quinta-feira, abril 19, 2012

País da propaganda - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 19/04/12



O Brasil exportou, em 2011, 42 comerciais, 41% a mais em relação a 2010. O faturamento destes filmetes rodados aqui chegou a US$ 11,5 milhões, com EUA, Reino Unido, França e Japão entre os maiores clientes. São dados recém-consolidados pela Apex e pelo Itamaraty.

Aliás...

O Rio (aquele abraço) foi cenário de 60% desses comerciais.

A volta para o Rio

A Hypermarcas comprou, recentemente, o laboratório Montecorp (ex-Shering-Ploug), com fábrica imensa no Rio. Mas, para o protesto de Cabral e da Firjan, decidiu levá-lo para Goiás. Todos os equipamentos foram desmontados e transferidos. Mas, esta semana, acredite, um comboio de caminhões trouxe tudo de volta. É que as máquinas seriam instaladas na fábrica goiana Satepan, de... Cachoeira.

República de Propriá

O novo presidente do STF, Ayres de Britto, pai de dez filhos, vai homenagear hoje, em seu discurso de posse, três amigos. Os juristas Fábio Comparato e Celso Bandeira de Mello, seus professores na faculdade de Direito, e Lula, que o nomeou.

São amigos

Sérgio Cabral e Adriana Ancelmo são os padrinhos das filhas gêmeas, Fernanda e Catarina, de Fernando Cavendish, o dono da construtora Delta. O batizado foi em abril de 2011.

‘Pornô soft’
A editora Intrínseca pagou US$ 450 mil para publicar no Brasil “Fifty Shades of Grey”, de E. L. James, a autora inglesa editada nos EUA, onde estourou com seu estilo, digamos, “pornô soft”. A disputa envolveu ainda Companhia das Letras e Record.

DILMA, COMO SE
sabe, sempre manda desligar o ar-condicionado nas solenidades no Planalto, porque é muito friorenta. Mas, terça, talvez sem graça com a presença de Hillary Clinton, passou frio — brrrrrrr... — e pediu esta pashmina a um assessor. A turma que sempre padece no calor adorou. Veja a sequência obtida pelo coleguinha Gustavo Miranda.

Reage, Ronaldinho
Ronaldinho Gaúcho vale hoje uns 4,5 milhões de euros, ou 36% menos que há quatro meses (7 milhões de euros). As avaliações são da Pluri, empresa de pesquisa e análise.

Pac-Man ficha suja

A empresa PlayerUm põe hoje no Facebook o jogo eletrônico “Roba Roba”, sobre corrupção de políticos. São quatro bonequinhos (o jurista, o jornalista, o povo e o policial), todos atrás de um outro, que é... vereador, controlado pelo internauta. Se “comer” as pizzas e o dinheiro pelo caminho, é promovido a... deputado estadual. Depois, deputado federal, senador e presidente do Senado.

Agora vai

O ditador Raúl Castro confirmou que vem para a Rio+20.

Maconha na praia
A turma da maconha promove amanhã um ato na Praia de Copacabana pelo julgamento no STF do recurso sobre a constitucionalidade do dispositivo da Lei de Tóxicos que tipifica como crime o porte de drogas para consumo próprio. Serão espetadas 420 réplicas de folhas de maconha na areia.

Queima total

A Beaux, no Rio, clínica de estética montada por Eike Batista para a namorada Flávia Sampaio, que custou R$ 15 milhões e fechou, faz hoje, à boca miúda, um bazar de saideira. Tem de tudo — de equipamentos a laser de R$ 200 mil a esmalte Chanel usado por R$ 2.

Salve Jorge!

A União da Ilha vai erguer uma capela em homenagem a São Jorge no estacionamento da quadra.

Clube dos 80

Entra hoje no clube dos 80 anos a ex-primeira-dama do Rio Belita Tamoyo, viúva de Marcos Tamoyo (1926-1981), prefeito do Rio no período 1975-1979. Com o marido, dona Belita inaugurou, por exemplo, o Riocentro e a Marina da Glória.

Calma, gente

Uma moça, digamos, de peso causou rebuliço num restaurante no shopping Fashion Mall, no Rio, domingo. É que pediu uma sugestão de bebida ao garçom, que respondeu: “Hum... Uma Coca Light?”. Ela soltou os bichos. 

Dilma na luta, PMDB na lida - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 19/04/12


Enquanto Dilma, toda prosa, trabalha a população pelo bolso com a queda dos juros bancários, o PMDB, seu maior aliado, tenta se organizar na política para continuar imprescindível a quem estiver no poder

A presidente Dilma Rousseff fechará esta semana com um saldo prá lá de positivo do ponto de visto político. Ela conseguiu dois trunfos em meio a uma saraivada de notícias desgastantes para o governo, tais como a manutenção do crescimento do país abaixo das expectativas, o risco de o Brasil perder o posto de sexta economia do mundo — e, de quebra, uma CPI que promete desaguar numa das empreiteiras que segura o PAC. Ainda assim, ela foi bem naquilo que mais pesa em todas as classes econômicas: o custo dos financiamentos. E, no embalo, ainda recebeu elogios de Hillary Clinton por conta do combate à corrupção.

A notícia de que bancos como o Itaú e o Bradesco vão baixar os juros de quem deseja obter um financiamento cala fundo naquela classe que está com a presidente, mas sem muita convicção. Não por acaso, ministros comentavam que a queda dos juros, no imaginário popular, dá a muitos aquela sensação de que a presidente faz o que outros tentaram e não conseguiram: enquadrar os bancos.

Se essa versão se espalhar e os juros, de fato, caírem sem que os bancos recebam compensações por isso, ela ganhará ainda mais pontos perante o eleitorado. Afinal, é preciso verificar, como bem explicou ontem o blog do editor de economia do Correio, Vicente Nunes, se outras tarifas não sofrerão acréscimos, ou seja, se os bancos de um modo geral vão dar o benefício com uma das mãos e tirar com a outra. Mas, sob o ponto de vista político, governistas e oposicionistas são unânimes em afirmar que os ganhos da presidente virão e, justamente no momento em que os aliados se preparavam para cobrar uma fatura alta.

Por falar em fatura...
Há alguns dias, a base política da presidente Dilma se animou com a nomeação do novo diretor-geral do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), Emerson Fernandes, indicado pelo líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN). A indicação havia sido feita há tempos. A publicação no Diário Oficial da União feita esta semana — justamente, às vésperas da instalação da CPI que investigará as relações do bicheiro Carlos Cachoeira, a empresa Delta, o senador Demóstenes Torres e quem mais chegar — levou muitos a pensarem que estavam reabertas "as portas da esperança" e que todas as nomeações sairiam rapidamente a partir de agora. Mas o Planalto informa que não é bem assim. As nomeações continuarão a conta-gotas, de acordo com a "necessidade", técnica e política.

Afinal, o Planalto avalia que essa CPI não tem como chegar no coração do governo. Na pior das hipóteses, se for para investigar doações de campanha presidencial, seja no primeiro ou no segundo turno, Dilma sempre poderá adotar a mesma postura que Lula teve na crise do mensalão: deixar a conta no colo do PT, mais precisamente, Antonio Palocci, que já está fora.

Por falar em PT...

O partido será convidado para um jantar em 8 de maio com o PMDB. A ideia do encontro surgiu num jantar do PMDB a portas fechadas, há dois dias na casa do deputado Luiz Pitiman (DF). A churrasqueira da mansão foi transformada num miniauditório ao qual só os parlamentares peemedebistas tinham acesso. Ali, numa conversa franca, Henrique Alves tratou de buscar uma certa unidade de trabalho na futura CPI e aproximar o partido de sua candidatura a presidente da Câmara — aliás, o principal objetivo do encontro.

Para amortecer qualquer movimento rumo a Júlio Delgado (PSB-MG), que começa a sentir o terreno para ver se consegue se lançar como alternativa, Henrique Alves mencionou ter o apoio do governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, do PT e de outros partidos. Depois do feriado de 1º de maio, Henrique passará as noites das terças-feiras em jantares destinados à aproximação com os partidos. Haja comida!

Os movimentos hoje são claros: enquanto Dilma trabalha a população pelo bolso, o PMDB, seu maior aliado, tenta organizar a política para continuar imprescindível a quem estiver no poder e permanecer na ribalta. Como bem lembrou o deputado Alceu Moreira (PMDB-RS) durante o encontro, o PMDB precisa ser o partido do equilíbrio. E é para isso que eles vão trabalhar a partir de agora. Afinal, depois de tantas CPIs, ele continua aí, grande e importante. E está ciente de que, nesta CPI, não será diferente.

Baixar a bola - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 19/04/12

O ex-presidente Lula trabalha para esvaziar a reunião de governadores sobre a dívida dos estados. Lula avalia que o encontro de hoje vai dar um palanque para que os governadores pressionem a presidente Dilma. Eles cobram mais recursos já para investimentos. Ele procurou governadores e até o presidente do Grupo de Trabalho sobre a Dívida dos Estados, o ex-líder Cândido Vaccarezza (PT-SP). "O governo está fazendo confusão. Nós vamos ouvir. Não vamos decidir", diz Vaccarezza.

A carroça na frente dos bois
A sucessão na presidência da Câmara só vai ocorrer em fevereiro do ano que vem. Mas o líder do PMDB, deputado Henrique Alves (RN), não pensa em outra coisa. Por isso, na noite de anteontem, na casa do deputado Luiz Pitman (PMDB-DF), ele reuniu 52 deputados do partido. Henrique disse que é candidato a presidir a Câmara e que decidiu antecipar as negociações com os partidos governistas, mas antes queria comunicar sua decisão e obter o aval da bancada. A vice-presidente da Casa, Rose de Freitas (PMDB-ES), que sonha suceder ao atual presidente, Marco Maia (PT-RS), não compareceu ao encontro pró-Henrique.

"Estou frustrado, dá vontade de ir embora” — Ricardo Ferraço, senador (PMDB-ES), relator da Reforma Administrativa, rejeitada pela CCJ do Senado

O DIA D. O senador Demóstenes Torres (GO) vai saber seu destino no dia 3 de maio. Será nessa data que o senador Humberto Costa (PT-PE), na foto, pretende apresentar seu relatório ao Conselho de Ética, pedindo a cassação ou não do mandato do goiano. Depois, caberá aos senadores do órgão decidir se acolherão ou não o parecer. Para a votação do relatório, não há prazo regimental. O voto no conselho é aberto.

O conto de Miami
O contraventor Carlinhos Cachoeira está deprimido. Preso com a deflagração da Operação Monte Carlo, está arrependido por ter confiando na promessa de que os aparelhos Nextel, distribuídos para a quadrilha, eram à prova de grampo.

Medusa
Quando o senador Demóstenes Torres (GO) entrou no plenário ontem, enquanto cumprimentava alguns, outros caíram fora discretamente. O líder do PT, Walter Pinheiro (BA), foi se esconder na sala do cafezinho dos senadores.

A volta do cipó de aroeira
Os senadores que integram o grupo comandado pelo líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), e o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), estão rindo de orelha a orelha. Argumentam que a presidente Dilma estava tentando deslocar o centro do poder na Casa ao nomear o senador Eduardo Braga (PMDB-AM) líder do governo. Agora, com a criação da CPI, Renan e Sarney voltam ao centro da articulação política, pois eles têm votos.

Mui amigo
O procurador de Justiça de Goiás Benedito Torres, irmão de Demóstenes Torres, anda dizendo por aí que achava que estava fazendo um favor para o irmão e não para o crime organizado. A relação entre eles está estremecida.

Medo
O ex-presidente Lula não pretende ir a muitos municípios nestas eleições. Está em pânico com a possibilidade de ficar sem voz no meio de um comício. Vai priorizar a gravação de depoimentos para serem veiculados na televisão.

O PSDB não quer a deputada Iris Resende (PMDB-GO) na CPI do contraventor Carlinhos Cachoeira. O seu marido, o ex-governador Iris Resende, é adversário do governador Marconi Perillo (PSDB).

A SEMELHANÇA física entre Carlinhos Cachoeira e o senador Pedro Taques (PDT-MT) virou piada. O senador Welligton Dias (PT-PI) brincou: "Agora não posso nem aceitar um refrigerante vindo de você."

O MINISTRO Aloizio Mercadante fala sobre a CPI: "Não é meu papel nem minha competência funcional criar uma CPI. Minha vida no Parlamento está encerrada. Estou focado no Ministério da Educação." 

Barata tonta - ROGÉRIO GENTILE

Folha de S. Paulo - 19/04/12


SÃO PAULO - O PT sofreu pela primeira vez, em razão da CPI do caso Carlinhos Cachoeira, os transtornos de uma organização que tem duplo comando. É o chamado dilema da barata tonta. A quem atender quando os chefes divergem?

Assim que surgiram na imprensa as gravações que desmascararam o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), Lula estimulou o PT a pisar no acelerador e abrir uma comissão de investigação no Congresso.

Com "sangue nos olhos", como bem informou Mônica Bergamo, o ex-presidente viu uma oportunidade para acuar a oposição e equilibrar a balança da ética (ou melhor, da falta de ética) na opinião pública num ano eleitoral em que o julgamento do mensalão no STF tende a reavivar constrangimentos para o partido.

Dada a ordem de Lula, a ação foi imediata. Petistas se articularam com os aliados no Congresso e correram para anunciar a criação da comissão antes mesmo de conseguir coletar as assinaturas necessárias.

Bom, aí Dilma voltou do exterior e se deparou com o fato consumado. Contrariada, mas sem ter como engavetar a investigação, colocou um pé no freio a fim de tentar algum controle sobre a CPI. O PT agora corre para viabilizar suas exigências em relação à montagem da comissão e à amplitude da investigação.

A CPI é complicada para a presidente porque paralisa o Legislativo, dá mais força para políticos que ela tenta escantear (Renan Calheiros, Henrique Alves, Romero Jucá etc.) e, sobretudo, ainda tem potencial para respingar no próprio governo em razão do envolvimento da principal empreiteira do PAC com Cachoeira.

Dilma e Lula já conversaram para acertar os ponteiros. O PT como barata tonta não interessa a nenhum dos dois, pois abre uma brecha para a ação da fragilizada oposição. Mas, se não houver uma sintonia fina entre eles, outras divergências tendem a emergir por conta das prioridades de cada um. A de Dilma, claro, é o seu governo. A de Lula, a sua política.

Não é só chilique - CLAUDIA ANTUNES

FOLHA DE SP - 19/04/12


RIO DE JANEIRO - Existe uma dissonância maior do que o normal entre o que os opositores de Cristina Kirchner falam dela e a avaliação expressa nas urnas pelos argentinos. Para os críticos, Cristina é uma caricatura: autoritária, dada a chiliques e manipuladora do nacionalismo para encobrir problemas de uma economia que estaria quase falida.

A presidente argentina pode ter um pouco desses traços, mas foi reeleita no ano passado. Agora, tem apoio inclusive da União Cívica Radical, rival histórica do peronismo, para reestatizar a participação da espanhola Repsol na petrolífera YPF.

Condenada com virulência no exterior, a medida é mesmo arriscada. Poderá causar mais dificuldades a um país que já tem pouco acesso a crédito no mercado internacional desde a moratória de 2001. Mas esse não é o único aspecto do caso.

Para começar, a privatização da empresa nos anos 90 -no governo peronista de Carlos Menem, com aval da própria Cristina- foi um ponto fora da curva da tendência que prevalece no mundo. Em geral, petróleo e gás continuam a ser tratados como bens estratégicos, e a maioria dos países produtores tem estatais do setor, o que inclui ditaduras árabes e democracias avançadas.

Depois, há os questionamentos ao desempenho da YPF privatizada. Dados publicados pelo "Valor" mostram que a empresa passou a investir muito menos do que a Petrobras, invertendo a situação anterior. A produção caiu mais de 40% desde 2003, quando os Kirchner chegaram ao poder.

A Repsol argumenta que o controle interno do preço do barril, a um valor menor do que o internacional, tolhia investimentos. Mesmo assim, a operação na Argentina continuava permitindo a remessa de lucros ao exterior.

Há mais do que voluntarismo no rompimento desse contrato.

O bate-bola dos bancos - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 19/04/12


Ontem, o Bradesco e o Itaú, os dois maiores bancos privados do Brasil, anunciaram cortes dos juros em algumas das suas operações de crédito. Seguem iniciativas tomadas nos dias anteriores pelo HSBC e pelo Santander. É inevitável, agora, que toda a rede bancária vá atrás, em resposta à presidente Dilma Rousseff - que, além de mobilizar os dois maiores bancos estatais (Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal), exigiu a queda imediata do spread bancário (diferença entre o que os bancos pagam na obtenção dos recursos e o que cobram do tomador de crédito).

Ficou comprovado que "a bola não está apenas com o governo", como dia 12 havia anunciado o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Murilo Portugal.

Ainda será preciso observar até que ponto essa queda dos juros será relevante para a redução dos custos financeiros do setor produtivo e dos consumidores. Esse tipo de reação do sistema bancário quase sempre atende mais às conveniências da hora do que propriamente às pressões de mercado. Quando é assim, esses movimentos dificilmente se sustentam.

Além disso, os cortes se limitaram a aparar rebarbas. Não parecem disposições reais de baixar os juros com firmeza. Acontecem apenas em algumas linhas e sob certas condições. Tampouco alcançam os escorchantes cartões de crédito e não preveem renegociação dos juros muito mais altos contratados anteriormente.

A mobilização concertada dos bancos também para esse corte dos juros pode ser entendida como outra manifestação de sua atuação cartelizada.

Independentemente do sucesso ou não da ofensiva oficial contra o alto custo do crédito no Brasil, há providências que dependem só do governo para derrubar o custo financeiro. A redução dos impostos cobrados no crédito é uma delas. Outra é a aprovação do chamado cadastro positivo, cujo texto já aprovado pelo Congresso, ainda depende de regulamentação.

Cadastro positivo é a relação de bons pagadores que, na prática, constituem reduzido risco de crédito. Por isso, podem levar juros mais baixos. Hoje, os bancos já trabalham com o cadastro negativo levantado pela Serasa (Centralizadora dos Serviços dos Bancos S.A.), que aponta calotes passados na praça - não só os financeiros.

O projeto do cadastro positivo está encalhado em Brasília desde 2009, por atender a motivações paternalistas. Prevaleceu até agora o ponto de vista de que seria necessário proteger o cliente do banco: bastaria que estivesse fora dessa lista positiva para que um devedor qualquer fosse tratado como pária do sistema de crédito. É uma argumentação destituída de lógica porque, como ficou dito, a Serasa já se encarrega de sujar o nome de caloteiros e inadimplentes.

Mas não só no crédito, os custos bancários são exorbitantes. As taxas de administração cobradas nos fundos mútuos de investimento caíram uma insignificância nos últimos anos com a redução dos juros e a queda da inflação. Nesse particular, o governo guarda no bolso do colete nova frente de pressão sobre os bancos - informou a esta Coluna alta fonte de Brasília. Não quer rever tão cedo a remuneração da caderneta de poupança, para fazer concorrência aos fundos de investimento e para que os bancos se vejam obrigados a baixar suas taxas de administração.

MÔNICA BERGAMO - Entrevista Fernando Cavendish

Folha de S. Paulo - 19/04/12


"Nunca vi Demóstenes", diz dono da empreiteira Delta

Acusado de abastecer empresas do esquema de Carlos Cachoeira, o empreiteiro Fernando Cavendish nega qualquer irregularidade. Ele concedeu ontem entrevista exclusiva à Folha.

Em uma conversa gravada, o senhor disse que, se colocar R$ 30 milhões na mão de político, ganha negócio. O senhor já pagou suborno?
Nesta conversa, eu debatia com sócios da Sygma, empresa [da área de petróleo e gás] que adquirimos por R$ 30 milhões. Eles não performavam. Eu os chamei para renegociar o preço. E me gravaram clandestinamente. Eu queria dizer: "Olha, R$ 30 milhões, se eu fosse fazer projetos políticos, doações de campanha..."

Ganho qualquer negócio.
A expressão foi muito ruim. Ficou horrível, horrível. E agora vou encarar uma CPI da pior forma possível.

Já pediram propina ao senhor? E o senhor pagou?
Olha só, o que se pede são apoios políticos, para campanhas, que é uma coisa legitimada, oficializada e que várias empresas fazem.
Se apoio projetos, faço doações, não é que depois vá ganhar [licitações para obras]. Mas posso estar pelo menos bem representado, tenho a oportunidade de ter informação dos futuros investimentos, das prioridades políticas.
Por que megaempresas fazem doações a campanhas? Vão ter informação. Não é normal? Não é toma lá dá cá. Tem licitação.

A relação de empreiteiras e políticos no Brasil são historicamente promíscuas.
Toda relação entre seres humanos que buscam a intimidade do dia a dia, de trabalho, gera às vezes alguns desvios. Essa intimidade, essa promiscuidade, não são só as construtoras que fazem isso. Só que tem um problema: a gente mexe com dinheiro público. E aí não podemos errar, não podemos pecar.

O senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) é sócio oculto da Delta, como diz o Ministério Público?
Não. Nunca vi o Demóstenes. Ninguém é sócio da Delta. Põe isso na sua cabeça. Já inventaram dezenas de sócios para a Delta. [O ex-governador do Rio Anthony] Garotinho foi sócio da Delta, o [ex-prefeito do Rio] Cesar Maia foi sócio. Esquece isso. Não existe. É factóide.

A Delta teria abastecido empresas fantasmas de Cachoeira em Goiás e, através delas, pago propina.
A empresa tinha um diretor no Centro-Oeste, Claudio Abreu. Sou presidente do conselho, no Rio. Não sei o que está acontecendo em Goiás, no Nordeste, no Norte.
O Claudio conheceu o Carlos Augusto Ramos [Carlinhos Cachoeira]. Eu sei quem cada um tá conhecendo? O que me importa são os resultados, os números, que me enviam em relatórios semestrais. Eu não pouso em Goiânia há cinco anos.
Eu sabia por alto que ele conhecia [ Cachoeira]. Para mim, era um empresário, era um cara bem visto no Estado. Eu não conheço os caras do Rio, vou conhecer de Goiás?
Nesse período todo de escuta, não tem uma única conversa que dê um indício de que eu tinha um conhecimento dessa movimentação.
O Claudio, nessa amizade, extrapolou os limites da atuação dele na Delta.

Conheceu Cachoeira?
Tive um encontro casual no bar de um hotel, o Claudio estava lá e me apresentou, muito rápido.
O Claudio Abreu nunca informou que dava dinheiro para o esquema do Cachoeira?
Nunca. Ele era sócio de terceiros, ia comentar comigo? A gente abriu uma auditoria para investigar essa movimentação.

Foram R$ 39 milhões. Não deu para perceber?
A empresa rodou nesses dois anos, 2010 e 2011, R$ 5 bilhões. Tem 46 mil fornecedores. Esse dinheiro nesse universo, é imperceptível.

A Delta é acusada também de favorecimento no Distrito Federal. O senhor conhece o governador Agnelo Queiroz?
Nunca vi. Eu tenho um crédito lá de R$ 30 milhões para receber, no contrato do lixo. A gente lá só apanha. Se eu tivesse ajudado na campanha dele, precisava de Dadá [araponga do esquema Demóstenes], de fulaninho, de beltraninho, contando história lá embaixo?

E o governador de Goiás, Marconi Perilo?
Não conheço, nunca vi.

Por que a Delta contratou o ex-ministro José Dirceu como consultor?
Um diretor nosso conheceu um assessor do José Dirceu. E falou pra mim: "Quer conhecer o José Dirceu?" Só que fizeram um contrato de R$ 20 mil. Até hoje não consegui entender. Mas o imbecil lá resolveu fazer isso. Tanto é que, quando soube, eu disse: "Pode parar essa porra!" Eu estive com José Dirceu uma vez só. Ele falou sobre a Índia, outros países. E foram dizer que a Delta é o que é por causa dele. Isso é esdrúxulo.

Como a Delta conseguiu tanta obra no PAC?
Mas essa é uma sacanagem. Quando o PAC foi proposto, anunciaram R$ 250 bilhões de investimentos em quatro anos. Quando fizeram um levantamento aí em um site, houve a indicação de que a Delta estava liderando o PAC. A gente tinha faturado uns R$ 400 milhões em 2009. Mas isso era em investimentos dos ministérios. Virei líder do PAC.
Sabe quanto vão custar [as hidrelétricas de] Santo Antonio, Belo Monte, Jirau? Só Santo Antonio corresponde ao faturamento de dez anos da Delta. Como posso, com essa minha conta de retalho, de "trocentos" contratinhos que, somados, dão R$ 800 milhões, liderar o PAC? Estou liderando p. nenhuma. Mas fica bonito, na hora de bater no PT, dizer que o líder do PAC está cheio de problemas. Esquece. Eu devo estar em décimo no ranking do PAC.

O senhor é amigo do governador do Rio, Sergio Cabral. E, no governo dele, ganhou R$ 1,4 bilhão em contratos.
Não é justo falarem isso, não é decente. Eu cresci muito mais no governo do Rio antes de ele assumir. Em 2001, 80% da carteira da Delta era do Estado do Rio.
Conheci Sergio Cabral há dez anos, por meio das nossas esposas. Eu admiro ele como governante, amigo, pai, filho, irmão. É um puta sujeito. No acidente de helicóptero em que morreram as pessoas que eu mais amo [sua mulher e filho, em 2011], eu estava com ele [Cavendish e Cabral iam a uma festa na Bahia]. Tá bom. Mas não comecei a estar com ele depois de ser governador. Nós eramos a maior empreiteira do Rio antes do governo Cabral, com Cesar Maia e Garotinho. Eu era chamado o rei do Rio. Hoje a maior é a Odebrecht.

A Delta cresceu no Rio?
Quando assumi a Delta, em 1995, levando a empresa de Recife, onde foi fundada, para o Rio, tínhamos 200 funcionários. O DNER era praticamente nosso único cliente. Nossas primeiras obras foram na prefeitura do Rio, na gestão do Cesar Maia.
Ele abriu o mercado. Não exigia qualificação técnica mais restritiva que exigisse empresas maiores. Para nós foi ótimo. A gente sabia trabalhar com custo baixo, produtividade e ter um preço muito competitivo. Só existe uma forma, pelo menos para a Delta, que era uma empresa nova, de ganhar as concorrências: disputando preço.
Isso foi dito pelo filho do Cesar Maia [Rodrigo Maia, do DEM]: "Graças à Delta, nós tivemos essa economia de orçamento". Em todas as áreas em que atuamos, quem oferece preço baixo é a Delta.
Eu não sou mais querido por isso, não. Eu sou mais odiado. Esse nível de agressividade sempre foi na contramão da cultura do mercado.
Muitos se enganam, dizem que eu sou um cara muito articulado politicamente. Mentira! Eu sou o grande articulador, lobista profissional? Isso é uma mentira.

De que estados vêm seus maiores faturamentos?
Do Rio de Janeiro e de São Paulo, onde fazemos obras de conjuntos habitacionais, urbanização. Fizemos também a ampliação da Marginal [Tietê].

O escândalo prejudica os negócios?
Vou quebrar.

Será?
Vou quebrar. Quando a mídia vem com essa intensidade, existe uma reação imediata de órgãos de controle. Agora virei leproso, né? Agora eu só tenho defeitos, eu sou bandido.
O cliente [governo], que é um cliente político, abre sindicâncias para mostrar isenção. Suspende pagamentos.
Cria-se um clima péssimo na empresa. Os bancos vão suspender toda a nossa linha de crédito. Aí vem a Receita Federal. Todos precisam mostrar que a empresa tem que ser fiscalizada em todos os níveis. Não tenho caixa. Se eu não receber antes de acabar meu dinheiro, eu quebrei.

Frases

"Eu sou o grande articulador, lobista profissional. Isso é uma mentira. Não conheço Marconi, não conheço Demóstenes, não conheço Agnelo"

"Quando a mídia vem com essa intensidade, existe uma reação de órgãos de controle. [...] Os bancos vão suspender toda a nossa linha de crédito"

Socuerro! O grampo é cabeludo! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 19/04/12


E o homem mais rico do Brasil não é o Eike. O homem mais rico do Brasil é o Pina. Tudo vai pro Pina!

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Direto do País da Piada Pronta: "Mulher ateia fogo nos genitais do marido em PAU DA LIMA". Deve ser pra esquentar a relação! Rarará!
E esta direto de Curitiba: "Incêndio no Motel Caliente". Rarará! E mais uma manchete do "Piauí Herald": "Hospital confirma que Sarney tem todos os tipos sanguíneos".
E olha o que um cara escreveu no meu Twitter: "Cacciola perdoado. A que horas o Beira-Mar sai da cadeia?". Rarará!
E os vendedores de bilhetes da Loteria Federal em Brasília já estão reclamando. Quando eles gritam "Olha Federal! Olha a Federal!", sai todo mundo correndo.
E esse negócio de grampo tá ficando cabeludo. A Polícia Federal devia lançar um combo. PF-Combo: "Internet, telefone e grampo por R$ 39,90!".
E a CPI do Cachoeira? Finalmente apareceu algo de concreto: uma empreiteira!. Rolo com empreiteira é do tempo do Juscelino! E se chama Delta. Delta e Rola.
Agora eu vou ter que fazer dois trocadilhos: Demóstenes salta da cachoeira com asa-delta! E o que eu mais gosto é que a primeira vítima dos grampos foi um careca: o Demóstenes, atual Óstenes!
E se aparecer mais alguém do DEM negociando propina, o DEM vai ter que mudar de nome pra RECEBEM! Rarará!
E o Marconi continua a Perillo! E em Goiás tem um vilarejo chamado Cacete Armado. Essa vai ser a CPI do Cacete Armado. A CPI vai abrir assim: "Atenção, senhores: o cacete tá armado!".
E a corrupção é suprapartidária. Se corrupção desse caroço, o Brasil seria uma jaca! Rarará!
E o homem mais rico do Brasil não é o Eike. O homem mais rico do Brasil é o Pina. Tudo vai pro Pina! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
E eu já tenho uma "ídala" no novela "Avenida Plasil": Eliane Giardini, a Muricy, a barraqueira, aquela que ainda usa a palavra messalina! E diz que o Cachoeira emagreceu 16 quilos. Dieta a base de água!
E o Cachoeira tá preso em Mossoró, no Rio Grande do Norte! Que tem uma rivalidade histórica com Natal. Tanto que, no Natal, o povo de Mossoró não fala "Feliz Natal", fala "Feliz Mossoró!". Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Receita errada do FMI - ALBERTO TAMER


O Estado de S.Paulo - 19/04/12


As recomendações do FMI para o Brasil, divulgadas no seu Panorama Econômico Mundial, são pouco inovadoras e estão no mínimo atrasadas. O Fundo pede cautela com a política monetária para evitar um superaquecimento da economia, que não existe e só ele vê. Há ainda a contradição de recomendar ao Brasil e aos países emergentes maior concentração de esforços na expansão do mercado interno, pois não devem contar com um crescimento de apenas 3,5% da economia e do comércio mundial este ano, mas, ao mesmo tempo alertam para os riscos do "superaquecimento"...

"Os emergentes devem estimular a demanda interna, mas evitar um "superestímulo" à atividade econômica," diz o Fundo, textualmente.

Cabem aos países desenvolvidos crescer, acrescenta, mesmo sabendo que, à exceção dos Estados Unidos, eles não estão fazendo nada; ao contrário, adotaram políticas que levam à recessão.

E nós? Vejam só. No caso do Brasil, o FMI recomenda cautela com o corte de juros porque podem exacerbar a demandar e provocar "reaquecimento..." "O crédito elevado e o crescimento das importações sugerem que os riscos de superaquecimento não estão completamente sob controle e poderiam ressurgir se o fluxo de capital retornar aos níveis anteriores,"afirma textualmente o Fundo.

Mas ele não está prevendo um crescimento do PIB de apenas 3% este ano? Onde está o risco de "superaquecimento?" Há muita contradição nisso tudo.

Atrasado. Tudo indica que a análise e alertas do FMI se baseiam em fatos passados que há muito deixaram de existir. Não há no segundo trimestre do ano, nenhum, absolutamente nenhum sinal de "superaquecimento" no Brasil. Ao contrário, está evidente que as políticas monetária e fiscal no fim do ano passado foram de tal forma restritivas, que a economia simplesmente estagnou nos últimos meses.

A previsão do BC, quase sempre correta, é de que, em fevereiro, o PIB "cresceu" apenas 0,23%; no bimestre janeiro-fevereiro de 2011 e 2012, nada mais que 0,08%. Onde estão os riscos de "superaquecimento"que os economistas do Fundo estão vendo no Brasil?

É evitar a recessão. Ao contrário do que eles afirmam, o desafio atual do governo é crescer um pouco mais para evitar a recessão. Já estamos tendo um trimestre negativo, como mostram os indicadores preliminares de março.

O próprio Fundo admite em seu relatório que as taxas agora estimadas para este ano e o próximo são apenas 0,1% (erro estatístico como aquele 0,08%?) acima das projetadas em janeiro. Ou seja, estagnação.

De novo a pergunta que não se cala: onde estão os riscos de superaquecimento que exigem "cautela?" A inflação? Ora, ela até desacelera auxiliada pelo câmbio. Não deve passar de 5% este ano, está em torno de 4,5%, o que, afirmam economistas respeitáveis como Paul Krugaman, não é de todo indesejável em economias ameaçadas pela recessão, nas quais a proridade é crescer.

É preciso ousar mais. Ao contrário do que o FMI preconiza, a equipe econômica precisa ousar mais. É evidente que as medidas tributárias e fiscais adotadas nos últimos meses não foram suficientes para retomar o crescimento. A redução dos juros sozinha não bastou.

O que falta? Mais investimentos do governo para complementar os do setor privado, que enfrenta crescentes probelmas internos. Falta uma política comercial e industrial menos dispersiva que não podem estar separadas. E aqui o papel do Estado é essencial. Tudo indica que os governos federal, estadual e municipal investem pouco não tanto por fata de recursos, mas pelos entraves burocráticos.

Que venham os tsunamis. O que o Brasil precisa no momento é mais incentivo não só à demanda interna, que ainda sustenta a economia, mas investimentos internos e externos também. Que venham os tsunamis de dólares que irrigam a economia, criam empregos e produção. Estariam muito mal sem eles, agora que a outra fonte de recursos, a balança comercial, definha.

E continuarão vindo, sim, não por causa do aumento de liquidez externa, mas simplesmente porque o Brasil se imunizou contra crises financeiras e tem há anos uma política econômica consistente e confiável.

Como as moscas afogam suas mágoas - FERNANDO REINACH


O ESTADÃO - 19/04/12


Esquecer frustrações amorosas por meio da ingestão de bebidas alcoólicas é um comportamento comum entre humanos. A perda de um prazer é compensada por outro.

Há muitos anos se suspeita de que esse mecanismo de substituição seja controlado por sistemas complexos no cérebro. Muitos cientistas creem que o alcoolismo e a dependência de drogas são causados por alterações nesse mecanismo capaz de substituir prazeres negados por novas fontes de felicidade (mesmo que temporárias e destrutivas no longo prazo).

Agora, um grupo descobriu que um neuropeptídeo (uma espécie de hormônio no cérebro) é o responsável por esse mecanismo de compensação. É por meio dele que moscas privadas de atividade sexual passam a preferir alimentos contendo álcool. O estudo foi feito usando a Drosophila melanogaster, aquela mosca pequena que aparece sempre que deixamos uma banana madura em cima da pia.

As moscas foram divididas em dois grupos. Em um, moscas macho eram colocadas por algumas horas, todos os dias, com um número grande de fêmeas virgens. Como esperado, após um namoro que envolve uma dança e carinhos no abdome, os machos se acasalavam com as fêmeas. Isso foi repetido por quatro dias.

No final desse período, esses machos saciados foram colocados em um recipiente com dois tipos de comida: mingau tradicional e mingau com 15% de etanol. Com câmeras, os cientistas avaliaram se os machos preferiam a comida com ou sem etanol.

O outro grupo foi submetido ao mesmo tratamento, com uma diferença: as fêmeas já tinham sido fecundadas (nessa espécie, uma fêmea que já copulou rejeita o macho). Assim, os machos do segundo grupo foram rejeitados várias vezes por dia, durante quatro dias, por um número grande de fêmeas. Ao final do período, esses machos frustrados também puderam escolher entre o mingau comum e o com 15% de etanol. O resultado foi claro.

Os machos rejeitados preferiram a comida com etanol, enquanto os saciados sexualmente dispensaram o álcool.

No passo seguinte, os cientistas mediram a quantidade do neuropeptídeo F (NPF) no cérebro desses dois grupos. O resultado foi novamente claro: os machos frustrados possuíam níveis mais baixos do hormônio no cérebro; os saciados, um nível mais alto. O interessante é que o nível baixo de hormônio nos machos frustrados pode ser facilmente revertido se lhes forem oferecidas algumas fêmeas virgens. Após o sexo, esses machos têm o nível de hormônio aumentado e seu apetite por álcool diminui.

Esses resultados indicam que há uma correlação entre a atividade sexual, o nível de hormônio e a vontade de se embriagar. Mas isso é uma simples correlação ou uma relação causal?

Daí a vantagem de fazer esses estudos com essas moscas. Como a genética dessas moscas é facilmente manipulável, os cientistas alteraram os genes para diminuir o nível de hormônio sem submeter os machos à falta de sexo. Foi observado que moscas com pouco hormônio passaram a gostar de álcool, independentemente da atividade sexual. O inverso também foi observado.

Com base nessas observações, foi demonstrado que o sistema de produção do NPF media a substituição de um prazer negado por uma outra recompensa. É a primeira vez que se mapeia em detalhe o mecanismo molecular responsável por esse comportamento.

O interessante é que em humanos há um neuropeptídeo equivalente e muitas pesquisas em mamíferos já demonstraram que ele pode estar envolvido em fenômenos semelhantes. Se for provado que os humanos têm um sistema parecido com o das moscas, isso possibilitaria drogas para alterar seu funcionamento e talvez tratar pacientes com alcoolismo e diversas outras formas de dependência.

Quem imaginaria que as moscas também afogam suas mágoas com álcool e provavelmente compartilham conosco o mesmo mecanismo hormonal capaz de compensar uma frustração com outra forma de prazer?

Canibais no agreste - CONTARDO CALLIGARIS


FOLHA DE SP - 19/04/12

Os canibais do agreste são três loucos. A partir de que número eles seriam uma seita? E uma religião?

Na quarta-feira retrasada, em Garanhuns (PE), a polícia prendeu Jorge Beltrão Negromonte da Silveira, 51, sua mulher, Isabel Cristina Torreão Pires da Silveira, também 51, e Bruna Cristina Oliveira da Silva, 25, que vivia com o casal e era a amante de Jorge.

Os três são acusados de ter matado no mínimo três jovens mulheres: duas nos últimos meses, em Garanhuns, e outra, em 2008, em Olinda. Eles confessaram ter comido pele, vísceras e carne das vítimas. Isabel declarou ter usado esses ingredientes na preparação de empadas que ela vendia cidade afora. Os restos das vítimas recentes foram encontrados no quintal da casa do trio.

Jorge, formado em educação física e com uma segunda faculdade ao menos começada, deixou um manuscrito de 34 minicapítulos e cinco desenhos registrado em cartório (como se temesse pelos direitos autorais). Também existe um filme, que Jorge e Isabel produziram e no qual eles atuaram, anos atrás. Bruna, ao que parece, escreveu um diário, que acaba de ser encontrado.

Passei a tarde de domingo lendo o manuscrito de Jorge; o memorial se interrompe pouco depois da primeira vítima, Jéssica (a qual, antes de ser morta, pariu uma menina, que passou a viver com o trio e de quem Jorge afirma ser o pai).

No memorial, Jorge também relata o diagnóstico de esquizofrenia paranoide, as tentativas de medicação e a passagem por diversos serviços de saúde mental.

Numa entrevista televisiva (http://migre.me/8GY8q), Jorge conta que as vítimas precisavam ser purificadas, e purificar as almas era a "missão" do trio. As mulheres, atraídas por propostas de trabalho, eram levadas, na conversa, a falar "coisas boas", de maneira a poderem morrer "perdoadas".

Comer a carne era parte do ritual de purificação; talvez os assassinos incorporassem assim a nova "pureza" de suas vítimas -afinal, segundo muitos antropólogos, o canibal assimila as qualidades da pessoa de quem ele se alimenta. De fato, depois do primeiro assassinato, Bruna passou a ser chamada de Jéssica, nome da primeira vítima.

Seja como for, o crime do trio inspirou um horror descomunal. Populares de Garanhuns, não podendo linchar os três, lincharam a casa, que foi saqueada e queimada por duas vezes.

De fato, o autocanibalismo é frequente (as pessoas comem suas unhas e peles sem problema), mas o canibalismo é muito raro. Aparece na ficção (Hannibal Lecter) e em alguns casos em que está ligado a fantasias sexuais extremas (vide o caso de Jeffrey Dahmer e o caso de Armin Meiwes, que, na Alemanha, em 2003, encontrou Bernd Brandes, o qual queria ser devorado e participou da comilança de seu próprio corpo até morrer). Desse canibalismo sexual sobra em nós a vontade de morder o ser amado -além do duplo sentido lusitano de "comer".

Fora isso, o canibal é sobretudo uma construção cultural, que serve para apontar a selvageria no primitivo e no outro em geral (sobre isso, ler o excelente "An Intellectual History of Cannibalism", de Catalin Avramescu, Princeton).

Agora, o canibalismo, para Jorge, não foi um transporte sensual ou sexual, mas o jeito louco de se dar uma identidade e um sentido. Os cristãos sustentam sua força espiritual incorporando simbolicamente o corpo de Cristo na comunhão; Jorge tentou se tornar alguém no mundo devorando realmente suas vítimas purificadas. Ele conseguiu: tornou-se a mão vingadora do arcanjo, com a "clara" missão de purificar o mundo.

Alguém me perguntou: como três pessoas podem compartilhar a mesma loucura?

A psiquiatria francesa do século 19 nomeou a "Folie à deux" (loucura a dois), que o DSM (manual de diagnóstico de transtornos mentais) hoje chama de Transtorno Psicótico Compartilhado. Às vezes, dois ou mais psicóticos podem influenciar reciprocamente a elaboração de seus temas delirantes. Mais frequentemente, a loucura é imposta a outros (não psicóticos) por um personagem dominante (Jorge, no caso), cujo delírio seduz e conquista. Como assim, seduz?

Num mundo em que a maioria sofre de uma tremenda fragilidade narcisista, ou seja, da sensação de ser invisível e desnecessário, os Jorges só podem proliferar, pois eles garantem muito mais do que pão: eles garantem um sentido e uma função no mundo para todos.

Os canibais do agreste são três loucos. A partir de que número eles seriam uma seita? E uma religião?

A verdadeira faxina ética - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 19/04/12


À medida que o tempo passa e novas denúncias vão surgindo, fica mais claro que a CPI do Cachoeira é uma grande oportunidade para fazer a verdadeira faxina ética que os acontecimentos estão a exigir da sociedade brasileira. Criada por interesses nem sempre os mais transparentes, essa CPI pode se transformar na nossa chance de zerar o jogo político e começar de novo, diante das evidências de que os tentáculos da quadrilha do bicheiro goiano há muito evoluíram para além de suas próprias fronteiras.
Parece claro a esta altura que a CPI dificilmente servirá aos interesses partidários que a geraram, dentro do PT ou até mesmo na oposição, que começou o processo como a grande vítima devido à descoberta das ligações do senador Demóstenes Torres com o bicheiro, e quer virar o jogo trazendo para o centro do ringue o onipresente José Dirceu, ícone de uma ala da esquerda petista que pretendia, nas palavras de um de seus mais importantes seguidores, o presidente do PT, Rui Falcão, usar a CPI para denunciar "a farsa do mensalão".
Todas as indicações são no sentido de que, mesmo antes de se conseguir montar as representações partidárias para compor a CPI, as dissensões na base aliada servirão de pano de fundo da comissão, em torno da qual o governo só terá maioria conjuntural, dependendo de quem estiver no alvo naquele justo momento.
Haverá ocasiões em que o PMDB estará ao lado das oposições para deixar o PT em maus lençóis, haverá outros em que um pequeno partido da base aliada poderá trair o governo, para se vingar de alguma ação pretérita ou para se cacifar para negociações futuras.
Nascida da sede de vingança do ex-presidente Lula contra o governador tucano de Goiás, Marconi Perillo, uma CPI de amplo espectro como esta dará oportunidade a todos de tentar apanhar seus desafetos em algum "malfeito".
Pegue-se o caso da construtora Delta, que, assim como seu parceiro Carlinhos Cachoeira, tem obras em praticamente todos os estados brasileiros, acima dos partidos, tendo como objetivo apenas o lucro imediato. Como expô-la ao escrutínio da CPI exporá também governadores e políticos de diversos calibres e siglas partidárias, dificilmente será possível protegê-la, e sobrará para todos os lados.
Essa briga de foice no escuro, sem uma organização clara, pode, afinal, ser boa para a cidadania, pois apenas os que não estão fazendo militância política não têm nada a perder com ela.
Por uma dessas conjunções de forças que o destino às vezes arma, estamos entrando num momento, a partir de hoje, em que o Poder Judiciário será comandado por dois ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que já deram mostras, pelos seus votos e posicionamentos anteriores, de que têm a mesma percepção sobre a necessidade de reforçar a ética nas relações políticas e sociais: a ministra Cármem Lúcia assume o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e o ministro Carlos Ayres Britto, o Supremo Tribunal Federal.
Como a Lei da Ficha Limpa tem uma nítida correlação com o julgamento do mensalão, o empenho dos dois será para que o processo entre em pauta a tempo de deixar livre o caminho para a realização das eleições sem questões jurídicas pendentes.
O novo presidente do STF tem até novembro para colocar em julgamento o processo do mensalão, pois naquele mês se aposentará por ter atingido a idade máxima. Por isso ele tem deixado claro nas entrevistas dos últimos dias que fará tudo para que o término do julgamento ocorra até 6 de julho, data em que o processo para as eleições municipais começa oficialmente.
No entanto, o que parecia uma data-limite transformou-se apenas em uma "data ideal", pois o ministro Ayres Britto deixou claro que o julgamento ocorrerá mesmo que concomitantemente ao processo eleitoral.
O ministro Marco Aurélio Mello, que assumirá a vice-presidência do Tribunal Superior Eleitoral, também não vê motivos para que a eleição impeça o julgamento, pois "não estamos engajados em política partidária". Nem mesmo a aposentadoria de um dos membros em meio ao julgamento seria causa de interrupção, considera Marco Aurélio Mello, pois o voto de Minerva do presidente pode decidir eventual empate.
Essa questão surge quando se sabe que o ministro Cezar Peluso se aposentará em setembro, e há quem considere que um processo tão delicado politicamente como o mensalão só poderia ser julgado com os 11 ministros presentes.
O ministro Marco Aurélio Mello só dista da tendência geral quando considera disparatada a ideia de usar o recesso de julho, se necessário, para realizar o julgamento.
O ministro Ricardo Lewandowski, que é o responsável não apenas pelo voto do revisor no mensalão, mas também está com o processo do envolvimento do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) com a máfia do bicheiro Carlinhos Cachoeira, parece já ter entendido a ansiedade da opinião pública e promete dar seu voto em breve.
O ambiente político desencadeado pela convocação da CPI, em vez de neutralizar o julgamento do mensalão, está estimulando o anseio da sociedade pela punição dos responsáveis pela corrupção, venha de onde vier.

Régua e compasso - DORA KRAMER

O ESTADÃO - 19/04/12


Se estiver dando para entender direito o que o PMDB anda dizendo sobre a CPI da vez, o partido tem um plano. Posa de bom conselheiro, na certeza de que o PT se enrola todo e acaba deixando o governo em maus lençóis.

Instalada a confusão, usa de sua influência e experiência para salvar a situação abatendo logo dois coelhos: enfraquece o parceiro que identifica como um bom amigo da onça e recuperaprestígio no Palácio do Planalto.

Entraria em cena assim como uma espécie de guia genial dos povos.

Na teoria, como sempre, tudo corre bem. O problema dos planos muito bem elaborados é a desobediência da realidade e a insubordinação das consequências.

Em 2005 a oposição projetou o sangramento político do então presidente Luiz Inácio da Silva considerando desnecessário confrontar sua investidura no cargo com a confissão do publicitário Duda Mendonça sobre uso da caixa dois na campanha presidencial.

Em 2010 a mesma oposição planejou com capricho uma vitória e com o mesmo afinco ajudou Lula a construir uma derrota.

Há inúmeros exemplos da distância existente entre a projeção e a execução de empreendimentos.

Até engenheiros considerados muito competentes cometem erros de cálculo. Note-se o ex-presidente Lula agora no papel diverso do acima citado.

Por enquanto seus planos para Fernando Haddad como candidato aprefeito de São Paulo não tem saído conforme o roteiro original, embora essa ainda sejauma obra em aberto e pode haver modificações.

O que não se alteram são os relatos sobre a oposição da presidente Dilma Rousseff à ideia de Lula de incentivar a comissão de inquérito com o propósito de dar o troco em adversários e anuviar o ambiente de julgamento do mensalão.

O senador Delcídio Amaral, do PT, acha o gesto equivocado: “São coisas diferentes, tratadas em foros distintos e, além do mais, misturá-las só serve para enervar o Supremo e complicar em vez de facilitar a situação”.

É a tal história dos planos: assim como ninguém garante que o PMDB possa controlar a situação e ficar de fora do que venha por aí, tampouco é possível assegurar que se houver seriedade nas investigações originadas nas relações do senador Demóstenes Torres com Carlos Augusto Ramos, não se tenham escarafunchadas as relações entre governos (federal inclusive) e empreiteiras.

Com repercussão direta e imprevisível sobre o PAC e demais obras públicas. Não é à toa nem por acaso que há anos se tenta sem sucesso e se evita com grande êxito sentar essas senhoras nos bancos de uma CPI.

Cerca Lourenço. De todas as cenas impróprias que a política produz dia sim outro também, entre as recentes a pior é a do deputado João Paulo Cunha, dublê de réu do mensalão e presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, em périplo aos gabinetes dos ministros do Supremo Tribunal Federal.

Por ora pediu audiências a cinco ministros e foi atendido por um, justamente José Antônio Dias Toffoli, assessor jurídico da Casa Civil à época do escândalo e depois advogado-geral da União.

A alegação de que teria ido entregar relatório sobre alterações no Código Penal não faz sentido, pois Cunha além de não ser o relator (era o deputado Sérgio Barradas Carneiro) não tinha delegação para tal.

A motivação óbvia é “sentir o clima” entre os ministros. Uma inconveniência, de parte a parte.

Bendita. Ao contrário do que diz o a partir de hoje ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Cezar Peluso, Eliana Calmon deixará sim um legado importante como corregedora do Conselho Nacional de Justiça.

Ela pode não ter, como disse o ministro, “apresentado resultados concretos” sobrevárias denúncias envolvendo magistrados. Até porque não é senhora do tempo da conclusão dos processos.

Mas contribuiu com atitude, pondo vários pontos em muitos “is”. O que não é pouco no ainda obscuro ambiente da Justiça.

Guinada no Supremo - ELIANE CANTANHÊDE


FOLHA DE SP - 19/04/12


BRASÍLIA - Depois de dois anos de discrição na presidência do Supremo, Cezar Peluso passa o bastão hoje com o carimbo de corporativista e chutando o pau da barraca.
A expressão é inadequada? E que tal o que Sua Excelência disse ao site Consultor Jurídico sobre a presidente da República, a corregedora do CNJ, um senador e colegas do Supremo?
Ele acusou Dilma de "descumprir" e "ignorar" a Constituição por não ceder às suas pressões por aumento para o Judiciário, ironizou a gestão da ministra Eliana Calmon no CNJ ("Que legado deixou?"), criticou o ministro Joaquim Barbosa como quem joga para a opinião pública e foi grosseiro ao dizer que o senador Francisco Dornelles defenderia interesses "de bancos e (...) de grandes bancas de advocacia".
Se a gestão de Peluso foi marcada pelo corporativismo, a favor de aumentos que irritavam o Planalto e contra o alcance das investigações do CNJ, a do sucessor, Ayres Britto, corre o risco de cair no populismo, ao sabor de pressões de setores da sociedade que até fazem sentido, mas não estão acima da lei.
Às vésperas de assumir, o novo presidente admitiu que já voltou atrás em alguns votos. Até aí, soa como cândida confissão de humanidade e de humildade. Mas faltou dizer por que mudou, mudou por quê?
No caso Cesare Battisti, Ayres Britto ficou aborrecido quando anunciamos que mudaria o voto. Em longo telefonema, elegante, é verdade, garantiu que "não era homem" de decidir o voto por pressão de ninguém. O voto, ele não mudou, mas fez um contorcionismo técnico interessante que mudou o próprio resultado do julgamento. Battisti ficou.
Na presidência até novembro, Ayres Britto terá a opinião pública com um olho na CPI e outro no "mensalão". O PT comemora sua posse por considerá-lo "aliado", e a oposição, por achá-lo suscetível à pressão pública. Esses meses serão o grande teste de uma vida inteira.

Hora de dar nomes aos bois - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 19/04/12


A CPI do Cachoeira finalmente ganha corpo, com a reunião das assinaturas necessárias para o ato de instalação. Em boa hora.
Falando em homenagem que recebeu na Câmara dos Deputados, disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: "Acho que o país cansou. Então, talvez seja o momento de o Congresso crescer, e fazer uma CPI que vá à raiz das questões."
Na raiz das questões estão fenômenos como o contraventor Cachoeira, instalado nas dobras do governo de Goiás, manipulando políticos como o senador Demóstenes, ou a empreiteira Delta, cujo proprietário, grande executor de obras do PAC, se gaba de dobrar políticos pondo 30 milhões nas mãos deles.
Já há tempos que o país anda com a corrupção entalada na garganta. De repente, parece que um limite é ultrapassado. E acontece o inédito: todos a favor da CPI, governistas e opositores igualmente sorridentes, mostrando listas de assinaturas. Supõe-se que houve erro de cálculo, a começar pelo ex-presidente Lula, que tocou a ferro e fogo a ideia, porque achava que apanhava políticos da oposição - em especial o governador de Goiás, seu desafeto. Mas a euforia petista já refluiu, porque, como se sabe, ninguém sabe como termina uma CPI.
Outra expectativa do PT era de que a CPI do Cachoeira atrapalharia o ritmo do julgamento, pelo Supremo, da questão do Mensalão. Mas já se sabe que não vai ser assim. As duas coisas podem perfeitamente caminhar pari passu. Quem afirma é o novo presidente do STF, ministro Ayres Britto, que foi explícito ao dizer que é preciso andar rápido, porque há o risco de prescrição de alguns delitos.
Também há o risco de esse andamento conflitar com o calendário eleitoral, porque, a partir de julho, ministros do Supremo serão também ministros do Superior Tribunal Eleitoral. Mas isso não impedirá o julgamento. Cobra-se pressa, no STF, do relator, ministro Lewandowski. Como já foi dito, ninguém quer passar à História como coveiro desse processo.
O julgamento é necessário, entre outros motivos, para extinguir a alegação esdrúxula de que toda a história não passa de uma farsa. Se fosse farsa, a Procuradoria Geral da República, que ofereceu a denúncia em 2006, e o Supremo Tribunal Federal, que no ano seguinte transformou a denúncia em processo, seriam coadjuvantes. Mas não é assim: trata-se de um julgamento crucial, porque o que aconteceu em 2005 foi a mais audaciosa tentativa de que se tem notícia de comprar um Parlamento. "O cruzamento dos dados bancários e a quebra de sigilos possibilitaram a verificação de repasses de verbas a todos os beneficiários", disse o procurador, que usou o termo "sofisticada organização criminosa" para descrever a operação, citando nominalmente, como envolvidos, José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoíno.
É tudo isso que passará agora pelo crivo do STF, assim que o ministro Lewandowski entregar o seu relatório. O ministro Ayres Britto explica que colocar para julgar com brevidade não significa prejulgamento, ou predisposição para condenar. Mas o necessário é que, sem perder a objetividade, as coisas sejam chamadas pelos seus próprios nomes.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 19/04/12


Seca no Sul eleva preço da energia industrial

A seca no Sul do país fez o preço da energia comercializada à vista no mercado livre aumentar 1.629% na região.

Na terceira semana de janeiro, o valor era de R$ 12,20 o MWh (megawatt/hora). Nesta semana, alcançou R$ 210,95.

"O único fator que explica essa alta é o regime pluviométrico", afirma o coordenador da área de preço da CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), Gustavo Arfux.

A falta de água nos reservatórios do Sul, que estão com 30% da capacidade -o menor nível em doze anos-, elevou também o preço da energia contratada em todo o país. No Norte e Nordeste, chegou a R$ 187,17 MWh.

"Com hidrelétricas desligadas no Sul, o Sudeste passa a transmitir uma quantidade expressiva [de energia]. Encarece em todas as regiões", afirma Alexandre Nunes Zucarato, gerente de inteligência de mercado da CCEE.

Desde o segundo semestre de 2010, a energia não ultrapassava os R$ 200. Na ocasião, o preço foi registrado no Nordeste, que sofria com estiagem.

A alta dos preços deve atingir as indústrias que compram no curto prazo.

"Se a empresa estiver com seus contratos vencendo vai ter que arcar com esse custo maior", afirma o coordenador do grupo de energia da Fiergs, Carlos Farias.

"As empresas que forem oneradas devem, fatalmente, repassar o custo", diz o presidente da Câmara de Energia da Fiesc, Otmar Müller.

de volta para casa

O INDG, instituto que faz consultoria de gestão comandado por Vicente Falconi, adquiriu a Avention. Falconi já foi consultor de algumas das maiores empresas brasileiras.

A Avention foi fundada em 2010 por nove ex-consultores do próprio INDG, que deixaram o instituto por discordarem da gestão de José Martins Godoy, então presidente.

O retorno dos consultores está ligado ao rompimento de Falconi com José Martins de Godoy, cofundador do INDG. Em setembro de 2011, Godoy deixou o instituto em razão das divergências.

Em um comunicado interno, Falconi disse que "tendo passado as condições que provocaram a saída deles do INDG", foi possível iniciar conversas para a aquisição.

A Avention, que se dedica a consultoria para empresas familiares, continuará atuando nesse segmento. Procurado, o INDG não comentou.

PROATIVIDADE

Nos últimos dias, alguns banqueiros reservadamente passaram a jogar na conta de Murilo Portugal, presidente da Febraban, a responsabilidade pela polêmica criada com o ministro Guido Mantega (Fazenda) na semana passada sobre corte de juros.

Nas palavras de um alto executivo de um grande banco de varejo, Portugal precisa deixar de ser "secretário-executivo" e propor mais em vez de esperar que as propostas surjam.

A avaliação foi que, na reunião com a equipe econômica, ele agiu como se ainda estivesse do outro lado do balcão, mais para esvaziar a iniciativa do que promovê-la.

O homem de confiança da Fazenda durante a gestão Palocci, porém, não estava sozinho na reunião com o governo. Representantes dos dez maiores bancos do país, que discutiram o que seria apresentado, também estavam.

IMÓVEIS EM EXPANSÃO

A Lafem Engenharia acaba de concluir o novo campus do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais) no Rio de Janeiro.

O prédio abrigará a terceira unidade do instituto na cidade, que terá cinco andares e 41 salas de aula, distribuídas em um espaço total de 13 mil m².

"A demanda do mercado por prédios sob medida e 'retrofit' (revitalização de imóvel sem mudar a estrutura principal) é muito forte", diz o presidente da Lafem, Ernani Cotrim.

O empreendimento, que custou cerca de R$ 50 milhões, foi encomendado pela Pátria Investimentos, que alugará o imóvel para o Ibmec por meio de um contrato de longo período.

Com o mercado aquecido, Cotrim estima um faturamento de R$ 220 milhões neste ano, um aumento de R$ 100 milhões em relação ao obtido pela empresa no ano passado.

Empilhado A Somov, empresa de movimentação de cargas do grupo Sotreq, vai investir R$ 15 milhões até o agosto para receber a representação das empilhadeiras Yale, fabricadas pela Nacco.

Tecido As vendas do comércio atacadista de tecidos caíram 1,5% na primeira quinzena de abril, ante igual período de março, segundo levantamento do Sindicato do Comércio Atacadista de Tecidos, Vestuários e Armarinho do Estado de São Paulo.

Terror... A visitação do parque paulistano Playcenter, que encerra suas atividades neste semestre, registrou aumento de público de 25% nas últimas semanas, de acordo com a empresa.

...no parque O parque vai investir cerca de R$ 4 milhões na produção do último evento Noites do Terror, cujo garoto propaganda será Zé do Caixão. Cerca de 300 profissionais serão contratados para a atração, que começa no final deste mês.

Resultados negativos... No voo 1205 da GOL, de Brasília para Congonhas, na última segunda-feira, o comissário de bordo foi surpreendido por uma reclamação de que a batata chips servida (da marca Lucky) estava vencida.

...nas aéreas Constrangido, desculpou-se e passou a checar a validade antes de entregar. Relaxou depois de servir três fileiras, sem problema. Mas, aí, nova reclamação, em tom mais irritado: "vencido há 15 dias!"

O mito da prescrição - RENATO DE MORAES

O GLOBO - 19/04/12


Nos bancos acadêmicos, mais precisamente no 2, ano da Faculdade de Direito, quando o aluno debuta em Direito Penal, o ensino da prescrição cria dúvidas e questionamentos, provavelmente porque a escolha pela área de humanas tenha gerado a percepção enganosa de que números e cálculos não mais habitariam o seu universo pós-vestibular. Uma vez, entretanto, explicadas as premissas, diagnosticar quando o Estado perdeu ou está em vias de perder, pelo passar do tempo, o direito de punir aquele a quem imputou o cometimento de crime torna-se tarefa cotidiana no exercício profissional.

Não se desconhece que o processo do Mensalão, assim denominado o pretenso esquema de compra de votos de parlamentares, está submetido, na leitura que fez Antônio Evaristo de Moraes Filho, à ocasião em que defendeu e absolveu Fernando Collor, perante o Supremo Tribunal Federal, ao “duplo debate”: o político e o jurídico. Porém, as recorrentes e incorretas manifestações públicas — vindas de curiosos e, pasmem, de expoentes, com notório saber — de que as penas dos delitos veiculados na denúncia prescreverão, se não julgados ainda neste primeiro semestre, merecem reflexão para identificar sua origem.

De acordo com o relatório disponibilizado em dezembro passado pelo ministro Joaquim Barbosa — como norte temporal, para avaliar a incidência da prescrição —, tem-se que os supostos fatos ilícitos cessaram em 2005, e a denúncia foi recebida pela Suprema Corte em agosto de 2007, sendo este o primeiro marco interruptivo da prescrição. De 2007 até hoje, transcorreram quase 5 anos.

A título ilustrativo, tomemos, como parâmetro, a alegada prática de integrar quadrilha e de corruptor, atribuída aos1, e 2, denunciados, José Dirceu e José Genoíno. A pena para quadrilha transita entre 1 e 3 anos, além de multa. Logo, somente em setembro de 2015 incidiria a prescrição da pena máxima. Em relação às penas mínima (1 ano) e média (2 anos), se vierem a ser dosadas na futura sentença — que pode ser absolutória, não esqueçamos —, já estariam prescritas, porque, em setembro de 2011, quando ainda em curso a instrução, completaram 4 anos desde o recebimento da denúncia. Fato consumado.

Sobre a corrupção ativa, cuja reprimenda fica entre 2 e 12 anos, e pena pecuniária, somente em 2023 ocorreria a prescrição da pena, caso não julgado o Mensalão. E essa hipótese é impensável.

Isso significa que julgar no primeiro semestre corrente, no subsequente ou no ano vindouro não alterará em nada, absolutamente em nada, o processo do Mensalão sob a ótica da prescrição.

A origem do alarme falso da prescrição reside na tentativa de se colocar no córner a Suprema Corte, impulsionando um “justiçamento”, e não um julgamento imparcial, à luz da prova e do direito. Tanto que, em toda exortação, só se alardeia condenação e pena — daí o tema prescrição vir à superfície —, nunca o insucesso da acusação.

Em “maxiprocessos”, na expressão do jurista argentino Eugenio Raul Zaffaroni, os quais envolvem muitos réus e questões complexas, o exame das alegações defensivas demanda tempo, e circunspeção, a fim de que se possa entregar justa e legítima prestação jurisdicional.

A opinião pública — ou publicada —, que já processou, sentenciou e condenou os réus do Mensalão, preferiria, seguramente, o julgamento sumário, à forma como se procedia em época remota, por exemplo, nos Estados Unidos da América, como lembrou o velho Evaristo de Moraes, em “Reminiscências de um Rábula Criminalista”.

Felizmente, os tempos são outros. Como sempre adverte o ministro Marco Aurélio, “em um Estado Democrático, em um Estado de Direito, hão de ser respeitados princípios, hão de ser observadas balizas. Eis o preço que se paga — e é módico, estando ao alcance de todos — por nele se viver”, complementando: “Avança-se no aprimoramento da vida em sociedade respeitando-se o arcabouço normativo regedor da espécie.”

Embora compreensível a grita, a essência contramajoritária dos tribunais constitucionais faz presumir que a pressão externa — principalmente com base em argumento distorcido, como a iminente prescrição — não surtirá efeito algum. E não influenciará a análise detida do ministro Ricardo Lewandowski, que analisa os autos apenas desde março último e a quem incumbe a importante missão de revisor.

Próximo passo - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 19/04/12




A dúvida é o que acontecerá a partir de agora com a taxa Selic. Que ontem os juros seriam reduzidos, todos sabiam. A pergunta que continua sendo feita é até que ponto as taxas poderão continuar caindo. O ponto mais baixo que os juros básicos do Brasil chegaram foi 8,75%, um pouco antes da crise de 2008. Os termos da nota divulgada ontem pelo Banco Central voltaram a abrir as portas para novas reduções.

Na ata da reunião de março, o BC deu a entender que levaria os juros a 9%, ao dizer que havia alta probabilidade de a Selic chegar a "patamares ligeiramente acima dos mínimos históricos, e nesses patamares se estabilizando". Pois ontem o Copom levou os juros a 9% e disse que estava "dando seguimento ao processo". Ou seja, não demonstrou já ter atingido o objetivo. A leitura feita pelo mercado, logo após a nota, é de que novos cortes podem acontecer.

O Brasil tem um problema que não é de solução fácil. Economistas do governo, e de fora do governo, já fizeram avaliações tentando projetar uma fórmula para que a Selic possa cair mais. O piso acaba sendo a remuneração da caderneta de poupança.

- A poupança é corrigida em TR mais 6% ao ano, o que dá entre 7% e 7,5% ao ano. Quando a gente fala de Selic a 9%, estamos falando, na verdade, da taxa bruta, mas é preciso descontar o Imposto de Renda, que varia de 15% a 22,5% sobre o rendimento, e a taxa de administração. O Imposto de Renda não incide sobre a poupança. Quando se tira essas taxas, a rentabilidade dos fundos cai para níveis próximos da poupança - diz Miguel de Oliveira, da Anefac.

As aplicações de renda fixa são lastreadas pelos títulos do Tesouro. Se houver corrida para a poupança, isso desequilibraria o financiamento dos títulos da dívida pública.

O grande debate é este: a partir de que ponto da taxa Selic haverá competição entre fundos de renda fixa e cadernetas? Há também o peso das chamadas "exigibilidades": 65% do que é captado via caderneta de poupança têm obrigatoriamente que ir para o mercado imobiliário. A ligação entre poupança e mercado imobiliário criou uma teia de ativos e passivos que poderiam ficar descasados caso houvesse uma mudança na fórmula de remuneração da caderneta.

Em termos jurídicos, dificilmente se sustentaria uma mudança retroativa, o que significa que contas já abertas não podem ter agora uma mudança na regra de remuneração. Se algo for alterado terá que ser para as novas contas. O poupador brasileiro sofreu a violência do governo Collor. E esse trauma pode reaparecer só de falar em qualquer mudança na fórmula de cálculo da caderneta. Esse produto financeiro é o preferido de quem tem pouco para poupar e tem um perfil bem conservador. Portanto, toda vez que a Fazenda falou em mudanças na poupança teve que voltar atrás e negar que estivesse pensando no assunto tabu. Em ano eleitoral, então, mais proibido ainda fica esse tema.

A Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade) divulga hoje cálculos que fez para medir a atratividade da poupança em relação aos fundos de investimento, num contexto de Selic a 9%. Os dados, que foram antecipados à coluna, mostram que a poupança vence em 16 das 20 simulações, que variaram em prazos de resgate e taxas de administração cobradas pelos bancos. Continuar nos fundos só seria melhor negócio com as menores taxas e os maiores prazos de resgate.

"A poupança já ganha dos fundos na maioria das situações (com a Selic a 9%), sendo que quanto menor o prazo de resgate da aplicação, bem como maior for a taxa de administração cobrada pelo banco, maior vai ser a vantagem da poupança frente aos fundos", explicou a Anefac.

Desde setembro, o IPCA está em queda forte, mas o total acumulado nos últimos 12 meses está acima do centro da meta. Os economistas especializados no tema acham que a inflação pode subir no final do ano com a entrada da entressafra, que este ano deve ser mais forte que nos anteriores. A Petrobras tem dado sinais de que os preços da gasolina vão subir. O produto tem um alto peso no índice.

E, por fim, alguns economistas acreditam que pode haver uma onda inflacionária no mundo em consequência do excesso de liquidez no mercado financeiro internacional. A política monetária excessivamente expansionista pode alimentar um aumento de preços assim que a economia retomar um ritmo normal de atividade. Tudo isso terá que ser pesado pelos integrantes do Copom na próxima reunião. Por isso, a ata da próxima quinta-feira deve ser lida com lupa atrás de sinais dos passos seguintes do BC.

O nível de atividade deve melhorar nos próximos meses. Uma das fontes do estímulo será a Selic, mas outra, mais forte ainda, é a redução que está havendo nas taxas bancárias. Ontem, Itaú e o Bradesco deram o braço a torcer e seguiram Banco do Brasil e Caixa Econômica, derrubando os juros que cobram das empresas e dos clientes pessoa física. O movimento que o governo iniciou está dando certo. O resultado será um reforço a mais no estímulo econômico, o que é bom para uma economia que está estagnada, no momento. Mas o ritmo mais aquecido pode aumentar a probabilidade de um cenário de elevação de preços do final de ano.

Por tudo isso, a próxima reunião será difícil. Até aqui, a derrubada da Selic foi mais fácil de decidir do que os próximos movimentos a serem feitos pelo Copom. O que a presidente Dilma está avisando é que quer juros nos patamares internacionais. Hoje, no mundo, se pratica juros negativos. Quanto mais poderá cair a Selic? Não percam as próximas reuniões do Copom.

Ação preventiva - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 19/04/12


As ministras Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Miriam Belchior (Planejamento) convocaram para hoje uma conversa com líderes da base aliada para propor que o RDC (Regime Diferenciado de Contratação) seja estendido para obras do PAC. Atualmente, o regime que flexibiliza as regras de licitações vale para as obras relacionadas à Copa de 2014 e à Olimpíada de 2016.

O Palácio do Planalto já admite que os contratos da empreiteira Delta, principal parceira do PAC, mas agora arrastada para o centro do caso Carlinhos Cachoeira, não devem sobreviver à CPI. Caso isso ocorra, o canteiro de obras seria paralisado, principalmente no setor de transportes, onde a Delta concentra seus contratos.

Contenção Na conversa que teve com membros do Conselho de Ética do Senado, o ministro do STF Ricardo Lewandowski mostrou-se disposto a compartilhar informações do inquérito da Operação Monte Carlo sobre Demóstenes Torres, mas desde que "isoladas" de outras referentes a autoridades, protegidas por sigilo.

Grampo Conversa gravada pela Polícia Federal entre Demóstenes e o empresário Carlinhos Cachoeira lança suspeita de negociação de contratos com o prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela (PMDB). "Falou com o Maguito?", pergunta Cachoeira. "Falei, ele disse que cumpriu tudo, para você ficar tranquilo que já vai começar", responde o senador.

Time As investigações da PF também encontraram tentáculos do grupo de Cachoeira no futebol: cheques de empresas apontadas como laranjas da Delta foram usados para contratar jogadores e apoiar clubes. Em tempo: a Delta é patrocinadora do Atlético-GO e do Anapolina.

Alvos Além do governo do Distrito Federal, outro foco de temor do PT no "Cachoeiragate" é a dupla de prefeito e vice em Anápolis (GO), Antônio Gomide e João Gomes. No caso do vice, o alerta é pela ligação com empresas enroladas no esquema.

Gaveta O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), arquivou anteontem representação do policial legislativo Rubens de Araújo Lima contra o deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), agora às voltas com o caso Cachoeira. Ele é acusado de racismo e quebra de decoro.

Barrados no baile O Palácio do Planalto decidiu vetar o "CQC" nos próximos eventos e nas viagens da presidente Dilma Rousseff. A decisão foi tomada depois de incidente com a equipe do programa na visita de Hillary Clinton, anteontem.

Beija-mão O ex-presidente Lula disse a petistas que defendem apoio do partido a Gustavo Fruet (PDT) em Curitiba que quer conversar com o ex-tucano antes de decidir se subirá em seu palanque. Quer saber que tipo de revisão Fruet pretende fazer dos ataques que proferiu na época do mensalão.

Telinha Gabriel Chalita será a estrela da nova leva de inserções do PMDB que começam a ser veiculadas hoje na TV. Já sob a batuta de Manoel Canabarro, marqueteiro que fará a campanha à prefeitura paulistana, as peças têm como mote o slogan "Construir São Paulo".

Laços O líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), tem articulado para retardar a votação da PEC da Música, que dá imunidade tributária para gravações. O suplente de Braga é o empresário Lírio Parisotto, que entre seus negócios controla a Videolar, fabricante de CDs e DVDs na Zona Franca, interessada no assunto.

com SILVIO NAVARRO e ANDRÉIA SADI

tiroteio

Agora está explicado por que a oposição não tem bandeira: de dia ela critica o governo, mas à noite coloca dinheiro em obras do PAC, ainda que para governar só um pouquinho.

DO DEPUTADO ANDRÉ VARGAS (PT-PR), ironizando os diálogos flagrados pela Polícia Federal entre o senador Demóstenes Torres (GO) e o empresário de jogos Carlinhos Cachoeira para favorecer a empreiteira Delta, parceira do PAC

contraponto

Sinônimos

O vice-presidente da República José Alencar (1931-2011) discursava no Congresso na abertura da Legislatura de 2010, lembrando o seu mandato de senador.

-Abri mão de quatro anos do mandato. Abdiquei, não renunciei, porque tenho preocupação com essa palavra.

O plenário silenciou em clima de interrogação, e Alencar continuou, para gargalhada geral:

-O diretor no Senado me devolveu a carta dizendo que eu tinha de renunciar. Então, grampeei cópia do Aurélio no ofício, e ele teve de aceitar...

O spread bancário e o papel do governo - ROBERTO MACEDO


O Estado de S.Paulo - 19/04/12


Desde a semana passada o governo federal se envolveu em mais uma guerra, pois a presidente Dilma Rousseff instruiu seu general financeiro, o ministro Mantega, a desencadear a do spread bancário. Ela fez isso depois de um tour fora do País, quando voltou a reclamar da guerra cambial, ligada à enxurrada de dólares e euros que veio com o socorro dado por bancos centrais a instituições financeiras de países ricos na esteira da crise econômica mundial que eclodiu em 2008. E, mais recentemente, veio a da zona do euro. A essa enxurrada se atribui um papel na valorização do real.

Spread vem da língua inglesa. Como verbo, entre outros significados, assume o de espalhar alguma coisa sobre outra, como manteiga no pão; como substantivo, ao se referir a preços ou taxas, é a diferença entre um valor maior e outro menor. Assim, o spread bancário é a diferença entre a taxa média (maior) que os bancos cobram por seus empréstimos e financiamentos e a taxa média (menor) com que remuneram os recursos tomados para essa finalidade.

Segundo este jornal (13/4), a última pesquisa do Banco Central (BC), realizada em 2010, revelou que o spread bancário brasileiro chegou a 28,5% ao ano. Supondo que nesse cálculo o valor anual da taxa média de captação tenha sido próximo de 10%, chega-se a uma taxa média de juros perto de 38,5% ao ano na concessão. Assim, o spread é a maior parte das taxas cobradas pelos bancos. É como se a quantidade de manteiga superasse o tamanho do pãozinho em que foi espalhada. Lembra mais uma banana nanica deitada sobre a metade horizontal de um deles.

E mais: essa taxa média de juros é altíssima em termos reais se levada em conta uma inflação perto de 6%. Internacionalmente, isso coloca o Brasil na abjeta divisão dos países que disputam o campeonato dos juros mais escorchantes. Portanto, faz todo o sentido gritar contra o spread e contra as taxas de juros a que leva. E cabe também gritar contra a taxa de captação, também muito alta. Há décadas ouço esses gritos, mas não as sirenes de um socorro efetivo.

Na mesma notícia veio a informação de que os componentes do spread bancário, em ordem decrescente de tamanho, com as porcentagens entre parênteses indicando sua parcela do spread total, foram: margem de lucro dos bancos (32,7%); prejuízos com inadimplência de devedores (28,7%); impostos cabíveis (21,9%); custos administrativos (12,6%); e custos associados ao recolhimento compulsório, ao BC, de parte dos depósitos bancários (4,1%).

Nas escaramuças iniciais da guerra, o lado dos bancos levou ao Ministério da Fazenda uma lista sugerindo 20 medidas. Não sei os detalhes dela, mas certamente deve ter incluído reduções dos impostos cobrados pelo governo e dos recolhimentos compulsórios já referidos. Segundo a mesma matéria deste jornal, Mantega retrucou dizendo que os bancos têm lucratividade suficiente para reduzir o spread sem o governo "mexer em nada".

Mantega também mobilizou sua artilharia mais pesada, na qual se alinham o Banco do Brasil (BB) e a Caixa Econômica Federal, para que unilateralmente reduzissem seus juros e atraíssem clientes dos demais bancos. Neste estágio, poucos bancos privados aderiram ao movimento e, ainda assim, sem o mesmo entusiasmo midiático e numérico desses dois oficiais. Na prática, o mais provável é que em qualquer caso as reduções de taxas não se aplicarão a clientes próprios de maior risco, nem a clientes de outros bancos, e também de risco alto, que procurarem os oficiais.

Há notícias confirmando isso, ao mostrarem que as taxas menores que passaram a ser oferecidas estão nas linhas de crédito consignado, de menos risco. E que as reduções de juros são também limitadas nos financiamentos de veículos, cujas taxas são tradicionalmente menores, em face da garantia representada pelos veículos e pela maior concorrência entre bancos, dada a presença dos das próprias montadoras. Neste caso, o acesso a taxas menores também pode ser limitado a quem se disponha a pagar em prazos mais curtos e oferecer valores de entrada maiores. E há muitas dificuldades na obtenção de informações sobre os juros menores e o acesso a eles. Em síntese, juros mais baixos deverão levar a maior seletividade de clientes, dentro da antiga prática bancária de que o acesso ao crédito é maior e mais barato para quem menos precisa dele.

Não acredito que o governo queira isso. Assim, mesmo havendo boas justificativas para uma queda de braço com os bancos privados que atuam no País - como a de um estudo do FMI mostrando que a margem de lucro deles, medida pelo retorno anualizado sobre o patrimônio, supera a verificada nas dez maiores economias do mundo -, para uma queda mais efetiva do spread o governo terá de abandonar sua atitude de não mexer na parte que lhe toca.

Assim, deveria olhar para o próprio umbigo e ver que seus impostos constituem um importante ingrediente do spread bancário. Há ainda os altos encargos previdenciários, que compõem os custos administrativos, e o ônus trazido pelos recolhimentos compulsórios tampouco é desprezível. Na inadimplência também tem o que fazer. Entre outras medidas, caberia regulamentar e disseminar o recentemente aprovado cadastro positivo, que melhor avalia os riscos dos tomadores de crédito, bem como difundir a educação financeira para, entre outros objetivos, mostrar a esses tomadores o custo dos juros e os males do exagero no endividamento e da resultante insolvência. E quanto às margens dos bancos, tomar medidas para reduzir a concentração bancária e ampliar a competição entre eles.

Se mantiver sua atitude de não mexer naquilo que lhe cabe, ficará difícil para o governo se impor como sério combatente e defensor de uma causa justa.