terça-feira, julho 31, 2012

Para muito tempo - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 31/07

Genoino diz que só presidia. Delúbio conta que tratava das finanças. E Dirceu alega que só cuidava de política, não de dinheiro.

Acredita quem quiser



No histórico julgamento em Nuremberg dos alemães criminosos de guerra, um argumento de defesa era usado por todos os réus: tinham apenas obedecido a ordens. Como alguns de nós ainda se lembram, a desculpa não colou em caso algum.

Como devia ser. É tristemente curioso que essa defesa ainda seja usada. É o que está acontecendo em Brasília no Supremo Tribunal Federal, que no momento julga o processo do mensalão. Um dos réus, Delúbio Soares, tesoureiro do PT na época do escândalo, é acusado de administrar a arrecadação de empréstimos para pagar dívidas de campanha. Sua frágil defesa, segundo diz seu próprio advogado, é a de que ele nada decidia: apenas obedecia.

Era o chamado mensalão. E não há qualquer dúvida que o dinheiro — mais de R$ 55 milhões

— foi generosa e habilmente administrado. Isto é, pagou dívidas e fortaleceu alianças entre o PT e partidos amigos.

Em outras palavras — mais duras e mais claras

— o partido simplesmente comprou alianças no grande mercado político nacional. Alianças compradas cheiram mal em qualquer mercado. E, muito provavelmente, o partido de Lula não é o único que se entrega a essa feia prática. Mas, como é o único apanhado em delito flagrante, só dele podemos falar. E também apenas dele está tratando a Justiça, em processo que corre no STF. Imitando a defesa dos réus de Nuremberg, o advogado de Delúbio, Arnaldo Malheiros Filho, afirmou que seu cliente apenas cumpria decisões colegiadas da Executiva do PT. José Genoino, que presidia o partido no tempo do mensalão, alega, por sua vez, que só cuidava de política: questões financeiras seriam responsabilidade exclusiva de Delúbio. José Dirceu, outro manda-chuva petista, tem o mesmo argumento: cuidava de política, não de dinheiro. Acredita quem quiser.

O julgamento do STF tem extraordinária importância. Não apenas porque levará ao seu desfecho um dos maiores escândalos políticos dos últimos tempos. Mas também porque servirá de advertência para todo o universo político brasileiro. O mensalão foi uma invenção do PT e de seus aliados — mas o financiamento de projetos políticos por meios nada recomendáveis não é pecado praticado exclusivamente por petistas. Longe disso, muito longe.

Se o Judiciário quiser — e provavelmente assim será — temos Nuremberg para muito tempo.

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