quinta-feira, outubro 11, 2012

Divisão à frente - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 11/10


Os ventos que vêm da Bahia mostram o que será do PMDB num futuro não muito distante. O racha, com os apoios do ex-candidato a prefeito Mário Kertesz a Nelson Pellegrino (PT), e do partido a ACM Neto (DEM), merece uma análise mais aprofundada. A posição do PMDB faz parte da estratégia de Geddel Vieira Lima — ex-ministro da Integração Nacional do governo Lula e vice-presidente da Caixa Econômica Federal do governo Dilma — no sentido de preparar uma carreira-solo rumo a 2014. O neto de Antonio Carlos Magalhães, por incrível que pareça, hoje representa um reforço ao projeto do PMDB baiano de concorrer ao governo do estado. Os peemedebistas sabem que o PT jamais apoiará Geddel para governador e ele terá ainda o dissabor de ver a presidente Dilma Rousseff, se candidata, e o ex-presidente Lula, em qualquer hipótese, percorrendo o estado em busca de votos ao lado do nome do PT, seja ele quem for. O DEM, hoje, não tem um nome forte ao governo do estado e abre essa possibilidade de apoio a Geddel. Com esse gesto, embora não se possa ter plena certeza, é bem possível que o palanque de Geddel em 2014 abrigue o tucano Aécio Neves (PSDB-MG) na Bahia. E veremos o PMDB, mais uma vez, com um pé em cada canoa.

O grosso do partido está hoje ao lado da presidente Dilma Rousseff. O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) já está ao lado do PSB de Eduardo Campos. Ajudou, inclusive, a garantir a vitória de Geraldo Júlio no primeiro turno. E, para completar, não será surpresa se outro grupo de peemedebistas terminar aliado do senador Aécio Neves, do PSDB. Entre eles, Geddel Vieira Lima, mais por um embalo das circunstâncias regionais do que, propriamente, vontade de estar contra uma recandidatura de Dilma.

Obviamente, essas cartas de 2014 o PMDB não colocará à mesa agora. Hoje, a cúpula partidária tem um encontro com o presidente do PT, Rui Falcão, para reforçar os laços e tratar do emergencial, este segundo turno das eleições municipais. Os números de Fernando Haddad no Datafolha foram um alívio para os petistas no dia em que a reunião do diretório nacional tratou do julgamento do mensalão e o STF cuidou de fechar a condenação da cúpula partidária por corrupção ativa. Nesse embalo, ouviram o ministro decano, Celso de Mello, referindo-se ao esquema como “macrodelinquência governamental”. São palavras que passam longe do entendimento do eleitor médio, mas que calam fundo no coração de um partido que construiu seus alicerces no combate à corrupção.

Enquanto isso, nos gabinetes…

A percepção da classe política de uma forma geral é a de que o julgamento político do mensalão foi feito em 2005, quando do afastamento do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, do presidente do PT, José Genoino, e do tesoureiro, Delúbio Soares. Os aspectos jurídicos de hoje, na avaliação de muitos, apenas reforçam o julgamento político feito naquela época. Ali, Lula soube agir rápido, de forma a estancar os reflexos do escândalo em seu governo. Uma das suas primeiras atitudes, só para lembrar, foi se render ao PMDB e entregar uma parcela expressiva do governo ao aliado. Foi nesse embalo que Geddel Vieira Lima virou ministro da Integração Nacional. Se os números do Datafolha estiverem certos, está configurado que Lula acertou ainda agora, ao escolher Haddad, um candidato que, até onde a vista alcança, está dissociado, neste momento, do julgamento do mensalão. Se essa percepção mudará ao longo dos próximos 18 dias, não se sabe.

O que está em descompasso, neste momento, dentro do governo, é o PMDB. O mesmo PMDB que foi tratado a pão de ló por Lula em 2005, quando do julgamento político do mensalão, hoje é tratado a meio copo d’água por Dilma Rousseff. Se nada for feito, a divisão mais adiante será tão inevitável quanto chuvas e trovoadas neste mês de outubro em Brasília. Essa divisão do PMDB será maior ou menor a depender do comportamento de Dilma no quesito compartilhamento de poder. Resta saber se ela vai reforçar o peso do PMDB ou dividirá ainda mais convidando o PSD de Gilberto Kassab, adversário em São Paulo, para um lugar ao sol na Esplanada.

Até agora, ela evitou lotear postos estratégicos. Só o fez para facilitar a vida de Haddad em São Paulo e, ainda assim, tratou de não mexer no coração do governo. Colocou Marta Suplicy no Ministério da Cultura e, mais cedo, Marcelo Crivella, do PRB, no Ministério da Pesca. No caso de Marta, a estratégia funcionou. Na Pesca, conforme prevíamos aqui há alguns dias, não foi nada fácil. Celso Russomano, ao declarar neutralidade, deixa Crivella à deriva, sem remos.

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