quarta-feira, setembro 19, 2012

O batismo do tatu - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 19/09

Concordância absoluta não há de existir, mas é possível receber com alguma simpatia a escolha de um tatu-bola como símbolo da Copa do Mundo de 2014. Evitaram-se as opções mais óbvias: a arara-azul, o mico-leão-dourado, o canarinho cansado de guerra.

Para além da óbvia forma esférica, a escolha do bicho se justifica porque faz parte da fauna brasileira, enfrenta alguma ameaça de extinção e é animal de pouca agressividade -embora os mais fanáticos possam reclamar de sua preferência por táticas defensivas.

Menos justificáveis são os nomes propostos para a mascote. Depois de longa análise e deliberação, a Fifa apresenta três possibilidades para votação no portal da entidade.

Amijubi. Zuzeco. Fuleco.

Amijubi porque "juba" significa "amarelo" em tupi e porque se compõe das palavras "amizade" e "júbilo". Zuzeco porque combina "azul" e "ecologia". "Ecologia", novamente, mas aqui ao lado de "futebol", aparece em "Fuleco".

Criatividade, intuição linguística e eufonia ausentaram-se tristemente das propostas do comitê da Federação Internacional de Futebol. Que foi composto, aliás, por membros de seu departamento jurídico, e não por marqueteiros ou poetas. Tratava-se de evitar nomes que já tivessem registro comercial.

Nessa circunstância talvez se note a contradição básica da iniciativa. De um lado, o artificialismo de tentar embutir no nome da mascote mensagens ecológicas a todo custo, juntamente com a rósea concepção de um mundo mais feliz nos gramados esportivos.

De outro, o cálculo comercial e jurídico, num evento milionário e altamente profissionalizado. Haveria aí lugar para ingênuos congraçamentos florestais?

A contradição faz parte de todo acontecimento esportivo, sem dúvida. Um bonito espírito de união internacional não sobrevive nessas ocasiões sem uma infraestrutura financeira capaz de viabilizá-lo, e a festa não se faz sem admitir rivalidade renhida.

O segredo do marketing está justamente em lidar com essa contradição de modo criativo. Uma agência publicitária brasileira, cujo nome ficou em conveniente segredo, apresentou 450 nomes possíveis para a mascote.

Dessa lista misteriosa, o departamento jurídico da Fifa selecionou os três concorrentes. Só se espera que, no campeonato em si, a disputa se dê entre finalistas de melhor qualidade técnica.

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