quarta-feira, janeiro 04, 2012

De volta ao público - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 04/01/12

Dia 29 de fevereiro, a academia Estação do Corpo, na Lagoa, no Rio, baixa as portas. Em março, retira os equipamentos. Dia 2 de abril, a área, de 18.000m², será devolvida ao estado, que a repassará à prefeitura.

Prioridade de Dilma

A prioridade de Dilma, na volta das férias na Bahia, será a organização da Rio+20, a conferência mundial sobre meio ambiente marcada para junho. A presidente teme que poucos chefes de Estado venham.

Mercado em alta

A editora 3R Studio, de revistas sobre festas (“Inesquecível Casamento”, “Inesquecível Festa infantil & Teen” etc.), lança em março uma publicação destinada às uniões homoafetivas. Vai se chamar “Momentos inesquecíveis”. A capa de estreia será com Carlos Tufvesson e André Piva, que se casaram em novembro, com festa no MAM.

Lá e cá

Acredite. Só no dia 30 de dezembro, 32 brasileiros foram ao nosso consulado em Buenos Aires se queixar de furtos. Deve ser terrível... você sabe.

Acabou em samba

O bloco Lima é Tio Meu, da turma da Lapa que cultua a obra de Lima Barreto (1881-1922), decidiu “homenagear” Carlos Lupi, o ex-ministro, no carnaval. Trecho da marchinha, de Jorge Curuca: “Dilma, eu te amo/O teu esporro é meu prazer (...)/Sou teu capacho, palhaço, pelego/Não posso perder esse emprego/Doce ministério, meu Éden, meu céu/Me deixa ser teu Pimentel...”

Crônicas de música Nelson Motta, depois de nove livros pela Objetiva, aceitou proposta da Saraiva para publicar 50 crônicas sobre música, de 1966 para cá. Começa com Clementina de Jesus e chega a Marcelo D2. Lança em setembro.

O CENÁRIO DA AVENIDA Presidente Vargas lembrava um pouco, ontem, o da Champs-Élysées, em Paris. Repare na foto do leitor Carlos Henrique Vieira Damasceno. As árvores, nestes dias de início de verão, estão repletas de folhas amareladas. O gerente de Arborização da Fundação Parques e Jardins, Roberto Okabayashi, diz que a troca da folhagem deveria ter ocorrido no inverno, mas por causa das mudanças climáticas no mundo, acontece só agora. As árvores da imagem são figueiras (Ficus religiosa), originárias da Índia. Foram introduzidas na cidade pelo engenheiro e paisagista francês Auguste Marie Françoise Glaziou (1833-1906), na segunda metade do século XIX. Aliás, Okabayashi lembra que, reza a lenda, teria sido sob a copa de uma frondosa figueira que Buda recebeu sua iluminação.

País doente
Em avaliação aqui, Edmar Bacha deu 5, lembra?, a 2011. Após elogiar Dilma (“É séria e não há crise como lá fora”), o economista condenou, entre outras questões, “a saúde em frangalhos e o protecionismo de volta”. Agora, Bacha teme que os problemas prossigam este ano, a julgar pelo anúncio do ministro Alexandre Padilha de reservar 25% do mercado à indústria local de equipamentos médicos.

Para Bacha...

O governo gastará “o meu, o seu, o nosso para que seus apadrinhados produzam mais cacarecos a preços mais altos, ao invés de importar equipamentos melhores e mais baratos”.

Tragédia nas alturas

Fez um ano ontem que o escalador brasileiro Bernardo Collares, 46 anos, desapareceu no Monte Fitz Roy, na Argentina. Seu corpo jamais apareceu.

De volta para casa
Depois de 14 anos no Brasil, o padre André Hombrados, que dirigiu a Pastoral Carcerária, resolveu voltar à França. É protesto contra a decisão da Igreja de transferi-lo para uma paróquia em Xerém, na Baixada Fluminense, onde teme por sua vida.

Cartão para merenda

A partir de fevereiro, a Secretaria estadual de Educação do Rio vai usar cartão de crédito corporativo nas escolas para compra de merenda e gastos com manutenção. Quer controlar melhor as despesas. As escolas recebem cerca de R$ 350 mil por ano.

Morar no Rio

Veja como o mercado de imóveis no Rio está aquecido. O ITBI (Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis), tributo que melhor reflete a alta de preços no setor, subiu 12% em valores reais em 2011.

Leite derramado

Domingo, às 9h, a Secretaria estadual de Obras do Rio vai implodir o resto do imóvel da antiga fábrica da CCPL, em Benfica. Usará 250kg de dinamite. O local ganhará apartamentos e áreas de lazer, com praças e uma quadra poliesportiva.

A saideira

Cícero, o garçom no Nova Capela, no Rio, pendurou a bandeja. Há três anos, ensaiou uma aposentadoria, mas acabou voltando ao batente na Lapa. O cearense, um dos mais queridos garçons da cidade, planeja abrir um bar em São Gonçalo, onde mora. Que seja feliz.

Dilemas do Estado - ODEMIRO FONSECA

O GLOBO - 04/01/12

Em 2006, no seminário Chile Sec. 21, a então presidente Bachelet foi clara: "Nossa resposta ao desafio do moderno estado social de direito é um sistema de proteção social, retomando nossa matriz histórica estatal, que proteja não somente os mais necessitados, mas enfrente as inseguranças da sociedade moderna."

Portugal mergulhou no conceito de estado segurador, que chamou de estado social. Desde a Revolução dos Cravos, a arrecadação subiu muito, mas abaixo dos gastos públicos (gastos públicos/PIB: 1974=20%; 2010=48%). O déficit publico se tornou crônico (déficit em todos os últimos 25 anos, em média 5% do PIB) e a divida pública explodiu (dívida pública/PIB: 1974=14%; 2010=95%). A poupança decresceu (poupança familiar/PIB: 1974=22%; 2010=4%) e o dinamismo econômico sumiu. O desemprego dos jovens atingiu 20%. O funcionalismo público foi quadruplicado em 25 anos. São 800 mil para população de 10,7 milhões. Estado segurador vira estado gastador rápido.

Portugal teve um empurrão econômico com as exigências privatizantes da UE e muitos subsídios externos - alguns deles risíveis. Mas em 2011 ficou insolvente e foi para o pronto-socorro. A sobrevivência depende de novo regime fiscal e de aceitar que não vai dar para pagar todos os compromissos do estado segurador. O dilema é em quem dar o cano.

O Brasil também se encantou com o estado segurador. Muitos números já são parecidos. O governo aqui já gasta mais de 40% do PIB. Somente com aposentadoria e saúde de idosos são uns 15% do PIB. Os déficits públicos são crônicos. A poupança doméstica, principalmente a pública, é diminuta; crescemos com poupança externa. A dívida pública já passou de 55% do PIB. Tivemos empurrões econômicos com privatizações e reformas, mas estas secaram desde 2005. Ainda vivemos de exportações primárias: não dá para contar com crescimento sustentado.

O Brasil está ainda numa fase boa, crescendo e com desemprego baixo. Mas precisa de reformas (trabalhista, previdenciária, educacional), privatizações, mais PPPs, investimentos privados em infraestrutura. E sistema regulador mais simples, para melhorar o ambiente empreendedor. Precisa também de um ajuste fiscal, para não parecer Portugal em mais seis anos. Krugman nos lembra que Keynes ensinou ser esta a hora boa para um ajuste fiscal. É impossível discordar de Keynes, ele só não ensinou como botar tal guizo no pescoço dos políticos. Mas com despesas públicas crescendo menos que receitas e receitas crescendo menos que o PIB, não se corta nada de ninguém. É politicamente palatável. Muitos países já fizeram esta trilha, sem "austeridade selvagem".

Não existe pronto-socorro para o Brasil, que não é os EUA, país que não tem problema de se financiar por ser o menor risco do mundo. Se o Brasil entrar numa crise fiscal o ajuste será na marra - selvagem e iníquo - quem vai pagar são os pobres. Vamos provar ser Keynes irrelevante.

Pacote não é política - ROLF KUNTZ

O ESTADÃO - 04/01/12

Subdesenvolvimento não se improvisa, escreveu Nelson Rodrigues, mas a improvisação repetida, pode-se acrescentar, é com certeza um entrave ao desenvolvimento. Depois da colcha de retalhos apresentada ao País como Plano Brasil Maior, o governo agora promete um pacote de incentivos à exportação de manufaturados. Age como se as dificuldades da indústria no comércio internacional fossem conjunturais. Não são, e nenhum empresário, analista ou funcionário envolvido direta ou indiretamente no assunto deveria desconhecer ou menosprezar esse fato.

Pelo quarto ano consecutivo a venda de manufaturados ficou abaixo de 50% do valor total exportado e pela segunda vez foi inferior a 40% (39,4% em 2010 e 36,1% em 2011). Isso não se explica somente pela valorização das commodities e também esse fato não é segredo.

Pacotes e medidas provisórias podem ser bons para emergências. Justificam-se pela urgência e pela relevância, principalmente quando é preciso enfrentar problemas inesperados ou dificilmente previsíveis. Objetivos permanentes e de longo prazo, como a expansão e a modernização da economia, a criação de empregos de alta qualidade e a ocupação de espaços no mercado global, são alcançados por meio de políticas, e não de arranjos e remendos.

O cenário muito ruim traçado para 2012 pode ser uma novidade. O Banco Central (BC) incorporou-a em sua estratégia ao iniciar o corte dos juros no fim de agosto. O Executivo levou em conta esse mesmo quadro ao esboçar o roteiro para este ano. Mas não há surpresa nos tropeços da indústria em 2011, nem nas perspectivas de um desempenho medíocre em 2012.

Em 1991, a exportação de produtos manufaturados proporcionou 56,4% da receita comercial. Nos dois anos seguintes a participação subiu para 60,1% e 61,1%, os dois níveis mais altos dos últimos 20 anos. Entre 1994 e 2007 a média foi 55,7%. Caiu para 46,8% e 44% em 2008 e 2009 e a partir daí escorregou para menos de 40%.

A queda na participação porcentual poderia ser apenas um reflexo do grande aumento da receita obtida com as commodities, mas não foi essa a história. No ano passado, o Brasil faturou US$ 92,3 bilhões com a exportação de manufaturados, 0,4% menos que em 2008 e apenas 10% mais que em 2007 - um aumento inexpressivo para um período de quatro anos. O crescimento de 16% em relação ao resultado de 2010 pouco significa, porque nem serviu para repetir a receita de 2008. Isso é estagnação, ou talvez a palavra mais adequada seja retrocesso.

Mesmo na América do Sul, onde o exportador brasileiro de manufaturados praticamente joga em casa, o desempenho tem sido fraquinho. Excluído o Mercosul, as vendas de manufaturados para a região chegaram a US$ 10,2 bilhões em 2006, US$ 11,2 bilhões em 2007, US$ 12,5 bilhões em 2008, US$ 8,6 bilhões em 2009 e US$ 10,6 bilhões em 2010 - pouco mais que o resultado de quatro anos antes. De janeiro a novembro de 2011 - última discriminação divulgada pelo governo - chegou-se a US$ 10,7 bilhões. Dificilmente se terá repetido ou superado o valor de 2007.

A maior parte dos mercados sul-americanos atravessou sem grandes problemas a crise internacional dos últimos anos. Outros exportadores, obviamente, ocuparam espaços. A China pode ter liderado o movimento, mas outros competidores certamente avançaram na região. As dificuldades para os brasileiros poderão aumentar muito, nos próximos anos, com a implantação do acordo de livre comércio anunciado pelos governos de Chile, Peru, Colômbia e México - mais um passo para a integração das economias sul-americanas, excluído o Mercosul - com a América do Norte. Algumas dessas economias já têm acordos com os Estados Unidos e fortes vínculos com potências da Ásia.

Não tem sentido separar, no Brasil, as políticas industrial e de comércio exterior. A indústria brasileira tem sido prejudicada, há muitos anos, tanto pelo amplo conjunto de ineficiências da economia nacional - não é preciso repetir a lista - quanto pelas desvantagens de acesso aos mercados mais importantes. Essas desvantagens vêm sendo agravadas pelos acordos comerciais de parceiros importantes, como os sul-americanos, com a América do Norte e a Europa.

Se pacote resolvesse problemas dessa magnitude, a indústria brasileira teria tido um desempenho comercial muito melhor nos últimos anos, porque pacotinhos e remendos não faltaram. É hora de começar a pensar seriamente no assunto e de substituir o blá-blá-blá do planejamento por planejamento de verdade. Política de modernização e produtividade se faz numa porção de frentes - educação, tecnologia, infraestrutura, tributação, diplomacia econômica, e assim por diante. O resto é piada.

Quem controla as cigarras - MARTA ARRETCHE

VALOR ECONÔMICO - 04/01/12

Dez entre dez analistas afirmam que o controle sobre as finanças dos Estados-membros é condição necessária para salvar a Europa. Esta unanimidade não deixa de ser curiosa, pois há grande divergência sobre as causas do excessivo endividamento e, mais ainda, sobre as políticas emergenciais.

Os governantes europeus parecem fracos para tomar as medidas domésticas necessárias à saída da crise. Há quem diga que o problema é de falta de lideranças. Faltariam às democracias modernas líderes como Churchill, capazes de obter o sacrifício de seus cidadãos sob circunstâncias adversas. Churchill, contudo, foi fragorosamente derrotado nas eleições de 1945!

Políticas de ajuste fiscal impõem perdas aos eleitores. Logo, têm grandes chances de levar a derrotas eleitorais. Daí decorre a solução de montar governos "técnicos" ou de coalizão nacional, na tentativa de proteger os Ulysses europeus do (en)canto das urnas.

No plano doméstico, os governos tentam evitar a punição de seus eleitores. No plano europeu, o problema é evitar que medidas para salvar os endividados hoje gerem incentivos para mais endividamento amanhã. Está clara a razão do impasse!

A história é conhecida no Brasil. Até meados da década de 90, os governos estaduais tinham grande margem para captar recursos. Podiam comportar-se como cigarras ou formigas. Os governadores jogavam suas dívidas no colo da União à proximidade do inverno, contando com o fato de que, se deixados à própria sorte, exporiam todos ao risco da escassez.

Para que a União socorresse as cigarras, barganhas políticas entre governadores e presidentes nem seriam necessárias. Não se tratava de fraqueza de vontade ou da necessidade do presidente obter apoio parlamentar. Bastava o presidente reconhecer que poderia ser responsabilizado pela escassez geral na eleição seguinte. Por isto, a saída recorrente era a União assumir a dívida dos estados. Os bancos, por sua vez, continuavam a emprestar para governos sabidamente inadimplentes, a juros cada vez mais altos, pois contavam com o socorro da União, embora cada socorro fosse apresentado como o derradeiro. Esopo ficaria desolado: eram as cigarras que davam lições às formigas!

Como pôde o Brasil sair deste impasse? E por que uma solução parece longínqua para a Europa? Resposta intuitiva, porém incompleta, é de que a Europa é uma união de países independentes ao passo que o Brasil é um Estado-nação.

A principal diferença, na verdade, remete ao dilema de todos os sistemas de governo. Diz respeito à autoridade do centro. O problema institucional europeu é ser governado por um centro politicamente constrangido. A Alemanha enfrenta problema semelhante pelas mesmas razões. Por isto, os Länder são as maiores cigarras dentre os governos regionais da Europa e o governo federal alemão é frequentemente chamado a socorrê-los.

No Brasil, as instituições que permitiram ao presidente Fernando Henrique Cardoso aprovar a Lei de Responsabilidade Fiscal são as mesmas que permitiram ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva incorporar 12 milhões de famílias ao Bolsa Família no prazo recorde de um ano. A Constituição de 1988 autorizou a União a legislar em qualquer área de política pública, em particular naquelas cuja execução está sob responsabilidade de Estados e municípios. Os constituintes deram continuidade a um modelo de Estado cujas origens datam dos anos 30, que combina ampla autoridade jurisdicional à União com limitadas oportunidades de veto aos governos subnacionais.

Nem sequer uma emenda constitucional foi necessária para aprovar a Lei de Responsabilidade Fiscal e o Bolsa Família. Bastou aos presidentes fazer uso de recursos deixados à sua disposição pela Carta.

A Lei de Responsabilidade Fiscal está baseada nos artigos que conferem ao governo central autoridade sobre as finanças dos governos subnacionais. O Bolsa Família foi iniciado por medida provisória e aprovado como lei ordinária.

Na (con)federação europeia, as instituições centrais têm muito limitada autoridade para legislar sobre as finanças públicas e as políticas sociais dos estados-membros. Em seu desenho atual, iniciativas nesta direção podem ser facilmente vetadas por uma minoria em um referendo, na volta da padaria com os pães do café da manhã de domingo.

Nossos presidentes enfrentaram resistência para implantar aquelas medidas, a despeito de seus incontestes benefícios gerais. Governadores postumamente descritos como grandes estadistas resistiram às medidas de FHC para tirá-los da confortável condição de cigarras. Lula teve de contornar a resistência de governadores e prefeitos a colaborar com uma iniciativa que traria dividendos políticos ao presidente. As limitadas possibilidades de veto dos governos subnacionais permitiram a aprovação e implementação das medidas. Em ambos os casos, restou aos derrotados a estratégia de buscar dividir os louros da vitória.

Os dirigentes europeus não contam com esta fortuna, o que lhes exige doses muito superiores de virtude. A Europa de hoje é vítima do sucesso da Europa de ontem. Exportou para o resto do mundo o modelo do Estado-nação e dos Estados de bem-estar. As identidades construídas a partir deles estão na raiz da resistência ao alargamento da autoridade legislativa da União. Por isto, a solução do impasse europeu parece tão longínqua. Ela requer substanciais mudanças institucionais para fortalecer a União. Faltou combinar as decisões de 9 de dezembro, largamente festejadas, com os parlamentos e os eleitores. Perdoem-me o plágio: estas decisões não trarão paz definitiva para a Europa!

Marta Arretche é professora livre-docente de ciência política na USP, diretora do Centro de Estudos da Metrópole e colunista convidada do "Valor"

Missão impossível - MARTHA MEDEIROS


ZERO HORA - 04/01/12
No mais novo e divertido filme da série Missão Impossível, Tom Cruise costura, chuleia e prega botão no trânsito de Dubai. Faz ultrapassagens miraculosas, tira finos, quase atropela uma cáfila de camelos, detona com um Jaguar e sai ileso feito o Papa-Léguas. A plateia delira: eis um valente super-herói.

Aí o filme termina, as luzes se acendem e cada um volta pra sua vidinha sem efeito especial, em seu carro meia-boca e sabendo-se longe de ser um ás em qualquer coisa. Somos homens e mulheres comuns, nem tão belos e com uma profissão pouco empolgante. O que poderíamos ter de semelhante com um personagem tão incrivelmente cartunesco? Ora, ora, também podemos ter inimigos! Então, elegemos os outros motoristas como nossos opositores e assim transformamos a vidinha modorrenta num videogame.

Assim perdura nosso complexo de vira-lata. Quanto mais o cara acelera, faz ultrapassagens arriscadas e tem pressa em chegar antes que o motorista de trás, mais ele atesta sua infantilidade, sua inferioridade e seu despreparo para uma vida consciente e adulta. São babacas que possuem uma visão completamente deturpada de si mesmos. Contraditórios, eles se orgulham por beber, por não usar cinto e por dirigir agressivamente, sem se dar conta de que estão demonstrando o quanto são de segunda categoria.

O que importa é conhecer os truques para voar pelas estradas, sair sem um arranhão e ainda seduzir a garota mais bonita – que é outra babaca se aguenta tudo isso quieta.

Nossas estradas não são o bicho, a sinalização é deficiente, mas nada é de pior qualidade que nossos motoristas. São homens (e algumas mulheres também) impotentes para avançar em suas profissões, impotentes para ultrapassar a concorrência com uma ideia mais criativa, impotentes para conquistar o respeito da sua turma, impotentes para educar os filhos com responsabilidade, e por isso recorrem a malabarismos e palhaçadas no asfalto.

Usam o carro como um meio de transporte não de um lugar para o outro, mas de um status para o outro – só que são promovidos a delinquentes, não a agentes secretos.

Para eles, inimigos são os que obedecem às leis, os que têm cautela quando chove, os que reduzem em curvas perigosas e “atrapalham” os velozes. Será missão impossível reajustar esse foco? A guerra no trânsito só terá menos vítimas quando motoristas imaturos tiverem amor próprio suficiente para não precisarem se exibir. Ninguém se torna mais admirável por chegar primeiro, por arriscar a vida e protagonizar cenas dignas de um filme de ação.

Esses continuarão menores que Tom Cruise (que já é pequeno) e sendo meros figurantes de uma viagem que exige bravura, sim, mas de outro tipo. A bravura de proteger sua família, de não enxergar os outros como rivais e de ter habilidade para dirigir a própria vida – que exige bem mais que um volante e um acelerador: exige cérebro.

Meninos de 18 anos, meninos de 42, meninos de 67: dirijam com prudência se forem homens.
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GOSTOSA


Antenada - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 04/01/12


Apesar de estar de férias na Bahia, a presidente Dilma está lendo jornais e ligando para seus ministros, que também estão de recesso. A ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) interrompeu seu descanso ontem por causa das chuvas. Ela se reuniu com o secretário de Desenvolvimento Regional, Sergio de Castro, que está de interino. O titular, ministro Fernando Bezerra Coelho, ainda não tinha voltado. Ele pretendia ficar de férias até 6 de janeiro, mas foi convocado.

Gargalo nos aeroportos
De volta ao batente, a ministra da Casa Civil também convocou reunião para apurar o caos aéreo, principalmente no Rio e em Brasília, anteontem, na volta do feriado. Ela se reuniu com o ministro Wagner Bittencourt (Aviação Civil) e está cobrando explicações da Infraero e das companhias aéreas. Essa é uma das principais preocupações do governo, tendo em vista a Copa do Mundo de 2014. A situação tem sido monitorada por Gleisi, que também está cuidando das concessões dos aeroportos de Brasília, Guarulhos e Viracopos. Anteontem, de 2.339 voos até as 19h, 560 atrasaram (23,9%) e 146 foram cancelados (6,2%).

"Somos protagonistas, não somos atores periféricos” — Marcus Pestana, presidente do PSDB de Minas, defendendo a reedição da aliança com o PT em Belo Horizonte, mas descartando que ela seja informal

CORRENDO ATRÁS DO PREJUÍZO. A morte da diplomata Milena de Medeiros, que voltou de Guiné Equatorial, na África, com malária, fez com que o ministro Celso Amorim (Defesa) pedisse ao Hospital das Forças Armadas, em Brasília, que ele passe a dar assistência aos funcionários que voltam dessas regiões. O diretor do hospital, brigadeiro médico José Maria Lins Calheiros, vai providenciar exames laboratoriais e assistência tão logo esses servidores retornem de suas missões no exterior.

Veneno
Integrantes do PSB dizem que o Ministério da Ciência e Tecnologia seria pouco para Ciro Gomes. Lembram que ele queria o Ministério da Saúde quando a presidente Dilma assumiu. Sem cargo público, Ciro está vivendo de palestras.

A meta
A direção do PMDB está fazendo um levantamento nacional das alianças e candidaturas próprias a prefeito nas eleições municipais. O partido, que controla hoje cerca de 1.210 cidades, pretende chegar aos 1.500 prefeitos neste ano.

Eduardo Campos já tem candidato
Os petistas ainda não sabem quem será seu candidato à prefeitura de Recife, onde o atual prefeito, João da Costa (PT), quer disputar a reeleição. Mas o governador Eduardo Campos (PSB) já mandou vários recados ao partido aliado dizendo que, para manter a prefeitura, ele só vê dois nomes no partido: o líder do PT no Senado e ex-ministro Humberto Costa, e o seu secretário de Governo, o deputado federal Maurício Rands (PT).

Diplomacia
O líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), vai à África do Sul participar do Congresso do CNA, cujo lema é “Unidade na Diversidade”. O partido, que governa aquele país desde o fim do apartheid, completa cem anos no domingo.

Segundo escalão
Se a presidente Dilma mantiver o ministro Mário Negromonte (Cidades) no cargo, o PP quer que ele substitua o secretário de Mobilidade, Luiz Carlos Bueno de Lima. Querem um nome com mais vínculos com a bancada da Câmara.

PIVÔ do escândalo dos atos secretos do Senado, o ex-diretor da Casa Agaciel Maia, agora deputado distrital, foi relator-geral do Orçamento do Distrito Federal para este ano.

O DEM do Rio Grande do Norte está sendo disputado pelos candidatos à prefeitura de Natal do PMDB, deputado estadual Hermano Morais, e do PSDB, deputado federal Rogério Marinho.

A ASSESSORIA da Presidência da República diz: “Ciro Gomes não é um problema para 2014. A presidente Dilma o considera um companheiro de governo”.

Ano novo, velhos hábitos - ROBERTO DaMATTA


O Globo - 04/01/12



Chega o Ano Novo, mas os nossos grandes problemas estão nos velhos hábitos situados naquela zona malandra centrada entre o estado (essa milionária máquina gerencial pública com suas regras opostas ao bom-senso) e a sociedade. Nós, os cidadãos comuns que não recebemos milionários auxílios-residência, não temos licença-prêmio ou atrasados a receber e nem fomos eleitos para algum cargo público com o propósito de usá-lo para virarmos nobres e, melhor que isso, ficarmos fora do alcance da lei. Nós, os comuns, não temos emprego - temos impostos e trabalho!

Entramos o Ano Novo com o Poder Judiciário em crise. Quem julga os juízes numa terra onde tudo tem lei, mas os "bandidos" (eis uma categoria cada vez mais ampla) continuam leves, livres e soltos? A Lei da Ficha Limpa foi adiada e bloqueada, o mensalão pode ser devidamente engavetado. Há, pasmem, uma lei da palmada! E o Poder Executivo faz sinal de faxina e chama falcatruas de malfeitos, enquanto a foto de Daniel, filhinho do senador ficha-suja Jader Barbalho - empossado com o ritual que aristocratiza os eleitos - fazendo o antigo sinal que nos chama de otários, é o melhor símbolo deste 2011 que findou.

Entrementes, o capitalismo vai mal. Mas a nossa economia cresce e ultrapassamos o Reino Unido. Aqui há clareza. Sabemos quem vai mal ou bem. O diabólico mercado pune os bandidos e dá um pontapé chapliniano na bunda dos hiperespeculadores. Quando não promove cadeia e uma nova consciência social nos Estados Unidos. Hoje, sabemos que o maior inimigo do capitalismo não é a classe operária, mas os gênios de Wall Street e do Silicon Valley que inventam bolhas de dinheiro fácil e superprogramas de comunicação enquanto seus usuários não têm nada pra dizer.

Mas, como compensação positiva, entramos o ano com uma intolerância maior para a bem estabelecida desigualdade dos poderosos (localizados no estado) e a igualdade devida a cada um de nós como cidadãos efetivamente republicanos. Desse aspecto, ninguém mais do que imprensa tem atuado com eficiência e equilíbrio. Pois é ela quem tem mostrado como é importante, numa sociedade igualitária, separar o que deve ter limites do mandonismo ilimitado.

Aqui, destaca-se a discussão implícita, mas em curso, do que é, de fato, servir ao governo. Não foram poucas as vezes que perguntamos aos responsáveis pela máquina pública se, afinal de contas, os mais "altos funcionários públicos" trabalham para si mesmos - como manda a ética do "corporativismo" brasileiro que, no fundo, é uma ação entre amigos com o consentimento legal do estado - ou se eles trabalham para o Brasil. Neste caso, é preciso tomar consciência que quando um sujeito vira ministro ele não tem mais vida privada quando se trata - obviamente - de consultorias e outros trabalhos que configuram conflito de interesse. Nesse ponto eu me pergunto se não precisamos de uma psicanálise coletiva.

Na entrada de um Ano Novo, vale uma pausa para pensar se vamos continuar assistindo à riqueza de todos ser desperdiçada ou seguir para o bolso de nossa aristocracia governamental e dos seus apaniguados. Esses "altos funcionários" que tudo sabem, tudo decidem e - aí está a chave no negócio - tomam um copo de vinho com quem comanda essa incrível máquina de produzir dinheiro sem aparentemente dar prejuízos a ninguém porque é um aparelho isento de responsabilidade. Máquina montada por uma elite escravista que realizou uma brutal internalização do seu espírito hierárquico e patrimonialista em todo o sistema. Esse espírito que até hoje nos isenta de culpa pelo que somos e pelo enorme descaso relativamente aos nossos próximos desiguais.

A igualdade cívica é um ideal. E, no entanto, a desigualdade é, no Brasil, não apenas um fato histórico capital, mas é também - apesar de alguns esforços - um valor. Temos altos funcionários e representantes do povo que são intocáveis. Suspenda-se por um momento a norma da hierarquia, instituindo uma corregedoria atuante em nível nacional, e temos uma crise no Judiciário que decorre da igualdade. Onde há igualdade, há conflito e, como consequência, ausência de bom-senso na sua resolução. O "engavetamento" e a "prescrição", esses gêmeos do nosso DNA legalístico forjado em Coimbra, conforme aprendi com José Murilo de Carvalho, são o modo (ou o "jeitinho") de mostrar quem fala mais alto.

Em 2011 voltamos a ser atrapalhados não apenas pela economia, onde perdas e danos sempre existem e são - eis o ponto - relativamente impessoais, mas pelo estado. Um estado que continua personalizado e aristocratizante, insensível à racionalidade num mundo claramente preocupado com a suficiência e com a sustentabilidade.

Registro, com um pesar indizível, a morte de Daniel Piza, que lia e admirava. Envio a todos os seus próximos um meu abraço solidário. Ninguém deve morrer aos 41 anos. Mas assim corre o mundo e agora cabe a cada um de nós honrar a sua busca, o seu amor aos livros, a sua inteligência e a sua honestidade.

O fim de (quase) tudo - ANTONIO PRATA

FOLHA DE SP - 04/01/12

Ficamos pensando na bola de fogo consumindo o Everest, a Teodoro Sampaio e os casais apaixonados


Na manhã do dia 1º, meu amigo me liga, deprimido:

-Você sabia que o mundo vai acabar?

Penso tratar-se de uma dessas bobagens que misturam calendário Maia com filme-tragédia e começo a desancar o marketing hollywoodiano, mas meu amigo explica que não é nada disso. Viu num documentário que a Terra acabará daqui uns bilhões de anos, quando o sol, tendo esgotado seu combustível, dará um último suspiro, transformando-se numa gigante vermelha e engolindo nosso simpático planeta. Ficamos um tempo em silêncio, os dois pensando nesta bela e terrível imagem: a bola de fogo consumindo o Everest, a Teodoro Sampaio, os avestruzes, os casais apaixonados, as usinas nucleares e as fronhas nos varais.

-Olha, não chega a ser exatamente um consolo, mas daqui uns bilhões de anos nem eu nem você vamos mais estar por aí...

-Eu sei, mas eu achava que a humanidade ia continuar. Que o teto da Capela Sistina, as gravações do Cartola, os poemas do Walt Whitman e os peitos da Claudia Cardinale em "Era uma Vez no Oeste" ficariam pra sempre, só que tudo vai desaparecer... Isso não te angustia?!

-Não quero parecer muito egoísta, mas o que vai ser das pinceladas do Michelangelo depois que eu bater as botas não tá entre as minhas maiores preocupações.

-Pois tá entre as minhas. Antes, eu achava que o mundo era eterno e que se eu escrevesse um livro muito bom [meu amigo é poeta], esse livro ia se juntar a todas essas coisas que permanecem. Mesmo que ficasse no fundo de uma biblioteca, numa estante perdida entre um zilhão de estantes, ia estar lá: minha pequena colaboração para a humanidade. Você nunca quis produzir algo que sobrevivesse a você?

-Sinceramente? Concordo com o Woody Allen, quando disse que não queria atingir a imortalidade através da sua obra, preferia atingi-la simplesmente não morrendo. Uma vez cadáver, que diferença faz ser ilustre ou desconhecido? Ruim mesmo é nunca mais comer um frango a passarinho, é ou não é?

Meu amigo não responde. Parece um tanto decepcionado com a minha insensibilidade. Procurou um ombro fraterno para chorar a transformação de toda a poesia em poeira cósmica e eu venho com essa de frango a passarinho? Lembro, então, de algo que li num livro e que pode melhorar a situação:

-Calma! Nem tudo vai acabar: mesmo depois do fim da Terra, as ondas de rádio que emitimos continuarão se propagando por aí.

-Quer dizer que das obras completas da humanidade vai sobrar só o conteúdo das AMs e FMs?!

Percebo minha gafe, mas é tarde. Meu amigo se desespera. Shakespeare virará pó, mas a voz de Justin Bieber, agora mesmo, viaja pela Via Láctea; e se em algum canto houver vida inteligente -e a vida inteligente tiver construído um radinho-, o legado de nossa passagem pelo cosmos ressoará, eternamente: "Baby, baby, baby oooh/ baby, baby, baby oooh/ baby, baby, baby oooh". Realmente, não faltam motivos para se deprimir.

Dívidas que vencem - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 04/01/12


O problema das dívidas dos países que vencem este ano não é tão grande quanto parece, mas é suficientemente grave. Ontem, a Bloomberg chegou ao número assustador de US$ 7,6 trilhões vencendo em 2012; isso é mais do que uma China. Parece uma grande encrenca. Mas o importante não é o tamanho da dívida e sim a capacidade de pagar. O Japão é o maior devedor, mas não tira o sono de ninguém.

Do total, US$ 3 trilhões são títulos que terão que ser pagos ou rolados pelo Japão. O país tem a maior dívida do mundo em relação ao PIB há muitos anos e sempre conseguiu financiá-la a um custo muito baixo, às vezes até negativo. Tem uma enorme capacidade de poupança e seus maiores credores são os próprios japoneses.

A segunda maior conta que bate este ano é a dos títulos americanos, aqueles para os quais os investidores correm em momento de insegurança. Os US$ 2,6 trilhões que vencem este ano serão facilmente rolados. A ansiedade que houve no ano passado foi criada pelo impasse político que impedia a elevação do teto da dívida. A paralisia decisória continua sendo a grande dificuldade dos Estados Unidos.

Outro país que terá um grande vencimento é a Alemanha - US$ 285 bilhões - mas também sobre ela não há dúvida sobre a capacidade de pagamento. A Alemanha está no centro da crise por ser a economia mais poderosa num continente em convulsão, mas tem enorme capacidade de pagamento. O país tem tido dados positivos, destoantes dos de outros países da área. Ontem, saiu a taxa de desemprego de 6,8%, a mais baixa desde 1991. No mesmo dia, na outra ponta da crise europeia, a Espanha chegou ao inacreditável índice de 22% de desemprego.

A China entrou na conta da Bloomberg porque tem US$ 121 bilhões vencendo, mas sinceramente ninguém pensa que o país não possa pagar esse valor, montada como a China está em US$ 3,2 trilhões de reservas cambiais. O Brasil teria por essa conta US$ 169 bi vencendo no ano. Tem mais do que o dobro disso de reservas cambiais. Se houver mais escassez de oferta de crédito, como ocorreu em 2008, os juros ficarão mais caros. Nesse contexto, o Brasil terá problemas que poderá enfrentar com as mesmas armas de 2008, quando o BC irrigou o mercado usando em parte as reservas.

Noves fora os que podem se financiar, sobram os grandes problemas e o maior deles é da Itália. Há outras encrencas graves como Grécia e Espanha. O que cria instabilidade não é o volume da dívida vencendo, mas a confiança na capacidade de o país honrar seus compromissos, ou equilibrar suas contas em algum dia no futuro. Se há dúvidas de que o país cumprirá suas metas - e ontem a Espanha disse que não cumprirá - isso significa que a dívida será realimentada pelo déficit e continuará crescendo. A tendência é a de os bancos pediram uma taxa maior para rolar as dívidas e neste contexto vai se formando um círculo vicioso. Quanto maior a desconfiança, maior será a taxa de juros cobrada pelos investidores. Quanto mais elevada for a taxa, mais dificuldade o país terá de pagar e portanto maior a desconfiança dos bancos credores.

As contas feitas pela Consultoria Tendências mostram dados um pouco diferentes dos da Bloomberg, e estão em euros, mas pode-se conferir no gráfico abaixo que há problemas graves nas dívidas de alguns países europeus. A Itália tem a maior concentração de vencimentos no primeiro trimestre - C130,6 bilhões - o que significa dizer que está entrando no ano com dificuldades. A França também tem uma concentração de títulos a serem renegociados, ou refinanciados, no primeiro trimestre. São C 124 bilhões. A eleição presidencial na França adicionará um grau a mais de incerteza nesse quadro.

Outra forma de olhar os dados é comparando com seu PIB. A Alemanha que não tem problema grave de rolagem de dívida tem títulos vencendo que representam 9% do seu PIB; a Grécia, sobre a qual há muitas dúvidas sobre a capacidade de o país honrar seus compromissos, tem dívida vencendo em 2012 equivalente a 27% de sua economia. A Itália terá que resgatar ou rolar um quarto do seu PIB.

Ontem, a Grécia falou o que todos vinham pensando mas não tinham coragem de falar. Admitiu que pode sair da Zona do Euro. O problema das dívidas soberanas continua grave, mas o número de US$ 7,6 trilhões de vencimentos em 2012 faz com que ele pareça ainda maior.

Duplo papel - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 04/01/12

Num ano eleitoral, com o julgamento político mais importante da História recente do país, o Supremo Tribunal Federal (STF) será o centro das atenções a partir de sua volta aos trabalhos em fevereiro. Suas decisões terão necessariamente consequências políticas, seja qual for o resultado do julgamento.

O Supremo terá o duplo papel de julgar e ser julgado pela opinião pública. Nada poderia ser mais prejudicial aos interesses dos “mensaleiros” do que a polêmica em torno do Conselho Nacional deJustiça (CNJ).

A opinião pública estará com sua atenção voltada para o posicionamento do plenário do Supremo em relação à liminar que o ministro Marco Aurélio Mello concedeu nos últimos momentos do ano, quando oJudiciário entrava em recesso, congelando as ações do CNJ.

Outra liminar, esta do ministro Ricardo Lewandowski, suspendeu uma investigação no Tribunal de Justiça de SãoPaulo sobre possíveis pagamentos abusivos.

As medidas foram entendidas pela opinião pública como ações corporativas, e a corregedora do CNJ, ministra Eliana Calmon, transformou-se em heroína popular, um Dom Quixote de saias a lutar contra os gigantescos interesses corporativos do Judiciário.

Mesmo que tenha errado no tom quando iniciou o embate, ao afirmar que havia “bandidos togados”, a ministra cometeu no máximo uma inconveniência verbal, não uma inverdade.

Seu papel de combate ao corporativismo, que alimenta a impunidade dos frequentes “malfeitos” registrados nos diversos níveis do sistema judiciário, tem sido a melhor tradução do espírito que criou o Conselho Nacional de Justiça.

O CNJ não foi criado como um órgão revisor e tem amplos poderes para receber denúncias contra juízes, mesmo diretamente, sem a necessidade de que a reclamação passe pelos tribunais locais.

Os poderes são tão amplos que ele pode agir por conta própria e vinha investigando casos de corrupção na magistratura sem a necessidade de aguardar uma decisão do tribunal local.

Invertendo a judicialização da política, o senador Demóstenes Torres (DEM) apresentou emenda constitucional que garante ao CNJ o direito de julgar e punir juízes.

Na verdade, essa emenda remete ao espírito da lei que criou o CNJ e seria dispensável se não fosse a reação corporativa que levou a Associação dos Magistrados do Brasil a entrar com ação no Supremo contra o conselho.

O plenário, portanto, terá o papel fundamental de definir para a opinião pública qual é o papel do CNJ e, por consequência, qual o seu próprio papel na estrutura de poder brasileiro: se vai ficar protegendo seus interesses corporativos ou está a serviço da sociedade.

Há um movimento nos bastidores do Supremo para que se chegue a uma difícil solução, que não sacrifique a atuação do CNJ, mas atenda as associações de magistrados, que, refletindo o sentimento da classe, se sentem expostas ao que consideram arbítrio da Corregedoria do CNJ.

A posição do pleno do Supremo a respeito do papel do CNJ terá uma relação direta com o outro julgamento, o do mensalão.

Se levarmos em conta o comentário do ministro Ricardo Lewandowski, flagrado falando ao telefone celular com seu irmão depois do julgamento em que os 40 do mensalão foram indiciados, temos que admitir que essa correlação existe.

A pressão da opinião pública, que já se faz sentir nessa disputa com o CNJ a ponto de o plenário não ter julgado a questão por “falta de clima”, conforme explicação não oficial, estará mais uma vez voltada para o Supremo.

Se satisfeita com a decisão sobre o CNJ, a opinião pública transferirá para o STF a esperança de que se faça justiça no julgamento do mensalão.

Se, ao contrário, considerar que o plenário do STF atendeu mais aos interesses da classe do que aos da sociedade, a metafórica “faca no pescoço” a que o ministro Lewandowski atribuiu o indiciamento do exministro José Dirceu como “chefe da quadrilha” poderá voltar a funcionar.

É claro que os ministros do Supremo têm que se ater ao que está nos autos, mas têm também que observar o que a sociedade espera da Justiça.

Quando o mesmo ministro Lewandowski deu uma entrevista recentemente dizendo que alguns dos crimes do mensalão prescreveriam porque não haveria tempo para julgálos ainda em 2012, houve uma reação negativa da opinião pública, e alguns de seus colegas se viram na obrigação de estranhar as declarações.

O próprio ministro Joaquim Barbosa, relator do processo, entregou no dia seguinte seu voto, que, na opinião de muitos, já estava atrasado, para não ser acusado de estar postergando o julgamento.

Lewandowski, que é o revisor do voto, alegou também que teria que começar do zero a leitura do processo, e foi desautorizado por Barbosa, que revelou que o processo já estava digitalizado e acessível a todos os ministros há bastante tempo.

Esse fato certamente ajudará a nova ministra do Supremo Rosa Maria Weber, que tomou posse a 19 de dezembro.

Se ela aproveitar o recesso para começar a leitura do processo, provavelmente não terá necessidade de pedir vistas
quando o julgamento começar, talvez em maio.

Se pedir vistas, terá três meses para a leitura, o que atrasará mais ainda o julgamento, colaborando para a possibilidade de prescrição de alguns crimes, como o de organização de quadrilha, caso os acusados sejam condenados a penas de até dois anos.

Os advogados de defesa estariam contando tanto com o pedido de vistas da ministra Rosa Maria quanto com a aposentadoria de dois ministros ainda este ano: o atual presidente do Supremo, Cezar Peluso, e o futuro, Ayres Britto, farão 70 anos provavelmente no decorrer do julgamento, e, se tiverem de ser substituídos, haverá um atraso que beneficiará a maioria dos acusados com a prescrição das penas.

Há no Congresso uma emenda constitucional que prorroga para 75 anos a aposentadoria compulsória dos funcionários públicos.

Embora faça todo o sentido essa prorrogação, pois a idade de 70 anos foi fixada quando a expectativa de vida do brasileiro era bem menor, o PT certamente mobilizará a base governista para não a aprovar, para beneficiar os acusados com o atraso do julgamento.

A tesoura de Marshall - ALEXANDRE SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 04/01/12
Parece haver um paradoxo no mercado de trabalho: a geração líquida de empregos formais (já ajustada pelo padrão sazonal) nitidamente desacelerou no segundo semestre de 2011, vindo de 160-170 mil postos de trabalho por mês para 100-110 mil postos mensais; por outro lado, a taxa de desemprego, também sazonalmente ajustada, caiu no período, atingindo em novembro o nível mais baixo desde 2002.

Este padrão poderia ser reconciliado caso um número expressivo de pessoas desempregadas tivesse abandonado a busca por trabalho. Sob tais circunstâncias seria concebível que a taxa de desemprego se mantivesse reduzida a despeito da baixa geração de emprego.

Entretanto, um exame mais atento dos dados de mercado de trabalho sugere não ser este o caso. Nos últimos meses, a proporção das pessoas em idade ativa trabalhando ou buscando trabalho (taxa de participação) tem se mantido razoavelmente estável e próxima à sua média. É verdade que na primeira metade do ano a taxa de participação se achava algo acima da média; todavia a redução no segundo semestre é insuficiente para explicar o comportamento discrepante da geração de empregos vis-à-vis a taxa de desemprego.

O paradoxo aparente, porém, pode decorrer de uma suposição implícita na análise acima, qual seja, que a desaceleração do ritmo de criação líquida de postos de trabalho refletiria apenas da moderação da demanda por trabalho, fruto da expansão mais lenta do produto. Há, contudo, ao menos em tese, a possibilidade que isso decorra também de limitações pelo lado da oferta.

Quando há um elevado contingente de desempregados e a demanda por trabalho se expande rapidamente é razoável esperar que a geração líquida de empregos se traduza em redução da taxa de desemprego. Todavia, à medida que nos aproximamos de uma situação em que parcela crescente da mão-de-obra capacitada se encontra empregada, a geração líquida deve desacelerar, pois agora um novo posto de trabalho não é obrigatoriamente ocupado por alguém previamente desempregado; passa a haver chance cada vez maior de tal posto ser tomado por alguém que já estava empregado.

Num caso extremo, irreal, mas que ajuda a ilustrar o problema, se todo novo emprego fosse tomado por um trabalhador previamente ocupado, a geração líquida de empregos seria zero, mas a taxa de desemprego permaneceria inalterada e baixa, como verificado no Brasil.

Isto dito, se o problema resultar da oferta de trabalho, deve haver reflexo nos salários. Caso só seja possível preencher uma nova vaga com um trabalhador já empregado, o salário oferecido ao novo candidato deverá ser superior ao que recebia anteriormente, isto é, o salário de admissão deve não apenas subir, mas também crescer mais do que o salário de demissão.

Segundo os dados do Ministério do Trabalho, é precisamente isto que temos observado. O ritmo de crescimento do salário médio de admissão se acelerou na segunda metade do ano, de 9% para 11% na comparação com o mesmo mês do ano anterior; além disto tem também superado a velocidade de crescimento do salário de demissão nesta mesma base de comparação. Esta evidência é consistente com a hipótese de limitações de oferta de trabalho terem desempenhado um papel mais relevante na moderação do ritmo de criação de empregos formais do que o observado até recentemente. Como a tesoura, a análise do mercado precisa de duas lâminas.

Embora esta não seja necessariamente a única razão por trás da desaceleração verificada na segunda metade de 2011, chega a ser surpreendente que esta hipótese tenha sido até agora ignorada. A identificação da natureza dos movimentos em qualquer mercado não pode deixar de lado a evidência pertinente aos preços, muito menos no caso do mercado de trabalho. Isto só reforça minha impressão que, quando a análise já parte da conclusão, a lógica do argumento fica irremediavelmente prejudicada.

GOSTOSA


O legado do ano que começa - JOSÉ CARLOS NUNES BARRETO


O ESTADO DE MINAS - 04/01/12

“De tudo ficam três coisas: a certeza de que estamos sempre começando, a certeza de que precisamos continuar e a certeza de que seremos interrompidos antes de terminar. Portanto, devemos fazer da interrupção um caminho novo, da queda, um passo de dança, do medo uma escada, do sonho uma ponte, da procura um encontro”(Fernando Pessoa). Certos anos nunca terminam: 1968 foi um deles, e este escriba era um adolescente de 17 anos à época daquela transformação social empreendida pelos babyboomers com o woodstock, e a tríade sexo , drogas e rock n, roll. 2001, com o ataque e destruição das Torres Gêmeas, foi outro ícone. E 2011, 10 anos depois, com a crise econômica do mundo desenvolvido, somado à Primavera Árabe, nos transmite a mesma sensação de que um novo tempo de mudanças está apenas começando.

Uma era de oportunidades e de transformações que nos colocam desafios como nação, que enumero: primeiro, realizar um a revolução educacional; segundo, uma revolução sanitária, em paralelo com a revolução sociológica que a partir de reformas estruturais desaguarão na implantação da igualdade social (as reformas tributária ,política e fiscal), pois não queremos repetir a Grécia de 2011. Em terceiro, seria desejável a construção de um marco de gestão ambiental no país, como bechmarking para o mundo, aproveitando nossas vantagens comparativas inatas. Sobre esse tema é relevante lembrar a Rio +20, que se realizará em 2012 com temas caros ao mundo, como as medidas necessárias para evitar maiores desastres climáticos com o aumento da temperatura da Terra.

Vale lembrar que a construção de Belo Monte vai em sentido contrário a esse paradigma, haja vista seu planejamento ter acontecido antes da agudização dos eventos do clima. E não será agora, depois de este governo ter jogado goela abaixo da sociedade essa obra, cujos impactos sociais e ambientais sequer são conhecidos em sua totalidade, que grupos econômicos ligados à mídia impressa e eletrônica queiram calar o debate, que deveria ter acontecido democraticamente antes de se tomar a decisão da construção. Infelizmente a maior parte da inteligência nacional não foi ouvida para proporcionar inovações e opções melhores que essa solução do século passado, e com custos menores. Há que se lutar pela consolidação da reforma do Judiciário, não permitindo retrocessos no controle externo desse poder pela Procuradoria do CNJ. É preciso aplicar a Lei Ficha Limpa.

Se quisermos, poderemos fazer em cinco anos a principal revolução necessária ao país, a educacional, e para isso precisaremos de menos recursos e energia do que estamos devotando à Fifa para realização da Copa de 2014, vide os acordos ora realizados no Congresso Nacional para a votação de leis específicas, muitas delas deletérias ao arcabouço institucional e jurídico da nação, como o favorecimento de acionistas de cervejarias através de venda de álcool em estádios. Tudo isso para uma entidade transnacional amoral e metida em escândalos de corrupção?

A revolução sanitária é simples de ser feita e, com ela, deixaríamos de gastar vários bilhões de dólares por ano com o SUS. Basta sanearmos as cidades brasileiras,construindo estações de tratamento de água e esgoto, além de aterros sanitários. Essas metas estratégicas farão girar a economia e os resultados ficarão para sempre como marcos favoráveis às atuais e futuras gerações de brasileiros, em vez dos elefantes brancos em que se converterão vários estádios de futebol agora construídos.

Ueba! Ai se eu te pego 2012! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 04/01/12

Pensam que fogos são de graça? Aquela estrela roxa que você achou linda era seu IPTU explodindo nos céus!

Buemba! Buemba! Macaco Simāo Urgente! O esculhambador-geral da República! Ueba!
Passei o Réveillon na Colômbia! Onde só toca Michel Teló, "Ai Se Eu te Pego". Ai se eu te pego 2012!
E o show na Paulista? Roberta Miranda e KLB. Noite infeliz! E, depois que os Restarts se apresentaram na Paulista, o mundo já acabou! O mundo já era!
E o site Comentando disse que 2011 foi o ano em que a Europa se fudeuro! E um amigo me disse que 2011 foi o Ano da Rabanada. Levou rabanada da mulher, da sogra, do chefe e da Dilma! Rarará!
E passei o Réveillon numa das cidades mais deslumbrantes de las Américas: Cartagena, Colômbia! Rodeado de brasileiros por todos os lados. Culpa do Falabella. Turismo de novela! Na Colômbia não tem mais Farcs nem narcotraficantes, tem brasileiros! Rarará!
Até o Jaques Wagner, o governador da Bahia, estava no hotel. E os empregados do hotel me falaram que a Grazi era muito chata e adoraram a Giovanna Antonelli. Essa coluna está parecendo a "Contigo"!
Ah, e o mais importante: fui até Barranquilla, cidade da Shakira. Em peregrinação! DE JOELHOS! Rarará! Nunca ouvi tanta salsa, bolero e cumbia. E Michel Teló!
E a Colômbia é a terra dos meus dois grandes ídolos: Gabriel García Márquez e Shakira!
E agora volta ao trabalho: depois de comer tudo aquilo voltamos a comer por quilo! Essa continua sendo a melhor definição de volta ao trabalho: depois de comer tudo aquilo, voltamos a comer por quilo.
E, depois da grande virada, todo mundo se virando. Pra pagar o cartāo! E os fogos! Chegou a conta dos fogos! Vocês pensam que show de fogos é de graça? Os impostos já vêm embutidos!
Sabe aquela translumbrante estrela roxa que você achou linda? É o IPTU! Era o seu IPTU explodindo nos céus! Rarará!
E o primeiro predestinado de 2012! Sabe como se chama o capitão da Marinha responsável pela queima de fogos em Copacabana? Walter BOMBARDA!
E agora rumo ao Carnaval. Falta muito pro Carnaval? Faltam 34 dias úteis! E agora volta ao trabalho: aquela vida de remador do Titanic!
E a melhor faixa de fim de ano é a de Simões Filho, na Bahia: "O Transporte Clandestino deseja a todos um Feliz Ano-Novo!". Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!

Do caráter bovino - IGOR GIELOW

FOLHA DE SP - 04/01/11

BRASÍLIA - Países como o Brasil e a Rússia têm, historicamente, pouco ou nada realmente em comum. Foram jogados na sopa de letrinhas do Brics como nações em que valia a pena ao mercado ficar de olho lá no começo da década passada, mas as intersecções reais sempre foram bem escassas.
No fim de 2007, voltei ao gigante eurasiano para tentar fazer um balanço da era de Vladimir Putin no poder (então presidente, depois premiê e, agora, candidato novamente ao cargo máximo).
Havia problemas, mas o país estava em bem melhor forma do que na minha primeira visita, em 2000.
Escrevi sobre a mansidão da massa nos centros urbanos, ascendendo para um patamar de classe média europeia com apatia política proporcional. Putin tolhia liberdades quase sob aplausos.
Em coluna sobre o tema, Clóvis Rossi viu, no relato, similaridade entre o caráter bovino de lá e o de cá.
Muita coisa mudou nesses últimos anos. Longe de imitar patacoadas da franquia "Occupy", que duram o quanto a CNN lhes conceder, em Moscou e em São Petersburgo a letargia foi sacudida.
Não que Putin vá perder a eleição de março, mas ficou claro ao Kremlin que concessões como a volta dos pleitos para governadores são necessárias antes que alguém possa personificar o descontentamento.
É um começo.
Já no Brasil, bem, aqui também houve avanços. Mas as chuvas já começam a sua colheita anual de mortos, ministros caem e ninguém pergunta quem os colocou lá, educação e saúde públicas avançam a passos de cágado.
Como na Rússia de 2007, o que interessa hoje é a sensação de bem-estar econômico -que é ótima, diga-se.
Mas é pouco. A sorte dos poderosos daqui é que a mansidão local parece ter um caráter bem mais atávico do que a dos nossos colegas de acrônimo inventado por gringo.

Dilma congelou o Pronasci - ELIO GASPARI

FOLHA DE SP - 04/01/11

Em vez de dizer o que fará (sabendo que não cumprirá), a doutora pisou no freio de um programa de fingimento
 

A primeira boa notícia do ano foi o anúncio de uma coisa que o governo federal pretende não fazer. O repórter Jailton de Carvalho informa que a doutora Dilma mandou que o Ministério da Justiça pusesse um freio nas iniciativas do Pronasci. Essa sopa de letras designa o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, também chamado de PAC da Segurança.
Lançado em 2007, o Pronasci tinha tudo para dar em nada. Toda vez que o governo saca o prefixo "Pro", há empulhação no ar. Se o "Pro" inclui a palavra "cidadania", a coisa piora.
Tratava-se de uma iniciativa destinada a reduzir a violência no país. Custaria R$ 4,8 bilhões em cinco anos. Ganha uma viagem a Cuba (de ida) quem acredita que o problema da violência pode ser enfrentado a partir de planos concebidos em Brasília. Ganha outra (também de ida), quem acha que o Planalto investe o que promete quando lança um "Pro".
Bastaria ouvir o então ministro da Justiça, Tarso Genro, ao lançar o Pronasci, para perceber o que estava a caminho: "Há um processo de recoesão social no país, que precisa vir acompanhado de uma nova política de segurança pública, porque ninguém se recoesiona sem segurança, mas sim a partir da confiança nas suas instituições republicanas, entre as quais a Justiça e a polícia".
A segurança pública é uma atribuição dos governos estaduais e em algumas cidades há polícias metropolitanas. Ao governo central cabe cuidar da Polícia Federal, das fronteiras e de alguns presídios, o que não é pouca coisa. Fora daí, suas intervenções são bem-vindas, desde que sejam pontuais, com metas, ou, no máximo, indutoras.
Quando Brasília cria um programa de combate à violência urbana, patrocina uma salada de responsabilidades, atribuindo-se a solução de problemas que não pode administrar. O presidente finge que faz, o governador aplaude, e o prefeito traz a claque.
Quando as estatísticas mostram que a situação piorou (137 homicídios por dia), o prefeito diz que o problema é do governador, o governador reclama que Brasília não mandou os recursos, e o presidente informa que a ruína não é da sua alçada. Fica com a ressaca de uma festa à qual não deveria ter ido.
Durante a campanha, a doutora Dilma chamou o Pronasci de "ação planejada e concentrada de segurança nas áreas urbanas".
Na hora de administrar, passou a faca nas verbas. Em 2009, tirou R$ 1,2 bilhão do programa. Em 2011, outro R$ 1 bilhão. Não se tratou de cortar por cortar: dois terços dos Estados e quase metade dos municípios inscritos deixaram recursos disponíveis nas gavetas da burocracia.
Na Bahia, por exemplo, o dinheiro foi usado na velha e boa compra de viaturas e equipamentos: R$ 23 milhões foram para ferragens e apenas R$ 6,5 milhões para prevenção.
A Polícia Federal achou uma quadrilha que operava em cinco Estados com Bolsas Consultoria de segurança, embolsando R$ 11,1 milhões.
No seu primeiro ano de governo a doutora Dilma mostrou-se preocupada com a gestão.
Ela conhece as limitações da máquina do Estado e seu gosto pela propaganda. Quem sabe inaugura em 2012 uma nova modalidade de administração: em vez de dizer o que fará (sabendo que não cumprirá), fechará as usinas de fingimentos.

Terror pelo terror - RUY CASTRO


FOLHA DE SP - 04/01/12
RIO DE JANEIRO - Até há pouco, todo fim de ano os franceses se divertiam incendiando carros na rua. A média era de mil carros ardendo na França por Réveillon. Mas, em 2011 e no ano anterior, os franceses descobriram outras formas de queimar a libido, ou então as agências de notícias não acharam expressivo o número de carros pegando fogo. A vez agora é da Califórnia.
De sexta a segunda-feira, em Los Angeles, as chamas engoliram pelo menos 55 carros nas ruas ou em garagens, neste caso levando junto a casa ou o prédio em cima delas. Ninguém morreu ainda, mas o clima é de sobressalto. A cada sirene dos bombeiros, voo rasante dos helicópteros da polícia sobre a cena do crime e carros das televisões chegando com espalhafato, as pessoas temem que, dessa vez, seja com elas.
A polícia continua no escuro quanto aos responsáveis. Pode ser um incendiário isolado ou uma quadrilha, e pode ser alguém que começou a onda e apenas recebeu adesões. Não há também um padrão -o alvo é todo tipo de carro, a qualquer hora do dia e em qualquer lugar. Curioso é que, numa época de tanta vigilância, com as ruas de qualquer cidade infestadas de câmeras, a polícia de Los Angeles esteja sempre chegando depois do fato.
E há o motivo ou a falta de. Exceto pelos espertos, que podem estar aproveitando para botar fogo no próprio carro e receber o seguro, não parece haver uma causa por trás dos incêndios. Ninguém assume os sinistros e deixa manifestos anti-Obama, pró-islã ou de qualquer natureza. Parece o terror pelo terror, talvez até com objetivos estéticos -há algo mais pungente que uma coluna de fogo?
No Brasil, passageiros revoltados costumam queimar ônibus para protestar contra o tratamento que recebem das empresas de transporte.
Os meios estão errados, mas, para eles, há um fim.

GOSTOSA


Saldo devedor - DORA KRAMER

 O Estado de S.Paulo - 04/01/12

Da reforma política à adoção de critérios eticamente saudáveis para a divisão de poder na coalizão governamental, passando por uma decisão definitiva sobre a Lei da Ficha Limpa, cada um dos Poderes da República ficou devendo a sua parte no ano passado.

Com tantas decisões adiadas e muitas questões em suspenso, 2012 abre a conta no vermelho.

Difícil estabelecer quem é o maior devedor. No Poder Legislativo acumula-se o maior número de pendências, mas é no Executivo e no Judiciário que estão as mais polêmicas.

Quando voltar do recesso, em fevereiro, o Congresso encontrará à sua espera uma pauta pesada incluindo a votação do Código Florestal, aprovado na Câmara, modificado no Senado e por isso devolvido ao exame dos deputados.

Os parlamentares terão de correr com a aprovação da Lei Geral da Copa e, em pleno ano eleitoral, precisarão dar conta de uma proposta que contrapõe Estados, municípios, adversários e correligionários: as novas regras de repartição dos royalties do petróleo, assunto cuja solução definitiva acabará ficando com o Supremo Tribunal Federal.

A reforma política continuará no arquivo das pendências eternas, bem como não será neste ano que o Parlamento conseguirá solucionar de maneira satisfatória a questão da tramitação das medidas provisórias nem corrigir as distorções administrativas que fazem da Câmara e do Senado uma usina de denúncias.

Para resolver o assunto MPs falta ao Poder Legislativo independência em relação ao Executivo e para fazer a reforma administrativa falta vontade.

Da mesma forma, não existe disposição no Congresso de retomar as práticas da fiscalização externa e da punição interna aos desvios de conduta parlamentar, itens importantes do saldo devedor.

O Poder Executivo na política inicia o ano devendo uma reformulação nas regras para o preenchimento de cargos e a sistemática na condução dos ministérios, assim como não poderá deixar de se confrontar com a resolução do caso do ministro da Indústria e Comércio.

Fernando Pimentel passou o fim do ano escondendo-se da imprensa para evitar questionamentos sobre suas consultorias, mas não poderá passar os próximos três anos esgueirando-se pelos cantos ou recusando-se a dar explicações, sustentado na tese de que "ninguém tem nada com isso".

O Judiciário acumulou dívida antiga (e desnecessária) ao deixar pendente a decisão sobre a constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa, embora o assunto esteja praticamente liquidado em favor da validade, a julgar pelas posições já conhecidas da maioria dos ministros.

O passivo de polêmicas para 2012, porém, é significativo: a decisão sobre a retirada de prerrogativas do Conselho Nacional de Justiça e o julgamento do mensalão, um teste importante para a resistência do Supremo a pressões.

No mais, passamos o Reino Unido no quesito Produto Interno Bruto e assumimos o posto de 6.ª economia do mundo.

Agora falta ultrapassar países como Macedônia, Albânia e Cazaquistão, integrantes da lista de 83 nações à frente do Brasil no quesito desenvolvimento humano, sem esquecer as 46 que nos antecedem no PIB per capita, que é a divisão do produto total pela população nacional.

Léguas a percorrer. A diferença entre o excesso de público perfeitamente administrado do aeroporto Charles De Gaulle (Paris) e o caos reinante em Guarulhos (SP) no mesmo dia 1.º do ano conta parte da história da nulidade da infraestrutura no Brasil.

A constatação não é só desoladora: é constrangedora.

Dez mais. A última edição de 2011 da revista francesa Le Nouvel Observateur traz uma reportagem especial sobre os anos 60, "a década que mudou o mundo".

Relaciona acontecimentos marcantes em todas as áreas e cita entre eles a inauguração de Brasília, "uma capital de ficção científica".

Definição da revista: "Mais que uma cidade, é uma utopia que brotou da terra. Uma indiscutível ideia de futuro - obrigatoriamente radiosa, obra-prima da arquitetura moderna".

Cedo para a bengala - EDITORIAL FOLHA DE SP


FOLHA DE SP - 04/01/12

A iminência da aposentadoria compulsória de dois ministros do Supremo Tribunal Federal no segundo semestre de 2012 reacendeu o debate sobre a "PEC da Bengala".

O projeto aumenta em cinco anos a idade-limite -hoje de 70 anos- para a permanência no serviço público de integrantes da cúpula do Judiciário e do Tribunal de Contas da União. Também abre caminho para levar o novo teto a todo o funcionalismo público.

Aprovada a PEC, o aumento da idade seria automático para ministros do STF, de tribunais superiores e do TCU. Já para o restante dos servidores, dependeria de lei complementar.

A proposta, apresentada em 2003, foi aprovada no Senado em 2005 e já percorreu todo o caminho das comissões na Câmara dos Deputados. Está pronta para ser votada em plenário desde 2006 -mas se encontra parada desde então.

O lobby da OAB e de entidades de magistrados é contrário ao projeto, sob a justificativa de que contribuiria para engessar o Judiciário. Juízes e desembargadores mais velhos prosseguiriam por mais tempo em postos-chave, retardando a ascensão dos mais novos.

O outro argumento esgrimido contra a medida é o de que aos 70 anos muitos não mais se encontram em condição de desempenhar suas funções, ainda que desejem prosseguir na ativa.

Ambas as objeções são contornáveis -e as eventuais desvantagens parecem consideravelmente menores do que os benefícios.

Uma solução para a questão da carreira seria ampliar a idade máxima para 75 anos, porém mantendo um limite de 70 anos para ocupar cargos de direção. Com efeito, os mais experientes abririam espaço para os sucessores, mas continuariam a contribuir com seu trabalho.

Tampouco se justifica o temor de senilidade. Os avanços da medicina e do bem-estar proporcionaram um contínuo aumento da expectativa de vida, que passou de 52,4 anos em 1960 para 73,5 atualmente -e a previsão é que atinja 81 anos em 2050.

Não se tem registro, por exemplo, de que os ministros do STF Carlos Ayres Britto e Cezar Peluso -que se aproximam dos 70 e serão obrigados a aposentar-se neste ano- tenham chegado ao ocaso de sua atividade intelectual.

Não faz sentido, assim, privar o serviço público de funcionários experientes e qualificados em razão de uma lei que não mais reflete a realidade do país. O limite de 75 anos é bastante razoável, e quem desejar aposentar-se aos 70 anos ainda poderá fazê-lo.

O Congresso precisa, portanto, aprovar sem mais demora a proposta que reajusta o teto de idade dos servidores brasileiros.

Catástrofe de 2011 na Serra foi em vão - EDITORIAL O GLOBO


O Globo - 04/01/12


Com a severa tempestade que desabou sobre a Serra Fluminense no início do ano passado, ficou à vista de todos o que a incúria administrativa e a corrupção podem produzir. Entre Petrópolis, Teresópolis e Friburgo, foram mais de 900 mortos - nem todos resgatados -, estradas, pontes, casas e toda uma infraestrutura destruídas.

Num enredo conhecido, autoridades de todos os níveis administrativos se solidarizaram com as vítimas, prometeram investir na recuperação das cidades, alguns governantes até foram aos enlameados locais. Também como sempre acontece nessas situações, ficou evidente que faltou cuidado com a prevenção por parte de todos os governos - federal, estadual e municipais.

Mas foi tão grande a tragédia - considerada a maior catástrofe natural ocorrida no país - que se esperava alguma mudança de postura do poder público. Em vão. Há um ano da enxurrada, quando nova temporada de chuvas se inicia, os mesmos problemas voltam a ocorrer, em Friburgo e Teresópolis. Pelo menos até agora.

A lição não foi aprendida, apesar do número de vítimas, da pulverização de patrimônios público e privado. Se algo positivo aconteceu no decorrer de 2011, naquela região, foi o afastamento dos prefeitos de Teresópolis e Friburgo, Jorge Mario (ex-PT) e Demerval Moreira Neto (PTdoB). O primeiro, cassado; o segundo, destituído pela Justiça Federal, a partir de ação proposta pelo Ministério Público Federal.

Os dois mantinham esquemas de corrupção detectados assim que foi exigido das prefeituras agir de maneira rápida e eficiente na aplicação de recursos federais e estaduais liberados na tragédia.

Mas foi só. As chuvas destes dias encontram áreas das cidades atingidas com rigor em 2011 quase do mesmo jeito que ficaram depois da passagem das águas há um ano. No momento, os problemas mais graves ocorrem em Friburgo.

O governo federal tem parte ponderável da responsabilidade em todo este drama. Se, em 2011, descobriu-se que o ministro Geddel Vieira (PMDB), da Integração Nacional na fase final do governo Lula, privilegiara sua base eleitoral, a Bahia, na distribuição das verbas federais para obras de prevenção contra este tipo de desastre, sabe-se agora que Fernando Rezende (PSB) seguiu Geddel e concentrou a mesma verba em Pernambuco. Em artigo publicado ontem no GLOBO, o economista Gil Castello Branco, da ONG Contas Abertas, registrou que dos R$155,6 milhões do orçamento para obras de prevenção, a maior parte, R$34,2 milhões, 22%, foram para o domicílio eleitoral do ministro.

O poder público nada aprendeu com a catástrofe de 2011. Por determinação da presidente Dilma, a ministra Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, suspendeu as férias e voltou ao gabinete, ontem, no Planalto, para tratar de ações de emergência em áreas de enchentes em Minas e no Rio de Janeiro. Noticia-se, também, que serão definidos critérios técnicos na distribuição de verbas que Geddel e Rezende usaram com fins clientelistas.

Tudo pirotecnia. Mais uma vez, o Estado apenas tentará apagar incêndios mais do que previsíveis, pois não consegue agir na prevenção. Por deficiência administrativa e/ou má-fé.

DE ZERO A DEZ - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 04/01/12
Um aluno conseguiu na Justiça, pela primeira vez desde o novo formato do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), a revisão de sua nota de redação. Inconformado por ter tido a prova anulada sob o argumento de que fugiu do tema, ele recorreu aos tribunais com a ajuda de sua escola, a Lourenço Castanho, em SP. De zero, a nota passou para 880 pontos.

TEMA
O MEC diz que não houve erro, já que "cada prova é corrigida, automática e obrigatoriamente, por dois corretores, de forma independente, sem que um conheça a correção feita pelo outro". Em caso de discordância em até 300 pontos (de zero a mil), "um terceiro examinador" atribuirá nova nota, "que prevalecerá sobre as anteriores". Foi o que ocorreu: o terceiro corretor também considerou que o estudante fugiu do tema.

TEMA 2
A partir daí, o assunto está encerrado e a única alternativa é recorrer à Justiça. Neste caso, a questão é reaberta e a nota pode ser revista por um conselho do consórcio que aplica a prova. O caso do jovem do Lourenço Castanho, no entanto, é único: de 28 demandas judiciais pedindo revisão em 2010, nenhuma logrou êxito, diz o MEC. Neste Enem, já são 16 ações -e só este caso foi revisto até agora.

TURBINADO
Ainda o MEC: Aloizio Mercadante, que tomará posse ainda neste mês, administrará orçamento de R$ 85,9 bilhões neste ano. Há dez anos, o orçamento era de cerca de R$ 30 bilhões, em valores constantes. "Os outros ministros, há uma década, administravam uma romiseta. Ele vai herdar uma Ferrari", diz ex-dirigente da pasta.

REI DO BAIÃO
Um show com Tulipa Ruiz e Nina Becker, entre outros, nos dias 21 e 22 no Auditório Ibirapuera, celebrará o centenário de Luiz Gonzaga. Com o nome "Danado de Bom", terá a participação do sanfoneiro Joquinha Gonzaga, sobrinho de Gonzagão. As apresentações serão transformadas em um especial do Canal Brasil.

TAMBORIM
A top Alessandra Ambrosio será a madrinha do baile de Carnaval da revista "Vogue". A festa de gala será em fevereiro.

Beth Carvalho, Dudu Nobre, a banda Moinho e a bateria da Vai-Vai serão as atrações da noite.

PERNAMBUCANICES
Mariana Ximenes é a estrela do clipe da música "Passione", do cantor pernambucano Junio Barreto. O vídeo foi gravado no bar Caos, no Baixo Augusta, em SP, e teve a participação do diretor teatral José Celso Martinez Corrêa e dos músicos do Mombojó, entre outros. A direção é do cineasta Lírio Ferreira.

ENERGIA EM CIRCULAÇÃO
Carolina Dieckmann é capa da "Criativa" deste mês. A atriz de 33 anos está no ar como Teodora na novela "Fina Estampa". Ela conta que todo dia, quando vai trabalhar, reza um Pai-Nosso e uma Ave-Maria no carro. "É aí que eu organizo a minha vida, quando vejo o que realmente quero e o que de fato importa." Dinheiro, afirma, não ocupa lugar de destaque em sua lista de coisas boas. "Para mim, nada mais é do que uma energia que precisa circular. Se eu ganho todo mês, gasto todo mês", diz. "O que eu não tenho dinheiro para comprar, eu vou à luta e compro", conta Dieckmann.

EXTRAVASA
Claudia Leitte cantou e rezou no Réveillon do Iate Clube de Santos de Angra dos Reis. Depois da virada, pediu para o público levantar as mãos e rezar o Pai-Nosso. Estiveram na festa Carin e Miguel Mofarrej, o piloto Bruno Senna e a namorada, a inglesa Charlote, a apresentadora Glória Maria e as filhas Laura e Maria. O tema do evento era Mônaco, devido a parceria com o iate clube do principado.

CURTO-CIRCUITO
O clube A Hebraica abre no dia 14, em sua galeria, exposição do artista belga Maurice Prowizur.

O salão têxtil Première Brasil acontece nos dias 18 e 19 no Expo Center Norte. Os DJs Mary Olivetti e FC Nond tocam na primeira noite do evento.

A festa mensal Wanna Disco? estreia na sexta, às 23h59, no Vegas. Classificação etária: 18 anos.

O cruzeiro "Agnaldo Rayol e Amigos" acontecerá de 16 a 19 de abril, saindo de Santos e passando por Ilhabela e Búzios.

Mais de 1.700 jovens receberam em 2011 a certificação do curso da Escola Social do Varejo, do Instituto Walmart.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

DIUma E BRAZIU


Recuperação de 2012: cuidado, frágil - MARTIN WOLF


Valor Econômico - 04/01/12


O que 2012 reserva para a economia mundial? Comecemos por examinar os combalidos países de alta renda. Há algum motivo para esperar recuperações saudáveis? Não exatamente. O desfecho na zona do euro poderá ser um desastre que se disseminará pelo mundo inteiro. Mesmo a recuperação dos Estados Unidos tende a ser frágil. A sombra lançada pelos fatos anteriores a 2007 se dissipa lentamente.

O consenso de dezembro entre as previsões é sombrio. As opiniões mais recentes sobre o possível crescimento neste ano estão muito abaixo dos prognósticos de um ano atrás. Isso é especialmente verdade no que se refere à zona do euro, cujas projeções apontam para um mergulho na recessão. As economias da Itália e da Espanha deverão sofrer contração, enquanto a da França e a da Alemanha produzirão um crescimento desprezível e o Reino Unido ficará na mesma situação. Apenas o Japão e os Estados Unidos deverão exibir algo que se aproxima de um crescimento econômico razoável este ano. No caso dos Estados Unidos, seu crescimento foi projetado em 2,1% em dezembro, superior ao 1,9% de novembro.

Ponhamos esse desempenho em contexto. No terceiro trimestre de 2011, o Canadá era o único membro do G-7 cujo PIB estava acima de seu pico do pré-crise. As economias dos Estados Unidos e Alemanha estavam ligeiramente acima de seus picos do pré-crise, enquanto a da França estava ligeiramente abaixo. Reino Unido, Japão e Itália estavam muito abaixo de seus picos do pré-crise. Recuperação? Que recuperação?

Mas a taxa de juros mais alta agora adotada pelos quatro bancos centrais mais importantes é a do Banco Central Europeu (BCE), de apenas 1%. As demonstrações de resultados desses bancos centrais também se expandiram drasticamente. Além disso, entre 2006 e 2013, a relação de dívida pública bruta sobre o PIB vai dar um salto de 56 pontos percentuais no Reino Unido, de 55 pontos no Japão, de 48 pontos nos EUA e de 33 pontos na França. Por que medidas tão drásticas apresentaram resultados tão modestos?

Sobre isso grassam discussões revestidas de uma boa dose de carga ideológica. O paradigma teórico dominante sustenta que uma crise financeira não pode acontecer e não deve preocupar, se de fato acontecer, pelo menos desde que não se permita que a base monetária em conceito amplo despenque. Segundo esse ponto de vista, as únicas coisas que atualmente sustentam as economias são os elementos de rigidez estrutural e as incertezas induzidas pela política econômica. Na minha opinião isso é uma história da carochinha baseada em teorias que reduzem o capitalismo a uma economia de escambo encoberta por um diáfano véu monetário.

Muito mais convincentes, para mim, são as opiniões que aceitam que as pessoas cometem erros relevantes. A grande divisão é entre aqueles - os austríacos - que sustentam que os erros são cometidos pelos governos, enquanto que a solução é deixar o distorcido edifício financeiro vir abaixo, e aqueles - os pós-keynesianos - que sustentam que uma economia moderna é intrinsecamente instável, enquanto que deixá-la vir abaixo nos levaria de volta à década de 1930. Faço parte, decididamente, deste último grupo.

Em sua obra-prima presciente de 1986, "Stabilizing an Unstable Economy" (""Estabilizando uma Economia Instável", editado no Brasil em 2010), o falecido Hyman Minsky formulou sua hipótese da instabilidade financeira. Janet Yellen, vice-presidente do Federal Reserve (Fed, o BC americano), observou em 2009 que "com a turbulência reinante no universo financeiro, a obra de Minsky se tornou leitura obrigatória".

O que torna sua obra imprescindível é o fato de ela vincular as decisões de investimento, orientadas por um futuro intrinsecamente incerto, às demonstrações de resultados que as financiam e, portanto, ao sistema financeiro. Na opinião de Minsky, a alavancagem e, portanto, a fragilidade - são determinadas pelo ciclo econômico. Um longo período de tranquilidade eleva a fragilidade: as pessoas subestimam os perigos e superestimam as oportunidades. Minsky teria advertido de que a "grande moderação" contém os germes de sua própria destruição.

Os anos que antecederam 2007 assistiram a um extraordinário ciclo de crédito privado, notadamente nos Estados Unidos, Reino Unido e Espanha, lastreado no aumento dos preços dos imóveis residenciais. O estouro dessas bolhas levou a uma explosão dos déficits públicos, em grande medida de forma automática, como previra Minsky. Esse foi um dos três mecanismos de política econômica que evitaram um mergulho numa grande depressão. Os outros foram as intervenções financeira e monetária. As economias ainda estão enfrentando dificuldades para chegar a um ajuste pós-colapso. Com as taxas de juros próximas a zero, os déficits públicos de soberanias idôneas para fins de crédito oferecem três formas de ajuda - exigir, desalavancar e elevar a qualidade dos ativos privados.

Em que medida a desalavancagem avançou? Nos Estados Unidos, avançou bastante. No terceiro trimestre de 2011, a relação da dívida bruta do setor financeiro sobre o PIB estava no nível registrado em 2001 e a relação dívida das famílias sobre o PIB estava no nível registrado em 2003. Além disso, observa o Goldman Sachs: "Acreditamos que o número de imóveis residenciais com obras iniciadas provavelmente já chegou ao seu nível mais baixo, enquanto os preços nominais desses imóveis deverão alcançar esse nível no decorrer de 2012." Os Estados Unidos estão agora preparados para a recuperação, embora limitada pelo prematuro aperto fiscal, pelo processo de desalavancagem em curso, pelos riscos por que passa a zona do euro e, talvez, pela alta dos preços do petróleo. A recuperação se sustentará sobre o que ainda é uma economia em desequilíbrio.

Mas a fragilidade da zona do euro é maior. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) prevê a redução de 1,4% do PIB do déficit público estrutural da zona do euro entre 2011 e 2012, comparativamente à de apenas 0,2% prognosticada para o PIB nos Estados Unidos.

Mas o grande perigo para as economias mais fracas da zona do euro é que os setores público e privado tentarão cortar despesas simultaneamente. Essa é a receita certa para colapsos profundos e prolongados. As soberanias não idôneas para fins de crédito estão enredadas no esforço provavelmente fadado ao fracasso de fortalecer sua posição fiscal na ausência de um setor privado e de fatores de compensação externos adequados. Para esses países uma recessão da zona do euro como um todo será uma calamidade: ela impedirá que realizem o ajuste externo de que necessitam. Contra esse pano de fundo, a oferta do BCE de financiamento barato de três anos a bancos que poderão reemprestar para soberanias combalidas é pouco mais do que um paliativo - inteligente, mas inadequado.

Os países de alta renda vêm realizando uma série de experimentos fascinantes. Um foi com a desregulamentação do setor financeiro e com o crescimento puxado pelo mercado de imóveis residenciais. Fracassou. Outro foi com uma reação fortemente intervencionista à crise financeira de 2008. Funcionou, mais ou menos. Outro ainda é com a desalavancagem do pós-crise e uma volta a configurações fiscais e monetárias mais normais. Ainda não se chegou a uma conclusão sobre esse esforço. Na zona do euro, no entanto, essa mudança para a austeridade fiscal corre paralelamente a um experimento ainda maior: a construção de uma união monetária em torno de um núcleo estruturalmente mercantilista entre países dotados de solidariedade fiscal desprezível, sistemas bancários frágeis, economias pouco flexíveis e graus divergentes de competitividade. Boa sorte em 2012. Todos precisarão. (Tradução de Rachel Warszawski)