quinta-feira, agosto 23, 2012

Teses em xeque - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 23/08

Com o julgamento da Ação Penal 470, vulgo mensalão, e o início do horário eleitoral gratuito, duas crenças petistas estarão em teste ao longo dos próximos 10 dias. No Supremo Tribunal Federal (STF), a primeira delas, a tese de que tudo não passou de caixa dois de campanha, esfarela-se. Ninguém acredita que essa justificativa se sustentará depois do voto do ministro-revisor, Ricardo Lewandowski, pedindo a condenação de parte do núcleo financeiro do esquema, e com o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato encabeçando a lista. Diante da decisão, os petistas aguardam o desenrolar dos próximos capítulos do julgamento na Suprema Corte certos de que, nesses 10 dias — hora de alavancar as campanhas —, o maior trunfo para fazer bonito nas urnas será ver confirmada a segunda crença: o poder de Lula.

A tese de que o ex-presidente é o maior eleitor absoluto é a outra em xeque nesse período. Afinal, nesses primeiro dias de campanha no rádio e na tevê, o eleitor presta atenção na propaganda eleitoral para saber quem são os candidatos. E, quem consegue alguns pontinhos, tende a se firmar. Daí, o uso abusivo da imagem de Lula em todas as campanhas petistas como um antídoto às notícias que vêm do Supremo.

Lula é o garoto-propaganda em São Paulo, Recife, Belo Horizonte e outros centros importantes, como Salvador. O receio do PT, entretanto, é o de que se repita nesta eleição o mesmo que ocorreu em pleitos municipais anteriores, quando a imagem de Lula — seja no papel de ícone do PT, ou presidente da República — ajudou, mas não serviu para garantir a vitória. Resta saber como será o poder de sedução do ex-presidente e de seus candidatos diante do julgamento do mensalão, que já apresenta alguns reflexos.

Por falar em julgamento…

O efeito mensalão é tão drástico para o PT que, qualquer que seja a decisão da Justiça, algumas consequências já se fazem sentir por seus integrantes. As prometidas doações ainda não desaguaram nos cofres das campanhas pelo país afora e candidatos começam a passar o pires entre alguns amigos em busca de recursos. Para completar a confusão, as trombadas eleitorais prometem afastar mais ainda os aliados. Hoje está claro para muitos que, se a presença de Lula não servir para debelar o carma do mensalão, os petistas estarão enfraquecidos para os próximos lances rumo a 2014.

Por falar em fraquezas…

Hoje, não interessa a ninguém fortalecer o PT. Em todos os aliados, sem exceção, há uma torcida velada contra os candidatos nos quais a agremiação de Lula mais aposta. Na avaliação de todos os partidos, a derrota do PT no STF e nas cidades mais estratégicas ajudarão a equilibrar os próximos lances do jogo político — seja dentro ou fora do raio de influência do governo de Dilma e de Lula. A oposição não vê a hora de quebrar a hegemonia do governo no tabuleiro da política. E os aliados de Dilma e de Lula, por sua vez, não veem a hora de quebrar a hegemonia do PT dentro do governo. Ou seja, uma derrota generalizada do PT hoje agrada a todos os demais personagens em cena, nem que seja para obrigar os petistas a pararem de jogar pensando apenas em seus próprios interesses.

O maior exemplo de egoísmo do PT citado nos bastidores por todos os partidos (sem exceção, vale registrar) é o tratamento dispensado ao PSB. O presidente socialista, Eduardo Campos, tirou os filiados do governo de Geraldo Alckmin em São Paulo, atendendo a um pedido de Lula. Em troca, não obteve o apoio dos petistas em nenhum dos grandes centros. Até no caso de Recife — antes do lançamento do nome de Geraldo Júlio (PSB) à prefeitura —, Eduardo foi avisado por telefone, pelo segundo escalão petista, que o diretório nacional havia decidido lançar a candidatura de Humberto Costa a prefeito. No primeiro debate na capital pernambucana, Humberto bateu firme em Geraldo Júlio, e já foi anunciado que Lula estará em Recife antes do feriado de 7 de setembro para reforçar a campanha petista. Em Salvador, é o PMDB que se ressente em ver Lula ao lado de Nelson Pelegrino. Ou seja, o caldo está engrossando e pode ficar indigesto para o governo.

Por falar em PMDB…

O líder o partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves, passou os dois últimos dias em jantares para tentar consolidar aliados em sua campanha para presidir a Casa. Esse é o próximo lance do jogo político. Vale registrar que, em tempos de mensalão no STF, Renan Calheiros, no Senado, e Henrique Alves, na Câmara, vestiram a fantasia de abajur apagado para coletar votos sem barulho. Os dois sabem que qualquer movimento brusco pode atrapalhar seus planos. Mas essa é outra história.

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