segunda-feira, fevereiro 20, 2012

Poxa, Portela! - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 20/02/12



Noca da Portela, de 79 anos, mestre do samba, não desfilou na escola azul e branco. Diz que a Portela lhe negou duas camisetas que daria ao seu médico.

— Faltaram com respeito comigo. São 46 anos de Portela, merecia mais carinho.

Silêncio, Mangueira
Depois da paradona de 20 segundos em 2011, os ritmistas da Mangueira vão calar os instrumentos durante dois minutos.
Além disso, haverá roda de samba dentro do setor.

Buraco quente
Aliás, Ivo Meirelles, presidente da escola, acusa os antecessores Elmo dos Santos, Alvinho e Chininha de não terem prestado contas de R$10,1 milhões da Lei Rouanet, o que teria tornado a verde e rosa inadimplente.

Acabou em samba
Sobrou para o “BBB”, em Recife, no bloco Quanta Ladeira, o da turma de Lenine e Lula Queiroga, famoso por desfilar com paródias de clássicos da MPB. Uma das músicas foi uma versão de “A vida do viajante” (Gonzagão e Hervé Cordovil).

Trechinho: “Minha vida é cheirar por esse nariz/Quanto mais eu cheiro, mais eu fico infeliz/Vai dando uma solidão/Uma vontade de morrer/Se a coisa fica pior/Eu vou ver o ‘BBB’...”

Sobrou também
Para os boa gente Vitor Fasano, Maria Gadú e Fafá de Belém no Quanta Ladeira, sobrou paródia de “Aquele abraço”, de Gil.
Diz: “Alô, Vitor Fasano! Aquele é macho!/Alô, Maria Gadú! Aquele é macho!/Alô, Fafá de Belém! Essa quer macho...”

Papagaio de pirata
Ike Cruz, empresário de Juliana Paes, diz que foi procurado por uma pessoa do camarote da Brahma dizendo que seria bom para a imagem da atriz estar ao lado de Jennifer Lopez:

— Disse que a Ju não tem vocação para papagaio de pirata.

Homem não presta
Gente que defende o nome de Marta Porto, ex-secretária de Cidadania e Diversidade Cultural, para ministra da Cultura, caso Ana de Hollanda deixe o cargo, “acusa” Danilo Miranda, diretor do Sesc em SP, outro cotado para o cargo, de... ser homem.

É, nesta versão pseudofeminista, o cargo faz parte da cota de mulheres do governo Dilma. Ah, bom!

Amado na Espanha
A Universidade de Salamanca firmou parceria com a ABL para festejar nosso Jorge Amado (1912-2001) em seu centenário.
A renomada instituição espanhola decretou 2012 como “Ano Internacional Jorge Amado — In Memoriam”. Vai exibir filmes da obra do baiano, seguidos de debates, organizar conferências e, depois, publicar esse material.

Pró-memória
Aliás, Vadinho, o personagem safadinho de “Dona Flor e seus dois maridos”, morreu num dia como o de hoje... de carnaval, fantasiado de baiana.

Christian Louboutin, o famoso designer francês de sapatos, muito conhecido por suas solas vermelhas, foi barrado sábado na porta do Baile do Copa, no Copacabana Palace, porque... não usava sapato preto.

Ele calçava um sapato branco, com tachas de metal, de sua autoria. A saia-justa durou pouco tempo, e Louboutin acabou entrando no baile.

Toma todas
Aliás, quando o assunto é camarote de cerveja, Louboutin não é fiel... assim como muitas outras celebridades nacionais.
Além do camarote da Devassa, o designer se credenciou no camarote da... Brahma.

Jogando a toalha
Circula nos bastidores do samba que Laíla, o todo-poderoso da Beija-flor, que é diretor de carnaval e harmonia, estaria de saída da escola.

A conferir.

Mãos à obra
Sábado, na Sapucaí inacabada, até o presidente da Liesa, Jorge Castanheira, ajudou a carregar a estrutura de metal das frisas, tentando terminar a montagem.

Aconteceu, virou M...
O Data Rio, de Guto Graça, entrevistou 420 cariocas sobre o carnaval do passado.

O pessoal tem saudade de alguns desfiles ou mesmo das marchinhas de antigamente. Mas veja só: para 4% dos ouvidos, a saudade maior é da edição que saía depois do carnaval da finada revista “Manchete”.

Embelezamento autobiográfico - MARCELO DE PAIVA ABREU


O ESTADÃO - 20/02/12

O suplemento EU & Fim de Semana, do jornal Valor, publicou em 10/2/2012 entrevista do ex-ministro Delfim Netto sob o título O homem que se reinventou. O título parece inspirado na evolução de ministro da ditadura a eminência parda dos governos do PT. Mas, no que diz respeito à avaliação que o entrevistado faz de vários episódios cruciais nos quais esteve envolvido, um título mais apto seria O homem que se repete. Embora a entrevista inclua simpáticas referências ao cotidiano do ministro e à sua família, sobre a vida pública foi uma repetição de interpretações baseadas em lembranças seletivas já ventiladas em entrevista anterior, ao próprio Valor Econômico, de 30/9/2005.

Repito o que escrevi sobre Delfim Netto, nesta mesma página, sob o título História e fábula, em 10/10/2005, comentando a entrevista de 2005: "É referência nacional em relação a vários atributos: astúcia, jogo de cintura, rapidez nos comentários ferinos. Jovem, escreveu tese sobre o café no Brasil que figura em qualquer lista das melhores obras sobre a economia brasileira. Foi figura importante na consolidação do ensino de Economia na USP, nas décadas de 1950 e 1960. Depois, durante longo período na ditadura militar, foi ministro todo-poderoso, responsável pela política econômica. Entre 1967 e 1974, emplacou a imagem de pai do "milagre brasileiro", quando a economia cresceu a taxas próximas a 10% ao ano, na esteira de um boom na economia internacional. Na sua volta, entre 1979 e 1985, já não teve tanto sucesso, a julgar com base na inflação alta e na intensidade da recessão".

Na entrevista recente, Delfim Netto repete afirmações que merecem, de novo, reparo. A primeira é quanto às suas relações com a ditadura. Ao ser perguntado se "sente algum incômodo, constrangimento, por ter participado dos governos militares", responde: "Me causa o incômodo natural que causa a todas as pessoas quando o Estado abusa do seu poder". Perguntado se "não lhe chegavam notícias dos porões do regime", responde: "Não! Há um equívoco completo nisso. Tinha uma divisão absolutamente total entre a política e a economia".

Não é o que se depreende de manifestações do ministro, em particular de sua incitação para que o Ato Institucional número 5, de 1968, fosse ainda mais radical. Suas palavras à época: "Estou plenamente de acordo com a proposição... direi mesmo que ela não é suficiente... deveríamos dar a Vossa Excelência a possibilidade de realizar certas mudanças constitucionais que são absolutamente necessárias para que este país possa realizar o seu desenvolvimento com maior rapidez". Não parece leviano entender a declaração como justificativa econômica para o fechamento político.

A segunda afirmação questionável de Delfim Netto é a sua versão da demissão de Mário Henrique Simonsen, substituído por ele mesmo no Ministério do Planejamento. Segundo Delfim, Simonsen - "grande amigo" seu - resolveu pedir demissão porque acreditava que Paul Volcker, à frente do Federal Reserve, aumentaria a taxa de juros e, "com a dívida que fizemos no governo Geisel, não temos como pagar". Figueiredo teria ficado possesso com a forma com que Simonsen se demitira. Em suma: Simonsen não estava disposto a enfrentar o problema e preferiu abandonar estouvadamente o cargo, deixando uma dívida impagável.

No seu discurso de posse no Planejamento, em 15/8/1979, em meio a verdadeira apoteose empresarial, Delfim instou: "Senhores, preparem seus arados e suas máquinas, vamos crescer". Era uma crítica à estratégia de seu predecessor de crescer a taxas moderadas para conter a inflação. Como ministro da Agricultura, já havia saído vitorioso diante de Simonsen, quando em maio os preços mínimos agrícolas haviam sido aumentados acima de 50%. Nas palavras do próprio Delfim: "Eu tinha a obrigação de defender a agricultura. Ele, de defender a caixa" (V. Alberti, C. E. Sarmento e D. Rocha (orgs.), Mario Henrique Simonsen. Um homem e seu tempo, Rio de Janeiro, 2002).

Simonsen escreveu sobre 1979 com bastante senso de humor (M. H. Simonsen, 30 anos de indexação, Rio de Janeiro, 1995): "O discurso inicial de austeridade (do governo Figueiredo) foi posto de lado, em agosto de 1979, com a substituição do impopularíssimo ministro do Planejamento, que queria reduzir a taxa de crescimento do produto real para 3% ou 4% ao ano, a fim de ajustar o País ao segundo choque do petróleo e à escalada dos juros internacionais. Imediatamente, se lançou na aventura de uma expansão monetária... na tentativa de conter a inflação pela expansão da oferta de bens e serviços... A inflação quase imediatamente subiu de 45% ao ano para 45% ao semestre". Após crescer mais de 9% ao ano em 1980, a economia brasileira registrou no triênio seguinte a maior recessão de sua história, com a inflação além dos 200% ao ano. O governo, assim, fracassou a segunda tentativa de fuite en avant de Delfim Netto.

Ao se dedicar ao embelezamento autobiográfico, Delfim Netto desmerece os aspectos positivos de sua vida pública. Talvez mais grave, não faz bom uso da "boutade" que tanto aprecia: a de que "a gente fica mais virtuoso quando o futuro virou passado".

O bloco da saúde - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 20/02/12

Em março, vem aí a Lei de Responsabilidade Sanitária para que os governos federal, estaduais e municipais assumam suas obrigações na área de saúde. Já não era sem tempo


O país tem uma Lei de Responsabilidade Fiscal para enquadrar prefeitos, governadores, presidente da República, enfim, qualquer gestor público que seja descontrolado com o seu caixa e não cumprir princípios básicos, como limites de gastos com pessoal. Mas não tem uma Lei de Responsabilidade Social que faça os gestores públicos aplicarem os recursos disponíveis em prol de quem mais precisa. Não vamos chegar a essa lei do dia para noite, muito menos em pleno carnaval. Mas, nessa época, em que infelizmente aumenta a procura por emergências em hospitais por conta dos excessos, é bom lembrar que há algumas ações em curso nesse sentido.

Está em gestação na Câmara dos Deputados a “Lei de Responsabilidade Sanitária”, um conjunto de normas para clarear como deve ser o atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Por um ano, a subcomissão destinada a tratar do financiamento, reestruturação do SUS. O grupo fez dezenas de audiências, visitou vários estados e voou até a França, a Inglaterra e a Espanha para conhecer o sistema de atendimento integral e universal desses países.

O sistema de saúde francês foi considerado o melhor do mundo em 2000 pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Lá, 65% dos leitos hospitalares são públicos. Os filantrópicos somam 15% e apenas 20% saem de hospitais privados com fins lucrativos. O serviço nacional francês reembolsa 70% dos serviços. Na Inglaterra, o atendimento público também predomina. O National Health Service (NHS) tem um milhão e meio de empregados, 10 mil clínicos que atendem cerca de 140 pacientes por semana, conforme os deputados souberam durante a visita ao país. O espanhol tem 70% dos gastos de saúde públicos.

Por falar em gastos…
Nem tudo são flores nos sistemas europeus, especialmente, diante da crise que afeta a zona do Euro e seus vizinhos. Na Inglaterra, por exemplo, discute-se a reformulação do sistema, com maior participação dos médicos, redução da burocracia e maior atenção aos resultados. E olha que os ingleses aplicam 8,5% do PIB em saúde. No Brasil, entre 2005 e 2009, conforme o relatório da subcomissão, os gastos em saúde por parte do governo federal subiram de 1,67% para 1,85% do PIB. Somadas as três esferas de governo — municipal, estadual e federal — chega-se a 3,7%.

Para 2012, o Orçamento da União reserva R$ 72 bilhões para o setor de saúde. É mais do que o dobro do previsto para a área de educação, R$ 33 bilhões. É muito dinheiro, mas o problema é que seus resultados não aparecem. Ficam embaçados, muitas vezes porque o país paga por procedimento aos hospitais. A idéia da Lei de Responsabilidade sanitária é tentar inverter essa lógica.

O relator do projeto, deputado Rogério Carvalho, médico, ex-secretário estadual e municipal de saúde, pretende num primeiro momento que os governos façam um mapeamento dos serviços básicos que cada município deve conter para a sua população. E, assim, evitar que nas pequenas localidades, se perca uma quantidade absurda de recursos montando espaços sem que se tenha uma população capaz de absorver os serviços. Por exemplo, uma pequena comunidade próxima a um centro urbano maior, que ofereça Unidade de Terapia Intensiva altamente equipada, pode destinar seus recursos, que invariavelmente são poucos, a outras ações, como uma ambulância bem equipada. A ideia é não desperdiçar dinheiro em equipamentos que possam ficar ociosos.

Por falar em ideia…
Feito um mapeamento da população e dos serviços básicos necessários, o deputado propõe que cada prefeitura, governo estadual e União assinem um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) assumindo a sua responsabilidade para com o setor de saúde. “Como um contrato, quem não cumpre está exposto a sanções”, afirma ele. Entre as punições previstas, pode haver a perda da autonomia na gestão dos serviços e, dependendo do caso, o gestor pode responder por crime de responsabilidade, improbidade. No documento que preparou para explicar a Lei de Responsabilidade Sanitária o deputado lembra que as punições incluem crimes de improbidade administrativa.

A maioria das punições está prevista na legislação brasileira, mas são raras as vezes em que são usadas porque a pessoa morreu por falta de atendimento ou de um medicamento adequado. Portanto, é bom lembrar que, quanto mais rápido as autoridades se entenderem e o país tiver uma Lei de Responsabilidade Sanitária, melhor. Afinal, se a Lei de Responsabilidade Fiscal pegou, a LRS certamente pegará. Podem apostar.

No mais…
Embora muitos estejam na folia, é sempre bom lembrar das orações. Hoje é a missa de 7º dia de Marcelo, o jovem filho do presidente da Embratur, Flávio Dino. Na Igreja de Santo Antônio, 911 Sul, 18h30.

Petróleo e a mancha do ufanismo - BRUNO COVAS


FOLHA DE SP - 20/02/12

A Petrobras derramou, em um ano, quase dois acidentes da Chevron em pequenos vazamentos; há desprezo pelo ambiente no governo federal

No curto período de quatro meses, o Brasil foi cenário de três vazamentos de petróleo: o acidente na bacia de Santos, o primeiro do pré-sal; o da Chevron, na bacia de Campos, com o volume equivalente a 2.400 mil barris lançados ao mar, em novembro de 2011; e o da praia de Tramandaí, no litoral do Rio Grande do Sul, em janeiro de 2012.

Só a perícia poderá apontar causas e definir responsabilidades. É mais do que óbvio, no entanto, o horizonte perigoso projetado pela mistura entre o clima de ufanismo carnavalesco que ronda a nova era do petróleo no Brasil e o menosprezo endêmico do governo federal às questões ambientais.

Fiquemos apenas nos acidentes da Petrobras, cujo volume de petróleo e de derivados vazado tem crescido de forma preocupante, como aponta o próprio relatório de sustentabilidade da empresa.

A gigante nacional derramou, em um ano, quase duas vezes mais do que o volume do acidente da Chevron, no Rio de Janeiro. Excluindo os países africanos, o Brasil é certamente o campeão em número de incidentes. São pequenos vazamentos, mas cada vez mais frequentes.

Sob a ótica das autoridades federais, a imagem que fica é a de que exploração econômica e preservação ambiental são fenômenos excludentes. E que, na dúvida, o primeiro item deve prevalecer.

Indícios dessa concepção anacrônica não faltam. Os temas dos quatro projetos encaminhados pelo governo para formatar o marco regulatório do pré-sal, por exemplo: alteração da partilha de produção, criação do fundo social, capitalização de petróleo e criação da Petrosal.

Ou seja, nenhuma concepção foi formulada sobre a questão ambiental -fato inusitado em um país cujas autoridades, até poucos anos atrás, gabavam-se, mundo afora, do potencial verde de sua matriz energética.

O governo poderia ter exigido um centro nacional de excelência para prevenir e mitigar acidentes dessa natureza. Mais: poderia ter detalhado planos mais rígidos de emergência, procedimentos para interrupção de descarga de óleo e programas de treinamento, entre uma miríade de alternativas que transformariam o país em modelo da exploração ambientalmente correta de uma energia não renovável.

O acidente na bacia de Santos traz um agravante. O governo de São Paulo, por meio de sua agência ambiental, a Cetesb, apontou ao Ibama várias inconsistências do estudo da Petrobras no processo de licenciamento do sistema de produção e de escoamento de petróleo e gás natural do polo pré-sal, na bacia de Santos.

Segundo os técnicos da Cetesb, a Petrobras não atendeu plenamente a análise de vulnerabilidade e de comportamento do produto derramado. Ela também não estabeleceu adequadamente procedimentos de comunicação para contenção e recolhimento do óleo derramado.

O documento também aponta falhas no monitoramento e na dispersão mecânica e química de manchas de óleo, erros nos procedimentos para limpeza das áreas atingidas e nas ações para coleta e disposição dos resíduos gerados. O documento pode ser visto no site da Cetesb.

O governo de São Paulo se propõe a participar um movimento para a criação de um centro de excelência para prevenir e mitigar acidentes dessa natureza.

Colocamos à disposição instituições como o Centro Paula Souza, o Instituto Geológico e o IPT para que esse grande desafio seja superado. As universidades públicas paulistas (USP, Unicamp e Unesp) também poderiam se engajar. A união de esforços precisa conter, de forma rápida, esse número inaceitável de acidentes ambientais.

Coxinha em promoção - LÚCIA GUIMARÃES


O ESTADÃO - 20/02/12


O Boteco do Joaquim, na Cidade Baixa, em Porto Alegre, está dando 50% de desconto na coxinha. Um espeto de "Coxinha da Asa", que custava R$ 12,50, custa agora R$ 6.

A colunista fugiu de Manhattan para passar o carnaval no Brasil, dirá o leitor. Nada disso, bá. Foi o Boteco do Joaquim que avisou esta guria da promoção. E concluo a afirmação no tom agudo de uma interrogação, como fazem os gaúchos. Uma pena que não posso economizar R$ 6,50 num almoço porque a passagem daqui para o Boteco custa R$ 4.

O email da coxinha é um das centenas que recebo toda semana, um subproduto da vala comum das listas de marketing que são vendidas ou surrupiadas. Pior, são compradas por comerciantes inocentes como se fossem acesso garantido ao público que querem atingir. Não ponho os pés na Cidade Baixa porto-alegrense desde a adolescência, quando um general teuto-gaúcho ainda podia se empanturrar de coxinhas grátis no Planalto.

Se alguma corporação estiver espionando minha correspondência eletrônica com base num algoritmo, pode montar um perfil em que: Eu como coxinha em Porto Alegre; corto o cabelo em Belo Horizonte; compro câmeras no Estado do Maine; passo os fins de semana em Búzios; encomendo pornografia do Estado de Nevada. Enfim, sou uma verdadeira cidadã do mundo, cheia de caprichos e perversões.

Se alguma corporação estiver me espionando? Não posso protestar inocência. Nem preciso olhar debaixo da cama para saber que minha lista de contatos e o conteúdo dos emails são acessados sistematicamente pelos aplicativos do celular e pelo servidor de email.

Seria necessário fazer um voto offline de carmelita descalça para deixar de ser trabalhadora involuntária da indústria digital. Vejamos: o Departamento de Pesquisa do Consumidor (eu entro com a pesquisa, eles faturam) do New York Times me escreveu uma carta tão lisonjeira que, confesso, cliquei no link da oferta. Fui convidada para me tornar membro de um painel de "leitores como você". A "recompensa"? Oferecer ao Times a minha opinião sobre "tópicos que vão de estilo de vida aos meus interesses"; ganhar pontos para receber prêmios nebulosos; descobrir novos serviços oferecidos pelo jornal. Uau.

O rapaz que operava a banca do jogo do bicho, do meu bairro no Rio de Janeiro, cujo estrabismo sugeria uma constante vigília para se evadir da polícia, não subestimava tanto a minha inteligência. E, ao contrário da escorregadia oferta marqueteira, com o tal rapaz, valia o escrito.

Escuta aqui, New York Times, não é exagero, se eu fosse subitamente privada da leitura diária do jornal, poderia ficar coberta de brotoejas. É impossível ser jornalista em Nova York e não ler o Times. Vá lá, é possível e muitos fazem isso, mas é deprimente. Não basta eu pagar a assinatura, ano após ano? Preciso escrever de graça para o jornal vender publicidade?

E há o email distribuído do Jaguarão ao Tajiquistão, que começa: "Olá, veja que notícia interessante". Passa pela cabeça de quem redige esses press releases que qualquer repórter vai se atirar à cobertura de uma "notícia interessante"? Especialmente depois de descobrir que o mesmo texto promove um show de forró em Petrolina e a inauguração de uma estação de tratamento de esgoto?

Assim como a praga do email marqueteiro se globalizou, o despreparo de profissionais do ramo que se interpõem entre a notícia e quem escreve sobre ela grassa aqui na capital da mídia americana, onde a competição, teoricamente, é muito maior. Recebo emails perguntando se a reportagem do Estado sobre um autor famoso vai sair em inglês. Ou se o texto vai sair em "brazilian". A assessora da mais prestigiada editora americana se mostrou exasperada com a minha insistência em escrever sobre três lançamentos simultâneos da obra de Elizabeth Bishop (hello!), que incluíam um novo texto sobre o Brasil.

Se já acabou a promoção da coxinha, não venham se queixar comigo. Pagar R$ 12 por um espeto bem temperado não é nada diante da faxina diária que sou obrigada a fazer na minha caixa postal eletrônica.

Não sei se o leitor compartilha o meu cansaço, mas a invasão de mensagens que burlam o filtro do spam me dá a sensação de que o telefone de casa não para de tocar e, quando atendo, a voz pergunta: aí é do açougue? Imagino que respondo: É sim. O especial hoje é assessor de marketing. Com desconto para os miolos.

Acadêmicos da pasmaceira - VINICIUS MOTA


FOLHA DE SP - 20/02/12


SÃO PAULO - Fossem um desfile de escola de samba, os lances da sucessão municipal paulistana até aqui já teriam o seus indicados para o estandarte de ouro.

Enredo: Fernando Haddad, com "Do Itaim que não era Bibi aos invasores da USP - a vida é feita de tropeços". O carnavalesco estreante do PT, afilhado do patrono da escola, traduziu a pedregosa dialética marxista para a linguagem da avenida. A troca do nome do bairro popular da capital expressou, na verdade, seu desejo de ascensão para o povo. Na ala "A USP não é a cracolândia", soldados da PM assistem a aulas de antropologia 2 e depois convencem alunos a desocuparem a reitoria.

Samba-enredo: José Serra, por "Já disse que não sou candid...". Obra-prima das ideias ambíguas, dos sentidos escondidos nas frases, das reviravoltas inesperadas. O compositor tucano aperfeiçoa-se no gênero em que se destaca há muitos Carnavais; sua técnica ficou tão apurada que a canção parece nunca acabar. O refrão "Ô Geraldo, meu governador, detone as prévias por favor" já grudou na mente dos foliões.

Alegoria: mestre (e doutor) Gabriel Chalita. Nunca tantos livros e autores desfilaram na avenida em forma de pura alegoria. A mente criativa do professor, literato, filósofo e divulgador de ideias promove conversas improváveis à frente do espectador boquiaberto. Maquiavel vem discutir com Étienne de La Boétie -mas Michel Temer entra na conversa de repente. A técnica da repetição encontra aqui o seu clímax.

Mestre-sala e porta-bandeira: Kassab e Lula. Os autores da coreografia inspiraram-se, pela primeira vez na história deste país, na sintaxe do tango argentino. O bailarino corteja o portador da bandeira estrelada com gestos rasgados e arriscados -chega a ser hostilizado pela claque. Mas foge e faz biquinho quando a outra parte já parece seduzida. Insinua-se um terceiro elemento na cena. O cheiro de traição fica no ar.

Sem justificativas - EDITORIAL O GLOBO


O GLOBO - 20/02/12

Cuba nunca deixou de constar, de alguma forma, da agenda da política externa brasileira. Mesmo, é claro, quando, na ditadura militar, a ilha era a materialização da ameaça comunista próxima à fronteira. Por uma dessas contingências irônicas da História, o general presidente Ernesto Geisel chegou a ficar do mesmo lado de Fidel Castro na defesa do MPLA na descolonização de Angola. Veio o início da redemocratização, em 1985, e, logo no ano seguinte, com José Sarney na presidência, as relações diplomáticas entre os

dois países foram reatadas. Não havia mesmo motivo para mantê-las congeladas. Até por complementaridades econômicas, a mais evidente

delas a especialização dos dois países na agroindústria canavieira.

O tema ganharia forte tonalidade político-ideológica em 2003, com a chegada a Brasília, na caravana vitoriosa do PT, de militantes com fortes laços com Havana, alguns do círculo de amizade dos irmãos Castro. Passou a existir alto

teor de passionalidade no trato com a ilha. Como o antiamericanismo feroz é traço do DNA da esquerda latino-americana, a política externa brasileira foi reciclada para atuar nesta frequência. Daí deriva, entre outros, o erro estratégico da aposta, com todas as fichas, na Rodada de Doha, para compensar o bombardeio da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), malquista por ter se originado em Washington, numa operação de que a Argentina kirchnerista e o Brasil lulopetista participaram com grande alegria, sob aplausos do caudilho Hugo Chávez e do ditador Fidel. No fim, o Brasil e parceiros no Mercosul ficaram sem Doha e sem Alca.

Até mesmo em questões sensíveis como direitos humanos e, dentro deles, a condução de situações delicadas como o asilo político, o Brasil desconsiderou a longa tradição de profissionalismo do Itamaraty. Foi assim na inominável deportação de dois lutadores de boxe cubanos, Guilhermo Rigoundeaux

e Erislandy Lara, competidores no Pan do Rio, em 2007, cujo pedido de asilo

foi negado, quando estava no Ministério da Justiça Tarso Genro, atual governador do Rio Grande do Sul. Para completar o desatino, o repatriamento foi feito, de forma sugestiva, em avião venezuelano (!). Os dois, felizmente, conseguiram depois escapar de Cuba.

Lula, ainda presidente, desembarcar em Havana na morte de um prisioneiro político em greve de fome, deixar-se fotografar com Raúl e Fidel como velhos companheiros em férias no Caribe, e, na volta ao Brasil, comparar os detidos

cubanos por delitos de opinião a presos comuns é uma excrescência, se vista do ângulo dos direitos humanos, mas coerente com a visão ideológica míope desta geração de filhos de Fidel. O mesmo viés explica o fato de a presidente

Dilma Rousseff, também em viagem à ilha, equiparar o tratamento abjeto dado a islâmicos acusados de terrorismo, presos na base americana de Guantánamo, aos crimes da ditadura cubana. São questões diferentes. O descumprimento da própria legislação americana na base é inaceitável, e isso pode ser criticado livremente nos Estados Unidos. O mesmo não ocorre com uma ditadura de pouco mais de meio século que transformou Cuba em grande prisão.

Se a democracia e os direitos humanos são fundamentais para a Humanidade — e são —, nada pode justificar um regime que os desrespeite.

Sequer alegados avanços sociais. Mesmo porque as sociedades mais avançados são as em que há mais liberdade. Se há tantos avanços, por que Cuba não abre as fronteiras?

Perdão pela crise - RUBENS RICUPERO


FOLHA DE SP - 20/02/12

Noventa e quatro vezes pediu o papa João Paulo 2º perdão pelos crimes cometidos pelos cristãos ao longo de 2.000 anos. Seria demais esperar que ao menos uma vez as organizações internacionais e os economistas convencionais admitam a parte de responsabilidade que lhes cabe na crise financeira em que mergulharam o mundo?
Quando for publicada esta coluna, estarei iniciando desse modo o discurso de abertura no Palais des Nations em Genebra da reunião para celebrar os 30 anos do início do Relatório sobre Comércio e Desenvolvimento da Unctad, um dos raríssimos estudos que advertiram sobre a ameaça que se avizinhava.
Em visita à London School of Economics, em 2008, a rainha Elizabeth 2ª fez a pergunta inocente que estava em todos os lábios: "Como foi que ninguém havia previsto a crise?". Após meses de silêncio embaraçado, um grupo de economistas britânicos se desculpou: "Majestade, o fracasso em prever o momento, a extensão e a gravidade da crise e em evitá-la (...) foi, sobretudo, uma falha da imaginação coletiva de muitas pessoas brilhantes (...) em entender os riscos que corria o sistema como um todo".
Os sabichões, alguns ganhadores do Nobel, seguros da infalibilidade de seus cálculos sobre o sistema financeiro, haviam tomado seus desejos pela realidade e tinham sido culpados de "hubris", a soberba que desafia os deuses. Em relação às advertências prevalecera naqueles anos uma "psicologia da negação".
Essa é a verdadeira explicação para a imprevisão e as suas devastadoras consequências. Nem todos estiveram cegos para os perigos da orgia de liberalização financeira. A Unctad, no começo dos anos 1990, em pleno auge do triunfalismo da globalização como ideologia (para distingui-la da versão autêntica e histórica), já previa que a década se caracterizaria pela frequência, intensidade e caráter destrutivo das crises financeiras e monetárias.
Poucos prestaram atenção. No Brasil, os mestres do "saber superficial, pretensioso e tendencioso" (mas de grande prestígio em Washington e Davos), julgavam a Unctad um dinossauro em extinção. Ao contrário do Fundo Monetário Internacional, que na véspera da crise asiática de 1997 proclamava em seu relatório: "O futuro da economia mundial é cor-de-rosa"! Ou que, um ano após o início da atual crise, insistia que tudo não passava de perturbação passageira.
Não é o feio pecado da "alegria do profeta" que me leva a dizer tais coisas. É que, tão logo passem os piores efeitos da crise, esse pessoal, hoje de rabo entre as pernas, há de voltar com a arrogância de sempre. Basta atentar na teimosia do FMI em só aceitar controles de capital como último remédio, e não como arma normal do arsenal para evitar crises.
Não foi a falha de imaginação ou inteligência a culpada da imprevisão. A causa é a ideologia, o disfarce de interesses de classe e setores sob roupagem científica. Os que dão as cartas no Departamento do Tesouro e equivalentes na Europa são os mesmos homens do setor financeiro que prepararam a crise. E o único arrependimento que deles se pode esperar é o daqueles que choram o tempo todo no trajeto para depositar no banco seus bônus milionários.

A gerente do loteamento - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 20/02/12


Contrariando mais uma vez sua reputação de boa administradora, a presidente Dilma Rousseff anunciou a intenção de controlar pessoalmente a execução dos projetos considerados estratégicos. Para isso visitará as obras e acompanhará os dados de execução por meio de um novo sistema de informações em tempo real. O sistema será implantado até o meio do ano, segundo se informou depois de sua reunião com os ministros e líderes partidários integrantes do conselho político do governo. A presidente deixou clara, de acordo com participantes do encontro, sua "obsessão" pela melhora da gestão governamental e dos serviços prestados ao público.

Essa "nova gestão" começou na semana passada, com a verificação do andamento das obras de transposição do Rio São Francisco e de construção da Ferrovia Transnordestina, explicou o secretário do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Maurício Muniz. A presidente deverá, segundo ele, visitar outras grandes obras de infraestrutura, como as de grandes hidrelétricas na Amazônia.

Há um evidente equívoco nessa concepção de gerência. Visitas presidenciais a canteiros de obras podem ser politicamente importantes e até estimular a aceleração dos trabalhos, mas não servem para mais que isso. Da mesma forma, nenhum sistema de acompanhamento centralizado na Presidência pode substituir a ação de administradores ligados diretamente à elaboração e à execução dos programas e projetos. A presidente Dilma Rousseff deveria ter aprendido essa lição elementar, quando foi nomeada gerente do PAC e encarregada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva de supervisionar os principais investimentos do governo federal.

O titubeante ritmo de execução dos planos é uma clara demonstração da indigência administrativa do governo federal. Com frequência, os projetos empacam antes do início da execução, por falhas técnicas e legais na elaboração, apontadas pelos órgãos de controle do setor público. Quando, enfim, saem do papel, deficiências de outros tipos impedem sua conclusão em prazos razoáveis. Os números não deixam margem para ilusão quanto à qualidade gerencial. No ano passado, os desembolsos destinados ao PAC foram 21% maiores que os de 2010, mas, apesar disso, o total pago - R$ 28 bilhões - ficou muito longe do valor autorizado no orçamento, de R$ 40,4 bilhões.

A baixa qualidade da administração pode ter várias causas, mas duas são especialmente importantes. Em primeiro lugar, o PT jamais deu importância, no governo federal, a requisitos de competência e de produtividade. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mais de uma vez defendeu a ampliação dos quadros de pessoal como se isso fosse um avanço. Ele e seus companheiros sempre desprezaram o debate sobre questões de eficiência, como se essa não fosse uma contrapartida necessária do aumento dos quadros e da folha de salários. Em segundo lugar, a preocupação do governo sempre foi, desde 2003, a ocupação da máquina pelo partido e por seus aliados. A combinação de incompetência com malfeitos resultou naturalmente dessa atitude.

Vários ministros acusados de graves irregularidades foram demitidos desde o ano passado, mas os critérios de nomeação pouco ou nada mudaram. De modo geral, os partidos conservaram suas cotas ministeriais e a presidente continua fiel aos compromissos de loteamento e de aparelhamento, apesar de seu discurso a favor de escolhas técnicas. O velho critério das alianças continua valendo, por exemplo, para a nomeação do presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A escolha de Rubens Rodrigues dos Santos para o posto já foi confirmada por decreto publicado no Diário Oficial da União.

Na semana anterior, o líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes, havia apresentado dois nomes ao governo e saiu vitorioso. Arantes ganhou destaque no noticiário, recentemente, ao polemizar com o ministro da Fazenda sobre quem foi o responsável pela escolha do recém-afastado presidente da Casa da Moeda. Diante desses fatos, como levar a sério a decantada "obsessão" da presidente pela qualidade administrativa?

Por que estudar religião? - LUIZ FELIPE PONDÉ


FOLHA DE SP - 20/02/12

Você estuda religião? Aposto que, se sua resposta for "sim", a causa é uma das hipóteses abaixo. Somos previsíveis como ratos de laboratórios.
Estudar religião cientificamente seria estudá-la sem fins religiosos, ou seja, "de modo objetivo": via neurologia, sociologia, antropologia, psicologia, história, filosofia.
Trocando em miúdos, estudar religião cientificamente é estudá-la sem fins "lucrativos" para a própria fé do estudioso. Neste sentido, o melhor seria um ateu estudar Deus ou um cristão estudar budismo, porque assim não "lucrariam" com seus objetos de estudo.
Duvido profundamente deste pressuposto. Não porque seja impossível em si nem porque neutralidade em ciência seja algo absurdo. Trabalhar com ciência não é fruto de amor ao conhecimento, mas sim um modo de ganhar a vida muitas vezes menos competitivo do que o mercado de profissionais autônomos ou das grandes corporações.
Julgo esse problema da neutralidade do conhecimento científico tão improdutivo quanto se perguntar como faziam os últimos medievais, se Deus poderia criar uma pedra que Ele mesmo não poderia carregar -já que Ele seria onipotente e, portanto, poderia criar qualquer coisa. Mas, sendo Ele onipotente, como poderia existir uma pedra que Ele mesmo não poderia carregar?
Como você vê, trata-se de uma pergunta "podre" no sentido de ser simples perda de tempo. Um beco sem saída.
Acho que a chamada "neutralidade" em estudos da religião não passa de um preconceito contra a fé religiosa, porque em ciências humanas a neutralidade não é um pressuposto universalmente cobrado em todos os campos de pesquisa.
Por exemplo, quando mulheres estudam "opressão feminina", não estariam elas sob suspeita, uma vez que são mulheres e, portanto, suspeitas em "lucrar" com os ganhos do próprio estudo? Ou, quando gays estudam "opressão contra os gays", não estariam eles também sob suspeita, na medida em que eles, gays, também "lucrariam" com o estudo de seu próprio caso?
Ou mesmo ateus estudando Deus não estariam sob suspeita de quererem desconstruir a fé a fim de desvalorizá-la?
Por isso acho mais interessante ir logo a questões mais pragmáticas e perguntar: "Por que as pessoas querem estudar religião em vez de simplesmente viver suas religiões em seus templos e fé cotidiana?".
Proponho as seguintes hipóteses.
1. Pessoas buscam a universidade ou instituições afins para estudar religião porque têm inquietações "espirituais", mas se acham "cultas e bem (in)formadas" e estão um tanto de saco cheio das "igrejas" (no sentido de religiões institucionais) que existem no mercado. Ou mesmo porque sentem vergonha de serem religiosas "oficialmente" e, por isso, preferem estudar religião a praticar religião.
2. Porque odeiam religião por conta de traumas infantis familiares ou escolares ou por algum grande sofrimento que gerou algum tipo de "revolta contra Deus". Normalmente essas pessoas querem acabar com a religião.
3. Razões ideológicas: religião aliena (marxistas), oprime mulheres e gays, condena o sexo. Ou seja: querem um mundo sem religião ou com religiões simpáticas a suas ideologias.
4. Para abrir uma igreja, ganhar dinheiro ou poder político.
5. Para tornar sua vivência religiosa mais "culta e bem informada" e "modernizar" sua vida religiosa cotidiana, como em questões relacionadas à ciência ou à ética.
6. Por diletantismo sofisticado movido por inquietações existenciais e/ou filosóficas.
7. Porque pertenceram ao clero de alguma religião e só sabem ganhar a vida com temas relacionados à religião.
8. Para usar o conhecimento em recursos humanos nas empresas.
9. Geopolítica internacional: fundamentalismos, multiculturalismos, comércio exterior.
10. Porque é professor e o ensino religioso é um mercado em expansão, além de que, se for egresso de classes sociais inferiores (o que é muito comum), títulos acadêmicos costumam ser uma ferramenta razoável de status e aumento na renda.
Resumo da ópera: dinheiro, status, angústia existencial, fé, política, opção profissional à mão ou simplesmente falta de opção.

Concessões petistas - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 20/02/12

Como Clinton, que fumou, mas não tragou, líderes do PT fazem contorcionismo para justificar privatizações e metamorfoses políticas

Entrou para o folclore político mundial a resposta de Bill Clinton às suspeitas de que teria fumado maconha em sua época de estudante. "Fumei, mas não traguei", declarou o candidato democrata à Casa Branca, em 1992.
Fórmula análoga tem sido utilizada por petistas na tentativa de conciliar a transferência da operação de aeroportos para a iniciativa privada, promovida pelo governo federal, com o discurso contrário às privatizações que a agremiação sustentou, de forma agressiva, nas últimas campanhas presidenciais.
Segundo essa versão, concessões nada teriam a ver com privatizações, pois o Estado, no caso, não vende propriedades para consórcios privados, apenas as arrenda. Mediante pagamento à União, grupos capitalistas podem explorar os aeroportos e obter lucros, mas não se tornam proprietários.
O contorcionismo tem seu fundamento, pois concessões são uma modalidade de desestatização pela qual o poder público outorga à iniciativa privada, geralmente por décadas e de forma renovável, o direito de explorar um serviço.
Para efeitos práticos, equivale a uma privatização. Seria de perguntar-se, aliás, como a militância do PT reagiria a essas operações caso tivessem sido obra de um eventual presidente tucano. Estaria empenhada em demonstrar que não houve privatização ou, ao contrário, se apressaria em denunciar mais uma "privataria"?
Basta observar como os petistas tratam as concessões de rodovias ou as organizações sociais que administram serviços como os de saúde em São Paulo para encontrar a resposta.
Na realidade, as concessões petistas -em todos os sentidos do termo- datam do tempo em que a sigla começou a trocar a agitação oposicionista pela sombra dos palácios governamentais. Não é demais lembrar que, ainda em meados da década de 1990, Antonio Palocci, então prefeito de Ribeirão Preto, transferiu a exploração de serviços de saneamento para a iniciativa privada.
O marco simbólico desse deslocamento do partido em direção a concepções centristas -quando não ortodoxas- na área econômica veio em 2002, com a "Carta ao Povo Brasileiro" lançada pelo então candidato Luiz Inácio Lula da Silva para tranquilizar os mercados.
Desde então, o lulismo converteu-se ao pragmatismo social-democrata, posição próxima à dos adversários tucanos, dos quais difere por questão de graus.
A metamorfose, diga-se, não se verifica apenas no plano da economia. A conversão também tornou-se norma em outros temas polêmicos, como o aborto. Ela dá margem até para endurecer com grevistas, como se viu na Bahia.
É compreensível que essa evolução consterne os redutos históricos do PT, onde ainda se acredita em duendes socialistas. São esses que, convidados a fumar o cachimbo governista, preferem, como Clinton, dizer que não tragam.

Carnaval - AÉCIO NEVES

FOLHA DE SP - 20/02/12

Segunda-feira de Carnaval. Escrevo na sexta anterior, antevendo que o manto democrático da festa já terá descido sobre as ruas.
Em uma mágica que nós, brasileiros, conhecemos bem, as asperezas do cotidiano terão sido colocadas em suspenso, ao ritmo contagiante da irreverência.
Toda a alegria é bem-vinda, embora devam ser respeitados os que preferem utilizar esse momento para os ritos de recolhimento ou introspecção.
A verdade é que, por uma razão ou por outra, esses são dias que se descolam da realidade. Por isso, não serei eu hoje a insistir em falar dela, com seus abismos e contradições.
Muitos já se dedicaram a estudar o caráter simbólico do Carnaval. Lembro aqui o mineiro de Montes Claros, Darcy Ribeiro, antropólogo e educador, militante incondicional da vida e do humor. Não por acaso um visionário que, com a ajuda do traço do gênio Niemeyer, implantou no coração do Rio o palco do Carnaval que encanta o mundo -o Sambódromo, também pensado como um "escolódromo" para os demais dias do ano.
Pois é, Darcy tinha o senso agudo da brasilidade e perscrutou, no Carnaval, a ambiguidade dos desiguais provisoriamente iguais, hiato ecumênico, porém insuficiente para todos os que lutam pelo sonho de um país justo.
Ao toque do tamborim, acredito que ele era um dos que tratavam de trocar a reflexão pela festa. Mas, lá no fundo da alma de folião, devia permanecer doendo-lhe a clamorosa consciência acerca de uma sociedade partida ao meio, da desassistida solidão dos mais pobres, dos resquícios de uma exclusão herdada da escravatura.
Como já disse, não é hora de ficar resmungando sobre a realidade, nesses dias e noites em que o exercício de racionalidade abre alas para os adereços da paixão e da euforia.
Rompida a alvorada da quarta-feira de cinzas, os nobres fictícios de tantas passarelas, sobre as quais escoam hoje país afora, os cordões do Carnaval, irão, com justiça e razão, continuar reivindicando a construção de avenidas mais amplas e generosas, por onde passará um país mais digno e mais próximo daquele que os brasileiros merecem.
Concordo com os que pensam que o Carnaval é um evento mais complexo do que parece. Acredito que sua diversidade e sua irreverência tantas vezes crítica não entorpecem, não iludem -pelo contrário, iluminam, revelam e expõem fantasias que não amortecem, mas desafiam a realidade.
Esteja você onde estiver, bom Carnaval! E que depois dele possamos nos reencontrar com a nossa realidade mais alegres, mais solidários, mais dispostos a ousar e a sonhar. Porque disso também é feito um país: de solidariedade, de ousadia e de sonho.

GOSTOSA


A METRALHADORA DO TIMÃO E O SILÊNCIO DE RITA - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 20/02/12
"Caaalma, gente! Caalma!", pedia o ex-presidente do Corinthians, Andres Sanchez, à pequena multidão de jornalistas e seguranças que prensavam ele e a ex-primeira-dama Marisa Letícia contra o carro alegórico em que ela desfilaria na escola de samba Gaviões da Fiel, na madrugada de domingo.

"Dona Marisa! Dona Marisa! Dona Marisa!", gritavam os jornalistas, sem fazer qualquer pergunta. Ela sobe no carro e, do alto, tenta prestar atenção nos berros. Até que alguém faz a primeira pergunta: "O Lula deu alguma recomendação à senhora?". "Recomendação? Não, nenhuma." Andres Sanchez atravessa: "Ele mandou ela cuidar de mim, e eu cuido dela. Que é, tão com inveja?".

"Dona Marisa, a senhora está com o samba na ponta da língua?", grita um repórter. "Na ponta da boca!", "corrige" Andres. "Não tive tempo de decorar. Estou com o meu marido doente, né, gente? É muito trabalho", diz ela. Outra pergunta: "Quem fez o cabelo e a maquiagem da senhora? O [cabeleireiro] Wanderley?". "É, o Wanderley."

"Se o Lula melhorar, ele vem para o Desfile das Campeãs, na sexta?" "Claro, claro. Estamos torcendo. Se estiver bom, ele vem." "Não enche o saco, porra! Isso é pergunta?", gritava o ex-presidente do Corinthians. "O Lula não teve vontade de desobedecer os médicos e vir para a avenida, dona Marisa?" Andres responde no lugar dela: "Porra, ele está cheio de problema!".

Diante da vontade do corintiano de participar da entrevista, a coluna perguntou então a ele quando, e se, o cartola Ricardo Teixeira deixará a presidência da CBF. "Quando? Quando o sargento Garcia prender o Zorro", afirmou.

Enquanto Andres levantava os braços e se curvava fazendo sinal de deferência aos integrantes da escola de samba (muitos dos quais faziam roda para tomar uísque antes de entrar no desfile), Dona Marisa contou ainda que a presidente Dilma Rousseff telefona "quase todos os dias" para saber da saúde de Lula. "Como ele deu para ela, ela está dando para ele também, muita atenção."

Lula assistiu ao desfile na companhia do filho mais velho, Fábio, em sua casa em São Bernardo do Campo. O resto da família foi para a avenida. A filha mais velha dele, Lurian, num vestido preto tomara-que-caia, estava eufórica e dançava sem parar ainda antes do começo do desfile. "Nossa, nossa, assim você me mata!", cantava, rindo e rodopiando. A filha, Beatriz, 15, dava bronca: "Mãe, para, mãe!"

Lurian ainda saltou para dentro do Rolls-Royce cenográfico em que o ator Fábio Assunção desfilaria como motorista, levando na carona duas crianças, o "Lulinha" e a "Marisinha", que interpretavam o casal presidencial no dia da posse. Tirou foto com eles.

Assunção chegou logo depois. "Nas primeiras eleições do Lula, a gente fazia reuniões na casa da [atriz] Lucélia [Santos]. Conheço ele há 20 anos, sempre votei nele." Uma repórter de TV pede "uma mensagem sua ao ex-presidente". "Mensagem? 'Tamo' aqui. 'Tamo' aqui por você. Um beijo. Saúde."

A coordenação da escola providenciou uma latinha de cerveja que Fábio bebia discretamente. E que era retirada do carro quando os fotógrafos se aproximavam.

Fernando Haddad, pré-candidato do PT à prefeitura, não apareceu para sambar. Preferiu visitar a ex-primeira-dama antes do desfile, num camarote reservado providenciado pela escola.

Como dona Marisa, também Caetano Veloso e Gilberto Gil não tiveram tempo de decorar o samba da escola Águia de Ouro, que homenageava os tropicalistas, e na qual eles desfilaram. "Vou ouvindo, vou aprendendo. Ouvi duas vezes, na internet e no carro que me trouxe até aqui", dizia Caetano.

Levados antes para o camarote do Bar Brahma (que cobrou até R$ 1.700 de 3.700 foliões que lotaram seu espaço), os baianos e mais Cauby Peixoto, Rita Lee, Angela Maria e Wanderléa se viram cercados por centenas de repórteres e fotógrafos. Eles falaram (Caetano disse, por exemplo, que Dilma 'parece ligeiramente menos subserviente a Lula do que se esperava'). Rita abaixou a cabeça. E, calada, tentou sair de fininho.

MÔNICA BERGAMO E DIÓGENES CAMPANHA

rio de janeiro

NOITE DAS RICAS

A socialite Narciza Tamborindeguy, do reality show "Mulheres Ricas", passa pelo tapete vermelho do baile de Carnaval do Copacabana Palace, no Rio, no sábado. Da calçada, as pessoas gritam seus bordões: "Ai que loucura!" e "Badalo!", nome da queda livre que ela pediu para um piloto de helicóptero fazer no programa. "Amei que virou expressão! Amo badalar!", diz, sorrindo o tempo todo, de longo Valentino vermelho e arranjo com penas na cabeça.

Amaury Jr. convida a socialite para uma entrevista. A atriz Antônia Fontenelle, mulher do diretor Marcos Paulo, passa ao lado deles. "Oi, linda, te sigo no Twitter", diz o apresentador. "Hoje já entrevistei mais de 30 pessoas. Passa aqui depois que a gente tenta conversar." E retoma o papo com Narciza e o namorado dela, o escritor Guilherme Fiuza, que tem marcas de batom vermelho no pescoço.

Há alguns anos, na mesma festa, Narciza deixou um seio à mostra enquanto dançava e a câmera do programa de Amaury registrou. Virou sucesso na internet. "Morro de medo de acontecer de novo! Tenho pavor! Vou me controlar!" O publicitário Nizan Guanaes aparece. "Olha lá, amor, o Nizan! Ele que me convidou pro negócio [o camarote] da Brahma!" Os dois dão uma volta pelo salão e vão embora. "A gente vai ao toalete."

A atriz Christiane Torloni, aniversariante da noite, chega com a promoter Liège Monteiro. Usa um vestido branco, com tule, na altura do joelho, assinado por Marquito, estilista morto em 1983. "Essa roupa deve ter quase 30 anos", diz. "Pra você ver como o corpo dela continua igual", comenta Liège. Torloni completa 54 anos. "Você continua uma princesa!", fala Amaury, ligando a câmera. Ela pega seu leque, coloca na horizontal e analisa a nova idade: "Estou no fio da balança, equilibrada".

Glória Maria entra na festa com um vestido de musselina bordado com corais, inspirado em Cleópatra, feito por Sandro Barros. "É a roupa mais linda que já usei", diz. "Leio tudo sobre Cleópatra. A minha preferida é [a atriz] Elizabeth Taylor."

Rodrigo Santoro está em um camarote com a irmã, Flávia. "Tô adorando. Eu filmei cenas do meu próximo filme, 'Heleno', aqui e vim agradecer o carinho do Copa", diz, com um copo de uísque na mão. "Cansado dessa vida de celebridade, Rodrigo?", um convidado pergunta. "Faz parte", ele responde.

LÍGIA MESQUITA

salvador

O CRONÔMETRO DE SHARON STONE

A atriz americana Sharon Stone, 53, pisou pela primeira vez no Brasil na sexta-feira, em Salvador. Hospedou-se na suíte presidencial do hotel Pestana, passeou pelo Pelourinho e foi ao shopping comprar sapatos, mas acabou levando uma lingerie.

No sábado, atrasou-se meia hora para chegar ao camarote do portal Terra, que a contratou. Quis refazer o penteado -um rabo de cavalo. Ficou em uma varanda exclusiva para ela e a empresária, Tina, das 20h30 às 23h30, pontualmente.
Stone falou com exclusividade à coluna.

Folha - Está gostando do Carnaval? Muito diferente do que você está acostumada?
Sharon Stone - Não é diferente, é incrível, muito bonito. A música é extraordinária. Acho demais como pessoas de diferentes gerações se juntam para festejar.

Ficou com medo da greve de policiais da Bahia?
Não fiquei sabendo. Estava na Itália e não saiu nada nos jornais de lá.

Você vai apoiar a reeleição do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama?
Sim, eu vou. Ele fez um tremendo trabalho de mudança. Estávamos vivendo uma situação particularmente difícil no governo anterior [George Bush], de guerra [a do Iraque]. Tivemos uma crise econômica que afetou o mundo, inclusive o seu país. Então, estamos numa situação agora de tentar envolver o mundo em mudanças que vão de fato estabilizar a economia mundial. Não acho que nós vamos sentar aqui e discutir política, mas muita coisa mudou globalmente desde a eleição de Barack Obama [em 2008].

Você se considera sexy?
Sim. E você, se considera?

Fica mais difícil conseguir bons papéis depois dos 50?
Eu terminei agora três filmes e vou fazer mais dois. Então, não.

Está animada com seu novo filme, "Attachment"?
Sim, é um filme interessante e Tony Kaye é um ótimo diretor. Amei "A Outra História Americana". Amei seu documentário "Lake of Fire" (Lago de Fogo), sobre aborto -achei profundo e fascinante. Trabalhei com ele num videoclipe sobre Johnny Cash, depois que Johnny morreu, e foi lindo. Ele é ótimo.
com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

Caciques e pierrôs - JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO


O Estado de S.Paulo - 20/02/12


A articulação pré-carnavalesca da eleição paulistana virou folia de caciques. Petistas e tucanos se alternaram como pierrôs e arlequins. No papel da disputada Colombina, o prefeito Gilberto Kassab e sua alegoria partidária, o PSD, foram o destaque do desfile. Mas a farra pode terminar em cinzas.

Lula rasgou a fantasia petista da democracia interna, ditou para o partido seu candidato e quais deveriam ser os aliados. Como o Pierrô da marchinha, acabou chorando a perda da Colombina para o Arlequim tucano. José Serra apareceu depois do baile terminado para bagunçar o coreto petista.

O PSDB até que tentou incluir os índios na festa, só não conseguiu encontrá-los. Os militantes-eleitores ora não sabiam para que partido militavam, ora não moravam nos endereços anotados nos registros partidários. Ao seu estilo, os tucanos contrataram uma empresa para tentar encontrar o militante perdido. Mas nem a privatização impediu a desmoralização das prévias pelo "serranismo".

O carnaval de cúpula dos partidos é embalado por uma versão ultrapassada da dança dos votos. Presume que caciques comandem eleitores para a urna como gado para o matadouro. O raciocínio por trás das articulações parece pueril.

"O PT precisa conquistar parte do eleitorado conservador para eleger seu candidato a prefeito, logo, vamos nos aliar a Kassab que ele trará os votos que faltam". Ou: "Serra polarizará a eleição com o PT e a rejeição do eleitor paulistano ao petismo dará a vitória ao PSDB".

Tudo preto no branco, simples e equivocado. As consequências podem vir a ser as prognosticadas, mas não exatamente por causa das premissas que as embasam. A decisão do voto é um processo mais matizado do que bicolor.

Das forças que comandam uma eleição, a mais importante é a satisfação do eleitor com o status quo. Governantes bem avaliados tendem a se reeleger ou influir positivamente na escolha de seu sucessor. Não é o caso de São Paulo. Hoje, um dos principais vetores eleitorais paulistanos é a vontade de mudar.

Outro cenário. Há quatro anos, Kassab partiu da impopularidade para a reeleição. Desta vez, porém, o prefeito não será protagonista da campanha de TV, não disporá do mesmo tempo de propaganda de 2008 (salvo o "tapetão") nem terá um boneco como cabo eleitoral. A tendência é a avaliação do governo municipal permanecer negativa, atraindo mais críticas dos adversários, num ciclo vicioso. Nesse cenário, ganham pontos os candidatos reconhecidamente de oposição. Quem ficar no meio do caminho, temperando críticas e elogios, é candidato a repetir Geraldo Alckmin (PSDB) em 2008 e acabar fora do segundo turno.

Outro drive importante é a capacidade de mobilização. O PT é o maior partido brasileiro e paulistano, em simpatizantes. Desde 2000, os candidatos petistas a prefeito e a presidente tiveram de 33% a 42% dos votos válidos no primeiro turno na cidade. Mas a reação é proporcional à força.

Nas últimas oito eleições municipais e/ou presidenciais, em apenas duas o PT viu seu candidato superar metade dos votos válidos em São Paulo: Marta Suplicy, em 2000, e Lula, em 2002. Ambos simbolizavam a mudança. Até hoje, o PT paulistano só acomodou seu piso alto ao teto baixo quando estava na oposição: elege, mas não reelege.

Já os tucanos não têm um patamar constante de votação. De 1996 a 2010, a performance de seus candidatos a prefeito e presidente variou de 16% a 62% no primeiro turno na cidade. Em metade das vezes, ficaram abaixo de um terço dos votos válidos, mas na outra metade foram os mais votados.

É um sinal de que não há polarização automática entre PT e PSDB em São Paulo. Os tucanos dependem das circunstâncias, de quem são os outros concorrentes: eles tendem a perder para um candidato forte situado à sua direita, como perderam para Paulo Maluf, Celso Pitta e Kassab.

Nome conhecido. Um terceiro fator relevante é a fama do candidato. Um nome conhecido tem velocidade inicial mais alta e costuma liderar pesquisas na pré-campanha. É o caso de Serra. Mas como a eleição de 2010 mostrou, reconhecimento não é igual a intenção de voto. Além disso, quem é reconhecido também é mais rejeitado.

No caso do ex-prefeito, soma-se a desconfiança por ele ter quebrado sua palavra e abandonado a prefeitura com menos de dois anos no cargo. Finalmente, Serra não poderá adotar um discurso de oposição a Kassab. Terá que endossar seu ex-vice, apesar da impopularidade.

Ao considerar sua entrada tardia na disputa, Serra deve levar em conta que ela é desejada por tanta gente que dá até para desconfiar. O PT gostaria de disputar o segundo turno com um candidato com a sua rejeição. Alckmin ganharia com sua eleição, mas principalmente com sua derrota. Essa disputa tucano-petista abre espaço para um candidato que atraia a oposição conservadora. É a avenida que Gabriel Chalita (PMDB) tentará trilhar.

Mais jovens do que somos - RUY CASTRO


FOLHA DE SP - 20/02/12
Nas fotos, eles estão sempre de terno escuro, pérola na gravata e competente chapéu. Alguns usam sobretudo, capa de chuva ou guarda-pó, donde concluo que fazia mais frio, chovia e ventava no Brasil do passado. Pelo menos, sobre os escritores.
São belas fotos. Numa delas, José Lins do Rego, Otavio Tarquínio de Souza, Paulo Prado, José Américo de Almeida e Gilberto Freyre parecem a ponto de tomar um navio para a Europa. Em outra, Guimarães Rosa, de paletó riscado e gravata borboleta, afaga seu gato. E, ainda em outra, os rapazes de 1922, alguns com suspeitos colarinhos parnasianos, posam pimpões para o futuro -sentado no chão, sem comprometer o vinco da calça, o galhofeiro Oswald.
Enquanto Hemingway ia direto da caçada, cheirando a elefante, para uma festa de gala, nossos escritores ainda viviam engomados. O primeiro a se deixar fotografar de calção, descalço e camisa aberta ao peito talvez tenha sido Jorge Amado. Em seguida, Vinicius de Moraes começaria sua transição do terno cinza para a camisa de malha preta, existencialista, e mocassins sem meias. E, pouco depois, Fernando Sabino diria que os escritores estavam perdendo a aura -por acaso, isso coincidia com a sua adesão às mangas curtas.
Não sei se pelas becas, mas todos aqueles homens pareciam mais velhos do que eram. Pense bem:
Graciliano Ramos morreu com 60 anos;
Rosa, 59;
Zé Lins, 56;
Clarice Lispector, 56;
Olavo Bilac, 53;
José de Alencar, 48;
João do Rio, 39.
Como construíram obras tão grandes em vidas tão curtas?
Daí penso nos colegas com quem cruzo no Leblon -bronzeados, de chinelo, bermudas, camiseta do Pernalonga, iPods à orelha-, todos parecendo mais jovens do que realmente somos. E me pergunto se esse à vontade quase indecente se refletirá em obras que atravessem décadas ou séculos, como as dos antigos.

Operação Quaresma - RENATA LO PRETE

FOLHA DE SP - 20/02/12
Os principais conselheiros políticos de Dilma Rousseff trabalham para convencer a presidente a, tão logo se encerre o Carnaval, promover uma discreta, porém profilática, segunda etapa da reforma ministerial.

O objetivo é deixar que PR e PDT nomeiem ministros chancelados pelas bancadas para as pastas dos Transportes e do Trabalho. Eles dizem que Pedro Paulo Passos e Paulo Roberto Pinto não apresentaram resultado que justifique sua manutenção só por serem "técnicos". Além disso, os dois partidos são fundamentais nas costuras que o PT já começa a fazer em capitais e outras cidades-chave para as eleições municipais.

O cara Pelo PR, com Alfredo Nascimento (AM) e Valdemar Costa Neto (SP) alvejados, as negociações para que o partido retome a prerrogativa de indicar o ministro dos Transportes são conduzidas pelo novo líder da sigla no Senado, Blairo Maggi (MT).

Reforço 1 O secretário de Gestão do Trabalho e Educação em Saúde do Ministério da Saúde, Milton Arruda, deixou o cargo na semana passada para se integrar à pré-campanha de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo.

Reforço 2 Professor titular da Faculdade de Medicina da USP, Arruda vai atuar na elaboração do plano de governo na área de saúde e fazer o meio de campo para aproximar o pré-candidato da comunidade médica.

Alegoria Antes do início dos desfiles das escolas de samba de São Paulo e nos intervalos, os telões do Anhembi bombardeavam a plateia com a campanha publicitária "Não tinha, agora tem", da gestão Gilberto Kassab.

Apetite Àqueles com quem conversou no Carnaval, o prefeito paulistano confessou uma fé inquebrantável na vitória no TSE na briga para que o seu PSD tenha acesso ao fundo partidário. Vencida essa etapa, ele vai imediatamente atrás do tempo de TV.

Coaching José Serra adota abordagem inusitada nas conversas com aliados sobre se vai se candidatar ou não a prefeito de São Paulo: ele pede para ser "convencido" da conveniência de disputar. O interlocutor, então, tem de desfiar seus argumentos. Ao final, Serra pouco fala.

Guerrilha Enquanto os caciques tucanos agem para implodir as prévias paulistanas, os pré-candidatos trocam cotoveladas. Na semana passada, partidários de Bruno Covas espalharam na rede boatos de que Andrea Matarazzo havia desistido, para tentar cabalar seus votos.

Fogo caipira A estratégia petista para desbancar o PSDB em São Paulo em 2014 inclui esforço para impedir que o partido retome este ano cidades que já dominou, mas nas quais perdeu espaço, como Araraquara e São Carlos.

Mão pesada O PMDB paulista interveio no comando da sigla em Santo André para referendar a pré-candidatura de Nilson Bonome, ex-supersecretário da gestão Aidan Ravin (PTB).

De volta A ex-governadora Wilma de Faria (PSB) lança sua pré-candidatura a prefeita de Natal (RN) após o Carnaval. Já conta com o apoio do PSD, que no Estado é comandado pelo vice-governador Robinson Faria e pelo filho, o deputado Fábio Faria.

Troca da guarda A bancada do PT na Assembleia paulista escolhe no dia 29 seu novo líder. Há três postulantes ao cargo, mas tudo caminha para acordo em torno de Geraldo Cruz, ex-prefeito de Embu e expoente da Construindo um Novo Brasil.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio

"Geraldo Alckmin amava Bruno Covas, que amava José Aníbal, que amava Andrea Matarazzo, que amava Ricardo Tripoli, que amava José Serra, que não amava ninguém."

DO LÍDER DO PT NA CÂMARA, JILMAR TATTO, parafraseando o poema "Quadrilha", de Carlos Drummond de Andrade, em alusão ao processo interno do PSDB paulistano para a definição de seu candidato a prefeito.

contraponto

Como o diabo gosta

Estrela de jantar promovido pelo diretório paulistano do PT, no sábado passado, Fernando Haddad fez uma fala breve e explicou que precisava ir embora, pois tinha um compromisso com a filha. Na saída, porém, foi cercado por mulheres militantes em busca de uma foto. Um vereador e um assessor observavam a cena.

-Essa é a parte complicada de ser candidato: o assédio é grande...- comentou o primeiro.

Ao que o outro rebateu:

-Que nada! Aposto que ele está adorando...

Barra do Furado - GEORGE VIDOR

O GLOBO - 20/02/12


O Açu é a grande estrela dos projetos em andamento no Norte Fluminense, pois é um ambicioso empreendimento do grupo de Eike Batista. Mas, entre o Açu e Macaé, começa a sair do papel também um novo polo naval e industrial de apoio à produção de petróleo no mar, o de Barra do Furado, bem na divisa dos municípios de Quissamã e Campos. Só a BR Offshore pretende investir lá R$ 450 milhões.

Barra do Furado Os estaleiros Eisa e STX têm áreas reservadas às margens dos dois lados do Canal das Flechas, aberto na década de 1940, para ligar a Lagoa Feia ao oceano, passando pela Barra do Furado.

Ambos estaleiros estão tocando outros projetos (um em Alagoas e o segundo em Suape, Pernambuco), mas têm reiterado o interesse em se instalar no novo polo naval, assim como o consórcio Alupar, que se propõe a estocar ali petróleo e derivados. E a razão é que Barra do Furado está 50 quilômetros mais próxima dos principais blocos de produção de petróleo na Bacia de Campos em comparação a Macaé, por exemplo, que hoje serve de principal base de apoio às plataformas.

A pequena e histórica Quissamã, com seus 20 mil habitantes, 734 quilômetros quadrados de território e distante do Rio a pouco mais de quatro horas de carro, identificou na Barra do Furado, desde 2006, uma ótima oportunidade para atrair fornecedores de equipamentos e prestadores de serviços, e espera repetir lá a bem-sucedida experiência do polo empresarial de Rio das Ostras (outro município vizinho a Macaé).

Quissamã já foi totalmente dependente da cana-de-açúcar.

A prefeitura investiu na recuperação das sedes de fazendas dos séculos XVIII e XIX, e uma delas, a Machadinha, com um conjunto restaurado de antigas senzalas, ainda abriga uma comunidade de descendentes de escravos. Por isso, é o único município onde é possível se assistir ao fado, um baile que foi típico do Estado do Rio, no passado.

A última usina de açúcar fechou anos atrás, mas a produção de cana não desapareceu em Quissamã. O prefeito atual, Armando Carneiro, e o irmão Haroldo (secretário de Desenvolvimento do município),agrônomos, são de uma família que produz cana-de-açúcar na região desde os tempos do bisavô. Enquanto Haroldo enveredou, em seus negócios pessoais, para o lado da fabricação de cachaças finas e açúcar mascavo, Armando optou pela pecuária leiteira, pois em Quissamã funciona uma unidade da cooperativa de Macuco, cujos produtos estão cada vez mais presentes nos supermercados cariocas e fluminenses.

Essa tradição agropecuária felizmente não se perdeu e é bem possível que Quissamã venha a ter uma destilaria autônoma com capacidade para processar 1,5 milhão de toneladas de cana e produzir 120 mil litros de Etanol por ano. Vantagens fiscais e proximidade de centros consumidores permitem que o Etanol da região possa ser vendido a um preço 10% a 20% acima do que é oferecido pelas usinas de São Paulo ou Minas, compensando, em parte, a baixa produtividade na produção de cana-de-açúcar (pouco mais da metade da atingida por Ribeirão Preto e seu entorno) no Norte Fluminense. A própria prefeitura obteve licença ambiental prévia para a destilaria, e há um candidato (Canabrava, que já tem uma usina em Campos) a operá-la.

Quissamã usou a receita de royalties do petróleo para criar uma infraestrutura que conseguiu atrair 17 pequenas e médias agroindústrias, instaladas na ZEN 1, perto da rodovia BR 101 (Rio-Campos-Vitória). A ZEN 1 é vizinha ao leito de uma ferrovia que tem tudo para ser reativada (aliás, a estação histórica de Quissamã, chamada Conde de Araruama em homenagem a José Carneiro da Silva, está sendo restaurada). Queijos, leite, geleia de mocotó e açúcar mascavo (que é até exportado) saem dali.

O polo de empresas voltadas ao petróleo ficará na ZEN 4, a três quilômetros de Barra do Furado. Antes mesmo de as empresas chegarem, o município se preocupou com a formação de mão de obra, e com ajuda federal conquistou uma escola técnica e se prepara para receber um laboratório de hotelaria. Quem reside em Quissamã e faz faculdade, em Campos ou Macaé, tem o transporte diário custeado pelos cofres municipais.

O projeto da Barra do Furado só se viabilizou depois de se encontrar uma solução para evitar o assoreamento da entrada do Canal das Flechas. Na primeiro tentativa, uma praia de Quissamã chegou a desaparecer, e o mole de pedras, do lado de Campos, sofreu forte erosão. Pela nova solução, inspirada na Austrália, um sistema de bombeamento reproduz a ação da natureza e evita o assoreamento.

A primeira estaca do píer que sustentará esse sistema foi cravada na última quarta-feira. A União, o governo estadual e os municípios de Campos e Quissamã estão bancando o investimento, de R$ 175 milhões.

Quissamã tem 100% dos seus esgotos coletados em área urbana, tratados até o estágio terciário, sem deixar resíduos. Cerca de 65% do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, aberto à visitação mediante prévio agendamento, ficam no município. O parque é cortado pelo canal Macaé- Campos, o segundo maior do mundo criado artificialmente (no caso, construído por braços escravos, no século XIX).

O principal investidor na Barra do Furado por enquanto será a BR Offshore, pertencente a um fundo de investimento que tem entre seus organizadores os exministros Alcides Tápias e Henrique Meirelles. O estaleiro de reparos navais terá um guincho capaz de retirar da água um navio de apoio a plataformas. O número dessas embarcações que navegam pela bacia de Campos deverá dobrar em dez anos.

Livre do assoreamento pelo sistema sand by pass, de origem australiana, o Canal das Flechas ficará com um diâmetro de 150 metros e sete metros de profundidade.

Embarcações pesqueiras também lá poderão se abrigar.

Bom jornalismo fascina e vende - CARLOS ALBERTO DI FRANCO


O Estado de S.Paulo - 20/02/12


As virtudes e as fraquezas dos jornais não são recatadas. Registram-nas fielmente os sensíveis radares dos leitores. Precisamos, por isso, derrubar inúmeros desvios que conspiram contra a credibilidade dos jornais.

Um deles, talvez o mais resistente, é o dogma da objetividade absoluta. Transmite, num pomposo tom de verdade, a falsa certeza da neutralidade jornalística. Só que essa separação radical entre fatos e interpretações simplesmente não existe. É uma bobagem.

Jornalismo não é ciência exata e jornalistas não são autômatos. Além disso, não se faz bom jornalismo sem emoção. A frieza é anti-humana e, portanto, antijornalística. A neutralidade é uma mentira, mas a isenção é uma meta a ser perseguida. Todos os dias. A imprensa honesta e desengajada tem um compromisso com a verdade. E é isso que conta.

Mas a busca da isenção enfrenta a sabotagem da manipulação deliberada, a falta de rigor e o excesso de declarações entre aspas.

O jornalista engajado é sempre um mau repórter. Militância e jornalismo não combinam. Trata-se de uma mescla, talvez compreensível e legítima nos anos sombrios da ditadura, mas que, agora, tem a marca do atraso e o vestígio do sectarismo. O militante não sabe que o importante é saber escutar. Esquece, ofuscado pela arrogância ideológica ou pela névoa do partidarismo, que as respostas são sempre mais importantes que as perguntas.

A grande surpresa no jornalismo é descobrir que quase nunca uma história corresponde àquilo que imaginávamos. O bom repórter é um curioso essencial, um profissional que é pago para se surpreender. Pode haver algo mais fascinante? O jornalista ético esquadrinha a realidade, o profissional preconceituoso constrói a história.

Todos os manuais de redação consagram a necessidade de ouvir os dois lados de um mesmo assunto. Trata-se de um esforço de isenção mínimo e incontornável. Alguns desvios, porém, transformam um princípio irretocável num jogo de cena.

Matérias previamente decididas em guetos engajados buscam a cumplicidade da imparcialidade aparente. A decisão de ouvir o outro lado não é sincera, não se fundamenta na busca da verdade. É uma estratégia.

O assalto à verdade culmina com uma tática exemplar: a repercussão seletiva. O pluralismo de fachada convoca, então, pretensos especialistas para declararem o que o repórter quer ouvir. Personalidades entrevistadas avalizam a "seriedade" da reportagem. Mata-se o jornalismo. Cria-se a ideologia.

É preciso cobrir os fatos com uma perspectiva mais profunda. Convém fugir das armadilhas do politicamente correto e do contrabando opinativo semeado pelos arautos das ideologias.

A precipitação e a falta de rigor são outros vírus que ameaçam a qualidade da informação. A manchete de impacto, oposta ao fato ou fora do contexto da matéria, transmite ao leitor a sensação de uma fraude.

Autor do mais famoso livro sobre a história do The New York Times, Gay Talese vê importantes problemas que castigam a imprensa de qualidade: "Não fazemos matéria direito porque a reportagem se tornou muito tática, confiando em e-mails, telefones, gravações. Não é cara a cara. Quando eu era repórter, nunca usava o telefone. Queria ver o rosto das pessoas".

"Não se anda na rua, não se pega o metrô ou um ônibus, um avião, não se vê, cara a cara, a pessoa com quem se está conversando", conclui Talese. E o leitor, não duvidemos, capta tudo isso.

Boa parte do noticiário de política, por exemplo, não tem informação. Está dominado pela fofoca e pelo declaratório. Não tem o menor interesse para os leitores. O uso de grampos como material jornalístico virou ferramenta de trabalho. A velha e boa reportagem foi sendo substituída por dossiês. De uns tempos para cá, o leitor passou a receber dossiês que muitas vezes não se sustentam em pé por mais de três dias. Curiosamente, quem os publica não se sente obrigado a dar nenhuma satisfação ao leitor. Entramos na era do jornalismo sem jornalistas, nos tempos da reportagem sem repórteres. Ficamos, todos, fechados no ambiente rarefeito das redações. Enquanto esperamos o próximo dossiê, tratamos de reproduzir declarações entre aspas, de repercutir frases vazias de políticos experientes na arte de manipular a imprensa.

Mesmo assim, os jornais têm prestado um magnífico serviço no combate à corrupção. Alguém imagina que a cascata de demissões no governo teria ocorrido sem uma imprensa independente? Jornais de credibilidade oxigenam a democracia. As tentativas de controle da mídia, abertas ou disfarçadas, são sempre uma tentativa de asfixiar a liberdade.

O leitor que precisamos conquistar não quer o que pode conseguir na TV ou na internet. Ele quer algo mais. Quer o texto elegante, a matéria aprofundada, a análise que o ajude, efetivamente, a tomar decisões. Conquistar leitores é um desafio formidável. Reclama realismo, ética e qualidade.

A autocrítica, justa e necessária, deve ser acompanhada por um firme propósito de transparência e de retificação dos nossos equívocos. Uma imprensa ética sabe reconhecer os seus erros. As palavras podem informar corretamente, denunciar situações injustas, cobrar soluções. Mas podem também esquartejar reputações, desinformar.

Confessar um erro de português ou uma troca de legendas é fácil. Mas admitir a prática de atitudes de prejulgamento, preconceitos informativos ou leviandade noticiosa exige coragem ética. Reconhecer o erro, limpa e abertamente, é o pré-requisito da qualidade.

O jornalismo tropeça em armadilhas. Nossa profissão enfrenta desafios, dificuldades e riscos sem fim.

E é aí que mora o desafio.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 20/02/12



Grupo fará projeto com hotel, shopping e mercado em RR

O grupo Interbuild/Somar começará a construir um empreendimento de R$ 110 milhões em Boa Vista (RR), a partir de maio.

O projeto, que ficará pronto em 18 meses, inclui shopping center, hipermercado e um hotel de 140 quartos.

"Investiremos cerca de 80% do montante. O restante virá dos próprios lojistas e do hipermercado", afirma o presidente do grupo, Reginaldo Fernandes.

A companhia também iniciou neste mês as obras para um empreendimento semelhante em Vitória de Santo Antão (PE), que terá aporte de cerca de R$ 80 milhões.

"É um modelo comum nos Estados Unidos e na Europa. Agrega um valor maior ao projeto", diz.

Até o final deste ano, outros três projetos devem ser anunciados para as regiões Norte e Nordeste.

"Escolhemos cidades que estão carentes de investimento. As capitais do Sul e do Sudeste estão saturadas."

Os terrenos de parte dos projetos são de propriedade do grupo há seis anos.

"Compro terrenos pensando que a região pode virar importante em alguns anos. É o caso de Barreiras, na Bahia", diz Fernandes. Nessa cidade, está prevista para este ano a construção de um condomínio de 1.200 lotes.

O grupo, criado há 12 anos e que faturou R$ 950 milhões no ano passado, tem escritórios em Bogotá (Colômbia), São Paulo, Recife, Rio de Janeiro e Salvador.

RENDA EM TROCA DE AMBIENTE

A maioria das empresas (84%) não estão dispostas a pagar 5% a mais por bens e serviços para cobrir os custos de CO2 relacionados a sua produção.

Pesquisa da EIU (Economist Intelligence Unit) mostra que 26% das companhias se negariam a gastar para fazer essa compensação. Outros 28% se disponibilizariam a pagar até 2% a mais.

Quando questionados sobre suas próprias posições em relação ao combate das mudanças climáticas, 26% dos 790 executivos ouvidos afirmaram que apoiariam programas que impactassem suas rendas negativamente em mais de 5%.

Aproximadamente 33% seriam hostis ao projeto.

MULTIPLICAÇÃO DE OBRAS

O setor de infraestrutura foi o que registrou maior aumento no volume de transações no ano passado, segundo a Accesstage, de tecnologia para integração de dados.

A elevação foi de 61,4% entre o primeiro e o quarto trimestres de 2011.

Em seguida aparecem as atividades imobiliárias e o comércio automotivo.

O estudo baseou-se nos 75 mil clientes da empresa.

MAIS PLÁSTICO

A previsão de crescimento para o mercado de cartões em 2011 é de pouco mais de 20%, de acordo com a Abecs (associação do setor).

No quarto trimestre de 2011, o valor transacionado pelos cartões de crédito do Itaú foi de R$ 43,7 bilhões.

No setor de adquirência (credenciamento, captura e processamento de transações de cartões), a participação do Santander em 2011 passou de 1,17% para 2,65%.

Trabalho... O índice de efetivação dos empregados temporários nas férias de verão foi de 10%, inferior aos 14% que a Asserttem (Associação Brasileira de Serviços Terceirizáveis e de Trabalho Temporário) estimava.

...nas férias No período, foram preenchidas 25 mil vagas temporárias no Brasil nos setores de lazer, entretenimento, indústria e comércio. Os jovens em situação de primeiro emprego representaram 6 mil trabalhadores.

Expansão A consultoria BDO RCS abrirá neste ano escritórios em Campinas e Fortaleza. Em 2011, quando foram inauguradas unidades no Rio de Janeiro e em Ribeirão Preto, o faturamento cresceu 33% e chegou a R$ 41 milhões.