segunda-feira, julho 09, 2012

Novos mares - GEORGE VIDOR


O GLOBO - 09/07
Esta semana o Brasil começa a "navegar por mares nunca dantes navegados" no território dos juros básicos, pois é certo que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central promoverá novo corte na Taxa Selic, hoje em 8,5% ao ano. Como na última ata do Copom as autoridades anunciaram que o afrouxamento monetário será parcimonioso, é possível que desta vez o corte seja de 0,25 ponto percentual, em vez de 0,5 ponto.
Juros próximos de 8% ao ano são uma completa novidade na economia brasileira. E ainda assim continuaremos distantes da média internacional, porque outros países voltaram a cortar suas taxas, a exemplo do que ocorreu na semana passada na China e nos que estão sob o guarda-chuva do euro.

Existe toda uma expectativa de recuperação da economia brasileira neste segundo semestre, por conta de aceleração de investimentos públicos e de facilidades para se contrair empréstimos mais baratos. No entanto, a expectativa é de que a inflação, acumulada em 4,92% nos últimos 12 meses, continue a declinar até dezembro, batendo no centro da meta perseguida pelo governo (4,5%).

A economia brasileira deverá então fechar 2012 com um crescimento aquém do que se imaginava, mas em compensação seus fundamentos serão invejáveis: déficit público inferior a 2% do Produto Interno Bruto, dívida pública líquida equivalente a menos de 35% do PIB, juros básicos mais baixos da história do real, câmbio em patamar de R$ 2 (almejado há tempos pela indústria), déficit nas transações correntes do balanço de pagamentos ainda dentro da média histórica (2% do PIB) e inflação no centro da meta. Em 2013, o Brasil estará se preparando para a realização da Copa do Mundo. Obras de infraestrutura urbana entrarão na fase final, com reflexos positivos sobre a construção civil e o mercado imobiliário.

A Petrobras responde por 94,7% da produção brasileira de petróleo e gás natural e tem investimentos programados que a ocuparão pelos próximos 20 anos. Como a participação das demais empresas é ainda relativamente pequena - embora com as descobertas ocorridas essa percentual tenda a aumentar - o governo não manifesta interesse em retomar as rodadas de licitações de novas áreas para exploração. O pretexto para não se promover rodadas é a falta de definição em relação aos royalties, o que, por sua vez, envolve o modelo de partilha de produção, que será adotado em futuras áreas onde se presume que haja petróleo na camada do pré-sal. No entanto, o modelo atual de concessão para as áreas de pós-sal não está em xeque, de modo que as rodadas poderiam prosseguir normalmente, se o governo assim desejasse.

As companhias petrolíferas instaladas no Brasil mantêm equipes preparadas para analisar as áreas que vierem a ser oferecidas. Sem rodadas, essas equipes ficam em compasso de espera, desperdiçando-se boa oportunidade de investimento para o país.

Criatividade é que não falta na tentativa de limpar as águas da Baía de Guanabara. Em parceria, duas empresas (Brissoneau Ambiental e ADDSErvices) construíram uma embarcação leve, movida a gás natural, que retira todo o lixo flutuante, contido em ecobarreiras feitas de poliéster/PVC, rastreadas por chips localizadores. A embarcação, batizada com o nome Acqua, pode navegar em profundidades de somente 70 centímetros e é capaz de armazenar 26 metros cúbicos ou 11 toneladas de lixo. Foi testada, com sucesso, na limpeza de raias durante os Jogos Mundiais Militares do ano passado, no Rio, mas agora está sem contrato. É que nenhum órgão assume a responsabilidade pela limpeza da baía. Os municípios só se responsabilizam pela limpeza das praias sob sua jurisdição. O lixo que fica boiando, não é de ninguém.

A construção da nova subida da Serra de Petrópolis, na BR-040, já tem até projeto executivo, mas o início da obra depende de uma decisão do governo federal sobre se haverá ou não renovação do prazo de concessão. O fluxo de caixa para o período que ainda resta da atual concessão não comporta a totalidade do investimento. Enquanto o governo não toma essa decisão, o tráfego pela subida antiga, construída em 1928 com um traçado que não previa a passagem intensa de carretas e caminhões pesados, está cada vez mais complicado. São 20 quilômetros com curvas muito fechadas. Embora são sejam poucos os avisos de alerta para essas curvas, são rotineiros os acidentes. Em duas sextas-feiras seguidas, à noite, caminhões tombaram no quilômetro 96, provocando engarrafamentos torturantes.

Como não existe plano de contingência para uso compartilhado de trechos da pista de descida da serra, em caso de acidente na antiga subida, o usuário é obrigado a enfrentar esses engarramentos. Não há como evitar a passagem de caminhões, pois a BR 040 é a via de ligação entre o Rio de janeiro, Juiz de Fora e Belo Horizonte, e a tendência é que o tráfego pesado aumente ainda mais.

O número de leitos em hospitais particulares no Brasil passou de 9.000 no ano passado (um crescimento de 80% sobre os cerca de 5.000 existentes em 2007. A ocupação média desses hospitais foi de 77% em 2011 (o maior índice, de 78,3%, foi no Nordeste, e o mais baixo, de 71%, na Região Sul). Os hospitais particulares vivem basicamente dos atendimentos a associados a planos de saúde (94,4% da receita total) . Os atendimentos para pessoas sem cobertura de planos respondem por menos de 5% das receitas.

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