segunda-feira, julho 16, 2012

Juros de um dígito - GEORGE VIDOR


O GLOBO - 16/07


O tempo nos ensina a ser cauteloso com certas afirmações, especialmente aquelas do tipo "desta água não beberei", "nunca", "jamais", ao se tratar do futuro. Por isso, não se deve ser categórico em relação à trajetória dos juros, ainda que tenha aumentado a possibilidade de as taxas básicas permanecerem abaixo de 10% daqui para frente, mantendo-se as atuais metas de inflação, entre 2,5% e 6,5% ao ano.

As taxas de juros mais baixas viabilizam uma série de investimentos no país, não só porque os financiamentos do BNDES baratearam, mas porque a oferta de capitais privados já está se multiplicando. Lançamentos de debêntures estão na boca do forno e essa oportunidade de captação chega em bom momento, pois o governo está prestes a anunciar a renovação de concessões de usinas hidrelétricas, rodovias e terminais portuários, em troca de novos investimentos.

É curioso, mas as ferrovias sob concessão não estão previstas nesse pacote de renovação, embora os resultados alcançados nos últimos quinze anos sejam altamente positivos.

E por falar em ferrovias, até o fim do ano a MRS concluirá o investimento de R$ 1,5 bilhão em novas locomotivas, vagões e sinalização, permitindo aos comboios trafegarem a uma distância mínima de segurança de três quilômetros um do outro, em vez dos atuais 15 quilômetros. Esse moderno sistema de sinalização será obrigatório nos Estados Unidos a partir de 2016. Os trens de carga no Brasil transportam basicamente minérios, combustíveis, grãos e outros alimentos. Os comboios chegam a carregar 13 mil toneladas de minério de ferro e têm uma extensão que supera a da rua Jardim Botânico, no Rio.

No ano passado a MRS transportou 152 milhões de toneladas de carga. Para efeito de comparação, no último ano ano de vida, antes da privatização das malhas, toda a extinta Rede Ferroviária Federal transportou 86 milhões de toneladas. Com a inauguração do Porto do Sudeste (da MMX, de Eike Batista), em Itaguaí, no ano que vem, esse volume aumentará em 36 milhões de toneladas. Com o incremento de outras cargas - em breve os trens poderão entrar no porto de Santos com dois contêineres, sobrepostos, em cada vagão - a MRS se prepara para chegar no futuro a 250 milhões de toneladas.

Ficou para a primeira semana de agosto o anúncio de medidas que reduzirão o preço da energia elétrica para consumidores, especialmente os industriais. A principal delas deverá ser um corte médio de 12% a 14% nas tarifas das geradoras cujo prazo de concessão de várias hidrelétricas vencerá em 2015. Em troca da renovação das concessões por vinte anos - ou de um novo mecanismo, em que o patrimônio retorna à União, mas a operação e a manutenção da usinas permanecem na mão das atuais concessionárias - haverá um corte de tarifas, por meio de um novo cálculo no preço da energia. Os grandes consumidores industriais é que se beneficiarão do maior corte (que talvez chegue a 17%), porque compram energia diretamente das geradoras.

A redução do preço da energia ocorrerá não apenas por essa renovação de concessão das hidrelétricas. Encargos embutidos nas tarifas cobradas de grandes consumidores também deverão ser eliminados.

Em dezembro serão concluídas as obras da linha de transmissão entre Oriximiná, no Rio Trombetas (Pará), e Manaus. E até maio do ano que vem se prevê a conclusão do trecho que atravessa o Rio Amazonas, a cargo de empresas chinesas. O ponto de travessia é relativamente estreito. As linhas de transmissão percorrerão um quilômetro da margem direta até uma ilha fluvial. Por esse canal não navegam grandes embarcações e por isso a altura das torres que sustentarão as linhas não será tão alta. Mas no segundo canal, de dois quilômetros, da ilha até a margem esquerda, cada torre terá 290 metros de altura, quase um Pão de Açúcar. Depois de concluídas essas linhas de transmissão, Manaus estará conectada à hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, e, por meio dela ao sistema interligado nacional de energia elétrica.

Furnas e Ibama estão juntas no pedido de derrubada da liminar que impede hoje a entrada em funcionamento da hidrelétrica de Simplício, na divisa de Rio de Janeiro e Minas Gerais. A decisão caberá a um desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. É curioso mas a liminar foi concedida a pretexto de o desvio do Rio Paraíba do Sul vir a causar danos ambientais à região. Como foi o Ibama que licenciou a usina hidrelétrica, o próprio órgão federal responsável pela preservação do meio ambiente teve que agir contra a liminar.

Em recentes encontros com pequenos e médios empresários da Região dos Lagos, o economista Mauro Osório foi alertado para uma atividade, indiretamente ligada à cadeia do petróleo e gás, que poderia ser expandir muito em Cabo Frio e municípios vizinhos: mecânica de helicópteros. O apoio às plataformas de petróleo faz com que o Estado do Rio de Janeiro tenha uma frota de helicópteros maior que a de São Paulo. Os salários dos pilotos no Rio chegam a ser 40% maiores que os de SP. Como a Marinha concentrou sua frota de helicópteros na base naval de São Pedro de Aldeia, anos atrás precisou criar cursos técnicos para a formação de mecânicos especializados na manutenção e reparos dessas aeronaves. Muitos profissionais que saíram desses cursos acabaram migrando para empresas privadas, e ainda há mercado a ser atendido.

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