sexta-feira, agosto 31, 2012

Diga: "Eu mostro RG no caixa"! - BARBARA GANCIA

FOLHA DE SP - 31/08


É simples assim: hoje não se vende mais álcool para menores nos su­permercados de São Paulo


HOJE NÃO vou dar bronca nem me indispor com quem quer que seja. NOT.

Impossível passar batido por aquela velhinha boboca da propa­ganda do TSE que exulta as maravi­lhas da Lei da Ficha Limpa. Ora, mi­nha senhora, vá catar coquinho de andador na ladeira Porto Geral. A senhora já não foi dispensada de votar, não? Está ai proclamando as glórias de uma aberração jurídica a troco? Em que país de democracia sólida a senhora vê um arremedo como esse? Como podemos nos or­gulhar de um sistema político tão falido que parte do pressuposto que todos são culpados até que se prove ao contrário?

Vai exigir o que de país que trata como herói juiz que age como a Dercy Gonçalves? Tudo bem, vá. A velhinha do anúncio é personagem de agência de publicidade e eu me dispus a não encasquetar com nin­guém hoje.

Mas o leitor deste ma­tutino que faz história deve ter lido recentemente em Tendências/De­bates o artigo do jornalista e autor Luís Colombini. Muito bem-humo­rado, o sr. Colombini se diz cansado da falta de bom-senso e protesta contra a iniciativa conjunta do go­verno do Estado, da indústria e dos supermercados de pedir docu­mento de identificação a quem aparenta ter menos de 30 anos e es­teja comprando bebida alcoólica em lojas de autosserviço.

Diz o sr. Colombini que, como o governo não fiscaliza, está empur­rando a conta ao varejo.

Digo eu: como assim? Que conta é essa? O varejo deseja continuar vendendo bebidas para menores?

Pela primeira vez a indústria, que nunca tinha movido uma palha, percebe que talvez não seja uma boa ideia matar todos os seus futu­ros consumidores e o sr. Colombini reclama de ter de sacar seu docu­mento do bolso?

É simples assim: hoje não se vende mais álcool para menores nos su­permercados de São Paulo. Está bom para o senhor, sr. Colombini? É a primeira grande vitória desde que a OMS traçou um plano de ação para conter os malefícios da bebida. O senhor Colom­bini deveria estar celebrando com champanhe comprado no supermercado mais próximo, que tal?

Talvez ele desconheça o fato de que menores de idade travestidas de periguetes (antigamente era de Xuxa) costumam seduzir o primei­ro tiozão na porta do super para que ele lhes compre um goró. Por isso hoje o incomodam e pedem documento a senhores de "47 anos" e com as "dezenas de rugas e milhares de cabelos brancos" que ele diz ter.

A coisa saiu de controle, sr. Co­lombini. A sociedade começou a cobrar, a indústria sacou o tama­nho da encrenca e o governo se an­tecipou ao tsunami.

Ninguém é o Dalai Lama, nem mesmo o Dalai Lama. Mas da mes­ma forma que a questão do tabaco foi endereçada, este problemaço de saúde pública também está sendo. Impossível que o senhor não per­ceba.

Não tem mais esse negócio de fes­tinha de 15 anos com álcool. Se nenhum amiguinho comparecer à comemoração da sua filha porque não tinha bebida, que pena. É preciso uma mudança rigo­rosa de atitude.

Os caixas dos supermercados de SP estão treinados a não vender ca­so desconfiem de que se trate de me­nor. É claro que a molecada vai con­tinuar a falsificar RG e é óbvio que, querendo mesmo, eles vão com­prar. Mas a mudança de hábito já começou. Nas escolas, no comér­cio, nas empresas, nas ONGs, nas comunidades. Só o senhor ainda não enxergou.

PS: Só para constar, que seja público e notório, eu presto serviços à Ambev dando palestras sobre alcoolismo.

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