sexta-feira, março 02, 2012

Samba exportação - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 02/03/12
A partir de hoje, uma frota de uns 50 ônibus vai levar, acredite, 2.000 sambistas cariocas para o carnaval Rio/San Luís, na Argentina, dias 9 e 10.
A novidade dessa terceira edição, organizada pelo ator Antônio Pitanga, é uma escola de samba só com argentinos.

PIB do carnaval...
Aliás, veja como o carnaval rende uns trocados — e até euros e dólares — o ano todo. De 2010 para cá, a comissão de frente da Unidos da Tijuca, dos coreógrafos Priscilla Mota e Rodrigo Negri, fez cerca de 300 apresentações, inclusive no exterior.
Este ano, vai à Itália.

Dor de garganta
Serra, ao entrar ontem na sala da Assembleia paulista preparada para recebê-lo, pediu para... desligarem o ar-condicionado.
Alegou dor de garganta.

Guerra do Brasil
A TV Pública Paraguay, de Assunção, exibiu ontem o documentário “Guerra do Brasil”, de Sylvio Back, na programação do 1 o- de Março, data do fim da Guerra do Paraguai, em 1870.
O filme, de 1987, foge da história oficial dos dois países. Será exibido lá pela primeira vez.

Pelo telefone
Dilma demitiu o ex-ministro Luiz Sérgio, da Pesca, pelo telefone. Antes de nomear Marcelo Crivella, ligou para o petista e disse: “Luiz, vou lhe fazer um pedido que só se faz a um amigo. Preciso do seu cargo para contentar a base aliada.”
O ex-ministro se resignou: “Pois não. A senhora tem a caneta. Faça o que achar melhor." 

‘Habemus papam’
Quarta, num hotel de Ipanema, sete jurados, depois de três meses, fecharam a lista dos 20 melhores jovens escritores brasileiros, cujos trabalhos serão publicados pela revista “Granta”, em suas edições brasileira, inglesa, americana e espanhola.

Ave Elba
Elba Ramalho tem frequentado a reza do terço comandada pelo advogado Pedro Siqueira, aquele que diz falar com a Virgem Maria, na Igreja de N. S. da Conceição, na Gávea, no Rio.
Terça, nossa cantora entoou a música “My sweet lord”, de George Harrison, antes do início da oração.

Segue...
Devota fervorosa da Virgem, Elba tem dito a amigos fiéis que prepara uma campanha pessoal contra o aborto.
Sua ideia é, além de evitar que mulheres abortem, conseguir assistência para aquelas que já fizeram e enfrentam depressão.

Rádio e TV
Lula, nessa quarentena por causa da saúde, readquiriu o hábito de ouvir rádio.
Já na TV, o que mais gosta são os jogos futebol — mesmo que não sejam do seu Corinthians.


ESTÁ MARCADO para dia 16, às 11h, um ato em frente à bela Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, ali perto do antigo “Jornal do Brasil”. O templo, de 1864, em estilo neoclássico com elementos do barroco, está caindo aos pedaços. Tem telhas quebradas, que deixam a chuva vazar sobre o altar e encharcar a cúpula revestida com mosaico de azulejos. As esquadrias de ferro da entrada foram roubadas, e as paredes, veja, perigam ruir. Aliás, bem que o querido arcebispo Dom Orani Tempesta poderia entrar nesta briga —— talvez ligando para Eduardo Paes (2976-2812). O prefeito costuma ser sensível a causas celestes

Recruta Zero
Lembra a revistinha do Recruta Zero e de toda a turma do quartel Swampy?
Depois de quase 20 anos, volta às bancas este mês. A ideia da Pixel Media é relançar outros títulos do gênero como “Hagar, o Horrível”.

Saliência no banheiro
Quarta, por volta de 19h30m, no bar Chico e Alaíde, no Leblon, uma cliente foi ao banheiro e, ao abrir a porta, viu... duas mulheres no maior beijo de cinema!
As namoradas fecharam a porta de novo e lá ficaram.

Fenômeno
Ronaldo Fenômeno visita hoje as obras do Maracanã.

Corredor do Fórum
O desembargador Antônio Carlos Torres, da 12a- Câmara Cível do Rio, negou pedido de indenização a um pai que, em nome da filha menor, processava o Hotel Íbis Santos Dumont.
É que, ao fazer uma escala no Rio, quis pernoitar no hotel, mas a hospedagem foi negada, sob o argumento de que não havia a autorização da mãe. O magistrado considerou “aceitável o excesso de cautela” do hotel.

Cena carioca
Ontem, pouco antes das 9h, um rato causou bafafá na fila do visto no consulado americano. Mulheres gritavam, homens tentavam chutar o bicho, que disparava entre as pernas das pessoas... Até que o arisco escapou. Serenada a gritaria, um gaiato exclamou, para a risada geral:
— Calma, gente, era o Mickey!...

Toma lá - SONIA RACY

O Estado de S.Paulo - 02/03/12

Esquentou bem a briga entre controladores do PanAmericano e Adalberto Salgado Júnior, credor de R$ 400 milhões em CDBs pré-fixados a taxas atípicas – mas legais.

Advogados de Salgado Júnior acabam de entrar com pedido na Corregedoria da PF, pedindo instauração de inquérito contra André Esteves e outros diretores do ex-banco de Silvio Santos. Motivo? Fraude processual e gestão fraudulenta.

.dá cá
Trata-se de reação a pedido de Esteves, também na PF, contra o pagamento dos CDBs, sob a acusação de que Salgado Júnior teria participado da fraude contábil perpetrada pelos ex-diretores do banco. A PF não indiciou o mineiro, e a estratégia policial naufragou.

Agora, Esteves quer negociar com o credor. “Lá em Juiz de Fora, a gente age de outro jeito. Sou sincero: hoje, não compraria ações de André Esteves”, disse Salgado Júnior, em rara declaração à imprensa.

Com a palavra, Esteves.

Orelha quente? 
Bruno Covas foi “ouvido” no restaurante Paralelo, segunda, falando gatos e lagartos de Serra. Para quem quisesse ouvir.

No páreo
Continua em campanha, Ricardo Tripoli. Ontem mesmo reuniu seu grupo à noite.

No ninho
Pedro Tobias, presidente estadual do PSDB, deu conselho ao amigo Zé Aníbal. “Se você abrir mão das prévias, a militância não deve te perdoar”.

Aníbal está irritadíssimo com o adiamento do processo.

Promessa, dívida
Jack Terpins encontrou-se, segunda-feira, com Maximilien Arveláiz, em Brasília.

O embaixador venezuelano informou ao presidente do Congresso Judaico Latino Americano que Chávez deve emitir (assim que voltar de Cuba) nota de repulsa às afirmações antissemitas publicadas em sites oficiais na semana passada.

Telona 
Antes mesmo de ser lançado, na próxima terça, Rodrigo Teixeira abocanhou 1922 – A Semana que não Terminou, livro de Marcos Augusto Gonçalves.

Vai transformá-lo em filme.

Campo minado
O Clube de Campo de São Paulo terá de pagar 385 salários mínimos à família de um sócio, empresário baleado por um segurança do local. O valor acaba de ser confirmado pelo STJ.

Nem só pão
A Stock Car não viverá apenas do etanol produzido pela Raízen. A empresa terá equipe própria, a Shell Racing. Liderada pelo piloto Valdeno Brito.

Irmandade
Aliás, o STJ tomou decisão que abre entendimento importante da Lei Maria da Penha. O Tribunal depreendeu que pode ser aplicada também em caso de ameaça de irmão contra irmã.

Meteoros da paixão
Michel Teló está estourando em. Aruba! Seu CD é vendido por US$ 55 no Shopping Paseo.

Meteoros 2
Já Luan Santana estreou sua Você de Mim Não Sai anteontem, durante o jogo Brasil x Bósnia. E virou trending topic.

Até Ronaldo e Anderson Silva tuitaram.

A política ferve - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 02/03/12


Os peemedebistas já perceberam, in loco, que o objetivo maior do PT - além de conquistar São Paulo - é tentar tirar o PMDB do lugar mais alto do pódio em número de prefeituras



Se alguém tinha alguma dúvida de que a eleição municipal fará ruir parte da relação amistosa entre PT e PMDB, elas estão prestes a se dissipar. O primeiro sinal de que nada vai bem é o manifesto assinado por 45 peemedebistas, a ser entregue na segunda-feira aos caciques do PMDB. Ali, a turma de Michel Temer vem com a conversa de sempre, que está excluída das definições de governo. Entre um enunciado e outro do documento, a leitura política é de recados a vários personagens.

A primeira mensagem não escrita está endereçada à cúpula do próprio PMDB: ou os caciques (leia-se o presidente em exercício do PMDB, Valdir Raupp, e os líderes Renan Calheiros, no Senado, e Henrique Eduardo Alves, na Câmara) passam a jogar para o time ou, aos poucos, não terão uma grande turma sob seu comando a lhes respaldar as ações.

Muitos no PMDB têm hoje uma sensação cristalina de que Raupp, Renan e Henrique — inclua-se aí o presidente do Senado, José Sarney — jogam por seus projetos pessoais. E não se preocupam em defender um projeto partidário, que inclua a massa de deputados e senadores, por enquanto, a maior do parlamento. Diante de um manifesto assinado por mais de metade da bancada, é bom esse grupo passar a reunir mais os parlamentares, tirar posições conjuntas e evitar o toque de caixa como deseja o governo. Ou seja, dar, ao menos, uma sensação de discussão dos temas, o que não ocorreu, por exemplo, na votação do fundo de previdência do servidor público federal, uma atitude que ajudou a engrossar o manifesto.

O segundo recado do tal documento também está nos meandros. Até aqui, todos os grandes e bons projetos do governo são considerados do PT, e o PMDB fica sempre no prejuízo. O partido está incomodado de votar a favor de tudo o que o Executivo deseja e não receber sequer um muito obrigado na hora em que a proposta é sancionada com festa no Planalto. Cansou-se do desprezo com que Dilma trata o partido, sem esconder uma preferência pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, citado inclusive como um possível futuro candidato a vice-presidente.

Por falar em prejuízo...
O recado explícito do manifesto é a ansiedade do PMDB. Os deputados participam ativamente da formatação dos palanques da eleição municipal no interior. Os peemedebistas já perceberam, in loco, que o objetivo maior do PT — além de conquistar São Paulo — é tentar tirar o PMDB do lugar mais alto do pódio em número de prefeituras. O PMDB elegeu pouco mais de 1,2 mil prefeitos. Hoje, tem 1.175. E, pelo andar da carruagem no interior, está cada vez mais claro que o PT trabalhará para reduzi-los. Não por acaso, dos ministérios que lidam diretamente com os municípios, só restou ao PMDB a Agricultura, enquanto o PT comanda Saúde, Educação e Comunicações.

As prefeituras são consideradas cruciais para a eleição de deputados e senadores. Quem tem mais prefeitos, na prática, tem mais força para eleger deputados. O PMDB vê seu poder se reduzindo lentamente nas eleições. E agora, na avaliação de muitos, chegou ao limite: se não gritar já, chamando inclusive seus caciques para o jogo, o PT vai tomar espaço e aí não adianta chorar depois.

Por falar em chorar...
O PMDB, em seus encontros mais reservados, tem dito com todas as letras que a "faxina" surge na imprensa como obra de Dilma Rousseff e do PT. Enquanto ao PMDB e demais aliados ficam com o status de "faxinados". Diante disso, muitos acham que o manifesto pode ser visto como o início da hora da verdade. No caso dos caciques do PMDB, ou eles passam a ter uma visão mais executiva, em vez de centrar fogo apenas na conquista de poder no Legislativo, ou vão acabar perdendo esse poder lá na frente para o PT. Em relação ao governo Dilma, também não tem meio-termo: ou o PMDB passar a ter mais influência ou seus deputados vão começar a espalhar armadilhas para Dilma no parlamento. E, nessa Legislatura, eles são muitos.

Por falar em verdade...
Dentro do Planalto, entretanto, há quem diga que cão que late não morde. O mais provável é que o governo Dilma dê um afago aqui e outro ali ao PMDB e deixe tudo como está, até a próxima crise. Afinal, se tem uma coisa que sempre ocorreu foi o PMDB reclamando disso e daquilo, o governo dizendo que entende a situação, e o PT fingindo que não é com ele. Resta saber o que essa fervura trará de diferente. Até o momento, a trama segue a receita normal das novelas. Se vai começar a engrossar o caldo ali na frente, aí é outra história.

Homens (e mulheres) de preto - NELSON MOTTA


O GLOBO - 02/03/12


Como um capitão Nascimento da magistratura, a ministra Eliane Calmon está combatendo os bandidos de toga, os traficantes de sentenças e os vagabundos infiltrados no Judiciário, em defesa da imensa maioria de juízes honestos e competentes que honram a instituição. Por isso é alvo do tiroteio corporativo que tenta fazer de acusações a maus juízes suspeitas sobre toda a classe.

Para merecer os privilégios de que desfrutam, maior rigor é exigido dos que julgam. Nesta nobre função não basta ser honesto, é preciso parecer honesto, ter a integridade, a independência e a competência exigidas pela magistratura, para que a Justiça seja respeitada, e temida, porque sem ela não há democracia.

"Não tenho medo dos maus juízes, mas do silêncio dos bons juízes, que se calam quando tem que julgar colegas", fuzilou a faxineira-chefe. E quem há de contestá-la? Todo mundo entende as relações de amizade que se estabelecem ao longo de muitos anos de trabalho, mas quem escolhe esta carreira - ao contrário de engenheiros, médicos, advogados ou músicos - tem de estar preparado para julgar igualmente a todos, do batedor de carteiras ao presidente da República - e aos seus colegas.

Com razão, ela diz que os juízes de segundo grau, quando enveredam para o mal, são os mais deletérios, porque os de primeira instância, por corrupção ou incompetência, podem ter suas sentenças anuladas pelo colegiado do tribunal superior. Mas é quase impossível um desembargador ser condenado pelos seus pares.

A ministra os conhece bem: "Esses malandros são extremamente simpáticos, não querem se indispor, dizem que o coração não está bom, que estão no fim da vida". Alguém imagina os desembargadores do Tribunal de Justiça, digamos, do Maranhão, condenando à pena máxima - aposentadoria remunerada - algum colega agatunado? Quanta pressão um juiz pode suportar do político que o nomeou?

Por tudo isto a corregedora nacional apoia a emenda constitucional do senador Demóstenes Torres (DEM-GO) para que os desembargadores sejam julgados com isenção, não por seus colegas de tribunal, mas pelos juízes do Conselho Nacional de Justiça.

Nova estratégia para números inquietantes - WASHINGTON NOVAES


O Estado de S.Paulo - 02/03/12


O noticiário é inquietante: órgãos da indústria preveem que ela poderá arrefecer sua atividade em 2012 (Estado, 1.º/2), depois de só havê-la expandido 0,3% em 2011 (10,5% em 2010). A sobrevalorização do real e a crise europeia são arroladas entre as causas. E na melhor das hipóteses o setor industrial poderá crescer 2,8% em 2012, ante 3,3% dos serviços e uma taxa geral de 3%. O emprego industrial, diz o IBGE, só aumentou 1% no último ano, ante 3,4% em 2010; e no último trimestre decresceu 0,4%, depois de sete trimestres positivos. Tudo isso apesar de o ministro da Fazenda prever um crescimento do PIB de 5%, embora admita que com a crise na Europa poderá ser de apenas 4%.

Mas não é só. A "invasão asiática" tem levado o Ceará, por exemplo, a passar de exportador de produtos desse setor a importador (Estado, 4/1) - ao lado dos calçados e celulares. Estamos até importando etanol dos Estados Unidos (11/1). Os temores estendem-se à área da siderurgia e ao "risco de desnacionalização" representado pelas tentativas de China e Índia de entrarem no mercado interno (6/1). E ainda se pode somar o problema da redução da demanda europeia, com a queda de 0,3% no último trimestre de 2011.

Uma análise do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea, 3/2) agrega questões como a de o crescimento econômico nacional, em uma década - 2000-2009 -, evidenciar-se como muito dependente de atividades com uso intensivo de recursos naturais, principalmente na agropecuária e no extrativismo - de baixo valor agregado e com reduzido efeito multiplicador sobre o restante da economia. Essa condição de simples fornecedor de commodities ao mercado global seria obstáculo para uma estratégia nacional de sustentabilidade a longo prazo.

Na verdade, o problema maior apontado nas análises é a falta de inovação tecnológica. Os gastos com pesquisa e desenvolvimento no País foram de apenas 1,19% sobre o PIB de 2009, enquanto no Japão se traduziam em 3,45%; na Alemanha, em 2,86%. O baixo investimento reflete-se, por exemplo, no número de pedidos de patentes depositados nos EUA em 2009 por outros países: Japão, 81 mil; China, 7 mil; Brasil, 464.

No conjunto, apesar do otimismo do Ministério da Fazenda, o Banco Central, depois de calcular a expansão do PIB brasileiro no ano passado em 2,72%, prevê para este ano algo em torno de 3%. O contra-ataque viria do governo federal, na proposta (Estado, 5/2) de quatro medidas provisórias para estabelecer regimes tributários especiais que facilitem a importação de máquinas capazes de produzir aqui equipamentos de alto conteúdo tecnológico em áreas como as de semicondutores, TV digital, telecomunicações e computadores pessoais. Mas não é simples. Há tréplicas sobre a mesa, como as da União Europeia e de vários países, que pedem na Organização Mundial do Comércio (OMC) o fim da isenção local de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para montadoras de veículos. As restrições locais também têm levado a altas do IPI para carros importados e quedas nas vendas (40,5% em janeiro).

O próprio Ipea não acredita que medidas emergenciais na área tributária enfrentem a questão. Na sua Conjuntura em Foco (Estado, 17/12), segundo o analista Celso Ming, esse órgão afirma que "a indústria brasileira enfrenta problemas sistêmicos de competitividade". Não se trata - diz a análise - de "concorrência predatória da China, nem força demais dada ao agronegócio, nem descaso da política industrial. É falta de competitividade". Tanto que de 2005 a 2011 a participação de produtos manufaturados no total das exportações brasileiras caiu de 55,1% para 36%. Muitos problemas são mencionados, como a qualidade da infraestrutura, a carga tributária, o nível de qualificação da mão de obra, entraves burocráticos, estratégias de preços, política para a inflação, estímulos à demanda interna. Mas, para o comentarista, o centro da questão está na excessiva valorização do real e no "enorme" custo Brasil.

São muitas as controvérsias. O Fundo Monetário Internacional (FMI) revê a projeção de crescimento da economia mundial para este ano (de 4% para 3,25%) e para o Brasil (agora, 3%). E lembrando que, se as indústrias intensivas em tecnologia e conhecimento respondem por mais de 30% do PIB norte-americano e 23% do chinês, no Brasil não chegam a 4,6% as exportações de alta intensidade tecnológica (eram 7,4% em 2005).

A revista da Universidade de São Paulo sobre ciência, tecnologia e informação (março a maio de 2011) mostra como é lento o crescimento do dispêndio nacional em pesquisa e desenvolvimento, que era de 1,04% do PIB em 2001, caiu para 0,9% em 2004 e chegou a 1,19% em 2009.

Por outras vias, há quem pense que o caminho brasileiro não se restrinja a inovações em tecnologia, e sim que tenha de passar também por uma inflexão radical, rumo a nosso fator estratégico mais forte: a área da biodiversidade. Até mesmo porque, embora detenhamos uma grande parte do acervo planetário de espécies, de 1996 a 2006 nossas exportações de plantas medicinais, por exemplo, só aumentaram 6%, enquanto as importações dessas mesmas espécies cresceram 40% e tivemos déficit comercial inacreditável - num mercado mundial de US$ 250 bilhões anuais. E sem inovação tecnológica em nossos produtos.

Mas para caminhar nessa direção a evolução de nossas políticas terá de ser radical. Poderia ser um bom começo o projeto em tramitação na Câmara dos Deputados que cria o "PIB verde" - para que o IBGE considere nas contas nacionais o patrimônio ambiental e as atividades a ele relacionadas. Há umas duas décadas, Robert Costanza e um grupo de cientistas na Universidade da Califórnia calcularam em três vezes o PIB mundial, em um ano, o valor dos serviços prestados gratuitamente pela natureza (fertilidade do solo, regulação hídrica e climática, etc.) se tiverem de ser substituídos por ações humanas.

Se o mundo caminhar nessa direção, como produto da crise planetária, a perspectiva brasileira poderá ser extraordinária.

Bu! Olha o bicho! - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 02/03/12
O Palácio do Planalto deflagrou ontem uma operação para assustar o PDT. Tudo para dobrar o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (SP), que é contra a nomeação do deputado Vieira da Cunha (PDT-RS) para o Ministério do Trabalho. Os governistas espalharam que a presidente Dilma poderia entregar a pasta para os deputados Alex Canziani (PTB-PR) ou Hugo Leal (PSC-RJ). A tese tem o apoio do PT.

A dor de cabeça do PT
O prefeito João da Costa, de Recife, é a grande dor de cabeça da direção nacional do PT nestas eleições municipais. Isolado pelos aliados, mal nas pesquisas, com dificuldades internas no PT e sem ter a simpatia do governador Eduardo Campos (PSB), se aproxima a hora da verdade. A direção petista já tem um roteiro para escolher um novo candidato. A costura prevê que o escolhido para concorrer terá que fazer a defesa incondicional da sua gestão na prefeitura. Além disso, será oferecido a João da Costa um papel central na campanha eleitoral e uma posição executiva no governo federal quando seu mandato se encerrar.

Apelo ao ministro (Guido) Mantega para que chame os governadores e renegocie essa dívida, que é impagável, inaceitável, mpossível de suportar pelos estados” — Luiz Henrique, senador (PMDB-SC)

TENSÃO. O PSD entrou em pânico com a decisão do ministro Ayres Britto (STF), na foto, de negar pedido de liminar para que o partido tenha direito a presidir comissões da Câmara. "Sinalizou uma coisa muito ruim para nós", reconhece o secretário-geral do partido, Saulo Queiroz. A decisão de Britto vai influenciar a votação no STF e terá peso quando o TSE for decidir se o novo partido tem direito ao fundo partidário e a tempo de TV.

A punição

Militares que assinaram nota divulgada nesta semana receberão pena de advertência, a mais branda do Código Penal Militar, por terem desrespeitado superiores na linha de comando: a presidente Dilma e o ministro Celso Amorim (Defesa).

Mágoa

Como o PT não aceita negociar o apoio a nenhum dos candidatos do PCdoB às prefeituras de capitais, os comunistas estão procurando o PMDB. As conversas envolvem as eleições de São Paulo, Salvador, Porto Alegre e Fortaleza.

A dança dos ministeriáveis
Foi o líder do PR no Senado, Blairo Maggi (MT), quem sugeriu ao Planalto o nome do ex-senador César Borges para o Ministério dos Transportes. Já o presidente do PR paulistano, Antonio Carlos Rodrigues, ligado a Valdemar Costa Neto e primeiro suplente da senadora Marta Suplicy (PT-SP), foi colocado na roda para garantir o apoio do partido à candidatura de Fernando Haddad. O PR da Câmara não aceita nem Borges nem Rodrigues.

Protesto

A bancada evangélica fará protesto terça-feira, em frente à Embaixada do Irã, em Brasília, contra a prisão e condenação à morte, por enforcamento, do pastor evangélico Yousseff Nadarkhani. Ele é acusado de abandonar a fé islâmica.

Outro lado
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) diz que mesmo tendo sido condenado, seu caso não se enquadra na Lei da Ficha Limpa. Mas adianta: "Se o fato vier a ser interpretado como ficha-suja, não esperarei por 2018, renunciarei na hora".

SEM VOTO. Com a ida do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) para o Ministério da Pesca, o Senado terá 14 suplentes no exercício do mandato, ou seja, 17% dos senadores não receberam nenhum voto.

O GOVERNADOR Tarso Genro (RS) comunicou aos senadores Pedro Simon (PMDB), Paulo Paim (PT) e Ana Amélia (PP) que vai adotar a Lei da Ficha Limpa para a contratação de servidores públicos estaduais.

O EX-PRESIDENTE da Petrobras José Gabrielli vai assumir a Secretaria do Planejamento da Bahia, substituindo no cargo o deputado Zezéu Ribeiro (PT).

GOSTOSAS



Mandato-cidadão - MERVAL PEREIRA

O Globo - 02/03/12

A relação do eleitor com o candidato sofrerá uma alteração fundamental a partir destas eleições municipais, as primeiras a se realizarem sob os efeitos de uma mudança cultural no país simbolizada pela aprovação da Lei da Ficha Limpa pelo Supremo Tribunal Federal.

Mas já existem outros marcos legais que acabaram criando um caldo de cultura favorável à moralização do serviço público.

São eles a Lei da Improbidade Administrativa, de 1992; a Lei da Transparência, de 2009; a Lei do Acesso à Informação Pública, de 2011; e a Lei de Responsabilização de Pessoa Jurídica, em tramitação no Congresso.

Para monitorar a aplicação dessas leis, as redes de controle social envolvem hoje cerca de três mil associações civis dispostas a exigir o cumprimento de suas exigências através das ações judiciais e do trabalho dos Ministérios Públicos federal e estaduais.

A demanda por moralidade por parte da opinião pública, independentemente de condutas éticas individuais, é um fenômeno social de nossos dias, dinamizado pela ação das redes sociais de relacionamento, que terão papel influente nestas eleições.

As propostas mais frequentes da 1 Conferência Nacional sobre Transparência e Controle Social (Consocial), por exemplo, abrangem a inclusão de disciplina sobre ética e cidadania na grade curricular do ensino fundamental; instalação de conselhos municipais de transparência; a criação da Casa dos Conselhos nos municípios, que abrigarão os conselhos municipais de políticas públicas; aperfeiçoamento dos portais de transparência do Poder Público, integrando-os às estruturas das ouvidorias; punições mais severas para os crimes de corrupção.

A expectativa é que um milhão de pessoas estejam mobilizadas ao fim do processo. Em virtude desse novo caldo de cultura da nossa política, já existe a disposição de setores empresariais de não se limitarem a financiar candidatos que apenas atendam a seus interesses corporativos, por mais legítimos que sejam.

Estão dispostos a financiar organizações da sociedade civil de interesse público (Oscips) e de controle social. Organizações como Contas Abertas, que fiscaliza as contas governamentais na internet; Voz do Cidadão, que trabalha para disseminar a cidadania pela população; Amarribo, que combate a corrupção e atua na promoção da cultura da probidade.

E muitas outras associações da sociedade civil, preocupadas com o monitoramento das promessas de campanha, da boa aplicação do dinheiro público e do desempenho do Judiciário.

Ontem, em um seminário do qual participei na Academia Brasileira de Filosofia sobre sustentabilidade urbana, Oded Grajew, da Rede Nossa São Paulo, falava sobre a alteração que a cobrança de metas está realizando no comportamento dos políticos e, sobretudo, no dos eleitores.

Ele considera que as eleições municipais podem criar um novo padrão de relação dos cidadãos com a política, candidatos e os gestores públicos municipais assumindo compromissos concretos, e os cidadãos acompanhando os resultados desses compromissos.

O Programa Cidades Sustentáveis, uma realização da Rede Nossa São Paulo, em parceria com a Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis e o Instituto Ethos, oferece uma agenda para a sustentabilidade com a qual candidatos a prefeitos de diversos municípios poderão se comprometer publicamente.

Também Mario Mantovani, da SOS Mata Atlântica, anunciou que uma plataforma de sustentabilidade será apresentada a candidatos a vereadores de diversos municípios para garantir a adesão política.

O publicitário Jorge Maranhão, dedicado à causa da cidadania e que tem o site A Voz do Cidadão, onde põe em debate os direitos e os deveres de um verdadeiro cidadão, já concebeu diversas campanhas, a mais recente tendo sido colocar em circulação pelas cidades do país o Cidadômetro, concebido como uma complementação do Impostômetro, que mede, em São Paulo, o quanto de impostos o cidadão paga.

Assim como o relógio que mede os impostos, localizado na Avenida Paulista, procura chamar a atenção do consumidor para o tamanho de nossa carga tributária, Maranhão foi à rua tomar o pulso da cidadania, tanto no sentido de iniciativa quanto de mensuração propriamente dita.

Ele agora está lançando o "mandato-cidadão", para parlamentares comprometidos com a transparência e a prestação de contas.

Maranhão está convencido de que já existe uma massa crítica hoje no Brasil de cidadãos dispostos a sair de uma cidadania de primeiro grau, que se define pela solidariedade, preocupação com o meio ambiente e o espaço público, os equipamentos urbanos, para exercer o que ele chama de "cidadania atuante", que é o uso das instituições de controle do Estado, independentemente de partidos. "Cidadãos que não aceitam mais o Estado ser aparelhado por conveniências políticas", define.

"Ninguém vai acabar com a corrupção", admite Maranhão, que, no entanto, entende que existe um grupo de parlamentares, nos diversos níveis federativos, que pode dar o norte para as instituições, levando consigo a maioria.

Não importa se esse parlamentar é do governo ou de oposição, diz Maranhão, "o que ele precisa ser é um representante da sociedade".

Esses deputados federais, estaduais e vereadores que se comprometerem com a ética e a transparência públicas receberão a chancela do "mandato-cidadão".

Para Maranhão, tanto o "cidadão eleitor" quanto o "cidadão eleito" precisam acreditar que, se não houver instituições fortes, não há democracia. "Ficamos então à mercê de golpistas e de demagogos".

Ele se indigna com a confusão de moral pública com moralismo, com udenismo. "Isso é cínico. Nós temos a responsabilidade política de fazer a futura geração acreditar no Congresso".

Deixa comigo - VERA MAGALHÃES

FOLHA DE SP - 02/03/12
Na tentativa de se credenciar como principal operador da coalizão de José Serra na eleição paulistana, Gilberto Kassab interveio na negociação do PSB com Fernando Haddad. Após o governador Eduardo Campos (PE) sinalizar apoio ao PT, o prefeito intermediou conversa do pré-candidato tucano com dirigentes municipais socialistas, próximos de sua administração.

Com a ofensiva, Kassab pretende dar resposta imediata à articulação do Planalto em socorro à candidatura de Haddad. Mirando 2014, o fundador do PSD mede forças com Geraldo Alckmin, que se empenha para instalar, além do PSB, PP e PDT na aliança serrista.

Quem dá mais? Nos últimos dias, além de levar Serra ao jantar do PC do B, que está em sua base de sustentação, Kassab reacomodou o PPS na prefeitura e destacou interlocutores para atrair o PTB e o PV ao bloco do tucano.

Festa no interior Com a aliança com o PSB em risco, Alckmin enviou emissários a Campinas e São José do Rio Preto, praças em que os tucanos abriram mão de candidatura própria para apoiar os indicados pelo governador pernambucano. A ordem é condicionar os acordos à solução do impasse paulistano.

Cofre Márcio Fortes (RJ), que foi tesoureiro do PSDB e de campanhas anteriores de Serra, reapareceu ao lado do tucano na sede do partido em São Paulo. A visita intimidou dirigentes paulistanos, que temem ser escanteados na arrecadação de recursos.

Já ganhou Em seu blog, o ex-governador Alberto Goldman relativiza a disputa tucana: "Ainda pode haver prévia mas, certamente, será essa [candidatura de Serra] a decisão do partido".

Susto O Palácio dos Bandeirantes sofreu revés na reunião de ontem do conselho curador da Fundação Padre Anchieta: Marcos Mendonça, indicado por Alckmin, não obteve o mínimo de votos necessários para integrar o colegiado e terá de ser submetido a novo escrutínio, no dia 13.

Mão invisível Pesaram contra Mendonça, ex-secretário da Cultura, o trabalho do presidente da instituição, João Sayad, e a desmobilização dos conselheiros ligados ao governo, muitos dos quais nem apareceram para votar.

Ligações... O ex-agente da Aeronáutica Idalberto de Araújo, o Dadá, foi preso anteontem em operação da Polícia Federal que desarticulou máfia de caça-níqueis. Dadá participou de reunião do grupo de inteligência do comitê de Dilma Rousseff em 2010 na qual foi discutido dossiê contra José Serra.

...perigosas Grampos da Operação Monte Carlo identificaram parlamentares envolvidos com Carlinhos Cachoeira, pivô do caso Waldomiro Diniz e também preso anteontem. Por isso, parte da ação que levou a mais de 30 prisões subirá para o STF (Supremo Tribunal Federal).

Catimba Dilma encarregou Luciano Coutinho, do BNDES, de dar as garantias financeiras exigidas pela Fifa para a reforma do Beira-Rio a tempo de o estádio sediar a Copa-14. Para o governo, o maior entrave à obra é o Banrisul, que dificulta empréstimo à Andrade Gutierrez. A presidente cobrará o governador Tarso Genro na semana que vem, na Alemanha.

Rio 2032 Às voltas, no presente, com problemas como pacificação de favelas do Rio, o prefeito Eduardo Paes encantou a plateia da TED, conferência norte-americana sobre tecnologia e design, ao ditar os quatro axiomas da "cidade do futuro", entre eles ser "socialmente integrada".

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio

"Para entender o debate sobre concessões e privatizações, a linha quatro do metrô de SP é o pior exemplo: cinco panes em dois anos, desde que foi privatizada pelo PSDB."

DO LÍDER DO PT NA ASSEMBLEIA PAULISTA, ENIO TATTO, sobre os problemas operacionais da linha amarela do metrô paulistano, a primeira concedida pelo governo tucano à iniciativa privada.

contraponto

Não é água, não

O deputado Edinho Araújo (PMDB-SP) participava das comemorações de 120 anos da Secretaria de Agricultura de São Paulo quando o governador Geraldo Alckmin iniciou seu discurso enaltecendo a atividade no país.

Um homem, meio trôpego, se aproximou para tentar falar com o tucano, mas quando conseguiu chegar perto do palco, o governador já havia ido embora. Araújo quis saber o que ele queria falar com Alckmin.

-O governador esqueceu de falar da cachaça brasileira! Eu quero que ele fale da cachaça!

Equilíbrio delicado - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 02/03/12
BRASÍLIA - Dilma e Amorim avançaram e agora não têm como recuar diante das manifestações impertinentes e, de certa forma, irresponsáveis de setores da reserva militar, sobretudo do Exército.
Diante do primeiro manifesto, em que eles criticam a própria comandante em chefe das Forças Armadas, Dilma e o ministro poderiam simplesmente ter dado de ombros, mas determinaram aos comandantes que garantissem a retirada do texto. Eles garantiram e o problema continuou. Talvez tenha até aumentado.
Em novo manifesto, já com centenas de nomes, os insatisfeitos não reconhecem autoridade no ministro da Defesa para exigir a retirada do texto dos clubes militares -aqueles que fazem festinhas, palestras e, de vez em quando, uma provocação qualquer para mostrar que estão vivos.
Criou-se um impasse no governo: se continuarem exigindo retratações e anunciando punições, Dilma e Amorim correm o risco de botar mais lenha nessa fogueira; mas, se fingirem que não é com eles, demonstrarão fraqueza e serão alvos fáceis de uma avalanche de notas, manifestos e mensagens pela internet.
É um "equilíbrio delicado", como me definiram ontem, mas o governo decidiu seguir a lei. Os signatários dos manifestos se dizem protegidos pela lei 7.524, de 1986, que autoriza manifestação de opinião para militares inativos. Já Dilma e Amorim dizem, com razão, que criticar a presidente e desacatar o ministro da Defesa não é mera "opinião", e sim quebra de hierarquia -proibida expressamente pelo Estatuto Militar.
É este que vai valer, ao lado dos regulamentos internos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica.
Ou seja: o governo vai continuar dando sinais de comando e cabe aos militares, inclusive aos da reserva, acatarem e se aquietarem, até porque o país vive em paz, a democracia é boa para todo mundo e, afinal, não faz o menor sentido se opor com tanta virulência à... verdade.

PESCARIA DE VAGABUNDOS


Saudades do divã - MILTON HATOUM


O Estado de S.Paulo - 02/03/12


Foram apenas sete sessões de análise. E isso há décadas, mas até hoje me lembro dos longos minutos de silêncio nas tardes de sexta-feira (os insuportáveis momentos de mudez) e da fala lacônica, lacaniana da minha analista paulistana.

Era bela, alta, chique, tinha ombros largos, mãos delicadas e olhos de coruja. E um tique estranho: erguia a sobrancelha esquerda, como fazem certos atores, um tique que me parecia sedutor, mas isso podia ser apenas uma percepção apressada do meu olhar narcisista. Ou seria uma mensagem enigmática da minha querida lacaniana? Nunca decifrei esse tique, que eu apelidei "farolete" porque o olho esquerdo, em relevo, iluminava tenuamente o leito das lembranças e confissões. Também desse olho solitário sinto saudades.

Durante as sessões desconfortáveis (o divã era duro e estreito, quase uma cama de faquir) eu falava dos romances e poemas que havia lido, da descoberta de grandes livros, das fugas da faculdade de arquitetura para assistir às aulas de literatura de Davi Arrigucci Jr. (quem não tinha lido O Escorpião Encalacrado?). Falava de amigos perdidos, de amigos em via de perdição, discorria sobre o nosso sonho de justiça social, sobre a nossa sexualidade promíscua e inocente que buscava a felicidade, sobre o nosso rancor à caretice e a todo tipo de repressão e dogma. Só não falava de mim, do meu Id, do meu passado, da minha fase do espelho: nenhuma frase sobre a infância e seus lances sombrios, mágicos ou iluminados. Tudo isso permaneceu trancado a sete chaves com cadeado, e essa porta blindada só seria aberta mais tarde. Não que eu não tivesse traumas, neuroses, frustrações. Quem não os tem? Em meados da década de 1970, os estudantes da USP ou de qualquer outra universidade brasileira tinham tudo isso de sobra. Talvez por ser um tigre resistente à sondagem da minha psique, preferia comentar o conto A Terceira Margem do Rio, que era um modo oblíquo de falar do silêncio do meu pai ou do meu autoexílio em São Paulo, que me faria uma espécie de órfão ainda jovem.

Ela apenas me escutava, o olho esquerdo saliente, ambarino, terrível. Quando eu me calava, podia escutar o batimento grave do coração, como se eu estivesse sozinho num cemitério de uma cidade fantasma, ou num deserto noturno, sem vento, congelado.

Lembro que numa dessas sessões silenciosas ouvi um zumbido, que em poucos segundos se tornou pavoroso; quando acordei, por pouco não caí no tapete. Era o toque do despertador, que marcava o fim da sessão. Foi um trauma e tanto. Minha analista, lacaniana radical, sequer anunciava o fim do meu monólogo. Mas dessa vez o despertador interrompeu um sonho, que eu anotei sem demora, sentado à mesa de um boteco. Na sétima sessão deitei no divã e contei esse sonho.

Eu estava no porão da gráfica da faculdade de arquitetura e urbanismo. Eu e outros estudantes ouvíamos o discurso de Alex. Lembro que reconheci líderes de diversos grupos políticos: da esquerda católica à maoista, dos rígidos trotskistas a seus inimigos comunistas e socialdemocratas. Os anarquistas eram pouquíssimos e ocupavam uma pequena ilha no porão do sonho: uma ilha banida do continente. Em seu discurso, Alex nos alertava sobre os riscos e perigos da traição. Lembro que olhei de soslaio em meu redor, procurando o rosto de um suposto traidor; lembro que alguém me olhou com a mesma desconfiança. Mas Alex não se referia a um delator, e sim a um traidor de ideias e ideais. "Daqui a 30 anos", ele disse, "quantos de nós teremos traído nossos sonhos?"

Disse à minha analista que nesse momento escutei murmúrios e protestos, e logo em seguida me assustei com o trinado do maldito despertador. Ela sorriu. Foi um sorriso aberto, oceânico, de lábios enormes. E histórico: o primeiro em quase dois meses de divã. Também pela primeira vez ela me fez uma pergunta frontal: Quem é Alex?

Um estudante do curso de Geologia, eu disse. Foi assassinado por agentes da repressão em março de 1973. Pude reconhecê-lo no sonho.

Lembro que nessa tarde troquei algumas palavras com a analista, uma conversa que durou uns quatro ou seis minutos, e essa eloquência mútua me surpreendeu. Enfim, palavras, eu disse. E quase elogiei a voz dela, uma voz que, na minha memória de paciente, era sinônimo de assombração.

Abandonei o divã naquela tarde chuvosa, com a promessa de que um dia voltaria à sala branca. Busquei refúgio na leitura de ficção e poesia, e assim tentava espantar fantasmas e neuroses. Poucos anos depois, longe do Brasil e de seus generais, censores e torturadores, comecei a escrever meu primeiro romance e descobri um modo de ser menos infeliz, de mitigar o sofrimento e evitar o abismo da depressão. A promessa de voltar à sala branca foi vã. Mas tentei preencher as lacunas de silêncio com a linguagem escrita, essa autoanálise compulsiva, prazerosa e fantasiosa, que alguns chamam ficção.

Contra a corrente - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 02/03/12



O governo brasileiro passou mais uma trava na porta da mesma tecnologia: aumentou o prazo para que o capital estrangeiro possa ficar livre do IOF. Antes, empréstimo com vencimento abaixo de 90 dias pagava imposto. Em março passado, foi para um ano; em abril, dois anos; em julho, foi criado o imposto sobre derivativos. Ontem, o prazo foi de novo ampliado, para três anos. O país tenta em vão conter a enxurrada de dólares.

O gráfico abaixo foi elaborado pela consultoria inglesa Capital Economics e mostra todas as vezes em que o governo baixou alguma medida para impedir a valorização do real. Vejam que, apesar de todas as intervenções, o real continuou se valorizando, até que a crise na Zona do Euro ficou mais forte, por volta de setembro de 2011, e a moeda brasileira se desvalorizou muito rapidamente.

O economista Alexandre Schwartsman, da Schwartsman e Associados, acredita que as medidas do governo não têm efeito sobre a taxa de câmbio e acontecem apenas para mostrar que algo está sendo feito. Segundo ele, o que realmente importa para definir a cotação do real é a relação do dólar perante uma cesta de moedas internacionais e o preço das commodities que o Brasil exporta.

- Quando o dólar se desvaloriza em relação ao euro, ele também perde valor em relação a uma cesta de moedas de países emergentes. É um fenômeno que não acontece apenas com o real. Já em relação às commodities, o Brasil é um exportador líquido, e isso quer dizer que quando o preço delas fica mais alto, mais dólares vêm para o país - explicou Alexandre.

De fato, os números mostram que a valorização do real não é caso isolado. Em relação ao peso mexicano, por exemplo, a desvalorização do dólar é de 8,58% este ano, maior do que os 8,4% de perda frente o real. A moeda americana também cai 7,82% sobre o rand sul-africano; 7,29% em relação ao dólar neozelandês; e 5,42% sobre o dólar australiano. Ou seja, a nossa moeda tem o mesmo comportamento que a de outros países, principalmente dos que são exportadores de matérias-primas.

O que realmente acontece é que em momentos de relativa tranquilidade na economia mundial a moeda americana se desvaloriza. Em agosto de 2008, por exemplo, antes do estouro da crise internacional e de toda a expansão monetária feita pelos banco centrais para combater a crise, o dólar chegou a ser cotado a R$ 1,55, no dia 1 de agosto.

Schwartsman questiona o conceito de guerra cambial anunciado pelo governo. Explica que a ação do Banco Central Europeu (BCE) de emitir mais euros não teve como objetivo desvalorizar a moeda, mas sim evitar que houvesse a quebra de alguma instituição financeira na Zona do Euro, que provocasse uma crise sistêmica.

- Quando o BCE aumentou a base monetária, o efeito foi de valorizar o euro, e não desvalorizar. O euro estava se desvalorizando com o crescimento da crise e a desconfiança sobre a Zona do Euro. Quando o BCE afastou o risco de quebra de algum banco, o euro voltou a ser uma moeda atrativa e se valorizou em relação ao dólar. É exatamente o contrário - disse.

De uma forma geral, a reação do mercado sobre a medida do governo foi de descrença. O Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco, por exemplo, acredita que novas medidas serão anunciadas, mas que ainda assim a tendência será de valorização da moeda brasileira.

"Tal medida e os sinais de que o governo pode intervir de outras formas sobre o mercado cambial podem minimizar a pressão de curto prazo para a valorização do real. Contudo, continuamos acreditando que os fundamentos apontam na direção de um câmbio mais apreciado do que no nível atual, diante da liquidez mundial abundante", disse o banco em relatório.

A valorização do real tem efeitos benéficos porque estimula os investimentos. Schwartsman lembra que os investimentos no Brasil estão num nível baixo, na casa de 18% do PIB, e que essa taxa seria ainda mais baixa se a moeda fosse desvalorizada:

- Só existem três formas de levantar recursos para investir: o governo corta gastos e faz poupança; os consumidores cortam gastos e fazem poupança; toma-se poupança de outros países. Como no Brasil o governo aumenta os gastos e estimula também as compras dos consumidores, só sobra a poupança externa. É por isso que temos um déficit em conta corrente de cerca de US$ 50 bilhões.

Diante de um quadro de relativa impotência sobre o câmbio, o governo deveria trabalhar para dar mais condições de competitividade para a indústria, que é quem mais sofre com a concorrência dos importados e as dificuldades em exportar. Mas até a indústria se beneficia em parte da alta do real porque pode importar máquinas que aumentam a produtividade. O comércio também agradece o fortalecimento da moeda, porque isso facilita importações e aumenta a concorrência entre os seus fornecedores.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 02/03/12
Seguradoras usam criatividade e preço mais baixo para atrair clientes

Seguradoras criam cada vez mais produtos diferentes para atingir o gosto de clientes, em especial das classes C e D, pouco acostumados a contratar seguros.

Há desde seguros de vida com assistência a animais de estimação, com direito a consultas veterinárias e transporte dos bichos, a produtos com consertos de eletroeletrônicos acoplados.

Os preços surpreendem. Por R$ 3,50 mensais, é possível segurar a vida, ter auxílio-funeral e um título de capitalização. A cobertura é simples, ressalta Marco Antonio Rossi, presidente do Grupo Bradesco Seguros.

Embora tenha se reduzido, há ainda reserva em se pensar em seguro de vida e morte. O aumento da renda nas classes C e D impulsionou a criatividade na elaboração do "pacote" do seguro.

Líder no mercado, o Bradesco Seguros fechou 2011 com mais de 40 milhões de clientes, incluindo previdência complementar aberta e capitalização, e uma alta de 11,2% ante 2010. Cerca de 18 milhões de apólices são abaixo de R$ 20 ao mês. Pelo menos uma família é segurada pelo grupo em cada cidade do país.

"Quando os primeiros sonhos são atingidos, as pessoas buscam a proteção desses sonhos, da vida, do carro e da casa", afirma Rossi.

No Grupo BB Mapfre, cerca de 40% dos 25 milhões de clientes são das classes C e D.

"Essas pessoas querem seguros de vida e de saúde, mas só 15% têm", diz Bento Zanzini, diretor do grupo.

DISTRIBUIÇÃO AMERICANA

Menos de 10% dos recursos dos programas sociais nos EUA são destinados a desempregados que estão em idade economicamente ativa, segundo pesquisa do Center on Budget and Policy Priorities, organização que compila dados do país há 30 anos.

A maior parte dos investimentos (53%) é recebida por pessoas com mais de 65 anos.

Em seguida, aparecem os recursos destinados pelos Estados Unidos a inválidos (20%) e donas de casa (18%).

O valor restante, de 9%, é gasto com benefícios aos desempregados, seguro-saúde, aposentados com menos de 65 anos, entre outros.

De acordo com o centro, nos programas destinados a norte-americanos com salários baixos, 83% dos investimentos são dirigidos às pessoas inválidas ou com mais de 65 anos.

A classe média, que representa 60% da população segundo o estudo, recebeu 58% das verbas.

Em 2010, as despesas dos Estados Unidos com planos sociais superaram a marca de US$ 1,8 trilhão.

baixa fidelidade

Os programas de fidelidade ainda são pouco explorados pelas empresas no Brasil, de acordo com levantamento da Colloquy.

Dos consumidores ouvidos pela companhia, 33% têm cartão fidelidade de alguma empresa. O percentual é maior entre as classes A e B (43%).

A pesquisa mostra também que 43% dos entrevistados esperam um tratamento especial dos vendedores. O número é 20% maior do que o de qualquer outro país analisado, como Estados Unidos, Austrália e China.

As recompensas oferecidas pelas empresas são apontadas como principal fator que leva o cliente a se cadastrar nos programas de fidelidade.

As milhas e os pontos que o consumidor pode conseguir usando o cartão de crédito aparecem em seguida.

Em relação à proteção dos dados pessoais concedidos às empresas, quase 70% afirmam se preocupar muito (maior percentual encontrado entre os seis países que participaram da pesquisa).

No total, 4.414 pessoas foram ouvidas.

PLANO DE CARREIRA

Quase 60% das mulheres estão insatisfeitas com o trabalho, segundo pesquisa da empresa de consultoria de gestão e serviços de tecnologia Accenture com mais de mil executivas em 31 países, incluindo o Brasil.

O trabalho, que ouviu no total 3.900 executivos, incluindo homens, conclui que mais de 40% dos entrevistados avaliam a falta de oportunidade e de um plano de carreira como obstáculo.

Apenas 20% citam as barreiras familiares.

Apesar do descontentamento com o trabalho, mais de dois terços disseram que não pretendem deixar os empregos atuais.

Quando questionados sobre motivos que retardaram a sua carreira, 44% citaram as turbulências econômicas globais que tiveram início em 2008, segundo a empresa.

Aproximadamente 40% dos entrevistados apontaram o nascimento de filhos.

O Brasil é um dos países com o menor índice na indicação de nascimento de filhos como um fator de atraso na carreira.

preferência nacional

O Ministério do Desenvolvimento estuda dar uma margem de preferência nas compras públicas para equipamentos médicos e para motoniveladoras e retroescavadeiras associadas a obras do PAC que beneficiam diretamente a indústria nacional.

Para obter a preferência, o vencedor da licitação terá de comprovar a origem nacional do produto.

A medida deve favorecer o setor de máquinas, que já é beneficiado pela redução de IPI e do prazo de devolução de créditos do PIS-Pasep/Cofins.

A desoneração de IPI e PIS/Cofins sobre bens de capital representa renúncia fiscal de R$ 16 bilhões, segundo a pasta.

Cimento O nível de emprego da construção pesada cresceu 1,41%, em janeiro, com a contratação de 1.456 trabalhadores, em relação a dezembro, segundo o levantamento do Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Estado de São Paulo.

Energia... Em fevereiro, o preço de energia elétrica dos contratos para entrega a curto prazo no mercado brasileiro teve valorização de 55%, segundo a plataforma eletrônica de negociação Brix.

...oscilante No período, o preço mais baixo registrado foi de R$ 39,16 MWh, em 7 de fevereiro, e o mais alto, de R$ 69,56 MWh, no dia 13. A alta do preço está ligada ao fato de o volume de chuvas no período ter ficado abaixo do esperado.

A grande lambança - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 02/03/12


Quando uma aliança de poder se sustenta quase que exclusivamente sobre as bases voláteis da barganha política e dos interesses rasteiros dos mandachuvas, a máquina do governo inevitavelmente acaba tropeçando na escassez de competência gerencial da companheirada ou no excesso de ambição dos chefetes de facção. Exemplos abundantes da incapacidade do governo federal de tocar com um mínimo de eficiência seus projetos mais importantes, como os do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), esgotam a paciência de qualquer um. Mas a lambança armada na disputa de poder entre executivos de primeiro escalão do Banco do Brasil (BB) e da bilionária caixa de previdência dos funcionários da casa - a Previ - parece ter levado ao limite a tolerância da chefe do governo com aquilo que ela própria costuma chamar, eufemisticamente, de "malfeitos".

O presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, é desafeto declarado do presidente da Previ, Ricardo Flores, que conta com o apoio de gente importante do PT. E a desafeição é recíproca. Ambos são reconhecidos como profissionais competentes na área financeira, julgamento respaldado pelos balanços do banco e do fundo de pensão. Mas nenhum dos dois - obviamente afinados com os interesses dos figurões do governo e dos partidos que lhes garantem a retaguarda - está satisfeito com a extensão de seus domínios. Engalfinharam-se, então, numa disputa pública que ultrapassou o limiar da baixaria quando veio à luz a evidência de que o conflito está sendo municiado com quebra ilegal de sigilo bancário e dossiês destinados a comprometer a reputação dos oponentes. O que, aliás, não chega a ser novidade, considerando que esses são, historicamente, recursos diletos das falanges petistas. E que, afinal, não são usados exclusivamente contra inimigos "de fora".

O imbróglio fez soar o alarme no Palácio do Planalto já no fim do ano passado, quando começaram a vazar informações - ao que tudo indica, baseadas em quebra ilegal de sigilo bancário - de que um dos vice-presidentes do BB, Allan Toledo, estaria envolvido numa "movimentação financeira atípica" de quase R$ 1 milhão. Toledo era aliado do presidente da Previ. Foi demitido em dezembro pelo Conselho de Administração do banco, presidido pelo secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa. O presidente do banco, Bendine, a quem Toledo teria "traído", é considerado homem de confiança do ministro Guido Mantega.

Com o recrudescimento da guerra entre os comandos do BB e da Previ, a presidente da República chegou à conclusão de que era hora de intervir. Enviou, segundo fontes do próprio Palácio do Planalto, emissários para dar um ultimato a Bendine e a Flores: o fim das hostilidades ou a demissão de todos. E agora o Ministério da Fazenda instruiu o Banco do Brasil a abrir uma sindicância para tirar a limpo as suspeitas de quebra ilegal de sigilo bancário e as denúncias de irregularidades que resultaram na queda de um dos vice-presidentes da instituição. Ao que tudo indica, portanto, outras cabeças podem rolar.

É impossível prever o resultado final dessa lamentável lambança que envolve duas das mais importantes instituições financeiras do País controladas pelo governo. Este parece agir agora movido, por um lado, pela preocupação de preservar, num mercado extremamente sensível a extravagâncias de qualquer tipo, a credibilidade tanto do Banco do Brasil quanto da Previ. E, por outro lado, de evitar que a irresponsabilidade política de dois de seus principais agentes e respectivas entourages comprometa a imagem do próprio poder central. Dessa perspectiva, o ultimato de Dilma tem todo cabimento.

Ocorre que, numa situação extrema, a presidente poderá livrar-se dos presidentes do BB e da Previ para salvar as aparências. Mas o sacrifício dos dois peões será claramente insuficiente para abater a ambição desmedida por poder que acaba colocando o interesse público em plano secundário. Por detrás de Bendine e de Flores agem, à sorrelfa, figuras influentes encasteladas nos escalões superiores tanto do governo quanto dos partidos que o apoiam. De pouco adianta espantar as moscas que se refestelam no bolo do poder.

Ueba! Crivella no Pesque e Pague! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 02/03/12


Será que ele vai multiplicar os peixes? Vai! Multiplicar as garoupas, as notas de R$ 100. Rarará!

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Aleluia!
Pastor Crivella é o novo ministro da Pesca! Será que ele vai multiplicar os peixes? Vai! Multiplicar as garoupas, as notas de R$ 100. Rarará.
E um cara no meu Twitter escreveu: "Com o Crivella pra ministro da Pesca, a Dilma devia nomear o Britto Jr. pra Fazenda!".
E um outro rebateu: "Peixes do litoral brasileiro se recusam a pagar o dízimo!". Rarará!
E o Crivella tem muita experiência pro ministério: pescou um lambari num Pesque e Pague! Isso! Ele devia ser ministro do Pesque e Pague! Rarará!
E vai puxar a sardinha pro lado dos evangélicos! Pesca e puxa! Eu gostava quando a ministra da Pesca era a Ideli. Que matava os peixes no berro. No susto! Com dinamite! Rarará!
E pra que serve o ministério da Pesca? Pra ficar contando mentira! Ministro Minhoca! Já imaginou a conversa lá no ministério? "Você vai pescar?". "Não, eu vou pescar". "Ah, bem, pensei que você ia pescar".
Rarará!
E diz que levaram o Crivella prum aquário e ele se assustou com uma tainha, saiu correndo. "Socorro, uma tainha!".
E eu vou pedir pro Crivella criar o Vale Vara: toda mulher tem direito a um Ricardão quando o marido for pescar! Rarará!
E o IPVA? O meu IPVA é impagável. E o meu carro é implacável!
E sabe o que uma amiga declarou no quesito "estado civil" do Imposto de Renda? "À espera de um milagre". E outra declarou assim no estado civil: "mais acumulada do que a Mega-Sena".
E um leitor me mandou perguntar: "Sogra eu declaro como dependente ou ônus?". Carma. Declara como carma. Rarará.
Como disse o Sinhozinho Malta: sogra em casa é pior que assombração! E um amigo declarou assim no quesito sexo: ENORME! Rarará!
E adorei a charge do Gazo: "Mulher, que arroz pobre é esse, não tem nem tempero". "É a minha nova receita de arroz à grega". Rarará!
E em João Pessoa, na Paraíba, você compra mouse na confeitaria. Olha a placa: "Mundial Lanches, pavê, mouse e pudim". Rarará.
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Gastar é fácil, investir nem tanto - ROGERIO FURQUIM WERNECK


O Globo - 02/03/12


Em artigo publicado há quase cinco anos, o ex-ministro Antonio Palocci fez ponderações sobre entraves aos investimentos do PAC que, a cada dia, soam mais oportunas (O GLOBO, 16/9/2007). Arguiu que, no governo, o investimento costuma ser "a mais difícil das tarefas". E que, em vista das dificuldades envolvidas, não só na escolha dos projetos, como nas fases de planejamento, financiamento e execução, "os gastos correntes tendem a ganhar de goleada dos gastos com investimentos".

O que Palocci queria dizer era que, ao escolher que uso dar aos recursos fiscais adicionais propiciados, ano após ano, pelo crescimento da arrecadação, o governo vinha mostrando preferência inequívoca por aumento de dispêndio corrente. E que, mesmo quando a escolha recaía sobre o investimento, à medida que a execução dos projetos se atrasava, na esteira de incontáveis dificuldades, a sobra de recursos fiscais acabava por viabilizar expansão adicional de gastos correntes.

São ponderações que continuam a merecer atenção. Nos últimos anos, o governo não encontrou dificuldade para expandir em muito seus gastos correntes. Aumentar o investimento público, no entanto, continua sendo muito difícil. E não se trata apenas de evitar que a expansão tão fácil dos gastos correntes acabe por inviabilizar o aumento dos investimentos. Trata-se também, e principalmente, de conseguir fazer o investimento acontecer, quando o financiamento está plenamente garantido.

No ano passado, o governo não tinha qualquer intenção de conter seus gastos de investimento. Muito pelo contrário. Ainda assim, o que se constatou, afinal, foi que tais gastos permaneceram estagnados, em nível equivalente ao de 2010. Não por ter havido contingenciamento de verbas ou qualquer outra forma de restrição ao financiamento. Mas, simplesmente, porque, em ministérios infestados por esquemas de corrupção, o governo se viu obrigado a desmantelar as cadeias de comando que acionavam o investimento. E ainda não conseguiu remontá-las.

A remontagem promete ser bem mais complexa do que o governo antevia, como bem ilustram as dificuldades de reconstrução do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, o emblemático Dnit. De acordo com seu novo diretor, o órgão teria de contar com o dobro dos funcionários com que agora conta, para que pudesse ter chance de desempenhar a contento o papel que dele se espera, na gestão dos programas de investimento público sob sua responsabilidade. Em vista dessas dificuldades, já há quem argua que talvez faça mais sentido reconstruir o Dnit em outras bases.

Além de corrupção escancarada, o atrofiado esforço de investimento que ainda subsiste no orçamento federal vem enfrentando os custos do problemático loteamento de cargos que vem sendo feito pelo governo, em nome de um presidencialismo de coalizão que parece já ter ido bem mais longe do que seria razoável. A mídia tem dado destaque à licença com que políticos agraciados com a gestão de determinados órgãos da administração pública interpretam os poderes de que foram investidos. Proliferam casos de gestores que se permitem concentrar a maior parte dos investimentos dos órgãos que administram em projetos de interesse exclusivo dos Estados de onde são oriundos.

A grande vantagem da presidente é que dela não se pode dizer que lhe falte reflexão prévia sobre esses problemas. Desde o primeiro mandato do presidente Lula, Dilma Rousseff está mobilizada com o desafio de assegurar que os programas de investimento público avancem conforme previsto. E foi exatamente isso que, na transição do governo anterior para o atual, assegurou tão alto grau de continuidade na gerência dos programas de investimento público. Prestes a completar sete anos de envolvimento diário com tais problemas, a presidente já não tem como alegar surpresa diante de qualquer dos desafios envolvidos na complexa gestão dos investimentos do governo. Não pode se dar ao luxo de apresentar mais um ano de desempenho medíocre nessa área.

GOSTOSA


Apendicite aguda - DORA KRAMER


FOLHA DE SP - 02/03/12

Explodiu mais cedo do que se imaginava a insatisfação latente entre os aliados do governo com a percepção de que são apenas linhas auxiliares na construção do projeto hegemônico do PT, assunto abordado aqui a partir de entrevista do líder do partido na Câmara, Jilmar Tatto, na qual deixava patente o papel secundário dos parceiros de aliança.

A reação surgiu na forma de um manifesto assinado por mais da metade da bancada do PMDB na Câmara reclamando da relação "injusta e desigual" com o PT.

O documento refere-se ao tratamento diferenciado dado aos petistas no governo na comparação com outros integrantes da base de sustentação, tem algum caráter de pressão fisiológica, mas na essência alcança razões mais profundas.

São compartilhadas por todos os demais partidos da coalizão governamental, mas explicitadas pelo PMDB que, até pelo peso e pelo fato de ocupar a Vice-Presidência da República, acaba funcionando como uma espécie de porta-voz da revolta geral.

Se a ópera pudesse ser resumida numa frase, seria a seguinte: o PMDB cansou de ser periferia. Percebeu que estava melhor quando não submetido à obediência decorrente da ocupação da Vice-Presidência da República e concluiu que fez um mau negócio.

A contrariedade emerge de um motivo pragmático: o risco iminente à sobrevivência do partido.

Importante por ter presença no País todo, por ocupar o maior número de prefeituras Brasil afora e por ter representação forte no Congresso, o PMDB começou a se dar conta de que não apenas a situação pode mudar (para pior) como detecta no PT a execução de um plano estratégico para virar esse jogo.

Avançando sobre as trincheiras peemedebistas nos Estados e municípios sem levar em conta critério de contrapartida na formação das alianças eleitorais e, no plano nacional, alijando o partido do centro das decisões de poder.

É um movimento de confronto ao governo? Não só. Oficialmente o ataque dirige-se ao PT, mas internamente a intenção é "sacudir" a cúpula, tida como excessivamente submissa ao Palácio do Planalto por causa de projetos individuais.

Principalmente dois: o do líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, e o do vice-presidente Michel Temer. O primeiro quer presidir a Casa a partir de 2013; o segundo pretende assegurar o lugar de vice na eleição de 2014.

Em nome disso, reclamam os deputados, submetem-se passivamente à ofensiva do PT sem cuidar da preservação do partido em si que, na avaliação de lideranças, corre o risco de virar o DEM do PSDB.

Ou seja, tanto atua a reboque do carro-chefe, quanto aceita as regras da conveniência do outro que, quando acorda, está em vias de extinção sem força, voz nem consistência para reagir.

É essa a discussão de fundo, muito mais que a reivindicação de cargos aqui e ali. Uma situação complicada, pois o PMDB não tem para onde ir. Mas ali já começa a crescer a percepção de que talvez seja melhor tentar sobreviver só do que permanecer como apêndice e morrer mal acompanhado.

Algo se move. As condenações em primeira instância de Marcos Valério e Waldomiro Diniz, nos últimos 15 dias, lançam crédito na eficácia, ainda que lenta, da Justiça e desmoralizam as afirmativas sobre o caráter "fantasioso" e "golpista" dos escândalos em que ambos dividiram a cena com figuras proeminentes do governo federal.

Febeapá. Marcelo Crivella diz que terá de "aprender muito" sobre suas novas funções. Maravilha. Mais não seja para, uma vez inteirado do assunto, explicar ao País qual é mesmo a serventia do Ministério da Pesca.

Ademais, a declaração de Crivella sobre inépcia no trato de minhocas e anzóis é especialmente constrangedora para a presidente Dilma que inaugura o que seria o "primeiro ano de seu verdadeiro governo", como se diz por aí, enveredando pelo perigoso terreno da galhofa.

Bandeira Paulista - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 02/03/12
A conversa final entre a presidente Dilma Rousseff e o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) para levá-lo ao Ministério da Pesca ocorreu na sexta-feira, em Brasília. Dela participou também Marcos Pereira, presidente do PRB e patrono da candidatura de Celso Russomanno à Prefeitura de São Paulo. "Fica mais difícil fazer oposição ao governo federal [na campanha] agora que estamos no governo", admite Pereira.

BANDEIRANTE

O petista Fernando Haddad será poupado. Já em relação ao governo de Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e à prefeitura de Gilberto Kassab (PSD-SP), a oposição será forte. "Não tenha dúvida", diz Pereira, que é pastor licenciado da Igreja Universal e já foi diretor de relações corporativas da TV Record.

BANDEIRANTE 2

Pereira diz também que Dilma fez elogios a Russomanno. "Ela disse que gosta do Celso, que ele é simpático." O presidente do PRB afirma também que a presidente prometeu reforçar o orçamento da Pesca.

TATU COM A BOLA

Dos três animais que disputam o posto de mascote da Copa de 2014, o tatu-bola é o favorito da maior parte do comitê organizador. Os concorrentes são o jacaré e um felino, provavelmente a onça. Os charme do tatu seria poder se transformar em uma bola de futebol.

NARIZ TORCIDO

Apresentado ao bichinho, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, fez ressalvas. Sua assessoria, no entanto, diz que ele não manifestou preferência por nenhum dos três mascotes.

A PEREIRINHA
Julia Fajardo, 27, filha dos atores Vera Fajardo e José Mayer, o Pereirinha de "Fina Estampa", atuará pela primeira vez com o pai no musical "Um Violinista no Telhado", que estreia no dia 16, no Teatro Alfa. "A gente se segura pra não misturar as coisas. Meu pai é maravilhoso, me dá muitas dicas", diz. A atriz, contratada da Record por três anos, entrará na minissérie "Rei Davi" como Tamar, filha de Davi.

AMADO EM ALEMÃO

A editora alemã Fischer Verlag vai traduzir e relançar títulos de Jorge Amado na Feira do Livro de Frankfurt, em 2013. "Tenda dos Milagres", "Mar Morto", "Capitães da Areia", "Dona Flor e Seus Dois Maridos" e "A Morte e a Morte de Quincas Berro d'Água" serão apresentados no evento, que homenageará o Brasil, com patrocínio do Ministério da Cultura.

GOELA ABAIXO

A ONG Trânsito Amigo vai fazer campanha na mesa do bar. A agência AGE Isobar criou rótulos imitando os de três marcas de cerveja, mas trazendo no lugar dos nomes os principais traumas causados por acidentes de trânsito: fratura exposta, retina descolada e crânio rachado.

GOELA ABAIXO 2

A campanha começará neste final de semana nos bares Ô Fiô, no Morumbi, e The Joy, no centro, e vai até a Páscoa. Serão 300 garrafas por noite. A ONG quer, mais para a frente, colar nas paredes dos estabelecimentos cartazes e pôsteres da campanha, que também imitam os anúncios comuns das marcas de cerveja.

BREGA, EU?

Gaby Amarantos, chamada de Beyoncé do Pará, fará um show na festa de lançamento da nova programação da TV Globo, no dia 5, em São Paulo. Durante a apresentação, ela terá a companhia da atriz Cláudia Abreu, que interpretará uma cantora brega na próxima trama das sete da emissora.

DIA DE PRINCESA

O estilista belga Olivier Theyskens, que assina o vestido de noiva de Carol Trentini, também está fazendo um outro modelo para a top usar durante a festa de seu casamento com Fábio Bartelt, amanhã, em Itajaí (SC). Depois da cerimônia, Theyskens viajará oito dias pelo litoral catarinense.

DASPU NO PALCO

A atriz Alexia Dechamps estreou a peça "Filha, Mãe, Avó e Puta" no CCBB, com direção de Guilherme Leme. A autora, Gabriela Leite, da Daspu, foi à sessão.

CURTO-CIRCUITO

Agnaldo Farias, Noemi Jaffe e Paulo Miyada debatem hoje, às 19h, a obra de Mattia Denisse, no Instituto Tomie Ohtake.

A Mostra São Paulo, de joias, acontece hoje e amanhã no Centro de Eventos São Luís, das 9h às 20h.

O torneio de tênis Itaú Masters Tour será lançado hoje, às 9h30, na loja da Asics da rua Oscar Freire.

O shopping Santana Parque fará na terça, às 13h30, sua sessão inaugural do CineMaterna, para mães levarem seus bebês.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY