quarta-feira, dezembro 05, 2012

Os últimos serão os primeiros - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 05/12


SÃO PAULO - "Espere: a útil arte da procrastinação", que acaba de ser lançado no Reino Unido, não é um livro ruim. Padece, porém, de um defeito que está se tornando cada vez mais comum em obras de divulgação científica: tenta explicar o mundo por meio de uma única ideia.

No caso, o autor, Frank Partnoy, matemático, economista e advogado, sustenta que devemos sempre retardar o máximo possível nossas reações, pois isso nos dá tempo para reunir mais informações e, portanto, melhorar a qualidade da resposta. Esse princípio, diz Partnoy, vale para tudo, seja na escala dos milissegundos, como é o caso de tenistas profissionais, seja na dos anos, como em certos tipos de investimento. "Espere" é, se quisermos, um anti-"Blink", a obra de Malcolm Gladwell que nos insta a confiar em nossos instintos e agir antes de pensar.

Minha impressão é que, para justificar um título mais vendável, Partnoy juntou sob a mesma chave interpretativa fenômenos muito pouco conexos, incluindo, além dos tópicos já mencionados, casamentos, racismo, combates aéreos e a ciência dos pedidos de desculpas, entre muitos outros. O resultado, como não poderia deixar de ser, é temerário.

O livro fica bem mais interessante se abandonarmos as preocupações sistematizantes e o lermos como uma série de ensaios sobre assuntos variados. Aí encontraremos muita informação curiosa, como os estudos que ligam o sucesso escolar de uma criança à maleabilidade de seus batimentos cardíacos ou os novos achados sobre o poder da propaganda subliminar.

Num plano mais intimista, pessoas que deixam tudo para a última hora encontrarão conforto psicológico nas elucubrações de Partnoy. Mas é bom ter em mente que nem todas as respostas melhoram se obtivermos mais informações. Há também uma vasta literatura, pouco explorada pelo autor, que mostra que o excesso de dados pode piorar a decisão.

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