quarta-feira, agosto 01, 2012

Muito além dos palanques - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 01/08

Dificilmente, a presidente Dilma Rousseff conseguirá evitar por mais tempo nomeações de técnicos indicados pelos partidos para compor a diretoria de estatais. Se quiser parceria eleitoral, seja agora, seja em 2014, terá que mostrar já sua capacidade de governar em conjunto com os aliados
Com os partidos voltados às campanhas por todo o país e o PT entretido com o julgamento do mensalão, a presidente Dilma Rousseff queria aproveitar o período de pressão baixa sobre o Planalto para tentar resolver logo as indicações para cargos vagos nas estatais. Embora pareça mais lógico deixar esse assunto para depois das eleições municipais, a ideia do governo era evitar que novas pressões se somassem àquelas que já estão sobre a mesa de Dilma. 
Ela sabe que, findo o período eleitoral, os políticos retornarão a Brasília ávidos por compensações, seja por terem sido derrotados ou vitoriosos. Muitos cobrarão do governo por terem atendido aos pedidos de apoio feitos pela presidente ou por Lula. O problema é que a presidente acabou refém de decisões capazes de embalar os palanques petistas pelo Brasil afora. 
Os preparativos para a próxima reunião do Conselho de Administração da Petrobras, por exemplo, fizeram tremer o palanque do ex-ministro do Desenvolvimento e Combate à Fome Patrus Ananias, candidato a prefeito de Belo Horizonte. Ontem, a presidente da companhia, Graça Foster, passou mais de uma hora reunida com o chefe da seção corporativa da diretoria internacional, Alexandre Penna Rodrigues, com quem já trabalhou no passado. Penna é ligado ao PTB, partido que, na capital de Minas Gerais, apoia a reeleição de Marcio Lacerda. Trataram de assuntos da área, que Forster comanda desde 23 deste mês, quando o diretor Jorge Zelada renunciou ao cargo. Até então, estava tudo certo, inclusive com o aval do PMDB, para nomeação de José Carlos Vilar Amigo, no lugar de Zelada. Os peemedebistas esperam a nomeação na reunião do conselho desta sexta-feira. 
A conversa entre Foster e Alexandre Penna foi suficiente para fazer chegar aos peemedebistas mineiros a notícia de que a comandante da Petrobras havia desistido de nomear Amigo no cargo de diretor internacional e o indicado seria Alexandre Penna O PMDB não gostou e por pouco não sai da aliança com o PT de Belo Horizonte. O dia foi agitado e os peemedebistas só se acalmaram no início da noite. Antônio Andrade, presidente do PMDB de Minas, inclusive cancelou a reunião da bancada que havia convocado para hoje, na volta dos trabalhos do Congresso. 

Por falar em Congresso...O estresse de ontem mostra que a decisão de Dilma, de nomear sempre técnicos, sem dar a menor satisfação aos partidos aliados parece estar perdendo força. Dificilmente, ela conseguirá evitar por mais tempo a nomeação de técnicos indicados pelos partidos para compor diretorias de empresas estatais. Se quiser parceria eleitoral, seja agora, seja em 2014, terá que mostrar já a sua capacidade de governar em conjunto com os aliados. 
Em termos de votações, ela ainda não tem do que reclamar. Um levantamento da Arko Advice sobre relacionamento Executivo-Legislativo indica que o apoio médio da presidente Dilma na Câmara desde a posse é de 54,47%. No Senado, é de 58,49%. As únicas derrotas registradas foram a indicação de Bernardo Figueiredo para a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), e o Código Florestal na Câmara dos Deputados. O estudo mostra ainda que o governo Dilma não perdeu sequer uma votação nominal aberta no Senado. A rejeição do nome de Bernardo Figueiredo ocorreu em votação secreta. 
Resta saber se frustrações eleitorais e o cansaço dos aliados com o que consideram desatenção do Planalto vão se refletir no painel de votações. Essa semana, entretanto, não há o que temer. As atenções estarão no Supremo Tribunal Federal (STF) e o julgamento do mensalão. Ontem, enquanto a turma do Planalto se entretia com Hugo Chávez, na reunião que marcou a entrada da Venezuela no Mercosul, advogados e ministros começavam a dar o ar da graça em Brasília. Quanto aos congressistas, bem… poucos apareceram. 

Por falar em advogados...A impressão que se tem é a de que o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos esperava apenas um motivo para largar a defesa do contraventor Carlinhos Cachoeira. Era visível o constrangimento de Thomaz Bastos quando perguntado como receberia os honorários. A bela Andressa, ao ser acusada de ameaçar um juiz, forneceu a porta de saída. 

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