terça-feira, junho 19, 2012

Nova chance para o euro - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 19/06


O risco de uma implosão da zona do euro foi afastado com a vitória conservadora na eleição grega, mas ainda há fortes motivos de preocupação. A maioria dos eleitores gregos expressou o desejo de manter seu país na união monetária - 27% votaram na esquerda radical. Caberá aos líderes das maiores potências europeias, agora, comprovar o interesse em conservar a Grécia como sócia da moeda comum. O governo alemão continua sendo o maior entrave a uma resposta generosa - e ao mesmo tempo realista - ao eleitorado grego e a todos os defensores de uma combinação mais eficiente de ajuste orçamentário, reformas estruturais e medidas para desatolar as economias em recessão. A vitória socialista na eleição parlamentar francesa, neste domingo, deve garantir ao presidente François Hollande mais poderes para rever os rumos da política econômica de seu país, mas qualquer mudança mais ampla dependerá de um entendimento com as autoridades alemãs. A chanceler Angela Merkel deve ter chegado à reunião do Grupo dos 20 (G-20), no México, pronta para sofrer pressões de governantes tanto da Europa quanto de outras regiões e já indicou a disposição de continuar resistindo. Mas o jogo continuará no encontro de líderes europeus previsto para o fim do mês.

Não só Hollande e outros governantes - incluído o presidente americano, Barack Obama - defendem a reformulação das políticas europeias de ajuste. O Fundo Monetário Internacional (FMI) acaba de recomendar uma revisão do programa espanhol de estabilização: os objetivos de médio prazo são adequados, mas um esforço mais suave no curto prazo é desejável, por causa da extrema fraqueza da economia. Diplomaticamente, os técnicos e autoridades do Fundo vinculam essa mudança a um acordo entre o governo espanhol e os parceiros europeus.

No caso da Grécia, os mais novos defensores de um ajuste menos rigoroso a curto prazo e de um alongamento das ações corretivas são os banqueiros, isto é, os credores privados.

Em carta ao presidente mexicano, Felipe Calderón, anfitrião do G-20, o diretor executivo do Instituto de Finanças Internacionais, Charles Dallara, apresentou duas recomendações em relação à Grécia: 1) o novo governo grego deveria reafirmar o compromisso com os principais itens do programa negociado com os credores; 2) os credores oficiais (os governos) deveriam examinar um possível afrouxamento do ajuste orçamentário de curto prazo, dado o cenário de severa contração econômica. Ao mesmo tempo, deveriam considerar a hipótese de um "modesto" aumento da ajuda financeira.

Segundo Dallara, a ideia de um ajuste mais suave a curto prazo "pode ser aplicável bem além da Grécia", de acordo com a situação de cada país.

Em Los Cabos, no México, onde se reúnem desde ontem os chefes de governo do G-20, a chanceler Angela Merkel reafirmou sua oposição a qualquer mudança no acordo dos credores oficiais com os gregos.

"O novo governo da Grécia deve cumprir seus compromissos rapidamente", disse Merkel. Na semana passada, ela havia rejeitado mais uma vez a proposta de criação de título de responsabilidade comum para a zona do euro, o eurobônus. Dirigentes de grandes economias europeias, como a França, a Itália e a Espanha, continuam defendendo essa ideia. François Hollande propõe, além disso, um programa conjunto de 120 bilhões para combate à recessão e deverá discuti-lo na reunião de cúpula europeia na próxima semana.

O resultado da eleição grega apenas diminui a tensão em um dos focos de instabilidade. Confirmada a vitória conservadora na Grécia, as especulações do mercado financeiro concentraram-se na Espanha, nessa segunda-feira. Em abril, 8,7% dos empréstimos bancários estavam com mais de três meses de atraso. Foi o maior nível de inadimplência verificado em 18 anos.

Enquanto a crise se estende e a recessão corrói a arrecadação tributária, dificultando o ajuste orçamentário em quase toda a zona do euro, os mercados mantêm os governos em xeque. O foco das tensões pode mudar e qualquer alívio é sempre efêmero. A resistência alemã a qualquer mudança apenas prolonga e torna mais terrível esse drama.

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