segunda-feira, setembro 10, 2012

O drama de Dirceu - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 10/09


Politicamente, há quem diga que o mensalão se resume a dois réus, José Dirceu e o resto. Por isso, o barco do PT pende hoje para o pessimismo quanto à perspectiva de absolvição do ex-ministro

Há 40 dias, os Diários Associados fizeram circular um caderno especial sobre o tão esperado julgamento da Ação Penal 470, o mensalão. De todo o caderno, uma das reportagens que mais chamou a atenção do PT e dos advogados de um modo geral foi aquela que trouxe a percepção do cidadão comum sobre o processo. Durante vários dias, a repórter Helena Mader, autora do texto, percorreu as ruas da capital da República perguntando o que as pessoas achavam do julgamento, especialmente, o que era o tal do “mensalão”, apelido jocoso da Ação Penal que pegou e agora ninguém tasca. O resultado da amostragem de Helena deixou alguns petistas preocupadíssimos com o que poderia vir.

Das pessoas ouvidas, a maioria resumiu o processo numa “mutreta”, “desvio”, “roubalheira” que tinha o “Zé Dirceu” no meio. Ninguém tinha muitos detalhes se era empréstimo, se era gestão fraudulenta, temerária, qual era o banco envolvido, os funcionários. Mas sabia de Zé Dirceu, citado de forma espontânea. Alguns poucos, lembravam ainda do publicitário Marcos Valério, do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, mas as referências eram poucas.

A percepção massiva de José Dirceu transformou o início do julgamento num suspense total. Havia naquele momento — hoje não dá para dizer que é assim — a sensação de que o tal mensalão tinha apenas dois réus: José Dirceu e o resto. O “resto” se fosse condenado pouco importava. O importante era o José Dirceu, ex-presidente do PT, principal cabeça política do partido na eleição que levou Lula à presidência da República pela primeira vez, o poderoso chefe da Casa Civil.

O próprio “Zé” reforçou essa imagem no momento em que, fora do governo e com a tarja de réu sobre a testa, continuou se reunindo com ministros de Lula e, depois, de Dilma Rousseff. Andava tanto que foi objeto de uma reportagem exibindo as pessoas com ele se encontrava, inclusive o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, afastado logo depois. Volta e meia, lá estava o Zé Dirceu, dizendo que ninguém tinha provas contra ele, que não havia apenas um ato de ofício que o incluísse naquela confusão. Dentro do PT, continua recebido com todos os aplausos e as honras. Mas na cabeça do cidadão comum…

Por falar em cabeça…

Agora, que o julgamento vai quase chegando à metade e há um rol de condenados — entre eles, apenas dois mais conhecidos, o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha e o publicitário Marcos Valério —, o PT se divide em relação ao desfecho. Há uma maioria pessimista. O próprio Dirceu tem dito a alguns amigos que o caminhar dos votos até agora não lhe dá razões para otimismo. Esses amigos dizem ainda que Dirceu errou ao, antes de ser julgado, fazer aquela cruzada pela absolvição. Agora, que ele se calou, talvez seja tarde demais.

Outros petistas, entretanto, torcem para que o relator Joaquim Barbosa tenha começado pela parte mais fácil no que se refere a provas. A torcida desse grupo mais otimista, no qual estão vários deputados do partido em São Paulo, é a de que a maioria dos ministros termine concordando com os advogados de Dirceu quanto à ausência de provas. O problema é que o resumo da ópera até agora indica justamente o inverso, ou seja, não é necessário um ato de ofício para condenação. Isso, associado ao imaginário popular de que os réus do processo são “José Dirceu e o resto” fazem o barco partidário pender para o pessimismo. E, para completar, não faltam reportagens indicando o poder que Zé Dirceu sempre exerceu no PT.

Por essas e outras, a maioria dos petistas está hoje de coração apertado, porque sabe que Dirceu não voltará brilhar na política nacional, tampouco em governos. Se for absolvido, terá, no máximo, um mandato de deputado federal. Talvez não lhe reste sequer essa válvula de escape.

Por falar em escape…

A redução da tarifa de energia a ser anunciada na terça-feira pela presidente Dilma Rousseff é vista hoje como um alento pelos petistas que correm atrás de votos nas eleições municipais. Com o mensalão na ordem do dia, resta o governo federal para trazer boas notícias ao eleitor.

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