quinta-feira, setembro 20, 2012

Comando em xeque - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 20/09

A três semanas das eleições, o PT, obviamente, não irá tratar do julgamento do mensalão ao vivo e a cores para todo o Brasil. Mas, dentro do partido, há alguns grupos trabalhando o futuro e tirando conclusões. A primeira delas é a falência do grupo dirigente, em especial, na montagem do partido para as eleições deste ano. É como se o PT estivesse investido tudo para tentar ganhar São Paulo, jogando por terra o resto do Brasil. E caberá à atual direção responder por isso, ainda que o partido consiga colocar Fernando Haddad num segundo turno e fazer dele prefeito — o que não se pode afirmar com toda a certeza hoje, uma vez que o eleitor parece mais afeito a Celso Russomanno e a disputa pelo segundo lugar permanece empatada com José Serra, que não deve nem de longe ser desprezado enquanto candidato.

Internamente, as críticas ao presidente da sigla, Rui Falcão, vêm de todas as correntes e se espalham por vários estados-chave. Falcão, que pertence à minoritária corrente Novos Rumos, conquistou a presidência do partido ao se aliar ao Construindo um Novo Brasil (CNB), o antigo Campo Majoritário, que tem no ex-ministro José Dirceu um dos líderes informais. Agora, quando está responsável por comandar a primeira eleição externa, Falcão virou alvo. Há quem reclame de a direção partidária ter escolhido Humberto Costa candidato a prefeito do Recife; Patrus Ananias em Belo Horizonte; e não ter apoiado nenhum aliado em Porto Alegre, onde o PT tem o governo estadual e precisava deixar algum partido em dívida para garantir mais aliados a uma possível campanha reeleitoral de Tarso Genro em 2014.

Hoje, o PT está com dificuldades nessas três praças e não construiu, até o momento, nada que lhe garanta bons palanques nesses estados no futuro. Nem mesmo um muito obrigado. Também há reclamações sobre o fato de o PT ter apostado que o Supremo Tribunal Federal não teria coragem de julgar a Ação Penal 470 no meio da disputa eleitoral, mas isso já dissemos aqui em outras oportunidades.

Apostas & dívidas

É com esse clima de “falhamos” ou “eles falharam” que o partido de Lula segue para essa reta final das eleições. O desfecho dessa história promete ser um grande divã para que todos reflitam sobre as próprias ações depois de 7 de outubro. Vale repetir: se o partido chegar ao segundo turno em São Paulo, esse divã dispensará alguns personagens, mas se perder a capital paulistana, aí, leitor, o PT vai virar um pandemônio. Dentro da Câmara dos Deputados, há quem considere que é chegada a hora de tentar tirar ainda mais espaço do antigo Campo Majoritário.

Não dá para esquecer que, desde o escândalo do mensalão, o grupo perdeu espaço. O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), por exemplo, embora seja ligado ao CNB, ganhou terreno, com o aval dos apoiadores de Arlindo Chinaglia (SP), integrante da tendência Movimento PT. Ou seja, Maia considera que não deve nada à turma de Dirceu. Não por acaso, Maia vem sendo criticado internamente como alguém que não moveu uma palha em favor do ex-ministro no julgamento do STF. Dia desses, um integrante desse grupo do PT me dizia que Maia deveria ter chamado os ministros do STF e falado dos interesses do Judiciário que tramitam no Congresso (Maia não o fez e nem poderia, porque seria uma interferência indevida no julgamento).

Assim que terminar o julgamento, o Construindo um Novo Brasil deverá perder mais espaço ainda. Afinal, dentro do PT, há quem diga que, passado o mensalão, não será a hora da vingança, e sim de reconstrução com outras figuras. Obviamente, alguns do CNB irão se debater, pedir a ajuda de Lula. Mas, da mesma forma que Lula criou Haddad, ele tem consciência que está chegando a hora de o PT reconstruir seus comandos e buscar novos horizontes. Esse jogo começa em 7 de outubro e já tem gente no aquecimento para disputá-lo.

Enquanto isso, em Aracaju…

Um dos poucos lugares onde os aliados de Dilma Rousseff e Lula estão em paz é Aracaju. Lá, o candidato do PSB, Valadares Filho, respira e pode haver segundo turno. Em função disso, Dilma gravou uma mensagem para ele e Lula programa um visita à cidade dia 27, uma quinta-feira.

E em São Paulo…

O slogan “O que é bom a gente mostra e o que é ruim a gente esconde” caiu em desuso depois de a Justiça Eleitoral paulistana negar direito de resposta a Haddad no caso em que Serra vinculava a imagem do candidato a José Dirceu. Ora, se o candidato pode usar aqueles que lhes garantem votos, por exemplo, Lula e Dilma, por que não pode suportar aqueles que pesam em sentido contrário? Está aí a prova de que pertencer a um partido tem ônus e bônus.

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