sábado, novembro 03, 2012

O fascínio por Obama - GILLES LAPOUGE


O Estado de S.Paulo - 03\11


Se os europeus tivessem de escolher hoje o presidente americano, Barack Obama ganharia com 75% dos votos, e Mitt Romney se contentaria com 8%. França e Alemanha seriam as primeiras. Elas conferem ampla maioria ao presidente. Para elas, Obama receberia 90% dos votos. Estes resultados são surpreendentes. De fato, estes mesmos europeus decepcionaram-se com Obama, aliás, como todo mundo. Em 2009, a Europa foi invadida por uma onda que poderíamos definir como um fervor, ou uma histeria coletiva. O mundo seria salvo por este presidente, negro, bem apessoado, dançante, eloquente. Obama era um homem "inspirado".

Evidentemente, ele não manteve suas promessas. As expectativas eram tão exageradas, tão desmedidas que só poderiam se frustrar. Entretanto, apesar deste desencanto, Obama continua fascinando os europeus. Houve, a bem da verdade, uma certa atração por Romney, no início da campanha eleitoral, quando ficou claro que ele não era o imbecil total que nos haviam injustamente pintado. Mas isso não importa: Obama continua o preferido.

Contudo, em quatro anos, passamos da ilusão lírica à racionalidade. A campanha eleitoral americana é julgada de maneira muito severa na Europa. Não apenas por causa dos rios de dólares que a ofuscam. Mas principalmente porque ela chega a constituir uma caricatura do caráter americano que é o oposto de todas as idiossincrasias europeias.

Resumindo, grosso modo, podemos dizer: a Europa passa o tempo se lamentando, anunciando desastres, se denegrindo, chorando, esperando catástrofes, enquanto os EUA são otimistas por natureza.

Nem Obama nem Romney insistiram nos "fracassos" americanos. E, no entanto, estes fracassos são numerosos: no que se refere à pobreza infantil, os EUA estão no 34.º lugar entre os grandes países, logo à frente da ... Romênia. Quanto à mortalidade infantil, estão em 49.º.

O número de presos é mais elevado do que na China, na Rússia, no Irã ou em Cuba, como revela o jornal The New York Times. São campeões do mundo em obesidade. E o pior: não se destacam pela frequência das relações sexuais, aliás estão em 24.º lugar, ao lado da Nigéria.

Mas, desde o seu nascimento, os EUA jamais primaram pela autocrítica. Eles são os melhores, e ponto final. E o mundo é lindo. Por que Jimmy Carter foi esmagado por Ronald Reagan? Carter tinha os pés no chão, era pessimista, falava de uma crise de confiança. Reagan era a encarnação do otimismo. Ele via os EUA galopando à frente dos povos do mundo, carregado pelos ventos do triunfo e da glória, sob o olhar de um Deus tão feliz quanto ele. E Reagan tinha razão: graças a seu otimismo insano, foi um presidente excelente.

Os europeus ficam igualmente impressionados pela incapacidade dos americanos de se questionarem. Os EUA têm razão e basta. Eles seguem o caminho dos justos. Jamais do mea culpa. É o caso do furacão Sandy.

Indubitavelmente, Nova York deu ao mundo um espetáculo de profissionalismo, de sangue frio, de dedicação, resistência e coragem admiráveis.

Por outro lado, até o momento, nenhuma voz americana perguntou sobre os perigos mortíferos que estes constantes tornados revelam, nos EUA e no mundo inteiro. Mas os excessos do clima, a fúria das águas e do céu não seriam um sintoma do aquecimento global que os EUA - e Romney tanto quanto Obama - ignoram friamente, ao mesmo tempo em que são o segundo país do mundo que mais polui, depois da China e nos próximos 50 anos estas desordens do céu constituirão, sem dúvida, um dos mais graves perigos do planeta? / TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA

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