sábado, dezembro 29, 2012

Eu não demitiria... - WILLIAM DOUGLAS


O GLOBO - 29/12



Publicou-se: "Diretora suborna alunos para receber bonificação em escola do Rio." Como juiz federal, já demiti a bem do serviço público vários maus servidores, mas não demitiria esta professora. Existem estudos sobre premiar alunos com dinheiro onde, de um modo geral, se entendeu que a ideia não é boa, mas ainda não há uma conclusão. Apenas dar dinheiro, um simples "toma lá dá cá", é temerário, mas não podemos ser levianos ao avaliar este caso.

A primeira coisa a notar é que o "suborno" foi para os alunos fazerem algo lícito (uma prova). Segunda, ela estava querendo aumentar a produtividade do estabelecimento que dirigia. Talvez de modo equivocado, mas ao menos se esforçando. Terceira: quais os motivos de tanto interesse em melhorar o desempenho da escola? O dinheiro que ela "investiu" era para estimular os jovens a fazer provas do Saerj, Sistema de Avaliação do Estado, um dos critérios usados pelo governo para pagar bônus aos funcionários que atingem metas. Será que o Estado do Rio está subornando os professores? Por que o Estado pode estimular com dinheiro, e a diretora, não?

Logo, sem entrar no mérito sobre se o modelo é saudável ou não, sejamos honestos e coerentes: a diretora apenas aplicou a mesma lógica à qual foi submetida. Mais: pelo que se viu nos vídeos, ela não foi orientada sobre as vantagens do novo sistema. Que tipo de treinamento gerencial ela teve para assumir a direção? Alguém a capacitou para funções diretivas ou deram a missão sem dar treinamento e meios?

O preparo dos jovens para a vida deve ser feito com muita cautela, mas não esqueçamos que no mercado, para onde se dirigem, os prêmios financeiros estão na lista, embora raramente como único vetor. A Educação tem escândalos sim, mas outros: o quanto se paga e treina um professor, o uso das verbas, a falta de atratibilidade da carreira etc. Premiar professores (e alunos) por resultados é positivo, mas não é simples. O MEC acabou de punir várias universidades com base no resultado do Enade. Tais instituições, por seu turno, ponderam que os alunos não têm estímulo para fazer tal prova - só a fazem se quiserem.

Neste quadro, as universidades públicas estão de mãos atadas, enquanto algumas das particulares andam sorteando tablets e até carros e viagens para quem faz a prova. Em suma, rico pode "subornar", escola pública continua à margem do mercado. Enfim, somos uma sociedade hipócrita e atrasada na qual a diretora que "entendeu" o sistema corre o risco de ser punida por fazer algo que, certo ou errado, a sociedade tolera.

3 comentários:

Asile disse...

DENTRO DA LÓGICA MOSTRADA, EU TAMBÉM NÃO DEMITIRIA...É MAIS OU MENOS ISSO QUE OS PAIS FAZEM HOJE; SE VOCÊ PASSAR DE ANO, GANHA UM VIDEOGAME, SE PASSAR DIRETO, OU SEJA, SEM AS PROVAS FINAIS, GANHA UMA VIAGEM PARA O CARIBE. E O ALUNO PASSA DIRETO E GANHA A VIAGEM. O ALUNO TEM QUE PASSAR DE ANO, ESSA É SUA ÚNICA OBRIGAÇÃO, NÃO É MOEDA DE TROCA. NOS MEUS TEMPOS, MESMO QUE SE PASSASSE DIRETO, TINHA PROVA FINAL, VOCÊ PODIA TIRAR QUALQUER NOTA, DESDE QUE FOSSE DIFERENTE DE ZERO, E O PAPAI E A MAMÃE NÃO QUERIA QUE FOSSE INFERIOR A DEZ, PARA NÃO DIMINUIR A NOTA FINAL....E O QUE GANHÁVAMOS COM ISSO....NADA, ABSOLUTAMENTE NADA!!!

Unknown disse...

Se o que absolve esta diretora é o fato dela apenas reproduzir um modelo de gestão vigente para o ensino de nossos jovens, então eu temo pelos cidadãos que estamos formando em nossas escolas. O fato desta "compra de posturas" ser comum em nossa sociedade não diminui, e sim aumenta, a gravidade deste ato. Já que estamos nos tempos do mensalão, quem sabe se, pelo fato de declarar que isto é uma prática comum na rede estadual, ela consiga algum privilégio através de um processo de delação premiada? E que sejam condenados os resposáveis por implantarem esta filosofia corruptiva na rede pública de ensino de nossas crianças.

Anônimo disse...

De acordo com o texto!