quinta-feira, novembro 01, 2012

A caneta de Dilma - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 01/11


Nesses próximos meses, o país terá condições de avaliar as habilidades políticas da presidente Dilma Rousseff no sentido de atrair ou enfraquecer aliados que almejam o lugar dela na Presidência da República. Afinal, eventos para esse teste de habilidade não faltarão e vão desde a acomodação dos partidos na disputa pela presidência da Câmara e do Senado como também a reforma ministerial.

Vejamos primeiro a reforma do governo: oferecer um cargo importante para Ciro Gomes, do PSB do Ceará, é visto dentro e fora do PT como uma forma de bagunçar a vida do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, dentro do próprio partido. Afinal, não dá para deixar de registrar o gesto de apoio que o governador do Ceará, Cid Gomes, fez em defesa da reeleição da presidente Dilma. Logo, reforçar o time levando Ciro não deixaria de ser uma deferência ao ex-deputado que foi impedido de ser candidato a presidente da República em 2010.

Essa operação, na avaliação de alguns, ainda faria “sobrar” no caso a Secretaria de Portos para negociar com o PSD, outro partido que está hoje pronto para ingressar na equipe da presidente. Dentro do PSD, a única certeza que se tem hoje é a de que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, não será ministro. Quanto aos demais, a vaga ainda é algo em negociação. A equação Ciro só tem um probleminha: os ministérios que poderiam interessar ao ex-deputado estão todos ocupados pelo PT, ou seja, Dilma teria que “desalojar” os seus e ainda provocaria a ira dos PT cearense, que perdeu a prefeitura e ainda veria o adversário vitorioso compensado com um cargo.

Por falar em PT…

Alguns petistas acompanham com uma lupa esses desenhos ministeriais da presidente Dilma, de olho na presidência da Câmara. Há quem esteja torcendo para que o atual 4º secretário da Câmara, Júlio Delgado (PSB-MG), se lance candidato a presidente da Casa para, nesse clima, os petistas terem condições de apresentar um nome capaz de servir de terceira via entre Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e Delgado. Henrique Alves, o nome da maioria, aliás, lançou a candidatura num jantar esta semana em Brasília, na casa do deputado Júnior Coimbra (PMDB-TO), que reuniu ministros e quase uma centena de políticos.

Em relação à presidência da Câmara e do Senado, o que se comenta no Planalto é que não é hora de “fazer marola” nem desequilibrar a relação com o PMDB. Dilma e o vice-presidente Michel Temer fizeram inclusive uma reunião ontem no sentido de afastar os fantasmas que tentam desgastar a relação entre os dois partidos. No Senado, o nome do presidente será o escolhido pelos peemedebistas, leia-se Renan Calheiros (PMDB-AL). E, na Câmara, graças ao acordo que fez do deputado Marco Maia (PT-RS) presidente da Casa há dois anos, a intenção dos partidos aliados é fechar com Henrique Alves e fechar todas as portas para que o PT venha a insuflar candidaturas alternativas. Afinal, no governo, ninguém se esquece do efeito Severino Cavalcanti, que se tornou presidente da Casa justamente por conta de uma briga interna no PT, que terminou lançando dois candidatos a presidente da Casa. Desta vez, o Planalto não quer correr o risco de ver o partido da presidente dividido em dois candidatos da base.

Enquanto isso, no Recife…

Aliados do governador Eduardo Campos são unânimes em afirmar que é preciso ter cuidado com os deputados que estão insuflando a candidatura de Júlio Delgado a presidente da Câmara apenas para negociar logo ali na frente com o PMDB. O PV, por exemplo, hoje não tem um cargo para chamar de seu na estrutura das secretarias que administram a Casa e também tem pouco espaço nas comissões técnicas — há alguns parlamentares verdes acenando apoio a Delgado. É preciso, antes de um lançamento oficial e sem volta, verificar as reais intenções dos apoiadores. A ordem, da parte de Eduardo Campos, é deixar a bancada livre, mas, se obviamente ele perceber que não terá sequer 200 votos numa disputa onde a indicação é secreta, a tendência será não lançar nenhum nome para concorrer à presidência da Casa. Afinal, depois da vitória retumbante no Recife, não dá para iniciar 2013 com um desempenho fraco na guerra pela presidência da Casa. Já basta, para o momento, Ciro Gomes despontando no cenário dos ministeriáveis.

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