela abaixo'', afirma um deles.

Efeméride A decisão do STF saiu exatamente sete anos depois da primeira entrevista de Roberto Jefferson à Folha sobre o mensalão.

Troca da guarda
 Com a definição, Cezar Peluso e Ayres Britto, que deixarão a corte, participarão do julgamento. "Já imaginaram a pressão em cima dos novos indicados durante sabatina?'', questiona um ministro.

Chapa pura Único réu do mensalão candidato a prefeito, João Paulo Cunha deverá ter como vice em Osasco o petista Jorge Lapas, que se desincompatibilizou ontem a Secretaria de Governo local.

Regra 3 Depois de negociar com o PSD de Gilberto Kassab, o PT optou pela chapa puro-sangue. A articulação é vista no partido como um "plano B" caso o deputado seja condenado no STF.

Menos um Um dos nomes cotados pelo PSB para vice de Fernando Haddad, César Callegari preferiu ficar na Secretaria de Educação Básica do MEC. Petistas ainda não desistiram de convencer Luiza Erundina a compor a chapa. O PC do B deve sugerir Leci Brandão para o posto.

ONU Coordenador da campanha de José Serra, Edson Aparecido deixou ontem a Secretaria de Desenvolvimento Metropolitano para se dedicar à eleição. Sua primeira tarefa é abrir terreno para a coligação proporcional desejada por PR, PP, DEM e PSD.

Mina terrestre A pedido do pré-candidato a vereador Mario Covas Neto, o Zuzinha, o PSDB estadual votará regra vetando essa aliança, em especial com a sigla de Kassab.

Tucanês Ao lado de Lula, o ex-tucano Eduardo Paes (PMDB-RJ) recorreu ontem a uma expressão celebrizada por seu amigo José Serra ao enfatizar que pretende tirar do papel projetos engavetados há décadas: "O Rio sempre foi lugar de tró-ló-ló".

Dois pesos... Contrariados com a pauta do comando da CPI do Cachoeira, os senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Pedro Taques (PDT-MT) vão entrar com mandado de segurança no STF na terça-feira para que o relator Odair Cunha (PT-MG) coloque em votação requerimentos da dupla.

... e duas medidas Segundo Randolfe, o relator passou na frente pedidos de petistas para ouvir testemunhas contra o governador Marconi Perillo (PSDB-GO) ao invés de votar a quebra de sigilo das 28 empresas que receberam recursos de laranja da Delta, protocolada antes.

Onde pega O senador do PSOL afirma que foi avisado por assessores da CPI de que a quebra de sigilos destas empresas chegaria no governador do Rio, Sérgio Cabral.

É o bicho O esquema de Carlinhos Cachoeira arrecadou com a exploração de jogo ilegal R$ 11 milhões, com lucro de R$ 3 milhões em 2011, segundo dados do Coaf.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio

"O agendamento cria uma pressão eleitoral. Agora, com o cronograma definido, Lula vai ter mesmo que dar a mão para Haddad e ir para as ruas o quanto antes."

DO PRESIDENTE DO PTB, ROBERTO JEFFERSON (RJ), delator do mensalão, sobre o impacto na eleição paulistana do julgamento do processo no Supremo Tribunal Federal, marcado para ter início em 1º de agosto.

contraponto

Portas em automático


O ex-deputado federal Sigmaringa Seixas (PT) foi avisado com antecedência pelo ministro Gilmar Mendes, do STF, sobre o encontro com ex-presidente Lula, no escritório de Nelson Jobim. Diante da polêmica envolvendo o caso, Seixas, que é amigo de Lula, Jobim e Mendes, quis um conselho do seu amigo e ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, sobre como agir em meio ao tiroteio.

-Qual a minha saída? Eu não tenho saída!

Cardozo brincou:

-Claro que tem! Sua saída é o aeroporto de Guarulhos!

O Dia D + 1 - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 07/05


Terça-feira foi Dia do Meio Ambiente e ontem foi aniversário do desembarque na Normandia. Deixe-se de lado o quase septuagenário instante em que a França recebeu apoio marítimo na guerra contra a Alemanha. Hoje os países são íntimos, melhor nem lembrar briga velha já que ambos têm novas frentes de batalha. O que deve ser celebrado é o único dia do ano dedicado àquilo sem o qual não haveria vida na Terra, nem aqui nem na Normandia.

Está quase começando a decisiva Rio + 20, e a presidente Dilma arrematou com pressa um pacote para ajudar a compor a imagem de anfitriã de importante reunião ambiental. A maquiagem verde não escondeu os hematomas que a terra carrega.

O governo Dilma criou as primeiras unidades de conservação da sua gestão. Esse movimento não apaga a nódoa de cinco meses atrás. No dia 5 de janeiro, saiu publicado no Diário Oficial a Medida Provisória 558, que fez a revisão dos limites de sete unidades de conservação nos estados do Amazonas, Pará e Rondônia. São 1.500 Km2 que eram protegidos e deixaram de ser, em três parques nacionais, três florestas nacionais e uma área de preservação permanente.

A decisão é um atentado ambiental e cria outros problemas. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, move uma Ação Direta de Inconstitucionalidade porque entende que não se pode reduzir por MP áreas protegidas. O governo quer, com a MP, facilitar a concessão de licenças ambientais para hidrelétricas, algumas ainda nem licitadas, como as da Bacia do Rio Tapajós: de Jatobá, São Luis de Tapajós e Tabajara. O governo está limpando previamente o terreno para as usinas, tirando obstáculos que, para serem contornados na licença, exigiriam compensação. Está reduzindo a compensação que seria exigida da empresa que vier a ganhar o leilão das hidrelétricas ainda não projetadas. Isso é que é visão de longo prazo. Tivesse o governo o mesmo binóculo em outras áreas e estaríamos em excelente momento.

O desmatamento caiu um pouco, mas ainda significa, segundo Paulo Barreto, do Imazon, 480 milhões de árvores derrubadas num período de 12 meses. O governo comemora o desmatamento menor, como se não houvesse amanhã. O futuro exige de nós a meta incontornável do desmatamento líquido zero. E é possível. Outros países estão com taxas de aumento da área com vegetação natural. O Brasil não consegue isso nem mesmo na Mata Atlântica, onde restam tão exíguos 7% da cobertura original. Barreto, no seu twitter @paulobarreto, postou um mapa da Amazônia, dias atrás, com as áreas onde mais se desmatou. Acertou quem imaginou que foram no entorno das hidrelétricas em construção: as duas do Madeira e a de Belo Monte. A energia para ser limpa tem que ser integralmente limpa. Uma usina hidrelétrica só pode ter essa classificação se o for do começo ao fim. Existem casos históricos de desastres ambientais causadas pela energia de fonte hídrica.

Tudo o que aconteceu em torno do Código Florestal também significa retrocesso. Os vetos e a MP não mascaram o fato simples de que houve sim uma anistia. Quem desmatou ilegalmente, e foi flagrado, tem a multa suspensa e terá que recompor apenas uma parte do estrago feito. Foi derrubada silenciosamente a Resolução do Banco Central que proibiu a concessão de crédito de bancos públicos ao produtor irregular do ponto de vista ambiental.

A saída dessa resolução foi à francesa. Ela é de aplicação imediata, aí a proposta do Senado deu um ano para a legalização ambiental sob pena de não ter financiamento. A Câmara retirou essa exigência, acabando com a resolução, e o governo fingiu que a reintroduziu, mas com um detalhe: deu mais prazo ao produtor. Se em cinco anos ele não tiver o Cadastro Ambiental Rural - o primeiro passo para a regularização - ele não poderá ter financiamento. É com esse tipo de expediente esperto que se faz uma anistia ao desmatador: dando mais prazo para cumprir leis, resoluções, normas, e flexibilizando as punições.

O crédito público é uma arma poderosa e poderia ser usado para induzir um novo tipo de comportamento das empresas. Quase a metade do crédito no Brasil - e todo o de longo prazo - vem de bancos públicos. Se o governo quisesse, as empresas teriam que mudar. Ontem, o JBS foi novamente acusado de ter comprado gado de fazenda em terra indígena e desmatada ilegalmente. O Greenpeace divulgou mais um dos relatórios com os quais monitora o não cumprimento do acordo feito pelo frigorífico em 2009.

Conversei com o presidente da Associação Brasileira de Supermercados, Sussumu Honda, sobre esse problema. Ele foi na terça-feira a Brasília assinar um termo de cooperação com o Ministério Público para informar de quem os supermercados compram a carne. Ele não desconhece as notificações do MP à empresa, mas admite:

- Os supermercados brasileiros não conseguem se abastecer sem o JBS e o Marfrig.

Isso é resultado da política deliberada do BNDES de concentrar o setor de carne. Se usasse seu poder de sócio e financiador dos frigoríficos para induzir boas práticas o ambiente já tinha começado a mudar. Se o governo quisesse ele protegeria com sua força econômica o meio ambiente no Brasil. Não fazer isso é, para usar as palavras da presidente Dilma, "o pior dos egoísmos".

Legados - KENNETH MAXWELL


FOLHA DE SP - 07/06


O Brasil tem uma longa história, se comparado à Alemanha e à Itália, países criados na segunda metade do século 19.

A jurisdição brasileira sobre um vasto espaço geográfico existe desde a metade do século 18. A Igreja Católica, ordens religiosas monásticas, governos municipais, organizações religiosas laicas e irmandades religiosas do Brasil estavam bem estabelecidos na metade do século 16. Tudo isso antedata o estabeleci-mento de um governo nacional independente.

A história traz continuidade. Mas o Brasil também tem uma longa tradição de oposição ao governo centralizado.

No período colonial, isso envolveu o quilombo de Palmares, formado por escravos fugidos; a oposição aos holandeses, no século 17, por uma coalizão improvisada de milícias de negros e mulatos e senhores de engenho da Bahia e de Pernambuco; a permanente oposição de Minas Gerais ao domínio externo; a Revolta dos Malês, na Bahia, com escravos e negros libertos que tomaram armas contra o governo; o violento levante da Cabanagem, no Pará, uma rebelião social de mestiços, escravos libertos e povos indígenas que capturou Belém.

Essa tradição também resultou em rebeliões separatistas em Pernambuco e no Sul. Mesmo após o fim da escravatura e da monarquia, continuaram a surgir grandes desafios.

A campanha de Canudos, no sertão da Bahia, foi a mais sangrenta repressão a um movimento popular na história do Brasil. Quando o Exército por fim derrotou os aldeões, matou quase todos os habitantes remanescentes. O corpo de Antônio Conselheiro, o carismático líder sebastianista de Canudos, morto em 1897, foi desenterrado e decapitado, e sua cabeça, enviada a Salvador. Euclydes da Cunha estimou o número de mortos da campanha em 30 mil, mas estudiosos recentes reduziram essa estimativa a quase 15 mil.

O Brasil sempre teve problemas para conciliar o governo local e o nacional e as oligarquias locais e nacionais. É parte da força do país que muitos desses problemas tenham sido superados pela via política.

Mas isso teve custos. As transições políticas são períodos difíceis no Brasil, e muito do velho persiste em meio ao novo, velhos hábitos e negociatas que escapam sem exposição. O golpe de 1964, afinal, foi, ao menos inicialmente, uma revolta tanto civil quanto militar. E o final da ditadura também conduziu integrantes do velho sistema à nova democracia. Muitas perguntas ficaram sem resposta.

Não surpreende, portanto, que tenha demorado até este ano para que fosse estabelecida a Comissão da Verdade. E tampouco surpreende que escândalos de corrupção continuem a agitar o Congresso Nacional e a opinião pública.
Tradução de PAULO MIGLIACCI

O falcão Obama - CLAUDIA ANTUNES


FOLHA DE SP - 07/06

RIO DE JANEIRO - Talvez seja por causa da desaceleração chinesa, da agonia dos gregos, do beco sem saída espanhol. O fato é que, com a turbulência econômica turvando visões de longo prazo, ninguém dá muita atenção a problemas éticos, riscos políticos e violações da norma internacional contidos na estratégia militar de Barack Obama.

Detalhes dessa estratégia, que privilegia ações secretas, têm sido divulgados na imprensa americana, vazados pelo próprio governo. O objetivo seria mostrar que Obama, candidato à reeleição, é duro com os inimigos, ao contrário do que dizem seus adversários republicanos.

As operações incluem uma guerra cibernética ao Irã -que não atacou nem representa ameaça militar aos EUA- e a intensificação dos assassinatos de militantes considerados próximos à Al Qaeda, onde quer que estejam. Obama dá a palavra final na lista de alvos. Adultos perto de um terrorista são baixas legítimas.

As ocupações do Iraque e do Afeganistão custaram caro, e os americanos não toleram mais ver soldados em sacos, mesmo que tenham sofrido poucas baixas em comparação aos mortos locais.

Obama então amplia o uso de comandos e os ataques de aviões não tripulados, causando centenas de "danos colaterais" em países como Paquistão e Iêmen. O efetivo do Comando de Operações Especiais chegou a 66 mil homens, o dobro do que havia em 2001.

Mesmo admitindo, contra o ceticismo geral, que o terror islâmico seja uma ameaça vital aos EUA, é óbvio prever que ele poderá ser alimentado pela ofensiva atual. De outro lado, se as diferenças de poder não tornassem a hipótese risível, países cuja soberania é violada poderiam reivindicar direitos de contra-ataque.

O importante, no entanto, não são as chamadas "consequências imprevistas", mas manter a engrenagem militar intacta e atualizada.

Bons sinais do STF - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 07/06

O calendário divulgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para o julgamento do mensalão pode ser considerado uma resposta às ações do ex-presidente Lula de tentar adiá-lo para depois das eleições. Se tudo correr como o previsto, sem que nenhum ministro peça vista do processo — o que parece descartado pela péssima repercussão que teria junto à opinião pública —, o julgamento deve terminar na primeira semana de setembro, um mês antes das eleições municipais.

Outro detalhe importante do calendário é que o ministro Cezar Peluso, que se aposenta no dia 3 de setembro por fazer 70 anos, terá condições de dar o seu voto. Ele é o sétimo juiz a votar, e sua vez deverá chegar por volta do dia 29 de agosto.

Peluso participou da reunião administrativa de ontem, que definiu o calendário, e deu várias sugestões, o que sugere que a possibilidade de antecipar sua aposentadoria, não regressando do recesso de julho, está superada diante da viabilidade de ele proferir seu voto.

O presidente do STF, ministro Ayres Britto, conseguiu alcançar os três objetivos internos a que se propôs: o calendário foi aprovado de comum acordo, o que demonstra que os ministros do Supremo decidiram dar uma demonstração de harmonia, num processo que o jurista Joaquim Falcão, diretor da Faculdade de Direito da FGV-Rio classifica de “desemocionalização” das relações
internas do Supremo, que recuperaria a capacidade de promover consensos.

O fato de ter sido aprovado um esforço concentrado nos primeiros 15 dias de julgamento, com sessões todos os dias da semana, mostra que o STF deu ao julgamento um caráter especial, mesmo que não tenha cancelado o recesso de julho nem marcado todo o julgamento para sessões contínuas, como também queria Britto.

A segunda parte do julgamento será realizada em três sessões diárias, às segundas, às quartas e às quintas-feiras, com a aquiescência do relator, ministro Joaquim Barbosa, que tem problemas de coluna e havia dito que não poderia ficar sentado por mais de cinco horas durante todos os dias da semana. Ele mesmo admitiu que o calendário levou em conta suas condições de saúde, dando-se por satisfeito com o ritmo dos trabalhos.

O terceiro fator importante foi conseguir montar um calendário que abrigasse a possibilidade de o ministro Cezar Peluso dar o seu voto, para aproveitar, na definição de Ayres Britto, sua “técnica refinada” e os conhecimentos de um juiz experiente que dará “qualidade ao julgamento”.

O calendário também foi marcado com a concordância do ministro Ricardo Lewandowski, que se comprometeu a entregar seu voto de revisor até o fim deste mês, encerrando assim a dúvida sobre a data em que terminaria seu trabalho. O presidente do Supremo, Ayres Britto, não descarta a possibilidade de antecipar esse cronograma, caso os ministros decidam ampliar as horas de julgamento, entrando pela noite nos primeiros 15 dias.

“Julgaremos sem sangue nos olhos, mas também sem ramalhetes de flores”, definiu assim Ayres Britto o ânimo dos ministros do Supremo Tribunal Federal, que, depois de todas as conturbações por que passaram nos últimos dias, com denúncias de pressões sobre vários deles, tiveram a capacidade de chegar a um consenso que atendeu às suas necessidades internas e também aos anseios da sociedade, que já emitiu diversos sinais de que, ao contrário de Lula, quer ver o julgamento do mensalão sendo realizado o mais rápido possível.

Outra demonstração de que houve uma mobilização do Supremo para demonstrar a importância que está dando ao julgamento é que a nova rotina do tribunal implicou mudanças das sessões da Primeira e da Segunda Turmas, que se reúnem normalmente às terças-feiras à tarde e passarão a se reunir pela manhã.

Também o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que se reúne nas terças-feiras à tarde, terá sessões no mesmo dia, mas pela manhã. E o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), presidido pela Ministra Cármem Lúcia e do qual fazem parte mais dois ministros do Supremo, que tem sessões às terças e às quintas-feiras a partir das 19h, passará a se reunir uma hora mais tarde.

A disparidade de comportamento entre os membros dos seus Conselhos de Ética e os plenários da Câmara e do Senado, uns recomendando a cassação dos mandatos da maioria dos envolvidos nos escândalos políticos, e o conjunto dos parlamentares
tendendo a absolver os que foram julgados, dá bem a importância do fim do voto secreto.

A explicação óbvia para os dois comportamentos é que, enquanto nas Comissões de Ética o voto é aberto, no plenário ele é secreto, o que acoberta as decisões individuais com o amplo manto do anonimato.

Esse ponto crucial para o aperfeiçoamento de nossa democracia esbarra desde 2001 em reações corporativas, pois tramitam no Congresso diversas emendas constitucionais, transformando em aberto o voto secreto.

A demora para aprovar essa mudança mostra bem as dificuldades que temos para moralizar nossos hábitos políticos. É a mesma que existe para a aprovação de uma reforma política de profundidade, que organize a atuação política e não permita infidelidades e traições impunes.

Só existem algumas ocasiões em que o voto é secreto no Congresso brasileiro: para a aprovação de embaixadores no Senado; para casos de perda de mandato de parlamentar; prisão de parlamentar em caso de flagrante de crime inafiançável; escolha de ministro do Tribunal de Contas da União e de presidentes e diretores do Banco Central; na exoneração do procurador-geral da República antes do término de seu mandato.

Em todos os casos, o motivo alegado é proteger os parlamentares das pressões dos demais poderes, mas, para a cassação de mandatos, essa desculpa não existe.

Ueba! Bahamas abre as portas! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 07/06

O dono foi condenado por fornicação de quadrilha, indução ao prazer e lavagem de perereca!

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E olha esta faixa em Serrinha, na Bahia: "Mecheu com a Lei Maria da Penha, Mecheu com Todas as Mulheres". E quem apanhou foi a língua portuguesa! Rarará. Vai mecher com elas. E uma mulher no rádio que falou Lei Maria Apanha! Rarará!
A manchete do "Meia Hora": "Mineiros querem ensinar ao R10 a arte de comer quieto". E de brinde vem o Guia da Night de BH! Rarará!
E atenção! Começou o feriadão de Corpus Christi. E o que é Corpus Christi? Corpus Christi é feriado em latim. Rarará. Não confundir com Porcos Tristes. Que é Dia Nacional do Palmeiras! E Corpus Alegres é domingo, na Parada Gay! Rarará!
E boa notícia: a boate Bahamas vai reabrir! Deve estar com o estoque vencido! Rarará! O Bahamas vai reabrir. As pernas!
Olha esta manchete: "Bahamas reabre as portas". A Boate Bahamas comunica a sua ansiosa clientela que os antigos cartões fidelidade continuam válidos. Ops, cartão infidelidade!
E o dono do Bahamas foi condenado por três crimes gravíssimos: fornicação de quadrilha, indução ao prazer e lavagem de perereca!
E "A Fazenda", hein?! Diz que a bunda da Gretchen é um latifúndio! Não cabe em fazenda! Rarará. E diz que quem mais comemorou o jubileu da rainha Elizabeth foi a Cristina Kirchner. Rarará! Jubileu das Malvinas!
E atenção a quem for viajar de carro: BR é abreviatura de buraco. BR 101 quer dizer que tem 101 buracos. Esperando no acostamento! Pra entrar na pista! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
Piadas prontas! "Incêndio em prédio de sex shop esquenta o clima no centro de Curitiba." "Tive poucos relacionamentos na vida", diz Gretchen. E o Ronaldinho Gaúcho: "Sair do Flamengo foi uma decisão que eu e meu irmão tomamos juntos". Aí clica na foto e é uma garrafa de cachaça Decisão. Tomaram três garrafas de Decisão!
E "Belo entra na Justiça para impedir que Viviane viole sua honra".
Rarará.
E trabalhar em feriadão dá entojo, inquizila, cobreiro, nós nas tripas, inframação na prósta e dormência numa banda do corpo! Rarará!
E saiba o que abre e o que fecha no feriadão. AS PERNAS! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Espírito de corpo - DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 07/06

Antes tarde do que nunca.

Na perspectiva do velho ditado, tome-se como louvável a decisão do presidente do Senado, José Sarney, de ceder à pressão da maioria dos líderes partidários e pôr na pauta de votação da próxima quarta-feira a proposta de emenda constitucional que acaba com o voto secreto em plenário para processos de cassação de mandatos. O problema é que a realidade revela uma tendência forte a favor do "nunca" em detrimento do "antes tarde". Traduzindo: deixando ao curso da vontade majoritária, o Congresso prefere mesmo manter os votos dos parlamentares sob a proteção do sigilo.

Não é um juízo precipitado nem leviano, mas antes baseado em fatos. E estes são os seguintes: há várias propostas em tramitação no Senado que nunca foram mexidas, há a decisão de Sarney movida a intenso constrangimento por causa do caso Demóstenes Torres e há uma emenda já votada em primeiro turno na Câmara desde setembro de 2006.

Aprovada, diga-se, sob a tensão do escândalo do mensalão, envolvimento de parlamentares com a chamada "máfia das sanguessugas" e da proximidade das eleições. Foram 383 voto a favor, 4 abstenções e nenhum contra.

Na época a Câmara fez a cena e se retirou do palco. Nunca mais tocou no assunto, deixando o processo sem conclusão.

Agora se houvesse genuína disposição do colegiado em acabar com o voto secreto bastaria que Câmara e Senado fizessem um acordo para a retomada daquela votação.

Argumenta-se que a proposta a ser votada pelos senadores na semana que vem dificilmente terá sua tramitação concluída a tempo de, se aprovada, valer para o julgamento de Demóstenes Torres previsto para julho, antes do recesso.

Haveria economia de tempo se, no lugar de começar do zero, o Congresso terminasse o que começou: a Câmara faria a votação em segundo turno e a emenda seguiria para o Senado.

Dos deputados, contudo, não se ouve palavra a respeito e no Senado tampouco se levanta essa possibilidade. Como se as duas Casas não fossem instâncias do mesmo Poder.

A sugestão do senador Pedro Taques para que cada um abra o voto espontaneamente pode, se passar pelo crivo da Justiça, representar uma saída circunstancial. Mas não é uma solução.

À sorrelfa. Longe de câmeras e microfones, os três deputados federais (Carlos Leréia, Sandes Júnior e Rubens Otoni) suspeitos de envolvimento no esquema Cachoeira foram ouvidos terça-feira pela corregedoria da Câmara.

Daqui a dez dias enviará relatórios à Mesa Diretora que só então decidirá se é o caso de acionar o Conselho de Ética para possível abertura de processo por quebra de decoro.

Tudo muito lenta e silenciosamente como convém ao corporativismo reinante na Casa.

Memória. Se alguém perguntar, o governador Marconi Perillo (GO) terá o maior prazer em relatar, em seu depoimento no próximo dia 12 à CMPI do Cachoeira, toda conversa que teve com o então presidente Lula alertando-o sobre a existência de um sistema de cooptação de parlamentares que viria a ser nacional e internacionalmente conhecido pelo nome de mensalão.

Estavam os dois dentro de um carro que os levaria a um evento em Goiás, quando Perillo disse a Lula que deputados federais aliados ao governador estavam sendo abordados com propostas financeiras para mudar de lado e integrar a base governista.

O presidente rechaçou o aviso dizendo não acreditar e acrescentando acusações ao antecessor, Fernando Henrique Cardoso, de ter adotado aquele tipo de prática.

Perillo repetiu, deu nome e sobrenome de parlamentares assediados, mas o então presidente não deu atenção.

Tudo isso, descontado um ou outro detalhe, já é sabido. Mas não necessariamente lembrado pelo grosso da população que, por meio do depoimento à CPMI, teria reavivada a memória às vésperas do julgamento contra o qual Lula tanto se bate.

Tucanos do bico vermelho - ANTONIO DE SOUSA RAMALHO


FOLHA DE SP - 07/06

O PSDB se reaproxima dos sindicalistas. Em dez anos, a central sindical que já foi única virou centro de defesa dos interesses do governo

Recentemente lançado, o núcleo sindical do PSDB tem atraído a atenção da mídia, da sociedade e de sindicalistas de outras agremiações e todas as centrais sindicais.

São os "tucanos do bico vermelho", que enxergaram na reaproximação do PSDB com sindicalistas uma volta às origens do partido e da própria socialdemocracia, que tem como um dos alicerces o movimento sindical.

O PSDB quer ser para os sindicalistas um espaço aberto e democrático para que suas propostas sejam discutidas e depois defendidas nos parlamentos. O PSDB quer sindicalistas no partido, mas sem influenciar a atividade sindical. E, principalmente, sem aparelhar sindicatos ou centrais, como temos visto nos últimos dez anos, quando a central sindical que já foi única se transformou em centro de defesa dos interesses do governo.

E se o assunto for defesa do trabalhador, principalmente o mais humilde, é impossível defender esse governo como faz sistematicamente a central sindical que o apoia.

O PSDB arrumou a casa durante o governo FHC. E teve em Ruth Cardoso a inspiração para criar os programas sociais que, maquiados e renomeados, são a única bandeira deste governo a favor dos pobres. O Fome Zero, este sim de concepção petista, não matou a fome de ninguém. O núcleo sindical do PSDB não vai aplaudir tanta mentira.

E, por falar em aplausos, a claque sindical do governo aplaudiu todas as medidas afoitas e superficiais adotadas neste ano.

Relembrando: o pacotão de desoneração da folha de pagamento, que só beneficia alguns setores da indústria e ainda coloca em risco a previdência social; a redução do IPI, que faz a indústria automobilística sorrir, mas não faz nem cócegas na desindustrialização; e as mudanças nas regras da poupança, que mais uma vez não defendem os mais pobres.

Seria simples incluir um teto mínimo para que as novas regras fossem aplicadas. Por exemplo, contas abertas há mais de 20 anos e com saldo inferior a R$ 20 mil reais estariam isentas de mudanças e renderiam normalmente.

O BNDES continua financiando só grandes conglomerados e não olha para o pequeno e médio empreendedor, que dá emprego para 76% dos brasileiros -a central sindical do PT reclama baixinho. A presidente Dilma deixa a MP 556 caducar, impedindo que o trabalhador que receba até 12 mil por ano fique isento do IR -do lado de lá, silêncio.

Os sindicalistas do PSDB são contra o fim da contribuição sindical e já deixaram isso claro. Temos posições definidas sobre tudo o que possa ser feito para defender e ampliar os direitos dos trabalhadores.

O PSDB apostou na criação do seu núcleo sindical por acreditar que é necessário que os sindicalistas participem da vida partidária sem deixar de lado suas reivindicações. O que os tucanos do bico vermelho querem é que o Brasil volte ao rumo certo com ética, responsabilidade e muito trabalho.

Nossas posições são claras, sem meias verdade. Somos sindicalistas e não nos calaremos perante chantagens e malfeitos. Vamos fazer com que o núcleo sindical seja a voz do trabalhador dentro do partido e das aspirações sindicais, bandeiras do PSDB. Mas do jeito certo, com ética, sem colocar os estandartes do partido dentro de nenhum sindicato ou central sindical.

Discurso não resolve crises - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 07/06



Quando mais se espera que, não podendo mais deixar de reconhecer o tamanho dos problemas, o governo Dilma adote um plano articulado para debelar os efeitos mais nocivos da crise mundial sobre a economia brasileira, o que se vê é a repetição do que tem feito até agora, sem resultados concretos: vender otimismo, ameaçar os pessimistas e construir um cenário cada vez mais distante da realidade. Utilizam-se promessas para enfrentar problemas.

Embora tivesse demonstrado, no início da semana, grande preocupação com a situação - sobretudo depois da constatação, pelo IBGE, da estagnação da economia no primeiro trimestre -, a ponto de convocar uma reunião de emergência com os principais ministros e auxiliares da área econômica para decidir ações imediatas, na terça-feira a presidente Dilma Rousseff parecia ter descoberto um novo quadro econômico. Na sua avaliação, a expansão da economia em 2012 não será menor do que a registrada no ano passado (quando o PIB cresceu 2,7%), como está sendo previsto pela maioria dos economistas do setor privado, porque o governo vai lançar mão dos instrumentos necessários para estimular os investimentos e sustentar o crescimento do consumo.

"Quem aposta na crise, como (fez) há quatro anos, vai perder de novo", profetizou Dilma, na solenidade do Dia Mundial do Meio Ambiente. Repetiu a bravata feita pelo presidente Lula em 2009, que disse que quem apostasse que a crise internacional iniciada no ano anterior quebraria o Brasil acabaria "quebrando a cara". O País, disse Dilma, tem um "arsenal de providências" que podem ser colocadas em prática. "Sistematicamente, tomaremos medidas para expandir o investimento público, estimular o investimento privado e o consumo das famílias."

É o que se espera que seja feito, mas de maneira eficiente. Em tese, esse tripé sustentará a atividade econômica e propiciará o crescimento mais rápido dentro de algum tempo. Mas, na prática, há superdimensionamento de um dos pés e atrofia dos outros dois. O que o governo tem feito com grande insistência é estimular o consumo, por meio da ampla oferta do crédito, a juros menores. É uma política cuja eficácia está limitada pela capacidade de endividamento das famílias e pela disposição dos bancos de emprestar. O aumento do comprometimento da renda das famílias com despesas financeiras e o crescimento dos índices de inadimplência indicam que essa política terá efeitos cada vez menores.

As incertezas do cenário internacional e os impactos da crise na economia brasileira paralisaram os investimentos privados. Por isso, é o momento adequado para o governo utilizar seu "arsenal de providências" e acelerar os investimentos públicos. Até agora, porém, o governo Dilma mostrou pouca aptidão para isso. Os investimentos federais neste ano são os menores dos últimos três anos (para o período janeiro-maio), como mostrou o Estado, ontem.

Demonstrando despreocupação com o quadro econômico, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que a economia registrará em maio e junho índices de crescimento "muito maiores" do que em abril e o resultado do segundo trimestre será melhor do que o do primeiro. Na sua avaliação, a economia superou a fase de estagnação e entrou numa rota positiva. "Teremos crescimento do PIB e da produção industrial", destacou, referindo-se ao setor que, em abril, apresentou resultados decepcionantes. Citou a indústria automobilística, que tem grande peso na composição do PIB, e que, na sua opinião, "agora vai crescer mais do que outros setores".

Igualmente sem demonstrar preocupação com o cenário, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, defendeu as medidas adotadas pelo governo para estimular o crédito e o consumo das famílias. Num momento em que caberia à autoridade monetária no mínimo apontar os riscos do contínuo estímulo aos financiamentos quando diminui a capacidade financeira do consumidor e cresce a inadimplência, Tombini tem-se limitado a defender as ações do governo - com o qual mostrou perfeito alinhamento durante a audiência pública na Câmara dos Deputados.

CORPO SÃO - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 07/06

Fernanda Lima é a capa da edição deste mês da revista "Boa Forma". "O corpo piora com o passar dos anos e não tem outro jeito a não ser redobrar os cuidados", diz a apresentadora. "Não descarto entrar para uma aula 'levanta-bumbum' no futuro."

CABO ELEITORAL
É Dilma Rousseff, e não Lula, o personagem que preocupa a campanha de José Serra (PSDB-SP) em SP. Na análise da equipe tucana, o ex-presidente pode levar seu candidato, Fernando Haddad, a um patamar de até 40% dos votos. Mas tem teto na cidade, onde nunca venceu eleição. Já Dilma poderia fazer a diferença na classe média.

CABO 2
E a estratégia do PT para tentar reverter o favoritismo de Serra será mesmo esta: usar a imagem de Lula à exaustão no primeiro turno. E, caso chegue ao segundo, colar Haddad em Dilma, que então entraria na campanha.

PRIMEIRA VEZ
Será o primeiro teste de Dilma na transferência de prestígio eleitoral. Segundo o Datafolha, 31% dos paulistanos votariam em quem ela indicasse; 44% seguiriam Lula, 31%, Alckmin -e só 14%, Gilberto Kassab.

PASSO A PASSO
Apesar do burburinho, ainda faltam várias etapas para que a prefeitura autorize a abertura do shopping JK Iguatemi. A Secretaria de Transportes está elaborando laudo sobre a mudança na velocidade no trânsito do local. Ele será enviado a Claudio Lembo, secretário dos Negócios Jurídicos. Só depois de ouvir a Procuradoria-Geral do Município ele enviará o parecer à Secretaria das Subprefeituras, responsável por liberar o alvará.

LINHAS TORTAS
E o empresário Walter Torre, da WTorre, empreiteira responsável pelo shopping, entregou na semana passada novo estudo à prefeitura. Ele mostra que o viaduto que a administração e a Justiça estão exigindo para mitigar o trânsito não dá acesso ao shopping. A construção serviria a outros prédios do complexo que ainda não estão concluídos.

ESPORTISTA
O estilista Oskar Metsavaht, da Osklen, foi sondado para assinar uma coleção para a grife esportiva Puma.

ARTE NO SUBSOLO
As artistas Anne Cartault d'Olive e Letícia Rita foram escolhidas pela curadora Regina Silveira para exibirem suas obras na estação Trianon, dentro do projeto Vitrines do Metrô, do Masp.

CANGURU
O elenco formado por Giulia Gam, Maria Luisa Mendonça, Caco Ciocler, Marjorie Estiano e Fernanda de Freitas se reuniu na semana passada pela primeira vez com as diretoras Monique Gardenberg e Michele Matalon para conversar sobre a peça "Elefante, Canguru e Outras Espécies". O espetáculo, baseado em cinco contos do japonês Haruki Murakami, estreia em setembro, no Rio.

VESTINDO A CAMISA
Quem passar pela estação República do metrô no fim de semana vai poder retirar uma das cerca de 5.000 camisinhas de um painel gigante. A ação faz parte da campanha "Proteja seu Orgulho", que a Secretaria da Saúde de SP lança amanhã.

CINDERELAS
O empresário Alexandre Birman fez festa de reinauguração de uma loja de sua rede de calçados, anteontem. A advogada Sophia Alckmin, filha do governador Geraldo Alckmin, e a chef Danielle Dahoui circularam pela rua Oscar Freire.

SAMBA NO PALCO
A cantora Paula Lima fez participação especial no espetáculo "Samba Suor Brasileiro", anteontem, no Theatro Municipal. O show tem direção de José Possi Neto e coreografia de Anselmo Zolla. Na plateia, a vice-prefeita Alda Marco Antonio, Monica Serra, mulher de José Serra (PSDB), pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, e a atriz Julianne Trevisol.

CURTO-CIRCUITO

A exposição "A Secret Cinema", do artista Eugênio Zanetti, será inaugurada hoje, às 19h, no MuBE.

O espetáculo "A Travessia da Calunga Grande" reestreia hoje, às 14h30, na Oficina Cultural Oswald de Andrade, no Bom Retiro. Classificação: 14 anos.

Shlomo Amar, grão-rabino chefe de Israel, visita hoje a instituição beneficente israelita Ten Yad, dedicada ao combate à fome.

O Renaissance Hotel realiza hoje evento de música eletrônica, às 18h. Livre.

Tetê Espíndola apresenta no sábado o show "Pássaros na Garganta", no Sesc Belenzinho, às 21h. 12.

A festa Glamur acontece hoje no Haras Itapeva, em Campos do Jordão, às 20h, na Vila Abernéssia. 18.

com ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, LÍGIA MESQUITA e OLÍVIA FLORÊNCIA

Eliminem a 'verdade' - DEMÉTRIO MAGNOLI


O Estado de S.Paulo - 07/06


A palavra "verdade", na Comissão da Verdade e da Reconciliação instituída pela África do Sul, tinha um significado judicial, relacionado aos poderes do organismo. Nossa Comissão da Verdade, ao contrário, não tem poderes judiciais. Por esse motivo a palavra "verdade" deveria ser eliminada de seu nome.

As prerrogativas da comissão sul-africana, presidida pelo arcebispo Desmond Tutu, abrangiam não apenas a investigação de violações de direitos humanos cometidas durante o regime do apartheid, mas, crucialmente, a concessão de reparações às vítimas e de anistia individual a perpetradores. A comissão brasileira não dispõe das duas últimas prerrogativas: as reparações são da esfera da Comissão de Anistia e a anistia já foi concedida a todos, por lei emanada da ditadura militar, recepcionada por sucessivos governos civis e confirmada pelo Supremo Tribunal Federal. O mandato de nossa comissão está circunscrito por lei à produção de um relatório sobre violações de direitos humanos por motivação política entre 1946 e 1988. Para não abusarmos da noção de verdade seu nome deveria ser algo mais modesto, como Comissão de Inquérito.

Verdade histórica é diferente de verdade judicial. Nos tribunais, e numa comissão com poderes judiciais, como a sul-africana, a verdade é uma narrativa factual organizada à luz dos códigos legais. A decisão final, transitada em julgado, é uma "verdade" irrecorrível, com implicações penais ou cíveis. A "verdade" histórica, por outro lado, é uma interpretação dos eventos do passado que oscila ao sabor do "espírito do presente" - isto é, dos valores predominantes em cada época. Verdades distintas concorrem entre si nas obras de História, formando um diálogo pluralista e, em princípio, infindável. Uma comissão sem estatuto judicial, mas batizada com o nome da verdade, almeja a verdade histórica. Contudo, por definição, a verdade histórica não pode ser emoldurada com o selo oficial - a não ser como contrafação fabricada por regimes totalitários.

A Lei de Anistia cercou as violações de direitos humanos cometidas pela ditadura militar com uma muralha de interdição, cassando ao sistema judiciário o poder de julgar crimes políticos declarados imprescritíveis por tratados internacionais. Vergonhosamente, a elite política brasileira teceu um consenso em torno da lei promulgada no derradeiro governo militar - e, em razão de tal consenso, as maiorias parlamentares de sustentação de Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula e Dilma recusaram-se a suprimir o interdito. Num intercâmbio lamentável, a proteção dos violadores foi paga, por meios pecuniários e simbólicos, pela Comissão de Anistia. Se não mudar seu nome, a Comissão da Verdade cumprirá o papel indigno de emitir o cheque simbólico final na agônica transação.

Na sua acepção judicial, a verdade está relativamente livre do jogo da política e da ideologia. A comissão sul-africana ouviu testemunhos de crimes cometidos pelo Estado e também das organizações de resistência, contextualizando-os segundo os princípios do Direito. Se o Brasil tivesse abolido a Lei de Anistia, tribunais emitiriam sentenças sobre as incontáveis violações cometidas impunemente pela ditadura militar e também sobre os escassos casos de crimes das organizações armadas que não foram julgados à época. Isso, infelizmente, não ocorrerá - e a ausência do Poder Judiciário coloca a Comissão da Verdade diante do dilema expresso nas interpretações históricas dissonantes a respeito dos "anos de chumbo".

A narrativa do combate nas trevas entre os "dois lados", representados pelo regime militar e pelas organizações armadas de esquerda, é uma fraude histórica e uma tese imoral. A repressão política, as prisões e a tortura atingiram os opositores em geral, em sua maioria desarmados, não apenas as correntes minoritárias da esquerda armada. O poder de Estado, com seus aparelhos judiciais, policiais e militares, não pode ser equiparado aos grupos irregulares de militantes das organizações seduzidas pela estratégia do "foco revolucionário". O assassinato e a tortura nos calabouços são definidos no Direito Internacional como crimes contra a humanidade, distinguindo-se por sua gravidade dos demais tipos de crimes. Carlos Marighella e Carlos Lamarca praticaram crimes asquerosos. Mesmo assim, eles não podem ser equiparados aos crimes do delegado Sérgio Fleury, do general Ednardo D'Ávila Mello ou do presidente Emílio Garrastazu Médici.

A historiografia, tanto quanto os tribunais, têm ferramentas para destruir o falso sinal de identidade desenhado com a finalidade de providenciar um álibi para a ditadura militar. O leitor decente sabe separar as narrativas históricas legítimas das fábulas ideológicas destinadas a justificar crimes contra a humanidade. Contudo a pretensão impossível de estatizar a verdade histórica no regime democrático confere à narrativa delinquente sobre os "dois lados" a aura de uma "verdade sufocada" em confronto desigual com uma "verdade dos vencedores".

Uma comissão de inquérito consagrada ao relato dos crimes contra a humanidade praticados pela ditadura militar seria capaz de iluminar fatos, personagens e circunstâncias ainda desconhecidos, oferecendo material valioso aos historiadores. Em contraste, uma Comissão da Verdade sem poderes judiciais está condenada a fabricar interpretações estatais sobre o passado, algo com valor de verdade similar ao dos retratos encomendados pelos mecenas.

O conceito africano de ubuntu relaciona-se à ideia de que a humanidade de cada indivíduo depende da dignidade humana de todos os demais. A comissão sul-africana tinha a missão escrita de promover "ubuntu", não "retaliação" nem "vitimização". Nossa comissão não pode promover ubuntu, mas ao menos não precisa engajar-se em operações simbólicas de retaliação e vitimização. Eliminem a "verdade", senhores comissários!

O engano de enganar - JANIO DE FREITAS


FOLHA DE SP - 07/06

Em vez de esconder, é preciso mostrar o quanto é difícil, no Brasil, tocar em interesses de qualquer das forças que compõem o poder econômico

O GOVERNO se divide, seus congressistas também: é melhor apressar para antes da Rio+20 ou adiar, para depois da conferência, o exame das mais de 600 emendas que os ruralistas apresentam ao Código Florestal, em reação aos 12 vetos de Dilma Rousseff no texto aprovado. Trata-se, porém, de mais do que divergência de táticas possíveis.

É o traço de hipocrisia presente e influente, aqui, sem distinção de classe e de lugar. A preferência por aparentar o que não é. Costume a que o país nada deve de bom.

Deixar que se mostre aos visitantes a reação do Congresso, contrária a avanços na defesa do meio ambiente e do patrimônio natural brasileiro, é a única atitude honesta e inteligente. Tentar tapeá-los é inútil.

Assim que o Congresso se ocupe das emendas e seu teor tétrico, os presentes à conferência, já de volta a seus países, logo terão conhecimento do que se passa em Brasília. Europeus, americanos e asiáticos fazem pouco em defesa da Terra, mas falam muito a respeito e acompanham tudo.

Em vez de esconder, é preciso mostrar aqui mesmo e no exterior o quanto é difícil, no Brasil, tocar em interesses de qualquer das forças que compõem o poder econômico.

Caso dos ruralistas, para os quais não houve, ainda, legislação capaz de detê-los na invasão de imensidões do Estado, em reservas indígenas, em áreas de proteção permanente definidas por lei, e no desmatamento criminoso.

Breve ilustração: os levantamentos mais recentes indicam que Mato Grosso perde mais 19% da cobertura florestal; em Rondônia, o desmatamento aumentou 99%.

As leis vigentes há muito tempo, ou seja, à parte o novo e incerto Código Florestal, dão ao Estado os instrumentos para reprimir e punir esses crimes todos.

Tudo comprova que não acontece uma coisa nem outra. Os vencidos são o Estado e a lei.

O pacote ambiental lançado por Dilma Rousseff, às vésperas da Rio+20, seguiu o mesmo vício das aparências, da imagem.

As medidas que o compõem poderiam estar assinadas há muito tempo. Exceto a que contraria posição anterior da própria presidente, quando de sua defesa intransigente do sacrifício florestal, fluvial e humano (indígenas e famílias rurais) para construção de hidrelétricas nos rios Madeira e Xingu.

O pacote, pelo menos, trouxe medidas importantes.

Greves de professores se multiplicam no país.

Os docentes das universidades federais estão em greve desde 17 de maio. A UERJ, estadual, decidiu-se pela greve a partir de segunda-feira. Na Bahia, a greve de professores já vai para 60 dias.

Em país onde se fala de educação com e sem motivo, greves de professores são uma condenação explícita aos respectivos governantes.

Educação com professores precisando fazer greve para atenuar suas precárias condições de trabalho e de vida é farsa. Continuação de séculos de farsa.